Mostrando postagens com marcador Ditadura Militar. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Ditadura Militar. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, março 29, 2021

Recusa em apoiar Estado de Sítio levou à demissão do ministro da Defesa

Governo Bolsonaro troca quatro ministros em duas semanas. Imagem: Raul Spinassé/Folhapress.


Via Balaio do Kotscho, no UOL Notícias

A falta de apoio das Forças Armadas na sua tentativa de decretar o Estado de Sítio foi a principal razão para Bolsonaro demitir sumariamente o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, segundo fontes militares ouvidas pela coluna. 

Bolsonaro queria que os militares pressionassem o Congresso a aprovar o estado de exceção, que suspende garantias individuais e dá plenos poderes ao presidente. Há várias semanas o capitão já vinha preparando o terreno para adotar essa medida extrema, ao fracassar no combate à pandemia e anunciar que "o caos vem aí".

Azevedo e Silva ainda tentou argumentar que as Forças Armadas são instituições de Estado e não de governo, mas o presidente estava decidido a tocar em frente seu plano para dar um autogolpe. 

Foi o mesmo motivo da demissão do advogado Geral da União, José Levi do Amaral Junior, que se recusou a assinar a ação de Bolsonaro contra os governadores no STF. A ação, recusada pelo Supremo, foi entregue na semana passada só com a assinatura do presidente da República. Para o lugar dele na AGU, o presidente quer levar de volta André Mendonça, que tinha ido para o Ministério da Justiça. 

Para o Ministério da Justiça foi o delegado da Polícia Federal Anderson Torres, que era Secretário Nacional da Segurança Pública e deve coordenar as Polícias Militares (ver final da coluna). 

De forma secundária, outra recusa contribuiu também para a saída de Azevedo e Silva, que se negou a assinar a promoção do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello para general de quatro estrelas.

Bolsonaro simplesmente não admite ser contrariado e, quando isso acontece, age por impulso, o que já vinha preocupando a alta cúpula militar. O objetivo do presidente, nesta louca dança das cadeiras que desencadeou hoje, é se cercar apenas de fiéis aliados terrivelmente submissos como eram Pazuello e Araújo.

O que os militares não conseguem entender é com qual apoio o capitão pretende contar agora para levar adiante seu plano golpista, depois dos atritos com o Congresso, o STF e o mercado, sendo demonizado pela maior parte da grande mídia e com a perda de poder dos seus fanáticos seguidores nas redes sociais. 

Cada vez mais só e isolado, o capitão tornou-se incontrolável. 

Desde a decisão do STF de cancelar as condenações de Lula pelo ex-juiz Sergio Moro na Lava Jato, Bolsonaro entrou em parafuso, começou a atirar para todo lado e acabou promovendo o desmanche do seu próprio governo, que derrete a olho nu. 

Acabou o governo Bolsonaro que tomou posse no dia 1º de janeiro de 2019. 

O que se sabe é que o presidente vem há tempos trabalhando para garantir o apoio das Polícias Militares estaduais, que, somadas, têm o dobro do contingente das Forças Armadas, tirando-as do comando dos governadores contra os quais já apontou sua artilharia. 

É nesse contexto que se insere o movimento do que sobrou das forças bolsonaristas no Congresso e nas redes sociais para atiçar um motim da Polícia Militar contra o governador da Bahia, Rui Costa, após um conflito na corporação neste fim de semana. 

Os próximos dias, enquanto o presidente não for contido em sua escalada autoritária, prometem fortes emoções. E tudo isso está acontecendo na antevéspera de mais um 31 de Março, aniversário do Golpe Militar de 1964 sempre defendido por Bolsonaro. 

Preparem-se. 

Vida que segue

quinta-feira, outubro 26, 2017

A mãe que vai enterrar o filho que teve dentro de uma cela da ditadura militar

Hecilda Fonteles Veiga, perdeu hoje o filho que teve dentro de uma cela imunda da ditadura militar.

Por Diógenes Brandão

Falecido na madrugada desta quinta-feira (26), vítima de um infarto, após uma complicação causada por uma broncopneumonia, Paulo Fontelles Filho, mais conhecido como Paulinho Fontelles, nasceu na prisão, durante a Ditadura Militar. 

Sua mãe, Hecilda Fonteles Veiga, era estudante de Ciências Sociais quando foi presa, em 1971, em Brasília, com cinco meses de gravidez. Hoje, vive em Belém (PA), onde é professora do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Pará (UFPA).

Num depoimento reproduzido na 36ª audiência pública da Comissão da Verdade de São Paulo, a mãe de Paulo contou: 

Quando fui presa, minha barriga de cinco meses de gravidez já estava bem visível. Fui levada à delegacia da Polícia Federal, onde, diante da minha recusa em dar informações a respeito de meu marido, Paulo Fontelles, comecei a ouvir, sob socos e pontapés: ‘Filho dessa raça não deve nascer”.

Depois, fui levada ao Pelotão de Investigação Criminal (PIC), onde houve ameaças de tortura no pau de arara e choques. Dias depois, soube que Paulo também estava lá. Sofremos a tortura dos 'refletores'. 

Eles nos mantinham acordados a noite inteira com uma luz forte no rosto. Fomos levados para o Batalhão de Polícia do Exército do Rio de Janeiro, onde, além de me colocarem na cadeira do dragão, bateram em meu rosto, pescoço, pernas, e fui submetida à 'tortura cientifica', numa sala profusamente iluminada. 

