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domingo, dezembro 12, 2021

O filme e a verdade sobre o nosso maior campeão mundial de Boxe

Esqueça Maguila, Popó e qualquer outro lutador brasileiro que tenha sido exaltado pela imprensa nacional nos últimos anos. O ícone brasileiro do Boxe, ainda é vivo e ganhou recentemente seu 4º título mundial. O campeão dos campeões tem seu nome em dois halls da Fama, nos EUA. O nome dele é Éder Jofre, o "Galo de Ouro". 

Por Diógenes Brandão 

Terminei de assistir o filme "Dez segundos para vencer", na madrugada da Rede Globo e corri pra pesquisar a história do pugilista brasileiro que ganhou dois títulos mundiais de Boxe, sendo treinado por seu pai, o dono de uma academia em São Paulo.

O enredo do filme é contagiante e fiquei curioso pra saber se o "presidente" Médice realmente pediu-lhes as luvas, após a luta que lhe rendeu o segundo título mundial de Boxe, em 1973.

Encontrei parte da verdadeira história no primoroso texto do jornalista José Maria de Aquino, que desmitificou trechos da história - contada pelo roteiro do filme - de Éder Jofre, o boxeador brasileiro, o qual teve seu nome inscrito no hall fama, ao lado de outras lendas do Boxe Mundial, como Muhammad Ali.

Sendo o primeiro brasileiro a deter um cinturão de relevo mundial no boxe, em 2019, ao completar 83, recebeu o cinturão de seu 3º título mundial no peso-galo pelo Conselho Mundial de Boxe (CMB), que oficializou conquista de 1960 até então não reconhecida, mas comprovada após pesquisa da família.

Durante convenção anual do Conselho Mundial de Boxe (CMB), a entidade reconhece Eder Jofre como tricampeão mundial dos pesos galos - 23/10/2019 Facebook/Reprodução.

Pesquisando mais, encontrei uma recente matéria do Globo Esporte, de Outubro deste ano, onde releva que Éder Jofre, já com 85 anos, entrou para o 2° Hall da Fama em sua vida, agora na Costa Oeste dos EUA. 

Éder Jofre, ao lado dos filhos Marcel e Andrea, no Hall da Fama do boxe — Foto: Evelyn Rodrigues.

"O ex-boxeador, acompanhado dos filhos Marcel e Andrea, foi um dos homenageados na solenidade, que ocorreu em um hotel em Los Angeles ao lado da Calçada da Fama e do cinema que abriga o Oscar.

Éder, de 85 anos, já fazia parte de um outro Hall da Fama relevante nos Estados Unidos, no estado de Nova York, desde 1992. Ele é o único brasileiro a figurar nos dois lugares "sagrados", informou o GE.

Na Wikipédia, descobri mais: Éder Jofre foi considerado, por especialistas de boxe do mundo inteiro na revista especializada em boxe " The Ring" como o "melhor pugilista da década de 1960", à frente de Muhammad Ali, que ficou na 2ª colocação. Pasmem!

Além disso, em 2002 ele foi ranqueado na 9ª posição entre os "melhores pugilistas dos últimos cinquenta anos" novamente pela revista norte-americana "The Ring", e considerado por especialistas como o maior peso-galo do boxe na era contemporânea.

Apelidado de "Galo de Ouro", pelo escritor Benedito Ruy Barbosa, Éder Jofre foi tri-campeão mundial de boxe, campeão peso-pena pelo Conselho Mundial de Boxe (WBC), e campeão do peso-galo pelo Conselho Mundial de Boxe (WBC) e pela NBA (National Boxing Association), posterior Associação Mundial de Boxe (WBA). Lutava, quando amador, sob as cores do São Paulo Futebol Clube.

Tendo a proeza de ser elogiado por outra lenda do pugilismo mundial, talvez o maior, Muhammad Ali, o nosso maior boxeador brasileiro de todos os tempos tinha 1,64m e pesava 51 quilos, quando lutou 81 vezes, obtendo 75 vitórias, sendo 52 lutas por nocaute. Perdeu apenas duas e empatou quatro vezes.

Que história fantástica, hein?!

Fiquei curioso para ler a biografia recém-lançada esse ano, nos EUA, pelo escritor Wilson Baldini Jr. que edita o melhor blog de boxe em português, no “Estadão".

Com 605 páginas, o livro com a biografia faz sucesso entre os americanos apaixonados pelo Boxe e ficou de ser traduzido para o português.

segunda-feira, abril 26, 2021

Judas e o Messias Negro leva 2 estatuetas do Oscar 2021. Assista!


