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terça-feira, junho 05, 2018

Os paneleiros arrependidos

Rodolfo Gonçalo lamenta ter se deixado “contaminar” pelo que falavam de Dilma dentro de seu táxi (Foto: EMILY ALMEIDA/AGÊNCIA O GLOBO)
Surge nas cidades brasileiras uma nova categoria de engajados: os ex-paneleiros que lamentam ter colaborado para a ascensão de Michel Temer, à frente do governo mais impopular da história 

Por JULIANA DAL PIVA E ALESSANDRO GIANNINI, na Época

Eles voltaram. No último domingo à noite, enquanto Michel Temer anunciava em rede nacional um conjunto de medidas para tentar encerrar o movimento dos caminhoneiros grevistas, o barulho das caçarolas tomou conta de diferentes cidades do Brasil. Frequentes nos meses que antecederam o impeachment de Dilma Rousseff, os panelaços foram momentos ruidosos de união cívica entre cidadãos desejosos da deposição da presidente. Muita coisa mudou de lá para cá. O governo impopular da petista foi substituído por um governo ainda mais impopular, que atingiu os maiores índices de reprovação da história. Surgem agora, em meio aos problemas de abastecimento provocados pela paralisação dos caminhoneiros, os primeiros “paneleiros” arrependidos de terem protestado pela queda de Dilma e colaborado para a ascensão de Temer.  

O servidor público Mário Rodrigues Magalhães, de 33 anos, mirava o nada durante o início da tarde da terça-feira 29 de maio. Sentado em um dos bancos do Largo da Carioca, entre a praça do metrô e o caminho que leva ao edifício do BNDES, no centro do Rio de Janeiro, vestia camisa social listrada, calça social e sapatos de couro, ambos pretos. Com os braços cruzados, ele se disse angustiado desde o fim da semana. “Esse clima de pânico geral, não tem como não se abalar.”  

Para ele, mesmo considerando os constantes atrasos de salário nos últimos anos, o momento em que esteve mais preocupado foi na última semana, ao acompanhar as consequências da greve e o desabastecimento de itens básicos nos supermercados, hospitais e postos de gasolina. No domingo, ele e sua mulher, Mara, assistiam à televisão em sua casa no Méier, bairro da Zona Norte do Rio, quando ouviram o pronunciamento de Temer para os transportadores de cargas. Mara repetiu então um gesto que não fazia havia quase dois anos: foi à cozinha, pegou as panelas e repetiu o panelaço que já tinha feito na época em que Dilma Rousseff ocupava a Presidência da República.  

“Minha mulher bateu panela contra a Dilma. Neste último(pronunciamento de Temer) também”, contou sorrindo. Ele afirmou que a vida não melhorou como esperava após a troca de governo. “Fui a favor do impeachment por causa da corrupção, das denúncias, dos escândalos, tudo isso aí mancha muito”, explicou. No entanto, revela que a família mudou de ideia e acredita que a mudança resultou em mais dificuldades.  “Talvez tivesse sido melhor ela (Dilma) ficar, não está acontecendo nada de diferente em relação a antes”, disse Magalhães, que declarou ter votado na petista. Para ele, os índices de economia que melhoraram nos últimos anos não passam de dados para propaganda. O que conta, em sua visão, são o aumento do desemprego, a alta nos preços de combustível e do custo de vida.

Maisa Pacheco diz que se sentiu “manipulada” nos protestos pelo impeachment (Foto: LEO MARTINS/AGÊNCIA O GLOBO).

A apenas alguns metros de Magalhães, a funcionária de um escritório de contabilidade no centro do Rio, Denise Lopes, de 52 anos, amarga um arrependimento semelhante. Trajando uma blusa azul com detalhes verdes e pretos e uma calça jeans, ela retornava apressada para o escritório após o almoço quando encontrou a reportagem. Também expressava um sentimento de cansaço.  

Lopes afirmou que só não chegou a fazer panelaço no domingo porque mora em um local isolado na Portuguesa, na Ilha do Governador. “Ninguém ia ouvir, minha casa é bem afastada. Não adiantaria”, explicou. Ela contou que foi favorável ao impeachment que derrubou Dilma Rousseff, mas também avalia que a troca não trouxe o resultado que esperava. “Fui a favor porque achava que deveria mudar pelo povo brasileiro, que falava não ao governo”, lembrou. Eleitora da petista, Lopes disse que não suportava mais as denúncias de corrupção que envolviam o PT e também achava Dilma omissa em relação à situação dos serviços públicos. “Ela estava fazendo um governo incompetente. Não estava preocupada com o povo brasileiro, assistia algumas partes do Brasil, mas não o povo inteiro.”  

Dois anos depois, Lopes afirmou que lamenta a troca há algum tempo. Para ela, o estopim nem foi a greve do transporte, mas as denúncias envolvendo o presidente Michel Temer na delação da JBS e, especialmente, o projeto anunciado por ele para mudar as regras da aposentadoria na reforma da Previdência. “Quando comecei a ver o próprio Temer com as decisões dele em relação à (reforma da) Previdência, a gente viu que foi uma coisa manipulada”, explicou. “Antes tivéssemos esperado um pouco para termos o direito de votar em uma nova eleição.”  

Quem também se sentiu influenciado e mudou de ideia foi o produtor de sistemas de informação Rodolfo Gonçalo, de 38 anos. Morador de Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio, afirmou que passou os últimos anos dividindo suas tarefas em um home office com bicos de taxista. E foi dirigindo que conversou com muitos passageiros e amigos sobre a situação do país. Nesse período, ele disse que ouviu “barbaridades” sobre Dilma e outros políticos. Passado o tempo, avalia que se “deixou contaminar”. Antes favorável ao impeachment, ele disse que não sabe mais se foi a melhor opção. “Houve mudanças? Sim. Melhorou? Ninguém sabe. É o que vejo”, afirmou. “Não sou a favor dela, mas dizer que ela arrebentou tudo?”