A pessoa que interrogava ficava num lugar mais alto, parecido com um púlpito. Da cadeira em que sentávamos saíam uns fios, que subiam pelas pernas e eram amarrados nos seios. As sensações que aquilo provocava eram indescritíveis: calor, frio, asfixia. 

De lá, fui levada para o Hospital do Exército e, depois, de volta à Brasília, onde fui colocada numa cela cheia de baratas. Eu estava muito fraca e não conseguia ficar nem em pé nem sentada. 

Como não tinha colchão, deitei-me no chão. As baratas, de todos os tamanhos, começaram a me roer. Eu só pude tirar o sutiã e tapar a boca e os ouvidos. Aí, levaram-me ao hospital da Guarnição em Brasília, onde fiquei até o nascimento do Paulo.   

Nesse dia, para apressar as coisas, o médico, irritadíssimo, induziu o parto e fez o corte sem anestesia. Foi uma experiência muito difícil, mas fiquei firme e não chorei. Depois disso, ficavam dizendo que eu era fria, sem emoção, sem sentimentos. Todos queriam ver quem era a fera' que estava ali.

Assista o vídeo com a entrevista com a professora, militante, mãe e esposa Hecilda Fonteles Veiga.



terça-feira, outubro 10, 2017

O papel da arte é fazer pensar. Pense, MBL! Pensem, religiosos! Pense, povo!

Jesus Cristo com a Deusa Shiva, 1996. by Fernando Baril. 

Por Claudio Carvalho

Depois dos arroubos de descontentamentos via redes sociais protagonizados por representantes do MBL (Movimento Brasil Livre) e por alguns religiosos, a exposição “Queer Museus”: Cartografias da diferença na arte brasileira, no museu Santander, em Porto Alegre, que reunia 85 artistas, incluindo os mundialmente conhecidos Alfredo Volpie e Cândido Portinari foi suspensa e cancelada. Os arautos da censura bradaram que o acervo e as obras indicadas para compor a exposição faziam demasiado apologia à pedofilia e à zoofilia. Um emaranhado de teses reacionárias, aliadas de preconceitos exorbitantes. 

Essa não é a primeira vez que essa entidade chamada MBL, que parece ter fortalecido sua visibilidade na vida social brasileira, contemporaneamente no período de maior ascensão das políticas contra o povo, promovido pelo atual governo. Essa entidade, suspeita-se, que, financiada por empresários e por partidos políticos conservadores e de direita, principalmente o PSDB, DEM e PMDB, protagoniza situações vexatórias de desconhecimento sobre a realidade social brasileira e a dimensão da nossa educação, arte e da cultura. 

Também é notório seu comportamento perante as questões sobre as prerrogativas e os avanços dos direitos humanos no Brasil, às vezes negando; outras tantas, negando e emperrando continuidade, protagonizando clara oposição ás lutas históricas do nosso povo. 

O MBL é um movimento declaradamente a serviço dos atuais donos do poder em nosso país.  

Não podemos descartar a similaridade desse ataque frontal, via redes sociais, com agressões verbais e morais, sobre a organização e realização de um evento cultural social, nos meandros da nossa triste história recente, quando esse país foi governado por militares em Estado de Exceção permanente. 

Quem tem ouvidos ouça e lembre-se, o teatro e a peça Roda Viva, naquela época, chegaram a ser proibidos pela ditadura militar e as pessoas que compunham o seu elenco sofreram violências físicas e destruição total do cenário e dos figurinos. Tudo isso protagonizado por entidades como CCC (Comando de Caça aos Comunistas), entre tantas outras, que são legitimadas por um estado político que não expressa a vontade da maioria do povo, nem da totalidade da nossa sociedade. 

Hoje foi a exposição e museus; amanhã, vão ser os livros e a literatura? Depois a música e o cinema? 

A arte e a cultura são instrumentos para promover pensamento, educação, acesso, inclusão, fortalecer e abraçar debates. 

Vejam que a exposição “Queer Museus”: Cartografias da diferença na arte brasileira em sua concepção e composição desperta e provoca tudo isso. Não esperem da arte e da cultura aprisionamentos, que não conseguirão. 

Não há nenhuma possibilidade para o fazer criativo de negociação sobre limitações e restrições à sua liberdade de manifestação e criação. Uma boa produção artística não é aquela que nasce para prescrever e impor regras, mas aquela que traz à tona e faz discutir questões relevantes para a sociedade independente dos credos e dogmas da variedade de seguimentos que compõem o tecido social. 

Ninguém deu autoridade legal e/ou política a um grupo de reacionários, empoeirados e ultrapassados mediarem censura prévia àquilo que historicamente nossa cultura já reconhece como desafios a serem expostos para que a sociedade possa expressar suas opiniões, buscar soluções e não as mascarar como pretendem essas entidades. O papel da arte é fazer pensar. Pense, MBL! Pense, Religiosos! Pense, povo!

*Claudio Carvalho é Educador e Técnico em Gestão Cultural, nascido e criado em Belém do Pará.

quinta-feira, julho 27, 2017

TÔ DECIDIDO: VOU VOTAR NO BOLSONARO!

Em segundo lugar nas pesquisas, Bolsonaro segue com sua popularidade e apoio crescendo.  

Por Diógenes Brandão

A sociedade brasileira experimentou uma ditadura de mais de 20 anos que tatuou a alma do nosso povo e de nossas instituições.

A polícia é um bom exemplo disso: Métodos de tortura importados da Alemanha nazista ou da Itália fascista, eram exercitados por militares e civis, seja nos porões do DOI-Codi, quarteis, delegacias ou fazendas usadas pelos braços clandestinos da repressão.

