segunda-feira, janeiro 02, 2017

PT precisa admitir erros para voltar a ter força política, diz Edinho Silva

Edinho Silva, ex-ministro da Secretaria de Comunicação do governo Dilma e prefeito eleito de Araraquara.

Por Marcelo Toledo, na Folha

O PT precisa reconhecer seus erros e, a partir disso, reivindicar suas conquistas, para continuar tendo relevância no cenário político brasileiro. A afirmação é de Edinho Silva, ex-ministro (Comunicação Social) de Dilma Rousseff que vai governar pela terceira vez Araraquara, maior cidade vencida pelo PT em São Paulo (228 mil habitantes), a partir de janeiro.

Para ele, a sociedade esperava que o PT fosse diferente de outros partidos, que fizesse as reformas necessárias e não reproduzisse o mesmo modelo de financiamento de outras legendas, o que não ocorreu. Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista à Folha.

Folha - O que o PT precisa mudar para tentar sobreviver, a partir do encolhimento visto nas eleições?

Edinho Silva - Tenho avaliação de que a crise é do modelo político-partidário brasileiro. Evidentemente, atinge de forma específica o PT por ter sido o partido que ganhou as quatro últimas eleições nacionais. Agora, o processo para que o PT volte a ter a força que teve em eleições anteriores, e 2016 mostrou uma redução grande da perspectiva eleitoral do partido, passa primeiro por entendermos o momento, entendermos o que a sociedade espera do PT. Não tenho dúvidas que, se tiver capacidade de reconhecer os seus erros, que são erros do modelo político-partidário, não tenho dúvida que o legado do PT é muito grande, muito forte, ele tem muito enraizamento na sociedade brasileira. Se fizer um gesto nessa crise partidária que vivemos, reconhecer seus erros e reivindicar o legado que tem, não tenho dúvida da força do PT.

E qual é o principal erro a ser reconhecido?

O que ruiu foi o modelo político de financiamento, e a sociedade esperava de nós que fizéssemos diferente, não reproduzíssemos o mesmo modelo. É um erro a partir da expectativa da sociedade, que queria algo diferente. O fato de ter governado o Brasil por três mandatos consecutivos e não ter feito reforma político-partidária e reforma política, penso que talvez tenha sido nosso maior erro. Não ter criado um novo modelo, mostrar para a sociedade brasileira que o modelo político-partidário poderia ser diferente, que a relação da sociedade com o Estado poderia ser outra. Impunha reformas que nós não fizemos.

Quem o PT deveria lançar como candidato à presidência em 2018?

Acho que está muito cedo para definir a tática eleitoral de 2018. Tem de abrir esse debate, mas nesse momento penso que ainda não dá para dizer que temos um nome. Claro que o PT a partir de 2017 tem de construir um nome, lançar um nome, até para unificar o partido e poder dialogar com os demais partidos, construir um campo político. Não é possível fazer isso se não tiver um interlocutor liderando o processo. Talvez já no começo de 2017 isso seja definido.

Lula é o nome?

Lula sempre é um nome, evidente. Governou o Brasil, venceu duas eleições, fez a sucessora, sempre é um nome. Tem de ser conversado com ele, com a direção do partido. Defendo que ele assuma a presidência do PT, nem que seja por um período, até menos que um mandato inteiro se for o caso. Nesse momento de dispersão política, com risco de fragmentação do partido, de abertura de um processo de luta interna, penso que o Lula tem de assumir a presidência do PT e unificar o partido diante dos desafios que têm sido colocados.

Em São Paulo, o sr. obteve a maior vitória para o PT. Como será comandar o partido nesse sentido?

Já ocupei vários espaços políticos, tanto na área de governo como na estrutura partidária. Claro que todo começo é estimulante, sempre impõe novos desafios, mas também tenho clareza que a experiência que acumulei nesse período todo, na estrutura partidária, no Legislativo ou no governo será útil para que possa enfrentar esse momento difícil que os municípios estão passando. Governar Araraquara para mim sempre é um desafio, porque é minha cidade, onde me criei, cidade em que a partir dela ocupei outros espaços na política.