Por Diógenes Brandão

Com 06 (seis)  indicações ao Oscar 2021, "Judas e o Messias Negro" deu ao ator Daniel Kaluuya (32 anos) o Oscar de melhor ator coadjuvante, sua primeira estatueta. 

Kaluuya superou Sacha Baron Cohen ("Os 7 de Chicago"), Leslie Odom Jr. ("Uma Noite em Miami"), Paul Raci ("O Som do Silêncio"), LaKeith Stanfield, que concorria com o mesmo filme. 

No longa, Daniel Kaluuya interpreta Fred Hampton, o líder dos Pantera Negras, morto em 1969. O ator, concorreu ao Oscar 2018 com o filme "Corra", mas só agora foi aclamado pelos membros da A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. 

Além do Oscar de Melhor Ator Coadjuvante, o filme "Judas e o Messias Negro" ganhou mais uma estatueta na madrugada desta segunda-feira (26), com a canção Fight for You, de H.E.R.

"Quase um ano depois das manifestações do Black Lives Matter nos Estados Unidos, "Judas e o Messias Negro" fortalece os ideais da luta contra o racismo e mantém o destaque para as pautas raciais nas grandes premiações do cinema. Desta vez, o retrato é de uma história real que aconteceu no auge do movimento revolucionário pelos direitos da população negra, nos anos 1960. 

A trama acompanha Bill O’Neil (Lakeith Stanfield), um ladrão comum que, depois de ser preso, acaba coagido pelo FBI a trabalhar como agente infiltrado no movimento dos Panteras Negras, em Chicago. O objetivo era antecipar as ações do jovem líder em ascensão na cidade, Fred Hampton (Daniel Kaluuya)", opinou o crítico de cinema Filipe Rodrigues, no blog Tenho mais discos que amigos.



"Judas e o Messias Negro" é um filme envolvente e histórico, já que retrata uma parte da luta pela igualdade racial nos EUA, com o uso de uma organização mais radical, o partido "Panteras Negras", que defendia o uso de armas contra o fascismo e a opressão dos brancos e capitalistas.

Inspirados pelo filme “Judas e o Messias Negro”, um grupo de democratas da Câmara está fazendo esforço para tirar o nome de J. Edgar Hoover da sede do FBI.  O longa destaca um dos piores abusos do bureau sob sua liderança: um programa secreto conhecido como COINTELPRO, que tinha como objetivo desacreditar os ativistas dos direitos civis e que acabou levando à morte, em 1969, do líder dos Panteras Negras de Chicago, Fred Hampton, em 1969.

“Se você fizer uma pesquisa, aposto que 90 por cento da sociedade não tem ideia do que era COINTELPRO”, apontou o deputado democrata Steve Cohen, do Tennessee.  “Esta é uma parte feia de nosso passado que não é bem conhecida”, concluiu.

Impacto emocional nos atores 

Segundo matéria da Revista Rolling Stones, não foi fácil para o elenco fazer a filmagem final de Judas e o Messias Negro. A cena chocante mostra a invasão brutal do FBI no apartamento em que Fred Hampton e outros integrantes do Pantera Negra estavam. Em evento na Cinemateca Americana, Dominique Fishback, atriz de Deborah Johnson, falou sobre as filmagens: "Quando cheguei à réplica do apartamento, a energia era muito pesada."

Aniversário de 50 anos 

O dia das filmagens da invasão do FBI no apartamento também teve outro motivo para ser especial. Naquela data, o assassinato de Fred Hampton completava exatos 50 anos - e certamente isso contribuiu para a atmosfera emocional.

O filme ainda não foi lançado em muitos cinemas do Brasil, mas pode ser assistido aqui, de preferência em uma Smart TV, após clicar em uma propaganda do site que indica o link para o streaming.

quarta-feira, novembro 16, 2016

Snowden


Por Pedro Veriano, em seu blog

Oliver Stone(69 anos) é um cineasta que se pode colocar como “de esquerda”. Seu novo filme em cartaz por aqui, “Snowden”(cognominado “Herói ou Traidor ?”) aborda o grampo de mensagens que se ampliou mundialmente e deu margem a protestos de diversos países (inclusive o Brasil). 

O sistema inventado ou aperfeiçoado por Edward Snowden (no filme Joseph Gordon-Levitt) lembrou-me desde que ouvi falar dele o “1984”, livro de George Orwell que tratava de um ditador capaz de saber de pormenores da vida das pessoas, comandando todos os atos. 