Os "bandidos" da época eram na maioria das vezes, jovens acadêmicos, artistas e jornalistas, que chamados de "comunistas" e "terroristas", sentiam o ódio e o delirante masoquismo nas mãos, cacetetes e fios-elétricos daqueles que diziam estar "mantendo a ordem" no país, afim de livrá-lo de ideias subversivas.

Hoje vemos os herdeiros da ditadura alcançando o topo das pesquisas eleitorais e poucos reagem. A ingenuidade dos jovens que morreram lutando pelo restabelecimento da democracia, parece não ter servido para nada às gerações que os sucederam.

Os revolucionários envelheceram, criaram seus filhos com tudo de bom que poderiam lhes dar e hoje assistem a tudo - merecidamente - em suas casas confortáveis e nada falam quando ouvem - ou leem - jovens dizendo que vão votar em policiais justiceiros, ou naqueles que defendem a pena de morte aos "vagabundos".

Assim, como se não tivessem mais nada a fazer, estes homens e mulheres que viveram o período acima retratado, hoje se omitem da tarefa de esclarecer e repassar seus conhecimentos aos néscios e boçais que vociferam contra tudo que não for o que eles dizem ser a "verdade". É mais fácil chamá-lo de "coxinhas", "manipulados" e "direitosos" e bloqueá-los de suas vista.

A única coisa que ainda podemos ler é os "esquerdopatas" indagando no Facebook, mais ou menos assim: "Cadê os patos amarelos que batiam panelas e saíam às ruas, com o uniforme da CBF, supostamente pelo fim da corrupção e que agora estão sumidos?".

Tal pergunta além de não contribuir em absolutamente em nada, ao invés de mobilizar, acirra ainda mais a polarização burra e vazia entre gente que pensa que é direita por ser anti-petista e aqueles que poderiam, mas já não conseguem reinventar métodos de mobilização e conscientização popular.

Diante disso, fica a pergunta: Sem o povo nas ruas, quem vai derrubar os golpistas e evitar um futuro governo reacionário? Só o pessoal das centrais sindicais pró-Lula, que hoje já não convencem nem mesmo os antigos revolucionários e seus filhos a participarem de uma manifestação?

sábado, abril 29, 2017

Na histórica Greve Geral de 2017, Globo fez pior do que nas Diretas Já de 1984


"A maneira como a TV Globo tratou a histórica Greve Geral do 28 de abril de 2017 é, na minha avaliação, muito pior do que aconteceu com a cobertura das Diretas Já em 1983/1984."

Por Luiz Carlos Azenha, em Viomundo

Em 1983 eu era repórter da TV Bauru, afiliada da Globo no interior paulista. Porém, vivia “cedido” à emissora em São Paulo, cobrindo férias de colegas. Morava no Hotel Eldorado da rua Marquês de Itu, no Higienópolis, na capital paulista, como repórter do chão de fábrica.

Fui, como pessoa física, à primeira manifestação pelas Diretas Já em São Paulo, diante do estádio do Pacaembu, à qual compareceram cerca de 15 mil pessoas. Foi em 27 de novembro de 1983, poucos dias depois de meu aniversário.

Outros protestos já tinham acontecido antes, pedindo que a ditadura estabelecida em 1964 tivesse fim com eleições presidenciais diretas. Outras aconteceriam depois, com destaque para Curitiba, onde se reuniram cerca de 40 mil pessoas.

Portanto, posso dizer que eu estava lá vivendo a realidade paralela pela primeira vez: enquanto as notícias fundamentais para o futuro do Brasil aconteciam do lado de fora, a TV Globo desconhecia as notícias do lado de dentro — especificamente, na sede da emissora em São Paulo, na praça Marechal Deodoro.

Era uma sensação bizarra. As ordens vinham do Rio: na Globo, nada de Diretas Já.

Portanto, não houve exatamente surpresa quando, no aniversário de São Paulo, em 25 de janeiro de 1984, o repórter Ernesto Paglia falou sobre a manifestação de cerca de 300 mil pessoas na praça da Sé, que reivindicava outra vez Diretas Já, como se fosse a comemoração da efeméride. Sim, é fato que a reportagem tratou dos discursos e da manifestação em si, mas foi embalada pelos editores, a mando da direção da Globo no Rio, como se fosse a cobertura de uma festa.

A maneira como a TV Globo tratou a histórica Greve Geral do 28 de abril de 2017 é, na minha avaliação, muito pior do que aconteceu com a cobertura das Diretas Já em 1983/1984.

Àquela época, a emissora poderia alegar — como alguns globais chegaram a alegar — que vivíamos os estertores de uma ditadura militar e que desafiar o regime poderia ter consequências para a própria abertura “lenta, gradual e segura” prometida pelo ditador João Figueiredo.

Agora, não. Graças às redes sociais — facebook, twitter, whatsapp — qualquer pessoa pode avaliar o grau de descontentamento com as medidas de impacto social tomadas por um governo que tem o presidente da República e nove de seus ministros sob suspeita e/ou investigação, medidas que por sua vez são submetidas a um Congresso igualmente sob suspeita.

Mesmo os mais devotos apoiadores do impeachment de Dilma Rousseff e antipetistas vários sabem que Michel Temer não foi eleito vice-presidente para tomar o rumo que tomou, nem tem legitimidade para golpear os direitos sociais da forma como pretende fazê-lo.

Age em nome do 1% do topo, com 4% de ótimo/bom na pesquisa de opinião pública mais recente e desemprego na casa dos 14%, quando a promessa era de que a derrubada de Dilma provocaria um cavalo-de-pau imediato na economia.