As outras prefeituras conquistadas pelo PT no Estado são pequenas. É possível, no cenário que ficou pós-eleição, de redução do PT, pensar em algum tipo de articulação partidária conjunta?

É sempre bom trocar experiências, sempre positivo. Mas, no caso das prefeituras, a principal articulação é sempre regional. Penso que vamos ter muita capacidade para articulação regional, para que possa debater problemas regionalizados, obter construções regionalizadas. Penso que ter espaço para trocar experiências na perspectiva partidária também é positivo.

Como está vendo a cidade a partir da transição de governo? Igual à que via na campanha?

Transição sempre é complicada, não ocorre no ritmo que a gente espera. Mas estamos conversando bastante e, em algumas medidas, o [Marcelo] Barbieri [atual prefeito, do PMDB] tem nos ouvido. Concluí a formação do secretariado e, dos 12 anunciados, 7 são mulheres e todos têm algum tipo de experiência administrativa, fizeram carreira na área de gestão. 

Zenaldo toma posse mesmo cassado e elege aliado na CMB, com apoio do PCdoB e do PT

O prefeito de Belém conseguiu duas proezas neste domingo: Mesmo cassado, foi diplomado prefeito e conseguiu eleger por quase unanimidade, o seu "pitbull" na presidência da Câmara Municipal.

Por Diógenes Brandão

Com 4 quarteirões bloqueados por um forte aparato policial que incluiu diversos PMs e guardas municipais, o prefeito de Belém Zenaldo Coutinho (PSDB) foi empossado junto com seu vice, Orlando Reis e mais 35 vereadores, na manhã deste domingo, na Câmara Municipal de Belém.

Indicado por Zenaldo em uma articulação que envolveu a 32 dos 35 vereadores eleitos e reeleitos em outubro, o vereador Mauro Freitas (PSDC) encabeçou a única chapa que foi montada e foi eleito presidente da mesa diretora da casa legislativa pelos próximos anos. Eleito em 2012 e reeleito em 2016, o vereador que  ficou famoso por ter agredido sua colega, a vereadora Marinor Brito (PSOL), durante uma sessão que votava a criação do Sistema Cicloviário de Belém, em junho de 2015.

'Ele veio pra cima de mim tentando me bater, me empurrando com o peito e com a mãos, e isso não vai ficar sem uma reparação de acordo com a lei. Essa não foi uma atitude isolada do vereador, ele tem tido repetidas atitudes de agressão contra os colegas e em especial contra as mulheres aqui na CMB', afirmou a vereadora à reportagem do jornal O Liberal, na época. O caso ficou por isso mesmo, mas foi registrado na Delegacia das Mulheres, quando o vereador foi apelidado nas redes sociais, como "Pitbull" do prefeito.

Dos 22 partidos com representantes na CMB, só o PSOL negou apoio ao candidato do prefeito à mesa diretora da casa

Com (três) 03 vereadores reeleitos, a bancada do PSOL foi a única que deixou de votar (inclusive contra), a chapa formada com o consenso de todos os demais partidos com representação na CMB. Marinor Brito e Fernando Carneiro usaram suas redes sociais para declarar a posição do partido diante do fato. Já o vereador Dr. Chiquinho, também do PSOL, não comparece, mas segundo a assessoria de comunicação da câmara, ele justificou a ausência.

"A bancada do PSOL continuará fazendo oposição com responsabilidade, fiscalizando o trabalho do prefeito, defendo os direitos do povo, para sair dessa situação de abandono que se encontra a cidade de Belém", declarou a vereadora Marinor Brito em seu site.

Fernando Carneiro gravou um vídeo onde lamentou mais uma vitória do prefeito tucano: "Hoje foi a posse dos vereadores e a eleição da mesa diretora da Câmara. Só o PSOL votou contra a chapa do prefeito cassado Zenaldo Coutinho. Foi montada uma operação militar para evitar que o povo pudesse participar. Precisamos lembrar que a Câmara é a casa do povo", afirmou o vereador psolista em seu perfil no facebook.

