quinta-feira, setembro 30, 2010

Dicionário Papa Xibé

Ao conhecer uma paraense que passou muito tempo distante do Pará (Bahia e Itália) e apresentando-lhe algumas coisas que parimos no tempo em que esteve ausente, fui atrás de um site/blog que pudesse mostrar-lhe um pouco da obra literária genuinamente paraense e encontrei esta síntese do Dicionário Papa Xibé.

Por demais porrêta!

Eu falo Ééégua!

O dicionário Papa Xibé tenta reunir uma parte deste porrudo vocabulário que é um registro do jeito paraense de falar que encanta a quem chega nesta terra…

Aqui no Pará, dizemos tu em vez de você, falamos eras, que já foi Ebe e hoje é égua, que é usado em 99% das frases ditas pelo paraense, seja de admiração, insatisfação, raiva espanto, na alegria e na tristeza… até que a morte nos cale!

Aqui quando alguma coisa é muito boa, bacana, excelente, legal… é por que ela é Pai d’égua!!!.

As crianças daqui não fazem travessuras e sim estripulias; não quebram os brinquedos e sim esbandalham, não brincam de pic e sim de pira pira-alta, pira-pega, pira-maromba, pira se esconde, as meninas brincam de macaca ao invés de amarelinha, os meninos brincam de peteca ao invés de bola de gude… também empinam papagaio, curica, rabiola, mas desde que a linha tenha bastante cerol para poder gritar _Au vaiêêê!!!.

Viagem de barco ou lancha?… preferimos ir de pô-pô-pô, rabeta ou vuadeira… é mais emocionante!

Aqui os insetos têm muitos nomes diferentes: é carapanã, maruim, mucuim, mutuca, muriçoca… e muitos outros M.

Preferimos a maniçoba ao invés de feijoada, jerimum ao invés de abóbora, macaxeira ao invés de aipim, mingau de milho ao invés de canjica, e canjica é como chamamos para o curau.

Paraense quando adoece, não fica fraco, fica despombalecido, pode até baldear… mas só um caribé para dar uma reanimada.

Aqui Tomamos suco de taperebá e não de cajá… tomamos açaí e não Jussara, mas com farinha d’água, camarão, peixe ou charque, nada de granola e banana…isso não! Misturar qualquer fruta com açaí pode ser fatal!

Aqui não contamos anedota, contamos causos de verdade… é Matinta-perera, Boto, Curupira, Mapinguari, Quem-te-dera e muita história de visagem! Nada de lorota ou potoca!

Antão… depois do almoço vem aquela chuvinha da tarde… aí dá aquela murrinha… ficamos até mufinos!

Enfim, existem palavras e expressões que só mesmo o paraense para entender e usar com tanta propriedade em todas as situações do dia-a-dia. E se você faz ou já fez alguma destas coisas em riba, é porque com certeza é um verdadeiro Papa Chibé!!!

Divirta-se!

Por Gisele Lopes Moreira. Turismóloga e apaixonada pelo Pará.

letra_a

Acesa: assanhada, fogosa Acesume: assanhamento, fogo Acocar-se: abaixar-se

Abicorar: ficar por perto, só “manjando”. Também usado por quem joga peteca (bola de gude) como a estratégia para ficar perto da peteca do adversário. Alembrar: lembrar Antão: então Apresentado: atrevido, enxerido Arapuca: armadilha para pegar passarinho em forma de pirâmide, feita com gravetos amarrados Areia gulosa: areia movediça Arisco: danado, ágil, ligeiro, difícil, esquivo, desconfiado Arredar: afastar Arreparar: reparar, observar, tomar conta Arremedar: imitar Assanhado: bagunçado, mal arrumado, não penteado Avoado: distraído, aquele que anda com a cabeça no ar Axí: interjeição depreciativa; significa desdém, nojo, repulsa Azucrinar: exasperar, apoquentar, irritar, enfurecer, aborrecer

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letra_b

Bafo: mau hálito Baladeira: atiradeira, objeto feito com uma forquilha de madeira com uma borracha que serve para atirar pedras Baldear: vomitar Baque: pancada, machucado Barranco: ribanceira Beiju: bolo feito de massa de mandioca ou de tapioca Beirada: cercania, arredores, nome genérico dado às margens dos igarapés, dos rios, dos lagos, das calçadas Bença: benção Benjamin: adaptador de tomadas Benzimento: ato de benzer Bichinho: forma de tratamento que traduz afeto e carinho Bilha: pequena moringa de barro com gargalo estreito destinada a guardar água a ser consumida Bocada: mordida Boiúna: cobra-grande, sucuri Bolo podre: bolo feito com farinha de tapioca Boró: dinheiro trocado Bombom: balinha Breguesso: coisa sem maior valor Breúme ou Breu: escuro, negro Bubuiar ou de bubuia: flutuar na superfície d’água Buiado: Endinheirado Burridade: burrice Bustela: meleca