Baseado em uma historia real com roteiro do próprio Stone e Kieran Fitzgerald, começa com uma entrevista que o personagem deu em 2015 e em seguida dá inicio a uma série de flashbacks, que contam como o adolescente epilético (e como quase todos epiléticos muito inteligente), conseguiu por mérito próprio galgar postos chaves na CIA e depois em organismos ligados a espionagem norte-americana.

Há no enredo um romance entre o biografado e a jovem universitária Lindsey Mills (Shailene Woodley). O que pode parecer uma licença comercial a sequência de sexo entre os dois tipos principais da história. Mas logo a câmera se desloca para um olho eletrônico e se entende que até essa intimidade pode ser transmitida à distancia. 

Por sinal que um corte que passa de uma objetiva para um olho humano é outro prodígio de síntese do filme. Eu achei um cuidado formal superior aos filmes anteriores de Stone (mesmo o seu trabalho de estréia, o elogiado “Platoon”).

Com um elenco “afiado”, inclusive os coadjuvantes famosos como Nicolas Cage e Tom Wilkson, o filme de Stone é de excelente nível. Sua densidade, exigindo cópia em som original, deixa a gente surpreso do bom lançamento, ou melhor, no lançamento local, sempre minado com blockbuster de Hollywood. 

terça-feira, abril 14, 2015

Filme dá contribuição valiosa a debate de obra na Amazônia

Construção da casa de força da usina hidrelétrica de Jirau, no rio Madeira. 

Por Ricardo Mendonça, na Folha.

"Jaci - Sete Pecados de uma Obra Amazônica" é a saga de construção faraônica no meio da floresta amazônica. Tipo Transamazônica ou Tucuruí.

Escalados pelo governo, militares com fuzis aparecem para mediar as relações de trabalho entre uma empreiteira e seus empregados. De um gabinete, em Brasília, uma autoridade justifica o uso da força na obra "estratégica".

Atraídos pelo sonho de "enricar", milhares de brasileiros migraram para aquele canto enlamaçado do país. Atropelos ambientais. Violência. Denúncias de tortura. E até desaparecimento de grevistas.

Não fosse a onipresença de celulares nas mãos de peões, políticos, prostitutas, engenheiros, ambientalistas, pareceria mais um filme de 1970 ou 1971, auge da ditadura.

Mas o filme é de agora. Retrata quatro anos de transformações em Jaci Paraná, uma vila de Porto Velho (RO) que quadruplicou de tamanho com a obra de R$ 15 bilhões da hidrelétrica de Jirau no rio Madeira, fixação dos governos Lula e Dilma Rousseff.

Os militares que controlam operários não são soldados do Exército, mas agentes da Força Nacional. A autoridade que justifica essa presença ali não é um general, mas o então ministro Gilberto Carvalho. Do Partido dos Trabalhadores.

Os produtores dizem que mais de 30 tipos de câmeras foram usadas no filme, algumas pelos próprios operários.

Há registros do megaprotesto de 2011, quando trabalhadores incendiaram alojamentos e dezenas de ônibus. É curioso notar que eles chamam aquilo de "rebelião", expressão mais comum em motim de presidiários.

E registros da impressionante cheia do Madeira em 2014, a maior de sua história, com enormes perdas para os mais pobres. Dano da usina?

Com razão, a jornalista Eliane Brum tem denunciado que coisas grandes e graves que ocorrem na Amazônia, hoje, não são discutidas. "Jaci" discute. Valiosa contribuição.

domingo, julho 31, 2011

Diálogos Cineclubistas

No blog da Paracine.



A PARACINE – Federação Paraense de Cineclubes vem por este e-mail convidar a comunidade paraense para os DIÁLOGOS CINECLUBISTAS, rodas de conversas preparatórias à II Jornada Paraense de Cineclubes (JOPACINE).

Assim sendo, pretendemos reunir os diversos segmentos do cinema, do cinelcubismo e do audiovisual, profissionais, técnicos, realizadores, produtores, roteiristas, pesquisadores, professores e todas as pessoas que tem interesse em fazer avançar a s lutas dos movimentos sociais cineclubistas no Estado do Pará, conforme calendário abaixo:

BELÉM: DIA 6 DE AGOSTO DE 2011 – PARQUE DOS IGARAPÉS – DAS 8 ÀS 13 HORAS
COTIJUBA: DIA 19 DE AGOSTO DE 2011 – ESCOLA BOSQUE – DAS 8 ÀS 13 HS
SANTARÉM: DIA 2 DE SETEMBRO DE 2011 – IFPA – DAS 8 ÀS 13 HS
BELÉM: DIA 8 DE OUTUBRO DE 2011 - SPDDH - DAS 8 ÀS 13HS

