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sábado, outubro 31, 2015

Crônica: Por que a gente se decepciona?



Por Ricardo Chapola, no Estadão.

Era dia de amigo secreto e lá ia eu, sorrindo com o presente no colo e um par de certezas na cabeça. A primeira, de que a justiça sempre haveria de ser feita. A segunda, que a generosidade era uma via de mão dupla. Descobriria, pouco depois, que nada disso é verdade, ao violar o papel do presente que, se tivesse sorte, alguém me daria. Existe essa chance: de repente, o amigo, na maior naturalidade, revela ter te tirado, mas esquecido de comprar seu presente. “Posso te dar depois?”. E você fica então a ver navios para todo sempre.

Tinha vezes, no entanto, que presente até vinha. Geralmente o mesmo: um estojinho contendo uma lapiseira e uma caneta que duravam menos do que a minha felicidade ao reconhecer o formato do embrulho nas mãos do meu amigo. Ao final, todo mundo estava feliz com seu presente, menos eu, sentado no canto da sala, contemplando o estojinho, enquanto tentava lidar com aquela sensação esquisita que a gente tem quando acaba não recebendo aquilo que espera. Mais tarde saberia que o nome daquilo era decepção.

Faz parte se decepcionar. A vida, pelo menos, tenta nos fazer entender que faz. Dá exercícios diários que nos ensinam, pouco a pouco, aceitar que nem tudo vai ser conforme gostaríamos que fosse. É melhor, porque assim também vai doer menos.

Nem sempre o pote de sorvete que descansa no freezer nos reservará seu conteúdo mais óbvio. Será, oh dor,  feijão. O café dentro de uma xícara pode estar frio justo quando mais precisarmos de uma bebida quente. O telefone pode tocar e não ser a pessoa por quem a gente tanto espera. Talvez aconteça de um desses achados arqueológicos esquecidos nos bolsos das calças não seja dinheiro, só um extrato bancário que se passava por nota pelo jeito que foi dobrado – em quatro, na forma retangular.

Fui perguntar a amigos se tinham experiências parecidas com as minhas, envolvendo frustrações, fossem grandes ou pequenas. Contaram algumas. Mas a que mais me chamou a atenção, vai ver que pela semelhança, foi a de uma amiga que ganhou um óleo antiestrias de presente. Amigo da onça? Quase: da madrasta.

A decepção é uma escolha. Sofre com ela quem menospreza os riscos de uma espera. Quem vive apenas da ilusão de que o desfecho de uma expectativa será sempre o planejado, o lado bom de uma história, jamais o pior. É preciso estar preparado para dar com a cara na parede. O problema é que a gente nunca está. Não deixe de esperar. Espere, sem ter tanta esperança. A vida não é feita só de bons presentes. Existem também os estojinhos. E o sofrimento. Disso a gente esquece.

domingo, fevereiro 06, 2011

Tiririca e Sarney

De Luis Fernando Verissimo no blog do Noblat.

Richard Nixon certa vez defendeu sua nomeação de um juiz reconhecidamente inadequado para a Corte Suprema americana com o argumento de que a mediocridade também precisava estar representada no tribunal.

Perfeito. Todos os tipos de cidadãos devem ser representados numa democracia. Nesse sentido o recém-empossado Congresso brasileiro talvez seja o mais representativo da nossa história. Além dos medíocres, muitos outros brasileiros têm voz, ou pelo menos presença de terças a quintas, no Congresso.

Alguns setores são até super-representados, como o dos grandes proprietários rurais e o dos milionários. Apesar destes pertencerem à menor minoria no país, têm uma bancada bem maior que a da maioria pobre.

Mas, em geral, todos os eleitores brasileiros, todos os tipos e todas as características nacionais têm representação em Brasília. Não lamente o novo Congresso, portanto. Eles são nós.
Tomemos o Tiririca e o Sarney. Os dois seriam exemplos, respectivamente, de desvirtuamento do processo eleitoral e de aviltamento dos costumes políticos, uma vergonha. Ou duas vergonhas.
Tiririca um inocente transformado em legislador por uma galhofa, Sarney eternizando-se no comando do Senado pelo seu poder de manobra e de conchavo, um cordeiro e uma raposa representando os extremos da nossa desilusão com a fauna parlamentar.