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letra_c

Caboclo ou Caboco: mistura de branco com índio, interiorano, analfabeto, semi-analfabeto Cabaço: pessoa virgem, que nunca teve relações sexuais Caboquice: adjetivo que diminui algo/fato; palhaçada Cacuri ou Curral ou Caiçara: armadilha para pegar peixes Cagoeta: fofoqueiro, aquele que não sabe guardar segredo, dedo-duro Calango: lagarto verde Calombo: inchaço, tumefação, elevação na pele Camapu: Fruto comestível de pouco valor, de formato arredondado, de cor verde ou amarelo, envolvido em capa protetora. Physalis angulata L. da família das Solonáceas Candinha: faladora, fofoqueira Candiru: Peixe miúdo muito conhecido, e até mesmo temido, por penetrar em qualquer orifício do corpo humano, quando imerso em água Vandellia cirrhosa Cangote ou Cogote: pescoço Caninga: má sorte, azar Carambela: cambalhota Carapanã: pernilongo, mosquito Caribé: mingau feito com farinha d’água bem fininha. Diz a crença ser alimento forte, que levanta as forças, quando tomado, em especial, em jejum Casco: canoa pequena, feita de uma só peça de tronco cavado, sendo que o tripulante ou canoeiro senta na popa Catiroba: menina fácil, que “fica” com qualquer um Catinga ou Inhaca: fedor, mau-cheiro, odor forte e desagradável, normalmente proveniente das axilas de quem não toma banho Causo: caso, fato, anedota Cemitério ou jogo de cemitério: queimada Cerol: mistura de vidro moído com cola de sapateiro, cuja finalidade é encerar linha de papagaio Charque: carne seca, jabá Chibé: alimentação que consiste na mistura de água e farinha d’água. Constitui um tipo de alimentação no meio da gente pobre. Aquele que se alimenta desta mistura é Papa-Chibé. Também este é o apelido dado aos naturais do Pará e do Amazonas. Chope: Suco de frutas congelado que vem dentro de um saco plástico Cisma: desconfiança, inquietação, preocupação Cocorote ou coque: Um leve soco com a falange dos dedos na cabeça; o mesmo que cascudo. Coivara: amontoado de paus velhos, de galhos e de folhas secas; restos de queimadas, sujeitos a uma nova queimada, servindo posteriormente, para adubar o terreno em que se cultiva a lavoura Consumição: lida, inquietação, preocupação Cuí: farinha fina, peneirada; resto de alguma coisa em forma de pequenos grãos; pouco. Cuia: Casca do fruto da cuieira. Quando seca e sem miolo é usada como utensílio doméstico, servindo de farinheira, de tigela para mingau; vasilhame para tomar tacacá Cuíra: inquieto, traquino, curiosidade, desejo, inquietação, gastura, impaciência. Cumbuca: vaso feito de cabaça na parte superior da qual se fez uma abertura circular. É destinado a conter água e outros líquidos. Cunhã: moça, mulher jovem Curica: papagaio pequeno feito de papel, e, raramente, com pequenas talas de miriti; geralmente feito com folhas de jornal ou revista. Curupira: ente fantástico que habita as matas, cuja característica é ter os calcanhares para frente e os dedos voltados para trás. É o protetor das matas Cuscuz: iguaria que se faz com farinha de milho e é cozida à vapor. Por cima salpica-se coco ralado e ainda derrama-se algumas colheradas do leite do coco Cusparada: cuspir repetidamente

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letra_d

Danação: diabrura, travessura de criança Disque: o mesmo que “diz que” ou “dizem que” Diacho: expressão de desapontamento, raiva Derrubar: cagoetar, entregar, dedurar Despombalecido: estado de moleza e cansaço,fraqueza, enfermidade

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letra_e

Embrabecer: enfurecer-se, ficar brabo, aborrecido Encafifar: encabular-se, envergonhar-se, intrigar-se Empiriquitada: faceira, moça bem arrumada Esbandalhar ou escangalhar: quebrar, destruir Esmigalhar: amassar, desmanchar, dividir em vário pedaços pequenos Espeta-caju: cabelo liso e pontiagudo que nem o pente abaixa Espiar: olhar, ver Espinha: coluna vertebral Estirão: caminhada longa; longo trecho de riacho, sem curvas Estiva: ponte feita de um só pau, sobre forquilhas em terrenos alagadiços ou pantanosos Estripulia: travessura, traquinice

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letra_f

Facada: algo muito caro Farinhar: Fazer ou vender farinha Feridento: cheio de feridas Forquilha: vara aforquilhada para impulsionar a canoa Frito: estar em dificuldade, ferrado, com problemas Furdunço: festança popular; muita gente reunida; bagunça

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letra_g

Gambiarra: coisa mal feita, improvisada Gastura: mal-estar, inquietação, angústia Gazeteiro: aquele que falta às aulas Gito ou Gitito: pequeno, miúdo Gororoba: comida mal feita ou de má qualidade Guariba: tosse forte e violenta, às vezes sufocante