Nestes DIÁLOGOS, os cineclubistas serão convocados a avaliar a gestão da atual diretoria, do mesmo modo definir o REGIMENTO INTERNO da II JOPACINE e a estrutura da mesma.
Além disso, os cineclubistas irão abordar, entre outros, temas como:

  • Paracine + educação 2012
  • Crise do movimento cineclubista
  • Estética do cinema amazônida
  • Relações com os movimentos sociais, com destaque aos pontos de cultura
  • Editais específicos para os povos tradicionais amazônidas e comunidades de terreiros
  • Políticas públicas
  • Direitos de autor e de públicos
  • Conhecimentos e softwares livres

quinta-feira, junho 09, 2011

Eduardo e Mônica - O filme

Vi ano passado num telejornal de Brasília que uma produtura local iria iniciar as gravações do Filme "Faroste Caboclo" que até hoje ainda não saiu, mas pra compensar, a música ‘Eduardo e Mônica’, da Legião Urbana, aquela mesma que embalou a juventude de milhares de brasileiros, virou vídeo publicitário e foi pro topo dos Trending Topics de ontem, em poucas horas depois de cair na rede.

No momento que escrevo já são quase um milhão e meio de visualizações do clip postado no youtube e em diversas outras mídias sociais, blogs, sites, etc.

Encomendado pela Vivo, o vídeo publicitário ficou um luxo e foi feito em parceria com a produtora 02 Filmes, do diretor Fernando Meirelles, que mandou muito bem na sacada que eu adoraria ter tido para encenar a história de amor do casal mais romântico do rock brasileiro.

terça-feira, fevereiro 01, 2011

A Marambaia, o Cinema e o Fórum Social Mundial

Da Marambaia à África: O cinema social presente

Nesta terça-feira (01/01), a praça Tancredo Neves, será palco da 1ª Reunião  Aberta do MOCULMA em 2011, onde serão tirados os últimos encaminhamentos para a tão esperada Mostra de Filmes do II Festival Internacional de Cinema Social - FEST-FISC, cuja segunda versão acontece, simultaneamente, em Dakar (Senegal) e em Belém, durante os dias 8, 9 e 10 de fevereiro de 2011, mais precisamente na praça Tancredo Neves, bairro da Marambaia.

Atividade cultural autogestionada do Fórum Social Mundial, aberto para todos os formatos, tecnologias e linguagens, o FEST-FISC, recebeu filmes das mais diversas origens e propostas estéticas e não tem caráter competitivo: todos os seus participantes recebem “Menção Honrosa”.
 