Devido a forte insatisfação popular, a posse do prefeito, vice-prefeito e vereadores foi marcada pela ausência do povo que os elegeram. As galerias da CMB ficam vazias.

De camisa e gravata amarela - cor usada pelos partidos da direita paraense - Mauro Freitas comemorou: "Aqui não falo em meu nome, mas em nome dos 32 vereadores que fizeram de uma chapa que entra para a história como a que conseguiu o maior número de votos para dirigir esta Casa. Formar uma chapa unida é muito difícil, mas a humildade de cada parlamentar que compõe esta Mesa foi decisiva para que todos abrissem mão de vaidades e interesses partidários. Saibam que isso faz com que nossa responsabilidade aumente. A Câmara de Belém é uma das mais novas do Brasil em termos de renovação (...) hoje, temos uma Câmara nova e inspiradora, disposta a fazer o possível e o impossível para ajudar a administração de nossa cidade", disse o novo presidente da Casa.
Sem poder entrar na "Casa do Povo", os populares assistiram um ato político em um palco montado do lado de fora da CMB. O evento foi realizado logo após a posse do prefeito e dos vereadores eleitos nas últimas eleições em Belém.

Em matéria publicada no site da CMB, pode ser lida a seguinte informação: "Mauro Freitas também destacou que a união responsável pela eleição da chapa "Câmara Unida" representa o compromisso de união para que Belém siga no rumo certo. "Essa pluralidade mostra o compromisso desses vereadores que estão dispostos a colaborar com a nova gestão".

Ou seja, o novo presidente da Câmara Municipal de Belém confia na passividade de partidos da esquerda, tal como o PT e do PCdoB, ao invés de uma oposição firme e atuante. A notícia volta a decepcionar seus filiados e diversos militantes que esperavam que os vereadores, os deputados estaduais, federais e senadores fossem mais combativos.

Assim como os vereadores da esquerda em Belém, os seus deputados estaduais votaram duas (02) vezes consecutivas, no deputado estadual Márcio Miranda (DEM), como presidente da ALEPA - tal como quis o governador Simão Jatene (PSDB) - onde o deputado petista Airton Faleiro também integra a mesa diretora, em um acordo político que tem gerado diversas críticas, inclusive de dirigentes petistas, como Karol Cavalcante, atual secretária-geral do diretório estadual do PT, um dos cargos mais importantes na legenda.





Conheça os vereadores de Belém que tomaram posse para o mandato até 2020. Em vermelho, os representantes da esquerda que votaram com a base do prefeito e em negrito os nomes dos únicos que se abstiveram na eleição que elegeu o novo presidente da CMB:

Adriano Coelho (PDT) 
Altair Brandão (PC do B) 
Amaury da APPD (PT)
Bieco (PR)
Blenda Quaresma (PMDB)
Celsinho Sabino (PSC)
Delegado Nilton Neves (PSL)
Dinely (PSC)
Dr. Elenilson (PT do B)
Dr. Chiquinho (PSOL) - Ausente
Emerson Sampaio (PP)
Fabrício Gama (PMN)
Fernando Carneiro (PSOL)
França (PRB)
Gleisson (PSB)
Gustavo Sefer (PSD)
Henrique Soares (PDT)
Igor Andrade (PSB)
Igor Normando (PHS)
Joaquim Campos (PMDB)
John Wayne (PMDB)
Lulu Pinheiro (PTC)
Marciel Manão (PEN)
Marinor Brito (PSOL)
Mauro Freitas (PSDC)
Moa Moraes (PC do B)
Nemias Valentim (PSDB)
Paulo Bengtson (PTB)
Professor Wellington Magalhães (PPS)
Rildo Pessoa (PT do B)
Sargento Silvano (PSD)
Simone Kahwage (PRB)
Toré Lima (PRB)
Victor Dias (PTC)
Zeca Pirão (SD)

'Grupos vendem direita como o novo', avalia professor


Na Folha

Em 2016, com o impeachment e o resultado das eleições municipais, o país vive uma reorganização ideológica, com a "nova direita" no debate político.