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letra_i

Igaçaba: pote de barro, de boca larga, servindo para depósito de água e de farinha Igapó ou Gapó: alagado; área que fica alagada por um determinado período do ano Igarapé: canal, córrego ou estreito natural situado entre duas ilhas, ou ainda, entre ilha e terra firme Igarité: embarcação grande, de madeira, impulsionada a remo ou motor Ilharga: ao lado, próximo Inhambu ou Nambu: designação comum às aves tinamiformes da família dos Tinamídeos, parecem com galinhas

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letra_j

Jamaxi: grande paneiro, tecido de cipó, formando malhas fechado ou aberto. É apoiado na testa e serve para carregar alimentos ou crianças Jararaca: cobra venenosa, porém mansa; pessoa de gênio forte; Jerimum ou Jurumum: abóbora; fruto da aboboreira Jia: tipo de anfíbio pequeno e de pele fria Jirau: estrado de madeira, preso ao chão, cuja finalidade é para lavar ou guardar utensílios domésticos, principalmente panelas e pratos. É comum nos interiores Joça: porcaria; coisa sem valor; interjeição exclamativa de aborrecimento Jururu: triste, melancólico, quieto, adoentado, abatido Juta-irica ou jutaicica: árvore de grande porte, resinosa. Quando o seu tronco é ferido, escorre um óleo, adicionado a uma solução, serve para preparar vernizes.Muito usado para envernizar o interior de panelas de barro

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letra_l

Leso: idiota, maluco, doido Lombriguento: cheio de lombrigas Lorota: mentira, conversa fiada

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letra_m

Macaxeira: o mesmo que aipim. Não é venenosa como a mandioca Macaca: mesmo que brincadeira de amarelinha Maciota: sem esforço, na tranqüilidade Maldar: fazer mal juízo, pensar mal de alguém Malinar: irritar, fazer travessuras, judiar, fazer maldade com alguém Mandioca: Planta leitosa, com tubérculos em amido. Algumas espécies são venenosas e servem para fazer farinha de mesa Manemolência: moleza, indisposição, fraqueza Mangal: terreno cheio de mangues Manicuera: bebida doce feita a partir da fermentação da mandioca Maninhu ou Maninho: colega, amigo, companheiro Maniva: planta da família euforbiáceas que depois de moída, serve para fazer a maniçoba, que é um prato típico da região Mapinguari: gigante lendário semelhante ao homem, coberto de pêlos, com um olho na testa e uma boca na barriga Maracá: chocalho artesanal feito de cuia, sementes e madeira Marajoara: aquele que é natural da ilha do Marajó; Sociedade ceramista que habitou a ilha do Marajó no passado Marimbondo: inseto dotado de ferrão da espécie menóptero. É um tipo de caba, vespa Maromba: jirau onde se põe o gado por ocasião das cheias. Brincadeira de criança onde se usa uma bola para acertar em outra pessoa Maruim: inseto de picada dolorosa Matapi: armadilha artesanal feita de talas de palmeira, utilizada para a pesca do camarão de água doce Matuto: desconfiado, acaboclado, acanhado, tímido; aquele que vive no mato Mucuim ou Micuim: inseto cuja picada provoca forte coceira Miriti: Palmeira muito alta própria de lugares alagados. Suas folhas servem para construção de telhados e também é usado na confecção de brinquedos de miriti, que fazem muito sucesso no período do Círio de Nazaré Mofino ou Mufino: adoentado, enfraquecido, mole, abatido, cansado, sem ânimo, triste Molongó: adoentado, fraco, abatido Montaria: canoa pequena feita de toco escavado e ateado fogo Moquear: secar a carne ou peixe ao moquém para serem conservados Moquém: grelha de vara para assar e secar o peixe ou a carne Mocegar ou amorcegar: subir ou descer de um transporte terrestre em movimento Moroçoca ou Muriçoca: mosquito de picada dolorida Morrinha ou Murrinha: quebreira, preguiça, tédio, indisposição, moleza Muiraquitã: amuleto indígena, símbolo de sorte e fertilidade. Normalmente têm a forma zoomórfica de uma rã e são feitos de jadeíte. Segundo à lenda, eram feitos pelas guerreiras Amazonas Mundiar: encantar, atrair, seduzir Mutá: espécie de escada tosca usada pelos seringueiros para subir nas árvores Mutuca: nome dado a um inseto de picada forte, da família Tabanídeos