quinta-feira, dezembro 09, 2010

Pra não dizer que não falei de cineclubismo amazônida


Por Francisco Weyl *

O cinema é a arte da síntese e do silêncio, a arte do tempo e a arte da comunhão.
...
Pensar as práticas cineclubistas, portanto, é pensar as práticas sociais do e no próprio espaço aonde elas ocorrem, pois que estes espaços se transfiguram quando das intervenções sociais dos seus habitantes, quaisquer que sejam estes e aquelas.
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Quando optamos pelas práticas cineclubistas logo demarcamos um diferencial, artístico e social.
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As práticas cineclubistas estão em relação direta com a utilização do cinema como ferramenta educativa, pelo que o cinema, para o cineclubista, é tanto um instrumento pedagógico quanto uma arma de guerra - e de propaganda, sendo capaz de construir ou de destruir, formar e de-formar civilizações.
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Pelo seu próprio processo de fragmentação/justaposição de imagens (fotogramas), o cinema produz no cérebro a ilusão do movimento e age diretamente no inconsciente de quem assiste a projeção de um filme.
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Quando praticamos o cineclubismo sabemos que operamos a linguagem artística, cujos signos afetam diretamente o inconsciente e o imaginário das comunidades, que se identificam em maior ou em menor escala com as obras cinematográficas projetadas, pelo que estes signos devem ser necessariamente des-codificados, para que novos signos daí renascidos sejam capazes de edificar a consciência, o espírito e a autoestima humana.
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As sessões cineclubistas, dentro desta dimensão, tornam-se um palco de vivências, cujas reais experiências individuais são afetadas por imagens ficcionais, numa simbiose catártica, que resulta em diversas formas de interpretações e/ou decodificações, imediatas e/ou atemporais.
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Apesar do crescimento desta prática e do fortalecimento de algumas organizações não-governamentais aqui no Brasil ao longo dos últimos anos, cineclubismo entra na contemporaneidade por assim dizer pasteurizada pelo glamour que os home teatre possibilitam a casais e famílias consumistas que se contentam com as suas conquistas materiais e individuais.
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Sem desmerecer os altruísticos objetivos (e louvando-se as abnegações dos seus realizadores, muitos dos quais sem economizar esforços para que as sessões de cinema afinal de contas aconteçam e delas possam ser retirados ensinamentos espirituosos), as práticas neocineclubistas estão pasteurizando o fundamento original dos cineclubes, qual seja o de disseminar nas jovens platéias o gosto, senão pela crítica na sua dupla dimensão, artística e histórica, ao menos pela (auto)reflexão e partilha de alguns pensamentos que se revelam após o visionamento de determinadas películas criadas por poetas da imagem e realizadores de cinema de verdade, desses que já não mais encontramos, pois que a grande maioria se diluí nos interesses comerciais do mercado global.
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Afinal de contas, uma sessão de cineclube, ela serve muito mais para questionar estéticas do que para divertir o público quase sempre entediado da sua própria vida.
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Quando praticamos cineclubismo estamos a navegar em um rio cujas águas escorrem em uma única direção, o mar, o coletivo, a comunidade, logo, não há outra opção, ou seja, ou seguimos nesta única direção, ou remamos contra a correnteza, entretanto, paradoxalmente, as coisas não são bem assim, antes pelo contrário: fazer cineclubismo é que é remar contra a correnteza, porque muitas das práticas autoproclamadas cineclubistas tomam um curso exatamente oposto ao sentido do rumo no qual elas deveriam navegar, fato que cria uma confusão quanto ao conceito de cineclubismo.
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Um dos maiores equívocos quanto a este conceito reside no atravessamento das funções que devem ser desempenhadas pelo Estado enquanto Instituição e pela sociedade civil de uma forma geral, articulada ou não à organizações não-governamentais e coletivos artísticos.
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Se as práticas cineclubistas podem ser caracterizadas pela associação de duas ou mais pessoas com interesse em dialogar sobre as mais diversas temáticas a partir de sessões de cinema abertas ao público, também podemos afirmar que os shoppings proporcionam este tipo de prática, pelo que necessariamente há que demarcar um diferencial de natureza anticomercial.
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Outro campo a ser demarcado é que práticas cineclubistas não podem servir para propagar filmes cuja narrativa consolida valores e padrões preconizados pela indústria cultural, os quais ignoram as diferenças e as práticas culturais populares dos povos e das comunidades tracionais locais.
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Portanto, muitas vezes, por detrás das boas vontades dos praticantes do cineclubismo também podem se esconder interesses outros que não cineclubistas.
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Algumas das práticas cineclubistas que vem sendo desenvolvidas no Estado do Pará, por exemplo, são exemplos de como estes fenômenos se processam na Região.
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E isto, graças a gestores e fazedores de cultura e com a devida permissão da alienação de artistas e criadores, assim como com a alimentação mediática de jornalistas e pseudointelectuais.
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O Pará, portanto, chega a ser perverso consigo próprio, com pouquíssimos espaços culturais, como museus e teatros e cinemas, a maioria dos quais localizados na área central de Belém, sem que as comunidades periféricas tenham acesso a estes mesmos espaços, seja para se manifestar como protagonista/produtora ou apenas como passiva observadora/expectadora dos espetáculos ali programados e agendados.
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Nós que temos uma postura periférica sabemos muito bem o quanto é danosa esta visão mediática e institucionalizada da arte e da cultura, que endurece e emburrece as pessoas, retirando delas aquilo que elas podem vir a ter de mais sagrado, o que elas de fato são e desejam.
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Nós, amazônidas, sabemos muito bem o quanto é sacrificante afirmar e preservar as nossas tradições contra discursos e práticas pressupostamente híbridos, mas que, por trás das máscaras desta contemporaneidade, utilizam-se das publicidades e dos apoios empresariais e governamentais para piratear e institucionalizar – silenciar – as produções artísticas e culturais das comunidades periféricas.
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Eis o massacre físico e ao mesmo tempo intelectual contra a Amazônia: este massacre se escreve nas linhas e entrelinhas acadêmicas e mediáticas e são fortalecidas, pois que financiadas, por um ciclo industrial cultural que corrobora para uma tentativa histórica de aniquilar todo e qualquer pensamento, toda e qualquer forma de resistência amazônida.
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Quando sabemos que há neste lado do país uma vasta produção imagética sem que os seus produtores sejam respeitados, sem que a sua diversidade estética seja pautada ou discutida por quem deveria formular opiniões. Falo de pesquisadores acadêmicos, jornalistas, produtores de mídia e críticos, a maioria dos quais articulados a espaços institucionais e empresariais, e ao serviço de políticas que se recusam a reconhecer o valor do que a Amazônia produz.
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E:  valorar imagens-ações sociais como fontes documentais históricas é o princípio que funda a Paracine.