Mas Tiririca não representa apenas os palhaços do Brasil. A galhofa que o elegeu é uma manifestação política, ou antipolítica, que tem história no país e ou representa os que não sabem nada de nada e não querem saber, ou os que sabem tanto que votam em palhaços e rinocerontes para protestar. De qualquer forma, os simples e os enojados também têm sua bancada.

E existe algo mais brasileiro, folclórico e até enternecedor do que Sarney e seu amor pela mesa diretora?

Falar mal do Sarney é um pouco como falar mal de um velho tio excêntrico, mas cujas peripécias divertem a família. Tudo se perdoa e tudo se aceita com a frase "Que figura...". O indestrutível Sarney representa a persistência do gosto nacional por "figuras".

Mas há um caso flagrante de sub-representação no Congresso, além dos sem terras e dos pobres. Quando o senador Paim olha em volta do Senado não vê nenhum outro negro como ele a não ser um eventual garçom servindo o cafezinho. Nada é perfeito.

sexta-feira, novembro 06, 2009

Uma gatíssima à preço de custo

Adriano Barroso que é ator, autor, diretor de teatro, documentarista e roteirista escreveu esta pérola em seu blog que infelizmente está desfasado, imagino que por conta do enorme batalho que o artísta multifacetado que é, mas com certeza a leitura abaixo te levará à boas risadas (se for homem) e quem sabe indentificar-se (se for mulher). Ave Nelson. Mulher bonita gosta de papo besta. Muita elaboração vira tese, e ninguém quer ir para cama com um Phd em alguma porra que não seja o sexo. Mayra era gostosa, mas levava uma vida marital com seu namorado chato. Mesmo com a pouca idade dos dois, eles acreditavam mesmo que deviam fidelidade absoluta um ao outro. Juntos, era um casal enojador, fazendo ceninhas de ciúmes em público e quase sempre deixando a mesa de bar antes de todos, em meio a porradas. Mayra era gostosa e bem de vida, pele boa, cabelo tratado, unhas sempre feitas, se vestia com personalidade. Todo mundo só esperava um dia pegar ela sem o namoradinho chato. Minha particular batalha com Mayra já durava quase um ano, como ela sempre sorria das minhas palhaçadas, eu aproveitava para jogar deixas para ela pegar. Um dia, cheguei mesmo a ser sincero, “Se eu não fosse acanhado, eu te diria que estou enamorado por ti”. Mulher adora homens ingênuos e frases feitas. Quando eu descobri a palavra ‘enamorado” jamais usei de novo a palavra “apaixonado”, que essa dá um ar de compromisso. Enamorado é mais solto, e algumas delas, não sabem nem o que é isso. De tanto esperar, meu dia chegou. Estava rolando um festival de cinema na cidade, e alguns amigos programamos para ir. A turma, junta, somava umas seis pessoas, o número par só foi possível porque nesse dia, o namoradinho chato não foi, Mayra, sim. E eu estava disposto a cercar mais uma vez. “Faz um tempinho que encontro a Mayra sem o namorado por aí, será que terminaram?”, comentou com um certo veneno feminino Amanda, namorada de um amigo. Peguei a senha. Quando Mayra chegou, sem o mala, fui logo mandando o recado: “não posso entrar nesse cinema contigo”, mandei. “Por quê?”, ela respondeu. “Cinema ter ar de romance, e como estás sozinha, não vou responder por mim”, cravei. Ela sorriu, me chamou de palhaço, mas também não decretou distância alguma. E foi como eu tinha pensado, sentado lado a lado, eu fazia comentários sobre o filme no ouvido de Mayra, que só respondia sorrindo. O filme já pouco me importava, era de graça mesmo, e eu estava mais interessado em mapear cada parte daquele coxão exposto que sobrava na sainha de Mayra. Quase no final do filme ela se virou e falou no meu ouvido: aquele papo de enamorado ainda está de cima?, quase amarelei, mas mantive a pose. “Não me entenda mal, você é uma pessoa adorável”, me finge de tímido. Ela também fingiu que acreditou, e logo, logo estávamos trocando longos beijos. Mas