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letra_o

Ovada: mulher grávida, estado de gestação

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letra_p

Pai-d’égua: algo excelente, ótimo, muito bom Panela: dente acariado, estragado Panema: infeliz, azarado, sem sorte na caça, na pesca e na vida Papa-chibé ou Papa Xibé: paraense autêntico; aquele que se alimenta de chibé (água e farinha) Papeira: o mesmo que caxumba ou parotidite. Doença causada pela inflamação das glândulas parótidas Pareceiro: parceiro; qualquer um Paresque: parece que Parideira: mulher que tem muitos filhos Pão careca: nome dado ao pão francês de massa grossa Paúra: gastura, aflição, irritação Pavulage: faceirice, convencimento, metidez, frescura, pedante, pretensioso Pávulo: vaidoso, gabola, convencido, metido Peconha: laço de corda ou de cipó que se prende aos pés das pessoas para auxiliar a subida em árvores sem ramo, em especial, palmeiras de açaí Penico: urinol, bacio, mijador Pequena: menina, moça, namorada, mulher. Termo muito usado na cidade de Cametá Pereba: ferida; lesão na pele Peteca: o mesmo que bolinha de gude Pipira: mulher que dá em cima do homem alheio Piquixito: pequeno, pequenino Pira: sarna, ferida. Brincadeira de criança, tipo pira-alta, pira esconde…; o mesmo que pic Piracema: época em que os grandes cardumes de peixes vão para as nascentes dos rios para desovar Piracuí: farinha feita a partir de restos de peixe Pirão: Papa grossa de farinha de mandioca escaldada. Qualquer mistura de caldo de carne, galinha ou peixe com farinha Pirento: aquele que possui muitas feridas Pissica: má sorte; desejar o azar do outro; torcer contra Pitar: fumar, cachimbar, tragar Pitinga: branca. Diz-se da cuia depois de seca, sem pintura Pitiú: Cheiro característico de peixe; cheiro de maré, de maresia Pitó: arranjo feito com os cabelos, puxados para trás em forma de círculo, com abertura no centro, preso por pente-travessa; o mesmo que coque Ploc: garota de programa; prostituta; meretriz Pô-Pô-Pô: Embarcação típica ribeirinha, composta por um a canoa coberta, movida a motor de 2 tempos. Possui esse nome devido ao barulho produzido pelo motor quando está navegando pelo rio Poronga: lamparina usada por ocasião da pesca do camarão; refletor. Espécie de lanterna artesanal usada para iluminação Pororoca: encontro das águas do rio com as águas do mar, formando grandes ondas nos rios, causando turbulência e forte estrondo Potoca: mentira, conversa fiada, papo furado Prenha: grávida, buchuda Priprioca: planta herbácea cujas raízes têm forma de botão e o caroço tem aroma especial; muito usada para fazer perfumes Puçá: pequena rede para pescar camarão Puxada: construção que prolonga o corpo central da casa

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letra_q

Quebranto: mal-olhado Quem-te-dera: ser lendário que costuma encantar homens e usá-los como montaria a noite inteira

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letra_r

Rabiola: um tipo de pipa feita com papel de seda e talas de miriti Ranzinza: birrento, teimoso, rabugento Rasga-mortalha: espécie de coruja (suindara) que vive nas cidades e, segundo a crença popular, é agourenta Refastelar: descansar, distrair-se Reinar: malinar, irritar, provocar Remanso: correnteza na margem oposta à do canal do rio, formando um verdadeiro funil. É também chamado de redemoinho Remendo: conserto ou costura de uma roupa Restinga: faixa de mato às margens do rio, que surge por ocasião das grandes marés ou cheias de inverno, aflora enquanto o terreno aparece submerso Riba: acima de, em cima de

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letra_s

Sabrecar ou Saprecar: chamuscar, queimar superficialmente Saído: esperto, saliente, enxerido, intrometido Sairé: dança e canto dos tapuios. Manifestação popular que ocorre na cidade de Santarém Sagica: rijo, duro Sapecar: jogar fora, atirar para longe Sapopema: raiz que cerca a base do tronco de muitas árvores, como a Samaumeira. Índios usavam sua raiz como abrigo Sarará: mestiço, arruivado; pequeno caranguejo Sassariqueira: assanhada, alegre Sereno: brisa fria após a chuva Seboso: sujo, porcalhão, sem higiene

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letra_t

Tabatinga: argila sedimentar mole e untosa Tabefe: tapa estalado; bofete Tacacá: bebida de herança indígena servida em cuia, feita de goma de mandioca fervida, tucupi, camarão seco e jambu. Faz parte da culinária típica do Pará Tapagem: barragem de terra para represar rios e igarapés Tapera: habitação pobre e simples, sítio abandonado, pobreza Tapioca: farinha em grãos maiores e bem alva que se extrai da mandioca; espécie de beiju seco consumido com manteiga ou coco Tapuru: bicho de fruta; qualquer larva branca venenosa ou não Taquari: cachimbo feito de bambu Tarubá: bebida fermentada feita da massa de mandioca Teba: grande, forte, avantajado Teso: parte elevada de um terreno alagado; duro Tijuco: pântano, atoleiro, lama preta Tipiti: instrumento de palha usado para separar a massa de mandioca do tucupi Tipitinga: água esbranquiçada, barrenta Tiquira: aguardente de mandioca Topada: tropeço, pancada no pé Toró: chuva muito forte Trapiche: construção, na maioria das vezes, de madeira que adentra os limites do rio ou do mar, utilizada para embarque e desembarque de passageiros ou mercadorias, bem como o pescado. Conhecida popularmente em outros estados como: Porto; dique; ponte Travessa: tiara; arco usado para enfeitar os cabelos Tucandeira: tipo de formiga cuja ferrada é muito dolorida; sinônimo de calça pescador Tucupi: líquido amarelo extraído da mandioca, depois de ralada e espremida. Muito usado em pratos da culinária paraense. Se não for fervido, torna-se venenoso Tuíra: sujo, ressequido (pelo sol e pela lama) Turú: molusco que se alimenta de troncos submersos, cavando buracos e causando prejuízos em embarcações. O Turu é um alimento muito consumido em comunidades pesqueiras