O servidor público Mário Magalhães acha que o impeachment trouxe mais dificuldades para sua vida (Foto: EMILY ALMEIDA/AGÊCIA O GLOBO).

Na capital paulista, mais arrependidos. Dona de um sex shop na Rua da Consolação, Maisa Pacheco, de 45 anos, assustou-se com o movimento em sua loja no último domingo. Devido à crise dos caminhoneiros, seu caixa fechou o dia com apenas R$ 16, para uma média de faturamento de R$ 2 mil. Assim, quando Temer surgiu na TV para o pronunciamento, foi para a Avenida Paulista bater panelas. De repente, se viu alvo de olhares curiosos de outras pessoas. “Fiquei sozinha batendo panela na Paulista. O pessoal ficou achando que eu era louca”, brincou. Ela só estava retomando o hábito que cultivou em um passado não muito distante, quando também pegou as caçarolas para apoiar o impeachment de Dilma — período no qual teve farta companhia.  

Examinando a situação em retrospecto, ela acredita que os manifestantes foram manipulados. “Essa coisa já estava errada quando a gente foi para a rua pedir o impeachment”, disse. “Não pensamos que o vice era o Temer. Teve uma manipulação, mas não podemos reclamar. Esse pessoal que votou na Dilma também tinha de saber que era o Temer como vice. Teríamos de fazer uma mudança de processo político”, completou.  

A greve dos caminhoneiros, motivo do último panelaço, bateu no Twitter as menções registradas em outros momentos históricos, entre eles o impeachment de Dilma Rousseff. Segundo um estudo da Diretoria de Análise de Políticas Públicas (DAPP) da FGV, o volume de menções relacionadas à greve dos caminhoneiros na rede social faz do evento o maior dos últimos anos no Brasil. Desde o domingo dia 20 até a terça-feira dia 29, o estudo identificou cerca de 8,5 milhões de menções. Além do impeachment, a greve ultrapassa a repercussão da prisão do ex-presidente Lula e da morte da vereadora Marielle Franco.  

Segundo os pesquisadores, essas menções se distribuem na rede em meio às discussões que, em geral, apoiam as pautas defendidas pelos caminhoneiros, mas sem um consenso nas demais questões debatidas. Por isso, os pesquisadores veem semelhanças com as manifestações de junho de 2013. “Essa manifestação serviu como um catalisador de uma série de insatisfações que têm se acumulado no país. Um desemprego muito alto, a preocupação com inflação, a questão dos combustíveis aumentando direto em função do aumento do dólar. Em algum momento esses fatores iriam confluir como se fosse uma faísca e foi o que aconteceu. Nesse sentido, é muito parecido com o que aconteceu em 2013”, apontou o pesquisador Marco Aurelio Ruediger, líder da DAPP da FGV.



quinta-feira, novembro 23, 2017

Com Temer na TV, PMDB tenta ridicularizar Dilma e reforça anti-petismo

A peça publicitária do PMDB pega um trecho da fala da ex-presidente Dilma e diz que 'o PT de Dilma desenterrou a mandioca e enterrou o país'. 

Por Diógenes Brandão

Uma das inserções do PMDB exibidas na noite desta quarta-feira (22) na TV, o partido de Michel Temer reforça a narrativa de que o PT é o responsável por tudo de errado no Brasil e alimenta ainda mais o anti-petismo já tão proliferado por outros agentes instalados nas emissoras de rádio, TV, assim como nas revistas, jornais e portais da internet, que são reproduzidos por milhões de pessoas através das mídias sociais.

Tal cardápio já faz parte do cotidiano destes segmentos e isso nos alerta para uma só conclusão, baseada em um ditado popular certeiro: Não se bate em cachorro morto. Ou seja, se o partido que tomou o poder investe pesado na desconstrução do PT e de Dilma, algo mostra aos caciques e marqueteiros do partido de que o "inimigo" precisa ser desgastado ao máximo.

Mas desgastar o PT e a última presidenta reeleita pelo partido, sem falar de Lula, o pré-candidato disparado na preferência eleitoral? Porque ele foi poupado?

São esses tipos de perguntas que poucos se fazem e este blogueiro acostumado a ver boi 'avoar', teme que seja um sinal de que o PMDB novamente prima por duas prioridades: Manter Temer vivo até 2018 e negociar a divisão do poder com o candidato que for eleito. Lula, claro, nunca foi descartado pelo partido que indicou por duas vezes o vice-presidente de Dilma.


No Pará, por exemplo, até agora o PT não tem consenso sobre ter candidatura própria ou apoiar uma outra candidatura dentro de uma Frente Ampla de Esquerda, que inclina-se com mais simpatia para indicar o nome da jornalista Úrsula Vidal (REDE) para governador em 2018.

Mesmo assim, o campo majoritário do PT não rompeu o cordão umbilical com a família Barbalho, que controla o PMDB e mantém petistas no alto escalão de órgãos federais, como a SUDAM e o MINC no Pará. 

Talvez isso justifique a complacência dos petistas paraenses ao PMDB. Qualquer outra tentativa de explicação, torna-se até mesmo para os néscios, pura alienação e submissão de uma militância que espera ávida por uma explicação que a retire desse submarino que naufragou com milhares de sonhos e ideias e até agora não retornou das profundezas do desconhecido.

