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sábado, janeiro 20, 2018

Folha revela a farsa da direita sobre a proibição ao cristianismo na Bolívia

 O presidente boliviano, Evo Morales, entrega presentes ao papa Francisco no Vaticano em 2016.


A evangelização é um crime —tão grave quanto exploração sexual, venda de órgãos, turismo pornográfico e mendicância forçada, todos passíveis de sete a 12 anos de prisão na Bolívia, segundo o novo Código Penal do país.  Essa é, ao menos, a interpretação que grupos católicos e evangélicos vêm dando ao artigo 88 do texto, que inclui no pacote de crimes que tratam do tráfico de pessoas o "recrutamento para a participação em conflitos armados ou organizações religiosas ou cultos".

A relação entre o presidente Evo Morales e denominações cristãs, que nunca foi das melhores, degringolou com a aprovação, em setembro, de uma lei que legaliza o aborto antes de oito semanas de gestação e quando a mãe é estudante ou tem dependentes.  

O caldo entornou de vez com o novo código, que entupiu ruas bolivianas com protestos de religiosos. O pastor paulista Antonio de Novais Santos participou de um deles na quarta-feira (17), na cidade de Cochabamba.  

Ele mantém por lá sua Iglesia La Vid (Igreja A Videira) e, com outras lideranças evangélicas, acusa Morales de querer impôr na marra um "regime comunista-marxista" na Bolívia.  

"A lei coloca a evangelização, fazer proselitismo, que é o que nós fazemos com o intuito de melhorar a vida da pessoa, no mesmo patamar de escravizar e traficar pessoas. Como pode?", exclama.  

Outro cisma: "Evo opta por ritos, feiticeiros incas em vez de chamar padres, pastores, de usar a Bíblia, para cerimônias oficiais", diz o pastor. Em 2016, o presidente irritou líderes cristãos ao participar de um ritual indígena aimará para invocar chuvas no combate à pior seca do país em 25 anos.  

Para Santos, não é o único indício de que o presidente busca conflito com a cristandade. Em 2010, o Legislativo aprovou uma lei que respaldava um currículo escolar regionalizado, podendo incorporar "componentes de espiritualidade e cosmovisão indígena", como definiu à época o ministro da Educação.  

No Censo de 2012, 58% se declaravam não indígenas, embora Morales diga que são bem menos —muitos temeriam o racismo e prefeririam esconder as raízes.  

BOKO HARAM  

Com os ânimos acirrados pela legislação penal sancionada em dezembro, inicia-se novo round entre governo e religiosos. Políticos alinhados a Morales apontam uma "guerra de mentiras" nas redes sociais. O artigo 88 serve, segundo o presidente do Senado, José Alberto Gonzales, de vacina contra um correlato latino ao Boko Haram, grupo fundamentalista da Nigéria.  

Porta-voz do MAS, partido governista, David Ramos Mamani acusa a "oposição de direita", servil a "interesses internacionais do imperialismo", de inventar "uma perseguição a igrejas". O que de fato se mira, afirma, são "o sequestro de fiéis ou conversões forçadas, e isso não é novo, já estava em leis anteriores".  

Papo furado, diz à reportagem Carlos Alarcón, advogado constitucionalista e ex-vice-ministro de Carlos Mesa (2003-05), que precedeu a atual Presidência. "É provável que a intenção real seja aniquilar todos os direitos e liberdades que impedem [Evo] de ter o controle total da sociedade boliviana, como as liberdades do pensamento, a consciência, a religião e a expressão."  

Para Iván Lima, ex-ministro do Tribunal Supremo de Justiça boliviano, as igrejas sabem, no fundo, que o código não ameaça a evangelização. "Nossa Constituição protege amplamente a liberdade religiosa. O artigo 88 não pode ser lido isoladamente", diz.  

O que esses religiosos realmente querem, ao pleitearem a revogação de todo o Código Penal, é não permitir o abrandamento da legislação sobre o aborto, afirma.  

O Brasil entrou na peleja via bancada evangélica da Câmara. Seu presidente, o deputado Hidekazu Takayama (PSC-PR), enviou ofícios à embaixada da Bolívia e ao Itamaraty questionando o código "que vem consternando a população cristã não só do país, mas de todo o hemisfério".  

O embaixador do país no Brasil, José Kinn Franco, lamentou, em resposta a Takayama, a ação daqueles que "usam a mentira como arma" e destacou que a maioria dos militantes do governista MAS "professa uma religião".  

IGREJA VS. EVO  

O arsenal de ilações, segundo o deputado Mamani, vem da "hierarquia eclesiástica boliviana, porta-voz da direita e com intenções políticas".  

Influente no clero local, a Opus Dei, movimento católico conservador, é uma das vozes mais críticas a Morales.  

A Igreja Católica ainda tem a preferência de três em cada quatro bolivianos, segundo o Pew Research Center (no Brasil, metade segue o Vaticano).  

O bispo Eugenio Scarpellini, da populosa El Alto, tachou de "hipócrita" a visita do presidente ao papa Francisco pouco após a aprovação do Código Penal. "Que ironia é isso ocorrer no dia em que o presidente está com o papa".  Morales não se fez de rogado. No mesmo dia, postou no Twitter: "Meu irmão Francisco, como sempre solidário, humano e integracionista". 

quinta-feira, novembro 13, 2014

Maldito bolivariano!

Detalhe do retrato de Símon Bolívar pintado por Arturo Michelena.

A tendência de chamar desafetos de 'bolivariano' conta com a ignorância alheia. 