Portanto, desta feita a TV Globo e seus satélites não tem onde se esconder: o apoio dado às medidas do governo Temer expressa acima de tudo o interesse político e econômico dos próprios donos da mídia e dos usurpadores do poder no Planalto e no Congresso que os representam.

No caso da emissora, é absolutamente impossível do ponto-de-vista jornalístico que uma organização com tantos tentáculos espalhados por todo o Brasil tenha sido incapaz de registrar o descontentamento popular ANTES da greve geral, de forma a expressá-lo em seu noticiário.

Será que só nós, internautas, vimos por exemplo as manifestações da CNBB e de um terço dos 100 bispos da Igreja Católica, os quais certamente não podemos acusar de agirem a mando do anarco-sindicalismo?

A Globo, para ficar apenas na nave mãe, simplesmente fez mau jornalismo. Não foi pela primeira, nem será pela última vez.

Agora, porém, não tem como se esconder atrás da ditadura, da qual foi a principal beneficiária, como fez em 1984.

Agora, fez mau jornalismo — distorcido, omisso, descontextualizado — porque coloca seus interesses empresariais, representados pelo governo Temer, acima do interesse da maioria dos brasileiros.

PS: Que fique registrado. Quando Lula se elegeu presidente e foi à Globo do Rio dar entrevista ao Jornal Nacional — estava em minha segunda passagem pela emissora — eu fui um dos poucos jornalistas presentes que não o aplaudiram na entrada. Não acho que o papel de jornalista seja bater palma para autoridade, tampouco negar a realidade que o cerca.

domingo, dezembro 11, 2016

Amazônia: colônia



Os militares se embeveciam quando comparavam a conquista da Amazônia, que eles promoviam com intensidade desde 1966, com a corrida especial entre americanos e russos. Quando os primeiros cosmonautas contornaram a Terra, dizia-se que lá do alto, de uma distância inimaginável até pouco tempo, eles só conseguiam contemplar duas obras humanas: a muralha da China e a Transamazônica.

A estrada, com mais de dois mil quilômetros de extensão na sua primeira fase, era como um novo abrir do mar Vermelho da mitologia bíblica. Rasgando uma linha de terra batida no meio de uma floresta fechada e até então não penetrada pelo homem, que não se aventurava muito além dos cursos d’água, milhares e milhares de brasileiros desfavorecidos pela sorte, teriam acesso, finalmente, ao sonhado pedaço de terra.

Em um lote de mil por mil metros, ele ingressaria na até então inatingível classe média rural. A Amazônia era o Éden, a Terra Prometida, a Bandeira Verde do imaginário do nordestino, o principal dos imigrantes.

Em 1975, porém, a colonização oficial dirigida pelo governo federal, que aproximaria os homens sem terra da região mais pobre do país à terra sem homens da sua maior fronteira, seria substituída por uma nova diretriz. A Amazônia, ocupando dois terços do território brasileiro, podia abrigar quantos parta ela se deslocassem – não mais, porém, com subsídio estatal. O que Brasília queria era fazer da Amazônia uma usina de dólares.

Seus recursos naturais teriam que se converter em dólares, com os quais o regime militar, finalmente, tornaria realidade seu projeto geopolítico do Brasil Grande, salvaguardado pela doutrina de segurança nacional contra estrangeiros ameaçadores e, sobretudo, maus brasileiros – os críticos, os subversivos, os terroristas.

O “modelo de ocupação” foi definido de forma bem clara no II PDA, um plano de desenvolvimento quinquenal, executado com rigor e conforme a letra do texto, um documento colonialista sem qualquer veleidade de pudor e tergiversação. Era um enunciado tão categórico que continua a ser seguido até hoje, 31 anos depois do fim da ditadura, sob sete presidentes da república democraticamente eleitos, de diversas tendências políticas e ideológicas.

Aquele que era o inimigo do regime ditatorial, o líder operário Luiz Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores, foi o que mais enalteceu o rigor e eficiência do planejamento tecnocrático dos militares – e o que mais fielmente o seguiu. Secundado por sua sucessora, Dilma Rousseff.

Eles se empenharam em realizar obras semelhantes às apoiadas pelos militares, como as hidrelétricas de Jirau, Santo Antônio e Belo Monte, que, juntas, representam investimento de mais de 60 bilhões de reais, passando por cima de críticos e oponentes com uma determinação que deixaria admirado o principal dos formuladores da estratégia dos militares, o general Ernesto Geisel, citado pessoalmente por Lula com certa reverência.

De fato, desde 1975, as exportações da Amazônia se multiplicaram 15 vezes. O Pará se tornou o sétimo maior exportador do Brasil (já foi o 5º, caindo por causa da brutal queda do principal produto de exportação do país, o minério de ferro, do qual é o vice-líder, abaixo apenas de Minas Gerais) e o terceiro que mais fornece divisas (diferença entre o valor do que exporta e do que importa).

São produtos de baixo valor agregado: matérias primas, commodities. Os mais intensivos, porém, em energia, como alumínio, alumina, minério e a própria energia bruta. O II PDA impôs à Amazônia dupla penalidade: o efeito multiplicador dos produtos que exporta vai ocorrer no país que os importa; além disso, a receita tributária é baixa, impedindo a melhor distribuição dos efeitos econômicos da exploração dos seus vastos recursos naturais.

Em 1996, um golpe profundo foi dado pelo deputado federal (de São Paulo) Antonio Kandir, que integrara como ministro o governo Collor e se bandeara para o PSDB. Ele propôs e conseguiu transformar em lei a isenção completa do principal imposto para Estados e municípios, o ICMS das exportações de matérias primas e produtos semi-elaborados. Por acaso, no ano seguinte o governo Fernando Henrique Cardoso privatizaria a antiga Companhia Vale do Rio Doce, a principal beneficiada pela lei Kandir.