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letra_u

Ubá: embarcação indígena sem quilha e sem banco, construída de um só lenho, escavado a fogo ou de uma casca inteiriça de árvore cujas extremidades são amarradas com cipó Urupema: espécie de peneira de fibra vegetal usada na culinária

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letra_v

Visagem: espírito, alma penada, assombração Visgo: rastro Varejeira: mulher safada, que namora com vários homens Voadeira: lancha, embarcação aquática veloz movida a motor

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letra_x

Xarão: tabuleiro de alumínio; fôrma de alumínio retangular Xirí: vagina, órgão genital feminino

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letra_z

Zinho: pequeno, inferior

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E você? Conhece alguma palavra paraense que não está aqui? Então nos envie a sua palavra com o significado para aumentarmos ainda mais nosso vocabulário!

Por Gisele L. Moreira

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Fontes de Pesquisa:

Vocabulário Popular em Dalcídio Jurandir, por Rosa Assis. Belém, UFPA, 1992.

Dicionário Aurélio, por Aurélio Buarque de Holanda, edição digital, 2009.

Blogs:

http://recantodasletras.uol.com.br

http://acaidasletras.blogspot.com

http://forum.brfoto.com.br

http://equilibriodistante.blogspot.com

Sites:

www.bregapop.com

A Música do Momento

Pensando em uma música que representasse este período que antecede as eleições do próximo domingo, um bom anjo me fez lembrar dessa linda canção do nosso grande Beto Guedes em parceria com o Ronaldo Bastos.

O sal da Terra

Roupa Nova

Composição: Beto Guedes - Ronaldo Bastos

Anda, quero te dizer nenhum segredo

Falo nesse chão da nossa casa

Vem que tá na hora de arrumar

Tempo, quero viver mais duzentos anos

Quero não ferir meu semelhante

Nem por isso quero me ferir

Vamos precisar de todo mundo

Pra banir do mundo a opressão

Para construir a vida nova

Vamos precisar de muito amor

A felicidade mora ao lado

E quem não é tolo pode ver

A paz na Terra, amor

O pé na terra

A paz na Terra, amor

O sal da Terra

És o mais bonito dos planetas

Tão te maltratando por dinheiro

Tu que és a nave nossa irmã

Canta, leva tua vida em harmonia

E nos alimenta com teus frutos

Tu que és do homem a maçã

Vamos precisar de todo mundo

Um mais um é sempre mais que dois

Pra melhor juntar as nossas forças

É só repartir melhor o pão

Recriar o paraíso agora

Para merecer quem vem depois

Deixa nascer o amor

Deixa fluir o amor

Deixa crescer o amor

Deixa viver o amor

(O sal da terra)

Somos todos grupelhos



     Somos Todos Grupelhos - Análise da conjuntura libertária pós-68

Por Felix Guatarri*
 
Militar é agir. Pouco importam as palavras, o que interessa são os atos. É fácil falar, sobretudo em países onde as forças materiais estão cada vez mais na dependência das máquinas técnicas e do desen­volvimento das ciências. 
 
Derrubar o czarismo implicava na ação em massa de dezenas de milhares de explorados e sua mobilização contra a atroz máquina repressiva da sociedade e do Estado russo, era fazer as massas tomarem consciência da sua força irresistível face à fragilidade do inimigo de classe; fragilidade a ser revelada, a ser demonstrada pela prova de forças. 
 
Para nós, nos países "ricos", as coisas se passam de outro jeito; não é tão óbvio que tenhamos que enfrentar apenas um tigre de papel. O inimigo se infiltrou por toda parte, ele secretou uma imensa in­terzona pequeno‑burguesa para atenuar o quanto for possível os con­tornos de classe. A própria classe operária está profundamente infil­trada. Não apenas por meio dos sindicatos pelegos, dos partidos trai­dores, social‑democratas ou revisionistas… Mas infiltrada também por sua participação material e inconsciente nos sistemas dominantes do capitalismo monopolista de estado e do socialismo burocrático. Pri­meiro, participação material em escala planetária: as classes operárias dos países economicamente desenvolvidos estão implicadas objetiva­mente, mesmo que seja só pela diferença crescente de níveis de vida relativos, na exploração internacional dos antigos países coloniais. De­pois, participação inconsciente e de tudo quanto é jeito: os trabalha­dores reendossam mais ou menos passivamente os modelos sociais dominantes, as atitudes e os sistemas de valor mistificadores da bur­guesia ‑ maldição do roubo, da preguiça, da doença, etc. Eles reproduzem, por conta própria, objetos institucionais alienantes, tais como a família conjugal e o que ela implica de repressão intrafamiliar entre os sexos e as faixas etárias, ou então se ligando à pátria com seu gostinho inevitável de racismo (sem falar do regionalismo ou dos particularismos de toda espécie: profissionais, sindicais, esportivos, etc., e de todas as outras barreiras imaginárias que são erguidas artificialmente entre os trabalhadores. Isto fica bastante claro, por exemplo, na organização, em grande escala, do mercado da competição esportiva).