também acabou no cinema nosso romance. Fomos para o bar depois e mantivemos a distância, imposta por ela, claro. Mas confesso que fiquei empolgado e decidi realmente fazer a coisa certa. Na mesma semana saímos por duas vezes e foi somente beijos trocados. “Não quero que nossa história seja somente cama, quero que a gente se conheça melhor e tu tenhas certeza do que estas fazendo”, menti. Sempre no carro dela, porque o meu já estava caindo aos pedaços e não comportava uma mulher como aquela, ela me deixava na esquina de casa acreditando ser a ativa na relação. Mas com os beijos cada vez mais quentes, chegou uma hora que não dava mais para segurar, o grande momento estava chegando. Sempre preguei que a leitura é um instrumento maravilhoso para romper barreiras e tirar a gente de encrencar. É lá, nos livros, que estão os grandes ensinamentos da vida, sabedoria é colocá-los em prática na hora certa. Mayra havia sucumbido aos constantes assédios do ex-namorado, e me dito de maneira muito triste no telefone que havia reatado a merda do relacionamento dela. Para não perder por completo tirei um João Antônio da cartola e mantive a malandragem: “Tudo bem, para um homem como eu, o que vivemos já foi uma experiência extasiante”, e desliguei o telefone num Putaquepariu. Mas o que foi plantado naquele dia renderia frutos à frente. Mandei flores e um Neruda para sua casa, em uma despedida à lá Chico Buarque. Uma semana depois São Nelson me valeria. Estávamos todos no mesmo bar, a mesma turma, dessa vez em número ímpar, quando o casal nojo resolveu empreender mais uma briguinha, ele pegou o carro e foi embora e, eu, bom, eu elegantemente me retirei da mesa e fui beber no balcão. Deu certo, ela se aproximou e disse, “Dessa vez é para sempre”, e mais: “Me leva daqui, para onde quiseres”. Para onde eu quisesse valia bem mais do que me prometer vida eterna, entendem? O negócio era que eu andava meio quebrado, gastando mais do que podia, e naquela noite, fazendo as contas rápido, pagando a despesa, me sobraria uns vinte paus. Era muito pouco pra tudo aquilo de mulher. Sorri um sorriso amarelo. “Me tira daqui, vai”, ela implorava. Tirei um Paulo Coelho da manga para ganhar tempo, e ataquei com pieguice: “A raiva nunca é a melhor conselheira”. “Raiva é o caralho, eu passei a noite inteira te olhando”, ela respondeu com a sinceridade de uma Hilda Hilst. “Ta bom. Vamos nos dar ao desfrute”, era Ana Cristina César falando em mim. Mas... (lembrei da pouca gasolina, no meu carro fedorento, do carro dela confortável, da minha carteira magricela, mas aí me veio meu santo de cabeça. Nessas horas as mulheres gostam de homens de atitude). Deixa o teu carro aí e vem comigo. Ela sorriu. Peguei ela pelo braço e saímos andando pela rua, “Para onde tu estas me levando?”, ela questionou. “Se vai rolar algo entre a gente, vai ter que ser diferente. Uma história que seja só nossa”, continuei andando e falando, “frequentas os lugares mais chiques, não é? Quero te fazer experimenta uma história diferente”, ela sorriu. Quatro quadras depois entramos no El Camiño, um hotel vagabundo no centro da cidade, que cobrava 15 paus duas horas. Ela entrou meio ressabiada, mas não desistiu. Pelos meus cálculos ainda sobraria 5 paus para colocar um litro de gasolina no meu caro até chegar em casa depois. Na cama, sacramentei a jogada: “É que eu te acho nelsonrodriguiana, sabe, bonitinha, mas ordinária, quero contigo, mas só vai ser bom se for em um lugar brega como esse”. Ela adorou a declaração. Ainda declarei muito Nelson Rodrigues naquele ouvidinho cheiroso. Sempre nos piores motéis da cidade. Uma gatíssima à preço de custo. Ave Nelson.

Crise: Edmilson Rodrigues perde seu braço esquerdo no PSOL

Luiz Araújo deixou o PT para fundar o PSOL, onde viveu até então organizando a corrente interna "Primavera Socialista" e supostame...