Professor na Fundação Getulio Vargas e no Ibmec no Rio, Jorge Chaloub vê "na construção de um clima contrário às esquerdas" e na "articulação entre 'think tanks', empresários e mídias" uma das explicações para a ascensão da "nova direita", cujo discurso "se vende como novo".

Leia trechos da entrevista.

Folha - A direita "envergonhada" pós-ditadura se renovou?

Jorge Chaloub - O grupo heterogêneo da "nova direita" reúne tradições de pensamento distintas, que atuam conjuntamente, como versões extremas do liberalismo e novas feições do conservadorismo. Esses novos grupos e atores possuem continuidades com grandes líderes da direita brasileira, como Carlos Lacerda, mas também revelam descontinuidades.

Quais as características dessa nova direita?

Como escrevi em texto com Fernando Perlatto, apesar das diferenças entre grupos e atores, é possível apontar pontos em comum. Um primeiro é a clareza em se afirmar como pertencente à direita, algo que não se fazia.

Outro é a centralidade de um discurso moral, dividindo o mundo entre bem e mal. Por isso, todas as posições que se assemelhem à esquerda são retratadas como patologias, como exposto pelo termo "esquerdopata".

Por fim, o conservadorismo moral é combinado com adesão ao liberalismo econômico, permitindo a aliança entre certos grupos neoconservadores e neoliberais.

Por que a adesão é aparentemente crescente?

Entre as causas, merece destaque a articulação político-institucional dos grupos, em parte organizada em torno de "think tanks" [organizações que produzem conhecimento] com vínculos com o empresariado e a mídia. Também contribui sua capacidade de renovar a linguagem e aproximar-se de um público desconfortável com a cena política tradicional, organizada em torno do centro. Há uma preocupação em construir um discurso esteticamente mais atraente, que se vende como novo.

Que consequências podemos observar com essa reorganização ideológica?

O cenário político atual testemunha a crise de uma esquerda influente desde a redemocratização, que se vê abalada após o golpe parlamentar sofrido por Dilma Rousseff. A nova direita contribuiu para a ruptura institucional, ao mesmo tempo que tem protagonismo na construção de um clima contrário às esquerdas. A esquerda procura caminhos, entre os quais movimentos de secundaristas merecem destaque.

Em que medida os governos petistas colaboraram com a ascensão da "nova direita"?

As limitações e virtudes do projeto petista, assim como as insatisfações naturais de um longo período à frente do poder, estimularam ideários direitistas. Por outro lado, o discurso de novidade —antes uma autoimagem que algo efetivo— dessa nova direita teve cenário propício em virtude de sentimento de fastio perante as instituições.

A ascensão de grupos evangélicos na política está associada à reorganização da direita?

A ascensão dos evangélicos, que também constituem grupo muito diverso, é anterior. Há, por certo, afinidades em relação a algumas pautas morais, assim como alianças em torno de temas e inimigos, sobretudo os identificados com o campo da esquerda.

Uma possível hipótese apontaria para a construção de um cenário mais propício a certos grupos evangélicos com essa onda conservadora. Mas o processo de atuação não se reduz a isso.

O que projeta para a eleição presidencial de 2018?

A Lava Jato confere incerteza ao pleito. A pouca clareza dos critérios do Poder Judiciário, crescente, torna o cenário turvo. Sem falar na instabilidade do governo Temer, que não se sabe se resistirá.

O cenário se revela propício para alguém que se venda como um salvador externo à política tradicional. Empresários e egressos do mundo jurídico são boas apostas.

Jair Bolsonaro, favorável à ditadura militar, parece se beneficiar da reorganização ideológica no país. Por quê?

Parte da "nova direita" se mostra elogiosa à ditadura. Bolsonaro constrói seu discurso em consonância com esses argumentos, como a centralidade da moral, o antiesquerdismo, o orgulho em se reivindicar de direita, a virulência no argumentar e a adesão a teorias conspiratórias. Não parece competitivo, mas a incerteza impede previsões mais seguras.


Crise: Edmilson Rodrigues perde seu braço esquerdo no PSOL

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