Assista:



A Folha de São Paulo informou que "depois da divulgação do conteúdo do filme, porém, o presidente reviu sua decisão. Segundo auxiliares Palácio do Planalto, o vídeo gerou reações de parlamentares aliados, incomodados com a ironia, e da própria Dilma, que classificou a peça de "mal educada, grosseira e vulgar".  

"Esta propaganda tem o caráter do governo golpista. É machista e racista", escreveu Dilma em nota.  Temer comunicou sua equipe no início desta semana sobre a decisão de não veicular o vídeo em rede nacional".

"Se não recuar de sua decisão [de divulgar a propaganda], o governo golpista vai citar, em tom de deboche e com insinuação de duplo sentido, uma fala feita por mim na abertura dos Jogos Indígenas, em 2015, quando fiz referência à principal fonte de alimentação dos índios, que acabou sendo adotada por toda a população brasileira, tornando-se um símbolo de nossa culinária. O vídeo da propaganda política, que vazou à imprensa, confirma o machismo e a misoginia de um governo que deprecia as mulheres e as populações indígenas", completou Dilma em nota.  

No vídeo, uma apresentadora dizia que "não dava para esquecer" o discurso de Dilma. "2016, com a economia em frangalhos, Dilma Rousseff anunciava a mandioca como uma das mais importantes conquistas do país".  O discurso, porém, foi feito em junho de 2015.  "O PT de Dilma desenterrou a mandioca e enterrou o país. Estava mesmo na hora de tirar o país do vermelho", completa a narradora em uma analogia à cor do PT, partido da ex-presidente.

terça-feira, agosto 15, 2017

Fundador da Rede critica Marina, diz que Temer tem grandes chances de cair e que o exército nas favelas traz falsa sensação de segurança

Para Luiz Eduardo Soares, a ex-ministra Marina Silva deixou de ser 'espontânea' e 'genuína'

'Marina poderia ser a presidenciável favorita para 2018, mas foi irresponsável e 'queimou caravelas com esquerda' ao apoiar o impeachment', diz fundador da Rede que avalia que Temer pode cair muito em breve, pois sua permanência já não mais interessa para as elites e que o exército nas favelas traz uma falsa sensação de segurança à Classe Média.

Por Júlia Dias Carneiro, via BBC Brasil sob o título: Marina poderia ser favorita para 2018, mas 'queimou caravelas com esquerda' ao apoiar impeachment, diz fundador da Rede

Fundador e ex-membro da Rede Sustentabilidade, o antropólogo e cientista político Luiz Eduardo Soares afirma que a líder política do partido, Marina Silva, pode ter perdido a chance de chegar às próximas eleições presidenciais como favorita após ter declarado apoio ao impeachment de Dilma Rousseff no ano passado. 

"Quando ela assumiu essa posição, extremamente irresponsável do ponto de vista da democracia, acho que ela queimou as caravelas relativamente ao campo das esquerdas. Não só do PT, das esquerdas", considera ele. "Isso circunscreve o seu potencial eleitoral e político." 

Soares elaborou as propostas das candidaturas de Marina na área de segurança pública em 2010 e 2014 e deixou a legenda em outubro do ano passado - um dos signatários de uma carta aberta em que sete intelectuais anunciaram sua desfiliação, com críticas ao partido e a sua líder. 

Para Soares, Marina deixou de ser "espontânea e genuína", o que era a sua marca, e passou adotar posições "ambíguas", e jogar o jogo "mais tradicional" da política. 

Em entrevista à BBC Brasil, o cientista político considera que o cenário para 2018 está em aberto e depende da possibilidade de Lula se candidatar ou não. O caminho até lá também é imprevisível. "Hoje o Temer já é dispensável para as elites", diz Soares. "Eu diria que sua permanência é realmente incerta." 

Especialista em segurança pública, critica a presença do Exército no Rio e diz que o efeito é meramente simbólico, para transmitir uma imagem de segurança à classe média. 

Leia abaixo os principais trechos da entrevista. 

BBC Brasil - O senhor ajudou a fundar a Rede Sustentabilidade e saiu fazendo críticas ao partido. Como vê hoje as perspectivas para a Marina Silva? 

Soares - Fui o primeiro presidente da Rede no Rio. Mas a frustração foi muito grande, porque os vícios de todos os partidos foram simplesmente reproduzidos. A minha divergência com a Marina teve a ver com seu apoio ao impeachment (da presidente Dilma Rousseff). Ela tinha sempre se manifestado contrária. O (deputado Alessandro) Molon entrou para o partido depois que ela se comprometeu a ser contrária. E uma semana antes da votação, ela se pronunciou a favor do impeachment, sem nos consultar. E pior ainda, a direção do partido, que era contrária ao impeachment, mudou de posição menos de 24 horas depois, para não deixá-la só. Isso é o retrato de que o partido não dispõe de instâncias autônomas. 

BBC Brasil - Qual foi o impacto dessa mudança para a trajetória política dela? O senhor acredita que Marina tenha chances em 2018?

Soares - Ser a favor do impeachment significava entregar o país ao núcleo mais perigoso da política nacional, o PMDB. Quando ela assumiu essa posição, extremamente irresponsável do ponto de vista da democracia, acho que queimou as caravelas relativamente ao campo das esquerdas. Não só do PT, das esquerdas.

Ela hoje teria todas as condições de ser favorita nas eleições de 2018 se tivesse se mantido contra o impeachment. Poderia unificar o campo das esquerdas com um discurso palatável, capaz de suscitar respeito entre eleitores do centro, e a população evangélica também se reconheceria nela. Ela viria com um potencial eleitoral muito grande. 

Com sua ruptura com o campo da esquerda, resta a ela buscar unir o centro com fatias mais conservadoras e de centro-esquerda. Mas isso já circunscreve o seu potencial eleitoral e político. 