O projeto Paracine eleva à categoria de cinematografia a produção audiovisual independente, articulada aos movimentos sociais desencadeados na Amazônia a partir dos anos 70.

Matéria bruta de nossa história, estas imagens-ações revertem a linearidade das políticas institucionais e as próprias ações comunitárias no âmbito do cinema e do audiovisual.

Com a Paracine, rompe-se o conceito do cinema-padrão, consequentemente, por força, adota-se a liberdade criativa: todo paraense, todo amazônida é um realizador e as suas imagens a memória viva da sua terra.

E, para além de fontes, estas imagens – que as produzimos - são também filmes e como tais devem ser tratados.

A Paracine, por isso mesmo, eleva à categoria de cinematografia quaisquer tipos de imagens produzidas pelos paraenses e amazônidas.

E estes filmes, quaisquer que sejam as suas estéticas, são responsáveis pelo nascimento de um novo ciclo.

A História do Pará se confunde com a História da Amazônia: histórias de saques e massacres, entretanto, há uma herança que precisa ser afirmada, a de nossos antepassados paraoaras-amazônidas, índios, guerreiros, trabalhadores rurais e urbanos, estudantes, mulheres, negros.

Mas, a escrita da História, sabemo-lo muito bem, tem sido obra dos que a dominam, motivo pelo qual a Paracine pretende-se como geradora de uma viragem histórica, que transporta em si os seus próprios paralelos imagéticos.

Traçar paralelos significa objetivamente confrontar linearidades.

Porque a História é catástrofe.
...
Os fenômenos históricos e culturais não sucedem por decreto ou por vontade de indivíduos. Eles resultam de lutas e se processam de forma dialética, dinâmica, no interior das sociedades, no imaginário, nas práxis e nas relações entre nações, grupos e indivíduos.
....


* Texto lido pelo autodenominado “carpinteiro de poesia e de cinema” Francisco Weyl,
na mesa “Cineclubismo no Brasil”, no Congresso Mundial de Cineclubes
Recife, 9 de dezembro de 2010

sábado, junho 05, 2010

Pequenas Ações Grandes Idéiais

Pinçado lá do Hupomnemata de Fábio Castro. Um concurso português muito interessante: “Microfilmes para Macrocausas”. Ele premia o melhor microfilme documental de ficção ou de animação sobre temas relacionados com a pobreza e a exclusão social. Podem ser usadas câmaras digitais, celulares ou outros mídias similares. Destina-se a jovens entre os 16 e os 35 anos. Regulamento e outras informações no site do Clube Português Artes e Ideias. Via Indústrias Culturais.

segunda-feira, maio 31, 2010

Audiovisual e trabalho imaterial: é preciso financiar vidas e não apenas filmes

Por Cezar Migliorin, no Revista Global Brasil

Há mais de quinze anos falamos de cinema digital, de barateamento de custos e das novas possibilidades criativas com essas tecnologias. Entretanto, é nos anos recentes que temos visto a efetiva mudança qualitativa e quantitativa da produção audiovisual baseada em plataformas digitais. A atual produção no Brasil tem uma cara que há dez anos não existia. Em importantes festivais de cinema, no Youtube e sites do gênero, em coletivos de criação, grupos de críticos curadores online e em escolas populares; o que vemos é uma multidão de jovens produzindo e criando com imagens e sons, forjando experiências estéticas e subjetivas inovadoras sem dinheiro incentivado direto.

O mais recente Festival de Tiradentes, por exemplo, foi vencido pelo longa-metragem Viagem a Ythaca, de Ricardo e Luiz Pretti, Pedro Diógenes e Guto Parente, realizado sem recursos públicos. No Festival Cine Esquema Novo, em Porto Alegre, o melhor curta-metragem foi “Sweet Karolynne”, de Ana Bárbara Ramos (PB) também realizado sem incentivo público. Os coletivos Teia em Belo Horizonte e Alumbramento em Fortaleza mudaram a cara do cinema feito nessas cidades com muitos filmes feitos também sem incentivo público. Em relação à crítica, as mais importantes revistas do país, como Cinética e Contracampo, existem sem incentivo financeiro ou publicidade. Devemos lembrar ainda a existência de uma enorme produção feita em escolas populares como Nós do Morro, Observatório de Favelas, Escola Livre de Cinema de Nova Iguaçu, isso para ficarmos apenas no Rio de Janeiro.