Estados e municípios perderam desde então bilhões de reais. A compensação prevista pela lei nunca foi completa. O pior é que a lei sequer foi regulamentada. No final do mês passado, por unanimidade, o Supremo Tribunal Federal mandou o Congresso Nacional cumprir uma omissão de quase 13 anos.

O descaso do legislativo era – e continua a ser – com a determinação constitucional de editar lei “fixando critérios, prazos e condições nas quais se dará a compensação aos Estados e ao Distrito Federal da isenção de ICMS sobre as exportações de produtos primários e semi-elaborados”.

Para obrigar o Congresso a assumir sua responsabilidade, o governo do Pará ajuizou no STF uma Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão, que teve a adesão de mais 15 dos 27 Estados da Federação. Por 11 votos a zero, o plenário do Supremo julgou procedente a ação, acolhendo o voto vencedor do relator, Gilmar Mendes.

A corte fixou prazo de 12 meses para que o Congresso editar lei complementar regulamentando os repasses de recursos da União para os Estados e o Distrito federal em decorrência da desoneração das exportações do ICMS.

Até para lhe diminuir o prejuízo, a Amazônia é tratada pelo poder central como é de verdade, retóricas à parte: uma colônia.

sábado, novembro 26, 2016

Fidel Castro e os vira-latas da mídia



A mídia brasileira, com o seu complexo de vira-lata, sempre reproduziu a visão imperial dos EUA de satanização do líder cubano Fidel Castro. Agora, com o anúncio da sua morte, ela promove uma festa macabra. Na Globonews, os “calunistas” de plantão não se cansam de repetir a palavra “ditador”. No site da Folha, a manchete garrafal: “Ditador Fidel Castro morre em Cuba aos 90 anos”. Já a asquerosa Veja destaca os “10 fatos sobre a vida do ex-ditador”. E a revista Época segue a toada emburrecedora: “Aos 90 anos, morre o ditador cubano Fidel Castro”. Uma rápida olhada nos sites dos principais veículos internacionais evidencia como a mídia nativa afundou de vez no jornalismo rastaquera.

A guerra fria acabou e o mundo mudou. Mas a mídia brasileira mantém sua linha editorial colonizada e replica as piores posições dos falcões do império. Na prática, ela corrobora com o pensamento fascista de Donald Trump. Logo após o anúncio do falecimento, o magnata corrupto festejou “a morte do ditador brutal que oprimiu seu próprio povo por quase seis décadas... Enquanto Cuba continua sendo uma ilha totalitária, é minha esperança que hoje marque um afastamento dos horrores suportados por muito tempo, para um futuro em que o maravilhoso povo cubano possa finalmente viver em liberdade”. A imprensa nativa segue o pensamento do psicopata que presidirá os EUA!

A guinada direitista de Clóvis Rossi

O triste em mais este episódio é acompanhar a conversão de certos jornalistas que já tiveram um papel mais digno na imprensa nativa. É o caso de Clóvis Rossi, colunista e membro de conselho editorial da Folha. Sua relação conjugal com os tucanos fez com ele adotasse a mesma trajetória do PSDB. De socialdemocrata a conservador. No artigo publicado neste sábado, intitulado “A esquerda morre com Fidel Castro”, ele confirma sua guinada à direita. Para ele, com o falecimento do líder cubano, “morre na verdade a esquerda que poderia ter sido e não foi, a que poderia ter sido uma utopia libertária e acabou sendo uma ditadura como tantas outras que ensanguentaram a América Latina”.

O jornalista da Folha – o jornal que apoiou o golpe militar de 1964 e os generais “linha dura” que prenderam, torturaram e mataram tantos brasileiros – pousa de teórico ao analisar as vicissitudes das esquerdas e ao menosprezar “um punhado de militantes comunistas e intelectuais seduzidos pela promessa do socialismo”. Ao final, ele conclui: “A morte do ícone dessa utopia fracassada encontra a esquerda numa tremenda crise... Cuba não aceitou (ainda) o liberalismo mas está aceitando o capitalismo, com imensas dificuldades. Sem Fidel, torna-se ainda menos farol para a esquerda”. 

Sua tese “acadêmica” talvez ajude a diminuir sua depressão e a justificar sua conversão. Clóvis Rossi há muito tempo “aceitou” o capitalismo e hoje namora com o liberalismo destrutivo do PSDB, o mesmo que ergueu a “pinguela” para o Judas Michel Temer tomar de assalto o poder no Brasil.

sexta-feira, novembro 18, 2016

O dia que a bandeira do Japão virou comunista



Por Todd Tomorrow, via Facebook.

Pode parecer piada, mas não é! É verídico! Essa é uma das vozes pela intervenção militar que invadiram/ocuparam o plenário da Câmara. Ouça suas afirmações a respeito do painel em comemoração ao centenário da imigração japonesa no Brasil, que fica exposto permanentemente no Congresso Nacional desde 2008.

[+] Bandeira nacional japonesa http://bit.ly/2fXFTPd

segunda-feira, fevereiro 29, 2016

Sede do PCdoB é atacada por anti-comunistas

Pichação com a sigla de organização criminosa na sede do PCdoB desperta um sentimento de perseguição política vivida durante a Ditadura Militar Brasileira e deve ser investigada pelas autoridades locais de forma contundente. 