Ela deixou de ser espontânea e genuína. Essa era a sua marca. Passou a estar sempre numa posição ambígua, com poucas definições claras, e a jogar o jogo mais tradicional. Mas sem dúvida é uma candidatura forte potencialmente.

BBC Brasil - O cenário ainda está muito em aberto para 2018 - o que o senhor acha que está se desenhando para a disputa? 

Soares - O Lula é um forte candidato, porque para a maioria da população fez o melhor governo que experimentaram. E de fato os resultados foram notáveis, superiores aos governos anteriores em termos de crescimento e de redução de desigualdades. Ele saiu com 85% de aprovação popular. Isso é um patrimônio extraordinário, que está sendo erodido pelas denúncias constantes da mídia.

Você tem um aventureiro, o prefeito de São Paulo, João Doria. Ele não merece confiança cívica. De maneira cínica, ele se apresenta como não-político, mas faz política o tempo todo, e da pior qualidade. É um demagogo que se apresenta como anti-Lula, anti-PT, já que não tem substância. O Alckmin, a alternativa do PSDB tradicional, tem mais substância, mas é muito difícil que o PSDB eleja um presidente diante de tantas denúncias. 

E hoje temos a extrema-direita de fato fascista, que propõe golpe militar, o Jair Bolsonaro. Ele nunca foi exposto, cobrado, nunca lhe perguntaram nada sobre o Brasil. Ele é apenas o que denuncia, que fala em nome da ordem, e reuniu uma multidão de admiradores com a corrosão da credibilidade das instituições. 

Já Ciro Gomes, acho que tem muita dificuldade de se consolidar porque se comportou de maneira errática em relação a compromissos e vinculações partidárias no passado, gerando incerteza em torno de seu comportamento, ainda que tenha talento e um projeto com alguma substância. 

BBC Brasil - O senhor considera o ex-presidente Lula um candidato forte, mas ele é réu cinco vezes e já foi condenado em primeira instância em um sexto caso, o do tríplex do Guarujá. 

Soares - Essas denúncias são muito complicadas. As do sítio de Atibaia e do tríplex são ridículas e não sensibilizarão a população. As pessoas sabem como funcionam os poderes no Brasil, e dirão, mesmo que (a série de acusações contra Lula) seja verdade, que outras pessoas estão aí roubando bilhões. 

Na época do Adhemar de Barros, um governador de São Paulo que foi muito popular, a população dizia, "ele rouba, mas faz". Já que a categoria dos políticos é basicamente corrupta, com raras exceções, vamos escolher entre os que produzem benefícios. Esse tipo de espírito vai acabar prevalecendo quando as questões estiverem ainda num nível de sítio, pedalinho e apartamento. 

BBC Brasil - A percepção sobre corrupção mudou com a Lava Jato ou o senhor acha que mesmo hoje as pessoas ainda comprariam essa ideia do "rouba, mas faz"? 

Soares - Se você tiver um segundo turno entre Bolsonaro e Lula, não tenho dúvida que todos que criticam o Lula hoje vão votar nele. Todos que têm alguma ambição democrática. Mesmo que acreditem que ele tem algum envolvimento com corrupção. Talvez tenhamos que votar contra, e não a favor. 

Os juristas mais importantes que conheço consideram pífias as acusações contra o Lula. Estou convencido de que a fundamentação é insuficiente para uma condenação. 

Não estou dizendo que a Lava Jato não mereça respeito. Mas que houve uma inclinação política na focalização do PT, houve. O PSDB começou a aparecer muito mais recentemente, e de forma muito mais leve que o PT, e os problemas são equivalentes. E são superados pelo PMDB, onde reside o núcleo central e mais tarimbado da corrupção na política brasileira.

Retirar a Dilma para levar o representante do PMDB para o poder em nome da ética é despudoradamente hipócrita. Pois as massas foram às ruas, a classe média, instigada pela Globo, para apoiar essa troca. E diante do quadro atual, não há o mesmo tipo de investimento na mobilização política. As ruas estão vazias, por assim dizer. 

BBC Brasil - Depois de ser quase derrubado pelo escândalo da JBS, o presidente Michel Temer conseguiu sobreviver ao julgamento do TSE e ao voto na Câmara que barrou a denúncia de corrupção contra ele. O senhor acha que agora ele consegue se manter até o fim do mandato? 

Soares - Ninguém sério pode responder a essa pergunta com convicção. É impossível saber. As variáveis são incontroláveis, como as que advenham das investigações da Lava Jato. Se algumas delações forem aceitas e negociadas, é possível que Temer não consiga se sustentar.

Até porque já há um substituto comprometido a seguir a agenda regressiva para cujo cumprimento Temer foi elevado a presidente. O afastamento da Dilma foi uma manobra para que essa agenda neoliberal extrema fosse implementada, que nunca obteria apoio em uma eleição. Estamos diante de uma verdadeira intervenção neoliberal, com uma agenda obscurantista e regressiva. Enquanto as atenções públicas se voltam para a permanência ou não do presidente, ele e o seu governo se apressam, na calada da noite, a promover mudanças trágicas para as sociedades indígenas, para a sustentabilidade, o meio ambiente. 

Antrópologo e fundador da Rede critica posturas ambíguas de Marina Silva

Eu acredito que haja condições para que o Temer caia. Quais são as condições imprescindíveis? Uma alternativa comprometida com a implementação das mesmas reformas neoliberais, que é o Rodrigo Maia. 