Desde sua mais tenra idade, e mesmo que seja apenas em função daquilo que elas aprendem a ler no rosto de seus pais, as vítimas do capitalismo e do "socialismo" burocrático são corroídas por uma an­gustia e uma culpabilidade inconscientes que constituem uma das engrenagens essenciais para o bom funcionamento do sistema de auto­sujeição dos indivíduos à produção. O tira e o juiz internos são talvez mais eficazes do que aqueles dos ministérios do Interior e da Justiça. A obtenção deste resultado repousa sobre o desenvolvimento de um anta­gonismo reforçado entre um ideal imaginário, que inculcamos nos indivíduos por sugestão coletiva, e uma realidade totalmente outra que os espera na esquina. A sugestão audiovisual, os meios de comunicação de massa, fazem milagres! Obtém‑se assim uma valorização fervorosa de um mundo imaginário maternal e familiar, entrecortado por valores pretensamente viris, que tendem à negação e ao rebaixamento do sexo feminino, e ainda por cima à promoção de um ideal de amor mítico, uma mágica do conforto e da saúde que mascara urna negação da finitude e da morte. No final das contas, todo um sistema de demanda que perpetua a dependência inconsciente em relação ao sistema de produção; é a técnica do intéressement.

O resultado deste trabalho é a produção em série de um indivíduo que será o mais despreparado possível para enfrentar as provas importantes de sua vida. É completamente desarmado que ele enfrentara a realidade, sozinho, sem recursos, emperrado por toda esta moral e este ideal babaca que lhe foi colado e do qual ele é incapaz de se desfazer. Ele foi, de certo modo, fragilizado, vulnerabilizado, ele está prontinho para se agarrar a todas as merdas institucionais organizadas para o acolher: a escola, a hierarquia, o exército, o aprendizado da fidelidade, da submissão, da modéstia, o gosto pelo trabalho, pela família, pela pátria, pelo sindicato, sem falar no resto… Agora, toda a sua vida ficará envenenada em maior ou menor grau pela incerteza de sua condição em relação aos processos de produção, de distribuição e de consumo, pela preocupação com seu lugar na sociedade, e o de seus próximos. Tudo passa a ser motivo de grilo: um novo nascimento, ou então "a criança não vai muito bem na escola", ou ainda "os mais grandinhos se enchem e aprontam mil loucuras"; as doenças, os casa­mentos, a casa, as férias, tudo é motivo de aborrecimento…
Assim, tornou‑se inevitável um mínimo de ascensão nos escalões da pirâmide das relações de produção. Não precisa nem fazer um desenho ou uma lição. Diferentemente dos jovens trabalhadores, os mili­tantes de origem estudantil que vão trabalhar na fábrica estão seguros de se virar caso sejam despedidos; queiram ou não, eles não podem escapar à potencialidade que os marca de uma inserção hierárquica "que poderia ser bem melhor". A verdade dos trabalhadores é uma dependência de fato e quase absoluta em relação à máquina de pro­dução; é o esmagamento do desejo, com exceção de suas formas resi­duais e "normalizadas", o desejo bem pensante ou bem militante; ou, então, o refúgio numa droga ou em outra, se não for a piração ou o suicídio! Quem estabelecerá a porcentagem de "acidentes de trabalho" que, em realidade, não eram senão suicídios inconscientes?