Por Diógenes Brandão

Segundo informações que circulam nas mídias sociais, um grupo de jovens nazi-fascistas de Aracaju -SE arrombou e invadiu a sede do PCdoB e pichou em uma das salas do partido, a frase "Volta CCC" em uma clara alusão ao CCC (Comando de Caça aos Comunistas), organização paramilitar anticomunista brasileira de extrema direita, atuante sobretudo nos anos 1960 e composta por estudantes, policiais e intelectuais favoráveis ao regime militar então vigente. 

O Comando de Caça aos Comunistas (CCC)* era chefiado pelo advogado João Marcos Monteiro Flaquer e recebia treinamento do Exército Brasileiro. 



O CCC surgiu em 1963, em plena Guerra Fria, quando era difundido na sociedade, sobretudo na classes média, o medo do comunismo e do avanço da esquerda no Brasil. Estima-se que, só no Estado de São Paulo, o Comando de Caça aos Comunistas contasse com mais de 5 mil integrantes. Entre eles, muitos eram estudantes universitários da Universidade Mackenzie, da Faculdade de Direito do Largo São Francisco e da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP). Mas havia também policiais e membros de organizações da direita católica, como a Opus Dei e a Tradição Família e Propriedade (TFP). Muitos dos seus membros agiam como delatores. Recebiam treinamento militar e frequentemente andavam armados.

Entre os líderes, então estudante do curso de Direito da Mackenzie, Boris Casoy, hoje apresentador de um telejornal na TV.

Segundo relatos, em 1964, logo após o golpe militar, os integrantes do CCC invadiram e destruíram a Rádio MEC, no Rio de Janeiro. Foi a primeira ação "oficial" do Comando, na defesa do novo regime. De acordo com a professora Maria Yedda Leite Linhares, os invasores literalmente destruíram os estúdios da rádio. Além do CCC, havia pelo menos outros três grupos de extrema-direita reconhecidos publicamente: a Associação Anticomunista Brasileira (AAB), a Frente Anticomunista (FAC) e o Movimento Anticomunista (MAC). Todavia, o CCC liderava as manifestações anticomunistas no Brasil, fazendo denúncias e atacando diretamente pessoas e entidades da oposição ao governo militar.

*A referência sobre o CCC foi extraída do Wikipedia.

segunda-feira, dezembro 07, 2015

A melhor análise sobre o golpe que a grande imprensa já publicou

Troque o nome Mazzili por Aécio e veja a capa que a grande imprensa tanto quer estampar novamente nos jornais do Brasil.

Passei o dia vendo este artigo da Folha de São Paulo sendo compartilhado, mas só agora que fui lê-lo por completo. Considero importante para que nossos amigos e familiares conheçam esta análise, não só por ser de uma pessoa isenta e respeitada, mas sobretudo por lançar luz sobre o momento político que o nosso país atravessa e nem sempre todos tem a oportunidade de se dar conta do que está por de trás de tudo isso.

O DIA DA INFÂMIA. Por Fernando Morais*

Publicado no jornal Folha de São Paulo, neste domingo, 06/12/2015. 

Minha geração testemunhou o que eu acreditava ter sido o episódio mais infame da história do Congresso. Na madrugada de 2 de abril de 1964, o senador Auro de Moura Andrade declarou vaga a Presidência da República, sob o falso pretexto de que João Goulart teria deixado o país, consumando o golpe que nos levou a 21 anos de ditadura.

Indignado, o polido deputado Tancredo Neves surpreendeu o plenário aos gritos de "Canalha! Canalha!".

No crepúsculo deste 2 de dezembro, um patético descendente dos golpistas de 64 deu início ao processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.

A natureza do golpe é a mesma, embora os interesses, no caso os do deputado Eduardo Cunha, sejam ainda mais torpes. E no mesmo plenário onde antes o avô enfrentara o usurpador, o senador Aécio Neves celebrou com os golpistas este segundo Dia da Infâmia.

Jamais imaginei que pudéssemos chegar à lama em que o gangsterismo de uns e o oportunismo de outros mergulharam o país. O Brasil passou um ano emparedado entre a chantagem de Eduardo Cunha –que abusa do cargo para escapar ao julgamento de seus delitos– e a hipocrisia da oposição, que vem namorando o golpe desde que perdeu as eleições presidenciais para o PT, pela quarta vez consecutiva.

Pediram uma ridícula recontagem de votos; entraram com ações para anular a eleição; ocuparam os meios de comunicação para divulgar delações inexistentes; compraram pareceres no balcão de juristas de ocasião e, escondidos atrás de siglas desconhecidas, botaram seus exércitos nas ruas, sempre magnificados nas contas da imprensa.

Nada conseguiram, a não ser tumultuar a vida política e agravar irresponsavelmente a situação da economia, sabotando o país com suas pautas-bomba.

Nada conseguiram por duas singelas razões: Dilma é uma mulher honesta e o povo sabe que, mesmo com todos os problemas, a oposição foi incapaz de apresentar um projeto de país alternativo aos avanços dos governos Lula e Dilma.

Aos inconformados com as urnas restou o comparsa que eles plantaram na presidência da Câmara –como se sabe, o PSDB, o DEM e o PPS votaram em Eduardo Cunha contra o candidato do PT, Arlindo Chinaglia. Dono de "capivara" policial mais extensa que a biografia, Cunha disparou a arma colocada em suas mãos por Hélio Bicudo.

O triste de tudo isso é saber que o ódio de Bicudo ao PT não vem de divergências políticas e ideológicas, mas por ter-lhe escapado das mãos uma sinecura –ou, como ele declarou aos jornais, "um alto cargo, provavelmente fora do país".