Hoje o Temer já é dispensável para as elites. Se ele cair, o presidente da Câmara pode dar sequência à agenda das reformas. E se as elites já têm um estepe, talvez ele seja mais conveniente. Mesmo que venha a ser denunciado, este será um processo demorado, e ele implementaria de forma talvez mais fluente a agenda neoliberal. Se isso é possível, o Temer corre risco. Diria que hoje sua permanência é realmente incerta. 

BBC Brasil - O Congresso está se movimentando para aprovar uma reforma política que implantaria o chamado distritão, que vem sendo criticado como um sistema que favoreceria a eleição de velhos conhecidos da política. O senhor acha que isso vai adiante? 

Soares - Isso é assustador. O distritão elimina as minorias, torna as eleições muito mais caras e com resultados previsíveis, porque os que já estão no poder vão viabilizar sua reeleição, e as celebridades terão privilégios. Não haverá possibilidade de que os partidos ideológicos se destaquem. As propostas vão ficar em segundo plano. Não à toa, esta é uma ideia do Temer, e do Cunha, que está sendo apresentada pelo PMDB e pelas forças conservadoras do Congresso. BBC Brasil - O ministro do STF Luís Roberto Barroso disse há alguns dias que a crise política está levando a um "cenário de devastação no Brasil", e que é impossível não sentir vergonha. O momento lhe causa vergonha? 

Soares - Claro. Quer dizer, eu não sei se vergonha é o termo, porque vergonha significa que você se sente representado pelos que elegeu e culpado pelo que está acontecendo. Eu não sinto assim, porque quando a gente é derrotado, não é necessariamente responsável pelo que sucede após a derrota.

Para Luiz Eduardo Cardoso, há condições para que Temer caia do cargo se deleções forem aceitas e negociadas.

BBC Brasil - Então é vergonha alheia? 

Soares - Ah, isso sim. Sem dúvida (risos). 

BBC Brasil - Há algo que lhe dê esperança no momento? 

Soares - O longo prazo. Se você estuda história, você tem a perspectiva de que as coisas foram muito piores. Já vivemos momentos mais difíceis durante a ditadura. E o que ocorreu no Brasil no século 20 pode nos dar esperança de mudanças profundas. 

No curto prazo, não dá para ser otimista. Mas os processos são dinâmicos. E há uma potência que vibra no subsolo do Brasil desde 2013 cujas energias podem se converter em transformações importantes. 

BBC Brasil - O senhor costuma falar no deslocamento de placas tectônicas quando busca explicar os efeitos dos protestos de 2013. Esses efeitos ainda estão sendo sentidos? 

Soares - A metáfora me ocorreu quando senti nas ruas essa palpitação, essa energia pulsando, inclusive a alegria da participação. Aqueles foram momentos de festa, e eu dizia, o Brasil se revolta, se rebela, vai às ruas porque melhorou bastante. Em geral é assim. Você potencializa os agentes sociais, que elevam suas expectativas e assumem protagonismo. 

Foi um momento muito bonito, contraditório. As mensagens eram, basicamente, que há um colapso da representação política. Ninguém acredita mais nas instituições políticas tal como funcionam. Isso é perigoso, mas é também condição positiva de mudança. 

O fato de não ter havido nenhuma modificação diretamente derivada de 2013 não significa que aquilo não tenha sido muito importante. 

A partir dali, a gente passou a viver intensamente o que vivera anteriormente, mas requalificando as relações. Se já havia adversários, eles se transformaram em inimigos. Se já havia oposições, elas se converteram em confrontos. Se havia uma linguagem da disputa, ela se converteu em código do ódio. As polarizações se enrijeceram e se firmaram. 

O que marca tudo isso é a intensificação. E essa intensidade tem um sentido e ainda não se manifestou plenamente. Isso pode ser uma fonte de temor ou esperança. Nós estamos em um momento como esse diante da história, do seu abismo e de suas promessas. 

BBC Brasil - Por que as ruas estão vazias? Por que não vemos nada parecido com as mobilizações de 2013 ou de antes do impeachment? 

Soares - O cenário está totalmente aberto, e as pessoas estão pensando nas consequências (dessa mobilização). Elas vão para a rua clamar pela queda do Temer para então receber Rodrigo Maia? E para continuar com a agenda das reformas?

A classe média pode desejar isso, mas a maioria da população positivamente não, conforme demonstram pesquisas de opinião. Além disso, há uma suspeição enorme de que as movimentações vão acabar beneficiando o Lula, então os contrários ao Lula não vão se envolver. 

BBC Brasil - Como o senhor vê a situação atual de segurança no Rio? Temos visto uma escalada de violência e o governo respondeu com o envio do Exército. O senhor acha que isso ajuda a resolver o problema de alguma maneira? 

Soares - Não, claro que não, e a cúpula do Exército sabe disso. Sabe que os soldados não estão preparados para fazer vigilância nas ruas, para abordagens, eventuais enfrentamentos e para respeitar limites indispensáveis às ações internas ao país. Eles têm muito medo de um eventual deslize, de uma ação precipitada ou mesmo de uma autodefesa legítima, porque isso impacta a imagem do Exército. 

Mas o fato é que presença do Exército tem efeito meramente simbólico. Transmite uma imagem de segurança para a classe média, que acha que agora está protegida. Não há dados sobre ações anteriores que demonstrem que esse é o caso. Os números não mostram queda de criminalidade. Ao contrário, às vezes até aumentam, sobretudo de homicídios dolosos. 

BBC Brasil - É um gesto de desespero convocar o Exército? 