O capitalismo pode sempre dar um jeito nas coisas, retocá‑las aqui e ali, mas no conjunto e no essencial tudo vai cada vez pior. Daqui a 20 anos alguns dentre nós terão 20 anos a mais, mas a humanidade terá quase duplicado. Se os cálculos dos especialistas no assunto se revelam exatos, a Terra atingirá pelo menos 5 bilhões de habitantes em 1990. Isto deveria colocar no decorrer do processo alguns problemas suplementares! E como nada nem ninguém está em condições de prever ou organizar alguma coisa para acolher estes recém‑chegados ‑ à parte alguns porra‑loucas nos organismos internacionais, que aliás não resolveram um só problema político importante durante os 25 anos em que estiveram aí instalados ‑, podemos imaginar que seguramente acontecerá muita coisa nos próximos anos. E de tudo quanto é tipo, revoluções, mas também, sem sombra de dúvida. umas merdas do tipo fascismo e companhia. E dai o que é que se deve fazer? Esperar e deixar andar? Passar à ação? Tudo bem, mas onde, o quê, como? Mergulhar com tudo, no que der e vier. Mas não é tão simples assim, a resposta a muitos golpes está prevista, organizada, calculada pelas máquinas dos poderes de Estado. Estou convencido de que todas as variações possíveis de um outro Maio de 1968 já foram programadas em IBM. Talvez não na França, porque eles estão fodidos, e ao mesmo tempo bem pagos para saber que este tipo de baboseira não constitui garantia alguma e que não se encontrou ainda nada de sério para substituir os exércitos de tiras e de burocratas. Seja o que for, já está mais do que na hora de os revolucionários reexaminarem seus pro­gramas, pois há alguns que começam a caducar. Já está mais do que na hora de abandonar todo e qualquer triunfalismo ‑ note‑se o falismo‑ ‑ para se dar conta de que não só estamos na merda até o pescoço, mas que a merda penetra em cada um de nós mesmos, em cada uma de nossas "organizações".

A luta de classes não passa mais simplesmente por um front delimitado entre os proletários e os burgueses, facilmente detectável nas cidades e nos vilarejos; ela está igualmente inscrita através de numerosos estigmas na pele e na vida dos explorado: autoridade, de posição, de nível de vida; é preciso decifrá‑la a partir do vocabulário de uns e de outros, seu jeito de falar, a marca de seus carros, a moda de suas roupas, etc. Não tem fim! A luta de classe contaminou, como um vírus, a atitude do professor com seus alunos, a dos pais com suas crianças, a do médico com seus doentes; ela ganhou o interior de cada um de nós com seu eu, com o ideal de status que acreditamos ter de adotar para nós mesmos. Já está mais do que na hora de se organizar em todos os níveis para encarar esta luta de classe generalizada. Já é hora de elaborar uma estratégia para cada um destes níveis, pois eles se condicionam mutuamente.

De que serviria, por exemplo, propor às massas um programa de revolucionarização anti­autoritária contra os chefinhos e companhia limitada, se os próprios militantes continuam sendo portadores de vírus burocráticos superati­vos, se eles se comportarn com os militantes dos outros grupos, no interior de seu próprio grupo, com seus próximos ou cada um consigo mesmo, como perfeitos canalhas, perfeitos carolas? De que serve afir­mar a legitimidade das aspirações das massas se o desejo é negado em todo lugar onde tenta vir à tona na realidade cotidiana? 

Os fins polí­ticos são pessoas desencarnadas. Eles acham que se pode e se deve poupar as preocupações neste domínio para mobilizar toda a sua ener­gia em objetivos políticos gerais. Estão muito enganados! Pois na ausência de desejo a energia se autoconsome sob a forma de sintoma, de inibição e de angústia. E pelo tempo que já estão nessa, já podiam ter se dado conta destas coisas por si mesmos! A introdução de uma energia suscetível de modificar as relações de força não cai do céu, ela não nasce espontaneamente do programa justo, ou da pura cientificidade da teoria. Ela é determinada pela transformação de uma energia biológica ‑ a libido ‑ em objetivos de luta social. É fácil reduzir tudo às famosas contradições principais. 

É demasiadamente abstrato. É até mesmo um meio de defesa, um troço que ajuda a desenvolver phantasias de grupo, estruturas de desconhecimento, um troço de burocratas; se entrincheirar sempre atrás de alguma coisa que está sempre atrás, sempre em outro lugar, sempre mais importante e nunca ao alcance da intervenção imediata dos inte­ressados; é o princípio da "causa justa", que serve para te obrigar a engolir todas as mesquinharias, as míseras perversões burocráticas, o prazerzinho que se tem em te impor – "pela boa causa" ‑ caras que te enchem o saco, em forçar tua barra para ações puramente sacri­ficiais e simbólicas, para as quais ninguém está nem aí, a começar pelas próprias massas. 

Trata‑se de uma forma de satisfação sexual desviada de seus objetivos habituais. Este gênero de perversão não teria a menor importância se incidisse em outros objetos que não revolução ‑ e olha que não faltam objetos! O que é chato é que estes mono­maníacos da direção revolucionária conseguem, com a cumplicidade inconsciente da "base", enterrar o investimento militante em impasses particularistas. É meu grupo, é minha tendência, é meu jornal, a gente é quem tem razão, a gente tem a linha da gente, a gente se faz existir se contrapondo às outras linhas, a gente constitui para si uma pequena identidade coletiva encarnada em seu líder local… A gente não se enchia tanto em Maio de 68!