Dilma não será processada por ter roubado, desviado, mentido, acobertado ou ameaçado. Será processada porque tomou decisões para manter em dia pagamentos de compromissos sociais, como o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida.

O TCU viu crimes nessas decisões, embora não os visse em atos semelhantes de outros governos. Mas é o relator das contas do governo, o ministro Augusto Nardes, e não Dilma, que é investigado na Operação Zelotes, junto com o sobrinho. E é o presidente do TCU, Aroldo Cedraz, e não Dilma, que é citado na Lava Jato, junto com o filho. Todos suspeitos de tráfico de influência. Provoca náusea, mas não surpreende.

"Claras las cosas, oscuro el chocolate", dizem os portenhos. Agora a linha divisória está clara. Vamos ver quem está do lado da lei, do Estado democrático de Direito, da democracia e do respeito ao voto do povo.

E veremos quem se alia ao oportunismo, ao gangsterismo, ao vale-tudo pelo poder. Não tenho dúvidas: a presidente Dilma sairá maior dessa guerra, mais uma entre tantas que enfrentou, sem jamais ter se ajoelhado diante de seus algozes."

*FERNANDO MORAIS, 69, é jornalista e escritor. É autor, entre outros, dos livros "Chatô, o Rei do Brasil" e "Olga".

______________________

Nota do Blog: A imagem que ilustra essa postagem é capa do jornal OGlobo, pertencente à família Marinho, que apoiou o golpe, a implantação e todos os 21 anos que a Ditadura Militar durou no Brasil e só assumiu seu erro nas vésperas das manifestações de rua promovidas pela juventude brasileira, nos meados de 2013, quando teve sua sede pichada com os dizeres "Globo mente", além de ser alvo de fezes que foram arremessadas por participantes do ato, no Rio de Janeiro e depois em várias capitais brasileiras.

Ou seja, embora a Globo já tenha admitido que errou, nunca assumiu que mentiu por diversas vezes ao publicar inverdades de forma leviana, como a capa em questão, onde afirmou que o presidente João Goulart havia fugido. 

Agora vejam como tudo se repete, quase 50 anos depois desta poderosa empresa familiar servir como principal instrumento midiático, usado na desestabilização de um governo democraticamente eleito e que foi sumariamente retirado do poder em 1964, por uma manobra realizada no Congresso Nacional, após um golpe muito parecido com o que tentam novamente impor ao Brasil.

domingo, maio 10, 2015

Comissão da Verdade Pará investigará conflitos agrários durante a Ditadura



Na segunda-feira, 11 de maio, às 17 horas a Comissão da Verdade do Pará instala o Grupo de Trabalho Camponês-Indígena que vai examinar questões ligadas à ocupação da terra, no Pará, durante o período da Ditadura Militar.

O centro político das medidas empreendidas pelos militares para a Amazônia foi a penetração econômica nacional e estrangeira na região que, via de regra, engendrou os conflitos do passado e do presente.

quarta-feira, março 18, 2015

O antipolítico tem a ver com ditadura

Políticos da oposição colocam em risco a democracia ao apoiar aventuras golpistas. A história já mostrou como pode acabar mal.

Um número considerável de cidadãos tem comemorado o tratamento agressivo recebido pelos políticos que comparecem aos protestos de domingo.

É um sinal preocupante e condenável. O silêncio dos políticos e a perseguição das liberdades é uma herança do fascismo e das piores tradições autoritárias.

Vamos aos fatos. No domingo, em São Paulo, o senador Aloysio Nunes Ferreira, um dos líderes mais importantes do PSDB, foi hostilizado quando se encontrava nas proximidades de um caminhão de som do Vem prá Rua, movimento que tem ligações com os tucanos: “sem partido, sem partido,” gritavam.

Nenhum político foi tratado de forma tão humilhante como o deputado Paulinho (SD-SP), presidente da Força Sindical. Paulinho tinha motivos para imaginar que iria sentir-se em casa no domingo.
Afinal, foi ele quem levantou o braço de Aécio no 1º de maio do ano passado, quando o futuro candidato do PSDB disse que estaria de volta no ano seguinte como “Presidente da República.” Naquele mesmo dia, Paulinho chegou a dizer que o lugar de Dilma “era na Papuda.”

No domingo passado, Paulinho não só foi impedido por vaias de abrir a boca quando chegou perto do microfone num caminhão de som que ele próprio levou a manifestação. Também ouviu gritos de “oportunista” e o célebre coro “Um, dois, três, quatro, cinco mil, queremos que o Paulinho vá para a …..” descreve a repórter Aline Ribeiro, da Época, que acompanhou a cena de perto. O esforço de Paulinho para ajudar nos protestos incluiu, ainda, garantir a presença de duas celebridades no caminhão de som, a cantora Vanessa Camargo e Ronaldo, fenômeno do oportunismo. Nada mais injusto, portanto, que chamar Paulinho da Força de oportunista, como se gritava em volta do caminhão de som.

Em vários pontos do país, outros políticos, inclusive os tucanos Carlos Sampaio e Marcos Pestana, sem falar no senador Ronaldo Caiado, do DEM, preferiram participar dos protestos como cidadãos anônimos.

Os protestos são uma força contra o governo Dilma e a oposição, após uma quarta derrota nas urnas, acredita que podem servir de atalho para chegar a um poder de qualquer maneira — como se compreende por faixas que pedem impeachment e/ou golpe militar. O alvo dos protestos é este, como disse aqui ontem. O resto — mesmo a corrupção — é perfumaria do ponto de vista da prioridade das manifestações.