Soares - Mas é claro, e isso o governo já disse explicitamente. Deixou claro que não tem recursos, está perdido, não sabe mais o que fazer. Qualquer iniciativa para qualificar o trabalho das polícias envolveria mais recursos, e o Estado está quebrado, não paga os funcionários, mal paga as polícias. Eles estão inteiramente perdidos e reproduzem o velho padrão da guerra às drogas e intervenção bélica nas favelas, que produzem desastres. São mortes de inocentes por balas perdidas, mortes de suspeitos e mortes de policiais.


quinta-feira, agosto 03, 2017

Pesquisa DOXA desmente Wlad e revela que Temer é reprovado por 90% dos paraenses

Diferente do que Wlad disse, Temer não tem 80% de aprovação e sim 2,03%, conforme revela a DOXA pesquisas.

Por Diógenes Brandão

Wladimir Costa acusou os institutos de pesquisa IBOPE e DATAFOLHA de mentirem, ao mostrarem a altíssima rejeição do presidente e disse, em alto e bom som, que Temer tem a aprovação de 80% dos paraenses. Pesquisa DOXA afirma que é o contrário: 90% dos paraenses reprovam Temer e apenas 2,3% aprovam seu governo.

Ao ser escalado pela ala governista, na sessão que apreciou o pedido de arquivamento do pedido feito pela Procuradoria Geral da República, para que o STF investigue Michel Temer, entre outros impropérios, o deputado federal Wladimir Costa (SD-PA) usou como argumento de ataque e defesa, a acusação de que os institutos de pesquisa IBOPE e DATAFOLHA mentem ao mostrarem a altíssima rejeição em que Temer se encontra perante a população brasileira. 

Como se não bastasse, sem a preocupação de mostrar qual a fonte que ele se baseava para tal afirmação, o deputado do Solidariedade - partido que tem como presidente nacional - o ex-sindicalista e hoje deputado federal Paulinho da Força (SP) - disse, em alto e bom som, que Temer tem a aprovação de 80% dos paraenses.

Na tarde desta quinta-feira (03), o cientista político Dornélio Silva, que comanda o Instituto DOXA pesquisa, afirmou em seu facebook justamente o contrário, ao revelar números de sua mais recente pesquisa.

Veja a publicação:



Sem projetos e o que mostrar, Wlad busca mídia para reeleição

A pirotecnia e toda a encenação em defesa do impeachment de Dilma, trouxe ao deputado federal Wladimir Costa, a fama de 'deputado dos confetes', apelido midiático de reconhecimento nacional, até o último sábado, quando ele apareceu em Salinas com uma tatuagem de henna no ombro esquerdo, onde ostentava a bandeira do Brasil e o nome de Temer. 

Daí em diante, 'Wlad' como gosta de ser chamado, ganhou novas definições e pelo que percebe-se de seu comportamento midiático, ele se retroalimenta de polêmicas e assim visa obter a reeleição perante seu eleitorado.

No entanto, Wlad ignora que alimenta a repulsa e aversão de camadas da população que reprovam tal comportamento de um parlamentar, que está em sua função para exercê-la com respeito aos que lhe confiaram a representação e não agir tal como ele, sempre jocoso, ignóbil e espalhafatoso. 

sexta-feira, julho 28, 2017

Polícia prende suposto coordenador da campanha de Eder Mauro, deputado que encenou a prisão de Lula

Durante manifestações pelo Impeachment de Dilma, Eder Mauro (PSD-PA) encenou a prisão de Lula. Imprensa diz que um dos seus coordenadores de campanha é o acusado de ser mandante do assassinato do ex-prefeito de Breu Branco.

Por Diógenes Brandão

Um ano e meio depois de encenar a prisão do ex-presidente Lula, o deputado federal Eder Mauro (PSD), teve o suposto coordenador de sua campanha eleitoral preso, junto como mais 03 pessoas, acusadas pela morte do prefeito de Breu Branco, há pouco mais de dois meses.



Segundo informações da SEGUP-PA o presidente do Partido Social Democrático (PSD) do município de Breu Branco,  Ricardo José Pessanha Lauria, conhecido como “Ricardo Chegado”, é apontado como  o mandante pelo assassinato do prefeito da cidade, Diego Kolling, conhecido como “Diego Alemão” (PSD). 

Além de Ricardo, mais três outros presos não tiveram a identidade revelada, teriam tido participação indireta, auxiliado na execução do crime. Celulares e outros objetos foram apreendidos. A expectativa é que os presos sejam encaminhados ainda hoje em uma aeronave para Belém.

A prisão do assassino e mandante do crime cometido há pouco mais de dois (02) meses, acontece três (03) dias depois da morte de Jones William, o 3º prefeito assassinado no sudeste paraense, durante o período de um ano e meio.         

Eleito pelo partido presidido no município pelo seu algoz, “Diego Alemão”, foi assassinado a tiros no início da manhã do dia 16 de Maio deste ano, quando pedalava com um grupo de amigos na rodovia PA-263.  A vítima foi atingida pelas costas e chegou a ser socorrida, mas não resistiu aos ferimentos e morreu no Hospital Regional de Tucuruí, sudeste paraense. Na ocasião, “Diego Alemão” tinha 33 anos e era casado. 

Conforme investigações da Polícia Civil, o acusado de ser o executor do crime trabalhou para o presidente do PSD, como tratorista.  O suspeito confessou ter executado o prefeito a mando de Ricardo Chegado.  O diretório do PSD informou que a direção do PSD em Breu Branco foi afastada e encontra-se sob intervenção.

O acusado foi preso na fazenda de um amigo, depois que a justiça expediu mandados de prisão preventiva e de busca e apreensão solicitados pela polícia e cumpridos nas áreas urbana e rural do município, localizado a 248 km de Marabá. 