Enfim, tudo ocorreu mais ou menos bem até o momento em que os "porta‑vozes" disto ou daquilo conseguiram voltar à tona. Como se a voz precisasse de portador. Ela se porta bem sozinha e numa velocidade louca no seio das massas, quando ela é verdadeira. O trabalho dos revolucionários não é ser portador de voz, mandar dizer as coisas, transportar, transferir modelos e imagens; seu trabalho é dizer a verdade lá onde eles estão, nem mais nem menos, sem tirar nem por, sem trapacear. Como reconhecer este trabalho da verdade? 

É simples, tem um troço infalível: está havendo verdade revolucionária, quando as coisas não te enchem o saco, quando você fica a fim de participar, quando você não tem medo, quando você recupera sua força, quando você se sente disposto a ir fundo, aconteça o que acontecer, correndo até o risco de morte. A verdade, a vimos atuando em Maio de 68; todo mundo a entendia de cara. A verdade não é a teoria nem a organização. É depois dela ter surgido que a teoria e a organização têm de se virar com ela. Elas sempre acabam se situando e recuperando as coisas, mesmo que para isso tenham de deformá‑la e mentir. A autocrítica cabe à teoria e à organização e nunca ao desejo.

O que está em questão agora, é o trabalho da verdade e do desejo por toda parte onde pinte encanação, inibição e sufoco. Os grupelhos de fato e de direito, as comunas, os bandos, tudo que pinta no esquer­dismo tem de levar um trabalho analítico sobre si mesmo tanto quanto um trabalho político fora. Senão eles correm sempre o risco de sucum­bir naquela espécie de mania de hegemonia, mania de grandeza que faz com que alguns sonhem alto e bom som em reconstituir o "partido de Maurice Thorez" ou o de Lenin, de Stalin ou de Trotsky, tão chatos e por fora quanto seus Cristos ou de Gaulles, ou qualquer um desses caras que nunca acabam de morrer.

Cada qual com seu congressinho anual, seu mini‑Comitê Central, seu super‑birô político, seu secretariado e seu secretário‑ge(ne)ral e seus militantes de carreira com seu abono por tempo de serviço, e, na versão trotskista, tudo isso duplicado na escala internacional (congressos mundiais, comitê executivo internacional, seção internacional, etc.).

Por que os grupelhos, ao invés de se comerem entre si, não se multiplicam ao infinito? Cada um com seu grupelho! Em cada fábrica, cada rua, cada escola. Enfim, o reino das comissões de base! Mas grupelhos que aceitassem ser o que são, lá onde são. E, se possível, uma multiplicidade de grupelhos que substituiriam as instituições da burguesia; a família, a escola, o sindicato, o clube esportivo, etc. Grupelhos que não temessem, além de seus objetivos de luta revolu­cionária, se organizarem para a sobrevivência material e moral de cada um de seus membros e de todos os fodidos que os rodeiam.

Ah, então trata‑se de anarquia! Nada de coordenação, nada de centralização, nada de estado‑maior… Ao contrário! Tomem o movimento Weathermen nos Estados Unidos: eles estão organizados em tribos, em gangues, etc., mas isto não os impede de se coordenar e muitíssimo bem.

O que é que muda se a questão da coordenação, ao invés de se colocar para indivíduo, se coloca para grupos de base, famílias artifi­ciais, cornunas?… O indivíduo tal como foi moldado pela máquina social dominante é demasiado frágil, demasiado exposto às sugestões de toda espécie: droga, medo, família, ete. Num grupo de base, pode‑se esperar recuperar um mínimo de identidade coletiva, mas sem megalomania, com um sistema de controle ao alcance da mão; assim, o desejo em questão poderá talvez fazer valer sua palavra, ou estará talvez mais em condições de respeitar seus compromissos militantes. É preciso antes de mais nada acabar com o respeito pela vida privada: é o começo e o fim da alienação social. Um grupo analítico, uma unidade de subversão desejante não tem mais vida privada: ele está ao mesmo tempo voltado para dentro e para fora, para sua contingência, sua fini­tude e para seus objetivos de luta. O movimento revolucionário deve portanto construir para si uma nova forma de subjetividade que não mais repouse sobre o indivíduo e a família conjugal. 

A subversão dos modelos abstratos secretados pelo capitalismo, e que continuam cau­cionados até agora, pela maioria dos teóricos, é um pré‑requisito absoluto para o reinvestimento pelas massas de luta revolucionária.

Por enquanto, é de pouca utilidade traçar planos sobre o que deveria ser a sociedade de amanhã, a produção, o Estado ou não, o Partido ou não, a família ou não, quando na verdade não há ninguém para servir de suporte à enunciação de alguma coisa a respeito. Os enunciados continuarão a flutuar no vazio, indecisos, enquanto agentes coletivos de enunciação não forem capazes de explorar as coisas na realidade, enquanto não dispusermos de nenhum meio de recuo em relação à ideologia dominante que nos gruda na pele, que fala de si mesma em nós mesmos, que, apesar da gente, nos leva para as piores besteiras, as piores repetições e tende a fazer com que sejamos sempre derrotados nos mesmos caminhos já trilhados.
 
Felix Guattari (1930 – 1992)

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