Diante desse quadro, que poderia se estender por algumas páginas, o que se coloca para as políticas públicas é a possibilidade de incentivar o audiovisual liberando essas potências de vida e de criação que refletem e inventam com imagens. Com poucos recursos, o panorama acima descrito pode se espalhar por muitas outras cidades, grupos e pessoas. Certamente que isso não significa que os filmes não precisem de leis de incentivo nos moldes tradicionais, mas existem hoje outras formas de se produzir audiovisual que não podem ser negligenciadas. Nesse sentido, o que está colocado é a necessidade de uma mudança de paradigma no que tange ao incentivo à produção. É urgente que pensemos em financiar pessoas e não filmes, apenas.

Foi com este intuito que no mais recente Forcine (Fórum Brasileiro de Ensino de Cinema e Audiovisual), que aconteceu em março de 2010 na UFF (Universidade Federal Fluminense), foi acolhida a proposta de uma renda mínima para estudantes egressos de escolas de cinema e audiovisual. Neste breve artigo desenvolvo a proposta, exponho alguns pontos que a contextualizam e justifico a sugestão.

1 – A popularização dos meios faz com que jovens universitários tenham seus pequenos computadores e acesso os equipamentos necessários para edição de imagem e som. Frequentemente, isso é também verdade para as câmeras e microfones. Além do barateamento dos equipamentos pessoais, existe hoje uma importante capacidade instalada de produção audiovisual ligada às escolas, ONGs, Núcleos de Produção Digital, universidades, etc. Trata-se de ilhas de edição, câmeras e equipamentos de captação de som. Em suma, o básico necessário para a realização de obras a baixo custo.

2 – A exibição, sem fins lucrativos, é garantida em festivais quase diários, Internet, TVs universitárias e públicas, cineclubes e programas de difusão, como a Programadora Brasil. Contabilizar o público do cinema brasileiro hoje pelo número de ingressos vendidos em sala só interessa aos poderes que nenhum interesse têm pela diversidade ou pela existência de um cinema nacional.

3 – Se a cultura é o paradigma do trabalho imaterial, a precariedade, que sempre foi parte do trabalho dos indivíduos ligados à cultura, foi radicalmente reforçada na atual fase do capitalismo e das mudanças tecnológicas ligadas ao mundo do audiovisual e da comunicação. As escolas de cinema não podem ter como paradigma o emprego ou os filmes feitos com milhões de reais. Esses filmes são importantes, mas não sustentam as possibilidades de criação dos jovens que saem das escolas hoje. Também o cinema é pós-industrial e nós, formadores, devemos estar atentos a isso. Precisamos pensar em condições de trabalho em uma sociedade sem emprego. Trata-se de outro tipo de inclusão.

4 – O que leva muitos jovens a pararem de produzir quando saem das escolas e universidades é a necessidade de ganhar mil ou dois mil reais mensais, e não a impossibilidade de terem seus filmes patrocinados. Os filmes deixam de ser feitos pela necessidade de arranjar um emprego, frequentemente distante do cinema e da criação, distante daquilo para o qual foram formados. Trata-se de uma questão democrática, trata-se de aproveitar o investimento que já foi feito na formação desses jovens. Hoje, apenas os jovens de elite têm condições de se sustentar e aproveitar todas as possibilidades de criação que estão dadas no campo do audiovisual contemporâneo. O que é comum tem acesso restrito. Se estivermos de acordo que a tarefa do estado é possibilitar a existência de um cinema nacional, importante não apenas como commodity, mas como criação singular e democrática, entendemos também que, para chegar com mais eficiência a este fim, são as pessoas que devem ser patrocinadas também.

6 – Financiar as vidas de criadores de cinema e audiovisual significa, além disto, perder o controle em relação ao que será criado. Trata-se de uma lógica distante da dos editais de fomento. Um fomento direto às vidas descentraliza o dinheiro e os modos de criação. O que aparecerá de uma iniciativa como esta não pode ser previsto ou antecipado, eis o lugar da criação.

Alguns números

Se a cada ano forem oferecidas mil bolsas mensais de 1.500 reais para jovens que produzem ligados ao audiovisual; escrevendo, realizando, fotografando e experimentando, durante um ano chegaremos ao valor total de R$ 18.000.000,00 para a totalidade das bolsas.