Órgão de comunicação do governo do Estado, a Agência Pará divulgou nota onde revela que o delegado geral Rilmar Firmino foi o responsável pela ação que reuniu cerca de 40 policiais, entre civis e militares. Às 17 horas, na sede da Delegacia Geral, está prevista uma coletiva de imprensa, quando serão apresentados detalhes da operação deflagrada em Breu Branco.

Jornalista poupa jornais e sites, mas acusa internautas de irresponsáveis

De Marabá, o jornalista  Hiroshi Bogéa usou seu blog para chamar de irresponsáveis os internautas que usam as redes sociais para, segundo ele, vincular Eder Mauro à morte do prefeito de Breu Branco

O deputado nega o vinculo. Leia aqui.

quinta-feira, julho 27, 2017

Outras Palavras: Por que já não basta eleger o presidente

Cada vez mais claro que, para superar maré conservadora, será preciso enfrentar Congresso, mídia e Judiciário. Isso exige intensa mobilização popular e uma Constituinte exclusiva.
   
Por Mauri Cruz, no Outras Palavras 

O golpe parlamentar-judiciário-midiático acertou em cheio a estratégia que as esquerdas vinham desenvolvendo com certo sucesso nas últimas décadas no Brasil. Ninguém esperava que a direita e a centro-direita iriam promover a ruptura com o estado democrático de direito até porque este “estado de direito” seguia nos limites do estado burguês e também porque os governos de esquerda não implementaram uma agenda de mudanças estruturais. 

Por motivos nacionais, talvez a direita seguisse convivendo com governos populares. O que incidiu para a ruptura do pacto, certamente, foram os interesses internacionais. Apesar disto, ainda hoje há setores da esquerda que acreditam que é possível recompor uma aliança com a burguesia brasileira. 

Me parece uma leitura equivocada e um aliança improvável. Ao final a conclusão sobre uma reflexão da conjuntura é bastante triste: o fim da conciliação só ocorreu por decisão da direita, caso contrário, parte da esquerda seguiria no mesmo barco até sabe-se lá quando e a que custos.  

Bem, agora o importante é que nos demos conta que o golpe encerrou um ciclo na história brasileira. E que outro ciclo se abriu com desfecho ainda imprevisível, porque a sociedade que elegeu Lula e Dilma ainda está aí e aquela que defende os privilégios perdeu a vergonha de dizer o que realmente pensa. 

O país está polarizado. É preciso reconhecer que o que mudou foi a possibilidade de seguir com uma estratégia de pacto com setores do sistema capitalista visando a inclusão produtiva e no consumo de milhares de pessoas sem, no entanto, alterar as estruturas que perpetuam as desigualdades no país. 

A síntese pobres menos pobres e ricos mais ricos foi a tônica deste período que se encerra e traduz muito bem as escolhas que foram feitas pela maioria do campo democrático popular nos últimos anos.  

E, frente a este novo ciclo, temos diferenças de leitura sobre qual a profundidade da crise e qual deve ser a postura estratégica do campo democrático e popular. Por isso mesmo, temos propostas distintas de alternativas para a superação da crise. 

Para ajudar na reflexão, recorro a uma frase que circunda nosso universo teórico que diz ser a política a arte do possível. Num primeiro momento, isso nos induz a ideia de que sempre se pode compor com outras forças para conquistar certos resultados. 

Por outro lado, penso que a arte do possível também pode orientar propostas de radicalização de rupturas com o sistema. O que define qual das estratégias devem ser adotadas é, por um lado, a crença do que realmente é o possível e por outro o horizonte temporal com o qual se está definindo as políticas.  

Só para citar um exemplo que é de conhecimento de todas e todos, em 1985, quando da derrota da Campanha das Diretas Já, o PT decidiu não participar do Colégio Eleitoral, embora houvessem em disputa um candidato identificado com a ditadura militar, Paulo Maluf do PDS e outro identificado com a abertura política, Tancredo Neves do PMDB. 

Se olhar para o momento imediato, ou seja, a possibilidade real da eleição do PDS, a escolha correta seria votar em Tancredo do PMDB. Por outro lado, mirando um projeto de sociedade onde o povo é quem deve escolher seu próprio destino, não participar das eleições indiretas representou uma sinalização para a sociedade brasileira da radicalidade do compromisso do PT com a democracia. 

A diferença das leituras, naquela época, foi o horizonte temporal. O PT de 1985 apostou no médio prazo e, como sabemos, acertou.

Em 7 de junho, foi lançada a Frente Ampla Nacional por Diretas Já com um amplo espectro político onde estão praticamente todas as forças políticas democráticas e populares do Brasil. Couberam, nesta Frente Ampla, desde os setores progressistas do PSB e PDT, passando pelos movimentos sociais nacionais, as centrais sindicais, a CNBB, o CONIC, o PCdoB, o PT e PSOL e os setores mais radicalizados dos movimentos sociais.

Historicamente, foi um momento importante porque selou a unidade que vimos construindo ao longo destes últimos dozes meses na luta contra o golpe, contra a retirada de direitos e todos os retrocessos.  

No debate, no entanto, a unidade foi possível nos limites das Diretas Já. Isto porque, embora a maioria dos movimentos sociais vejam no Congresso o espaço onde está ancorado o golpe e a agenda de retirada de direitos, há setores, em especial aqueles compostos pelos partidos, que identificam o golpe apenas pela destituição da presidenta Dilma. Ignoram que, este Congresso foi eleito com pesados investimentos das grandes empresas que capturaram a democracia tomando de assalto as instituições democráticas. Por isso, não há espaço para saídas verdadeiramente democráticas fora da devolução do poder de decisão ao povo brasileiro.  