O termo precisa ser mais bem definido antes de ser berrado a plenos pulmões

Por Gilberto Maringoni na Carta Capital.


Pronto, inventaram um novo xingamento.

Depois de comunista e terrorista de um lado e de coxinha de outro, epítetos que já entediavam a todos, a tendência do verão é chamar os desafetos de “bolivariano”.

- O que quer dizer?

- Não sei muito bem, mas tá bombando.

- Estão querendo transformar o Brasil num País bolivariano.

- Bolivariano? Transformar o Brasil na Bolívia?

- Não. Bolivariano, aquele troço do Chávez.

Aquele troço do Chávez precisa ser mais bem definido, antes que se encha a boca para berrar “bolivariano!” a plenos pulmões.

O que é ser “bolivariano”, termo que tanta repulsa causa a Gilmar Mendes, ao infatigável deputado Eduardo Cunha e aos soberbos editoriais do Estadão, que dia sim, dia não, botam o qualificativo para ralar?

O presidente venezuelano Hugo Chávez não se cansava de repetir: o ideário que movia seu governo era o legado político e histórico de Simón Bolívar (1783-1830). O próprio nome do país foi alterado, a partir da Constituição de 1999, para República Bolivariana da Venezuela.

Chávez não foi o único a reivindicar o personagem. O nome de Bolívar foi apropriado por um sem número de lideranças e movimentos políticos na América Latina nos quase 200 anos que nos separam de sua morte. Seus seguidores estão espalhados pelas mais diversas vertentes do espectro ideológico.

Até que ponto as apropriações de tal legado são fiéis ao pensamento original do chamado Libertador?

É difícil dizer. A “ideologia bolivariana” tem contornos vagos e imprecisos. Bolívar é possivelmente o personagem histórico mais complexo e de maior influência no imaginário político continental. Sua obra é colossal. Além de liderar guerras de independência e de exercer influência direta em pelo menos cinco dos atuais países da região – Venezuela, Colômbia, Equador, Peru e Bolívia -, ele deixou vastíssima obra escrita, constituída por artigos, cartas e discursos.

Culto, refinado e viajado, Bolívar era sobretudo um intelectual de ação. Estava longe de ser um líder oriundo das classes populares. Era destacado membro da elite criolla, brancos e mestiços de posses que, entre os séculos XVI e XIX, se opunham ao domínio espanhol em diversos países do continente.

Bolívar teve sua vida política marcada pela luta contra o colonialismo, pela república, pelo fim da escravidão e pela defesa de um sistema de educação pública, entre diversas outras iniciativas. Tendo visitado a França por três vezes na primeira década do século XIX, foi fortemente influenciado por correntes iluministas e antiabsolutistas.

O culto a Bolívar

O historiador venezuelano Germán Carrera Damas escreveu um livro fundamental para se entender não apenas o personagem histórico, mas o Bolívar simbólico, que segue existindo. O título é preciso: El culto a Bolívar, nunca lançado no Brasil. Carrera Damas destaca que a admiração despertada por Bolívar em seu tempo e após sua morte não é fruto apenas de laboriosa pregação. Os feitos que liderou repercutiram concretamente na vida de milhões de pessoas. Não sem razão, Bolívar tornou-se objeto de culto, realizado, ao longo dos anos, com os mais diversos propósitos políticos.

Segundo outro historiador, Domingo Felipe Maza Zavala, já no governo de Eleazar López Contreras (1936-1941), na Venezuela, “o culto a Bolívar foi elevado à significação de um fundamento político”.

Através de variadas interpretações, a figura do Libertador foi reivindicada por todas as classes sociais do país como uma espécie de fator de unidade nacional ou até como símbolo da manutenção de determinada ordem. Assim, existe um bolivarianismo conservador, traduzido na profusão das estátuas equestres disseminadas nas praças de praticamente todos os municípios venezuelanos, bem como na sacralização estática de lugares e feitos do pai da Pátria. Essa vertente tenta esvaziar a figura de Bolívar de seu conteúdo transformador e anticolonialista, destinando-a à veneração estéril.

E há um bolivarianismo  de esquerda, que busca nas lutas contra o domínio espanhol a inspiração para ações tidas como antiimperialistas. As duas visões envolvem um sem-número de nuances. O ideário bolivariano sempre foi elástico e flexível o bastante para permitir leituras de um lado e de outro.

O culto a Bolívar não é uma criação ficcional, fruto de um patriotismo exacerbado em alguns países. É mais do que isso. Ele se constitui em uma necessidade histórica e em um recurso destinado a compensar o desalento causado pela frustração de uma emancipação nacional que não se completaria. Bolívar seria o elo histórico com um ideal de soberania, liberdade e justiça. Daí sua força, tanto política, quanto como veneração quase religiosa.

A ignorância alheia

A acusação de bolivariano feita por Gilmar Mendes e outras figuras do mesmo nível parte de quem conta com a ignorância alheia. E é bradado especialmente por aqueles que omitem um pequeno detalhe dessa história: na Venezuela, o contrário de bolivariano é uma oposição que não vacilou em patrocinar um destrambelhado golpe de Estado, em 2002, que retirou Chávez do poder por três dias e, de quebra, todas as referências a Simón Bolívar dos símbolos nacionais. A intentona foi um fracasso e, como se sabe, desmoralizou a oposição por vários anos.

A omissão é mais do que interessada.

*Gilberto Maringoni é professor de Relações Internacionais da UFABC autor de A Venezuela que se inventapoder, petróleo e intriga nos tempos de Chávez (Editora Fundação Perseu Abramo) e ex-candidato a governador de SP pelo PSOL.

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