Uma radicalização democrática, um deslocamento conceitual e um ganho em qualidade e quantidade no audiovisual brasileiro custa o equivalente a dois longas brasileiros de grande orçamento!

Propostas de operação

1 – Os jovens concorreriam a bolsas apresentando a produção dos anos em que estavam na universidade. Não se trata de apresentar projetos a serem realizados, mas garantir a continuidade de seus trabalhos nos dois primeiros anos após a formatura. Esta produção pode ser bastante diversa e contemplar um largo espectro de pessoas ligadas ao cinema e o audiovisual; críticos, técnicos de som, diretores, fotógrafos, diretores de arte, curadores, etc.

2 – As universidades, junto às agências de fomento, poderiam gerenciar essa seleção, acompanhar os resultados e produzir as necessárias avaliações. Poderiam ainda analisar as escolas de cinema não universitárias e a possibilidade de seus alunos se apresentarem como proponentes.

3 – As bolsas poderiam ser concedidas em regime de dezoito meses, com renovação depois dos nove primeiros meses. Ao trabalho.

sexta-feira, abril 23, 2010

1ª Mostra de Cinema Marajoara

O Museu do Marajó promoverá no período de 24/04 a 01/05 a Mostra de Cinema Marajoara no município de Cachoeira do Arari/Marajó e privilegiará filmes que tenham sido rodados no arquipélago.

A programação contará com obras raras como o filme “Marajó - Barreira do Mar” de Líbero Luxardo e lançamentos dos documentários “O Ajuntador de Cacos” de Paulo Miranda, “Sou teu Maninho - Um grito Marajoara” de Daniel Corrêa - selecionado no Projeto Revelando os Brasis - e “O Glorioso”, com direção, fotografia e edição de Gavin Andrews e que contou com a participação da equipe de pesquisadores do IPHAN, além de outros filmes de cineastas paraenses e estrangeiros.

Além da exibição dos filmes da Mostra, serão realizados workshops de Produção de Vídeo, Cineclubismo, Mídias Sociais e Elaboração de Projetos e Captação de Recursos, na qual, haverá elaboração prática de projetos para o MINC, além de palestras correlacionadas com o cinema e o Marajó.

A 1ª Mostra de Cinema Marajoara foi pensada para interagir com as homenagens pelo aniversário do Padre Giovanni Gallo, que este ano completaria 83 anos no dia 27/04.

Serviço:

1ª Mostra de Cinema Marajoara.

Filmes, Workshops e Palestras

De 24 de Abril a 01 de Maio de 2010.

Município de Cachoeira do Arari.

Promoção: Museu do Marajó.

Apoio: Governo do Estado do Pará e Prefeitura Municipal de Cachoeira do Arari.

Parcerias: IPHAN, AMAM, Irmandade de São Sebastião de Cachoeira do Arari, Produtora Lux Amazônia, Argonautas, CEPEPO, Cineclube Invonacine e Revista PZZ.

Curadoria: Diógenes Brandão.

quinta-feira, abril 15, 2010

I Mostra de Cinema Marajoara

O Museu do Marajó promoverá no período de 24 à 27/04, a 1ª Mostra de Cinema Marajoara no município de Cachoeira do Arari/Marajó e privilegiará filmes que tenham sido rodados no arquipélago.

A programação contará com obras raras como as de Líbero Luxardo “Marajó- Barreira do Mar” e o lançamento dos documentários “O Ajuntador de Cacos” de Paulo Miranda - Lux Amazônia, “Sou teu Maninho - Um grito Marajoara” de Daniel Corrêa, selecionado no Projeto Revelando os Brasis e “O Glorioso”, produzido pela Castanha Filmes, com direção, fotografia e edição de Gavin Andrews e que contou com a participação da equipe de pesquisadores do IPHAN, além de outros filmes curta-metragem selecionados para a Mostra até o dia 20/04. As inscrições para exibição de outros filmes devem ser feitas pelo email: cinemamarajo@gmail.com.

Além da exibição dos filmes da Mostra, serão realizadas as oficinas “Cineclube: Cinema pra Gente” e “Elaboração de Projetos e Captação de Recursos”, na qual, haverá elaboração prática de projetos para o MINC.

A I mostra de Cinema Marajoara está prevista para acontecer durante as homenagens de aniversário do Padre Giovanni Gallo, que este ano completaria 83 anos no dia 27/04. O projeto é promovido pelo Museu do Marajó em parceira com a prefeitura Municipal de Cachoeira do Arari, Governo do Estado, Irmandade de São Sebastião, AMAM, ONG Argonautas e a produtora LUX Amazônia.

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