Senão vejamos: o “Volta Dilma” é uma bandeira correta, por outro lado, o retorno da presidente dentro do contexto de composição do Congresso e do Poder Judiciário não nos indica que represente mudanças estruturais. Os longos meses de luta contra o impedimento e que, como sabemos, não foram capazes de revertê-lo, indicam que Dilma novamente no Palácio do Planalto não representaria uma retomada das agendas sociais e, provavelmente, não iria além de uma desforra moral com os golpistas.  

Da mesma forma, a bandeira da antecipação das eleições diretas, embora igualmente correta por ser um antídoto contra os acordos entorno das eleições indiretas no Congresso, na prática não indica para mudanças estruturais, isto porque, elegendo um ou uma nova presidência sem mexer no Congresso, novamente retornamos ao mesmo ponto onde, a pessoa eleita terá que compor com as bancadas da Odebrecht, da JBS, do Banco Itaú, dos usineiros, da Bancada da bala, da bíblia e do boi, etc., composições estas que somente ocorrerão nos marcos dos interesses destes poderosos grupos econômicos.  

Neste sentido, mudança real somente podem ocorrer com eleições gerais e para uma Constituinte exclusiva, no sentido de que todo poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos da Constituição Brasileira. 

Desta forma, está expresso nos princípios constitucionais que o poder popular é uma delegação aos representantes que pode ser revogada. A saída portanto, é devolver a decisão para que o ao povo decida sobre o desfecho da crise institucional, econômica, política e social que estamos inseridos. 

Se esta proposta tem ou não capacidade de ser efetivada, só o tempo dirá. O que não parece correto é abortar as possibilidades históricas tentando compor uma aliança com aqueles que historicamente impõe uma agenda de retrocessos.  

Como dito no inicio deste texto, a campanha das Diretas Já de 1984 não foi taticamente vitoriosa, mas demonstrou-se uma potente referência política que nos acompanha até os dias de hoje. Já nas mobilizações de 2013, parte importante da população brasileira, em especial da juventude, foi às ruas pedir mudanças. 

Muitos daqueles jovens reivindicavam maior espaço de participação e a ampliação do controle popular sobre políticas públicas como os transportes, a educação, a saúde e os espaços coletivos. Infelizmente, por motivos que não cabem aqui aprofundar, aquelas manifestações rapidamente se tornaram contra o governo e foram capturadas pela direita.  

Em relação as mobilizações o que nos interessa é que aquele sentimento de mudanças ainda está latente na base social brasileira. Neste sentido, defender uma proposta mais radical talvez não garanta as possibilidade de uma vitória no curto prazo; no entanto, certamente sinaliza para a classe trabalhadora um horizonte estratégico que, se concretizado, terá resultados melhores e mais duradouros na luta por direitos.  

E qual a sinalização que estaremos fazendo. Ora, de que sem mudanças estruturais os mecanismos que geram e aprofundam as desigualdades irão continuar gerando seus efeitos. 

E, para que hajam mudanças reais, é preciso primeiro uma reforma política e, na continuidade, a reforma agrária, a reforma urbana, a reforma do sistema judiciário, a democratização dos meios de comunicação e a reforma do sistema tributário.  Por isso que nossa bandeira, neste momento de crise, poderia ser por eleições gerais, com uma Constituinte exclusiva, as únicas formas de realmente manter e conquistar nossos direitos e ampliar a democracia.

terça-feira, julho 25, 2017

Roda Viva histórico: Reinaldo Azevedo desmascara Moro e os promotores da Lava Jato



Por Diógenes Brandão

O blog lamenta por só agora ter visto e trazido à ribalta o programa "Roda Viva", que avalio ter entrado para a história, pelo fato do jornalista Reinaldo Azevedo ter feito comentários contundentes sobre a condenação em primeira instância, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. 

Autor dos livros "O país dos Petralhas I", "O país dos Petralhas II" e do termo "Esquerdopata", o ex-jornalista da VEJA, detonou as avaliações de Thaméa Danelon, procuradora da República e coordenadora do Núcleo de Combate à Corrupção do Ministério Público Federal em São Paulo, que também participou do programa como debatedora e elogiou o juiz Sérgio Moro e a operação Lava Jato, mas levou uma verdadeira "surra" de Reinaldo Azevedo.

Logo em sua primeira fala, Reinaldo Azevedo chega a dizer que o juiz Sérgio Moro cometeu diversas piruetas e conclui uma avaliação sobre a turma acusatória da Lava Jato: "Quando eu vejo um Procurador da República pedindo cadeia para este político, ou aquele. Ou contestando ao vivo e em cores uma decisão que está sendo tomada no Supremo, eu vejo um homem de Estado se exacerbando e tomando uma posição que não lhe cabe(...) Infelizmente, o Ministério Público hoje transgride a lei de maneira clara, objetiva, indisfarçável". 

Os tucanos devem ter ficado pasmos ao ouvirem Reinaldo Azevedo preconizar: "O PSDB talvez seja extinto agora no processo do Petrolão". 

Outra coisa que chama atenção no vídeo é o chilique do jornalista José Nêumanne - editorialista do jornal O Estado de S. Paulo e comentarista da TV Gazeta e da Rádio Eldorado - reclamando por ter, segundo ele, ter sido chamado de ignorante por Reinaldo Azevedo.

Além do caso de Lula, o programa também abordou a crise política em decorrência da denúncia da Procuradoria-Geral da República contra o presidente Michel Temer.

Assista abaixo os trechos citados acima e logo em seguida, a versão completa do programa:


Aqui, você assiste a versão completa do programa Roda Viva:


Crise: Edmilson Rodrigues perde seu braço esquerdo no PSOL

Luiz Araújo deixou o PT para fundar o PSOL, onde viveu até então organizando a corrente interna "Primavera Socialista" e supostame...