Do ponto de vista histórico, o tratamento agressivo contra os políticos — inclusive aliados — é uma herança do fascismo, aprende-se pela leitura de Hannah Arendt.

Em “Origens do totalitarismo”, ela explica o nascimento das ditaduras do século XX a partir do colapso das organizações de classe — como os sindicatos de trabalhadores – e dos partidos políticos, que sustentavam o cotidiano de uma vida democrática.

“A queda das paredes protetores das classes transformou as maiorias adormecidas, que existiam por trás de todos os partidos, numa grande massa desorganizada e desestruturada de indivíduos furiosos que nada tinham em comum exceto a vaga noção de que as esperanças partidárias eram vãs.”

A desilusão com o sistema partidário — conceito é a matriz da “deslegitimação” do sistema político de que fala o juiz Sérgio Moro em seu texto sobre a Operação Mãos Limpas — é parte necessária desse processo.

Como explica Arendt, até “os mais respeitados, eloquentes e representativos membros da comunidade” passam a ser apontados como “uns néscios”, enquanto as autoridades constituídas se tornam “não apenas perniciosas mas também obtusas e desonestas.”

Quem acha que essa opinião faz sentido com sua própria visão sobre os políticos do Brasil de hoje, precisa repensar seus conceitos. Hannah Arendt está falando sobre a base ideológica do cidadão comum que, na Alemanha, deu a base social para o nazismo e, na Itália, forneceu o cimento para o nazismo.

A construção das ditaduras em sociedades divididas em classes sociais — um traço típico dos regimes capitalistas — envolve, em primeiro lugar, reprimir e desorganizar os partidos que, pela simples existência, demonstram a presença de interesses divergentes e contraditórios em cada sociedade e afirmam o direito dos cidadãos optar por um lado e outro, por um interesse e outro.

Na Alemanha da década de 1930, esses partidos eram a Social Democracia e o Partido Comunista. Na Itália, era o PS, que mais tarde se transformou-se no PCI.

Eles eram os baluartes da democracia, não porque tivessem grandes amores pelas democracia — PC alemão era stalinista até a medula — mas porque eram a garantia da divergência, a proteção ao confronto de ideias e interesses. O ataque a esses partidos abriu as portas para o ataque aos demais, ao fim da divisão de poderes, ao colapso da liberdade.

Em suas campanhas eleitorais, Hitler se recusava a apresentar um programa de governo, dizendo que o mais importante é a “vontade humana,” recorda o professor Jean Touchard, em sua “Histoire des Idees Politiques. Mussolini consolidou-se no poder dizendo que os “fascistas têm a coragem de rejeitar todas as teorias políticas tradicionais: somos aristocratas e democratas, revolucionários e reacionários, proletários e anti proletários, pacifistas e anti pacifistas.”

Numa definição essencial para eliminar a diferença, o conflito, a alternância, a democracia, enfim, Mussolini sintetizou: “É suficiente possuir um ponto fixo: a nação.” O horror de Hitler a políticos e às eleições o levou a copiar uma frase bíblica: “É mais fácil um camelo passar por uma agulha do que descobrir um grande homem através de uma eleição.”

Precisa dizer mais alguma coisa?

Quem mantém a corrupção no Brasil é a imprensa

No Brasil, os maiores fora da lei são os barões da mídia.

As manifestações do último domingo (15), seriam um fiasco, assim como foram as demais tentadas anteriormente, pelos mesmos grupos que contaram agora com a forte mobilização da imprensa, sobretudo da Globo. 

Mas quais seriam os interesses das gigantes empresas de comunicação, ao tocar o povo pras ruas? 

É preciso se antenar em tudo que está acontecendo e não apenas ler as manchetes para nos sentirmos informados. 

O mesmo serve para quem abre um jornalão, revista ou assiste programas de TV, ou ouve as notícias pelas rádios e diz: "Que ódio dessa corrupção desenfreada!", "Na política só tem ladrão!", "Fora PT!"

Os donos dos veículos de comunicação, que usam jornalistas aparentemente neutros na política, que noticiam sobre essa "corrupção desenfreada", são os maiores fora da lei do Brasil e os mais interessados em que apenas uma parte dessa corrupção seja descoberta e punida, não toda.

Dois dias antes de finalmente ser divulgada a lista secreta que vazou para jornalistas investigativos de vários países do mundo, expondo acionistas do HSBC suíço, eis que surgem os nomes dos principais empresários da mídia brasileira e de grandes empreiteiros, muitos dos quais, envolvidos em vários esquemas de corrupção no Brasil. 

A lista é tão comprometedora que traz os nomes de pessoas ligadas a vários partidos, inclusive lideranças do PSDB, que lá guardavam muito dinheiro em contas, até outro dia desconhecidas. 

Um cidadão comum se perguntaria: Qual seria o interesse de um brasileiro guardar dinheiro em um paraíso fiscal? 

Sonegar impostos? 

Ainda não se pode afirmar isso. Mas em fevereiro, o governo federal através do Ministério da Justiça solicitou das autoridades suiças, o envio de documentos e a colaboração do governo de lá, para averiguar com mais detalhes, se houve a prática de sonegação de impostos e se ainda há contas ativas ou só as que constavam na lista de 2006, sendo que  no Brasil, crimes fiscais prescrevem em 5 anos.

No entanto, não se sabe ao certo como os envolvidos serão enquadrados, ou se realmente serão. Muitos já faleceram, inclusive. 

Mas e se for comprovado que há contas ilegais que receberam dinheiro de ações criminosas, com o desvio de dinheiro público e a sonegação de impostos e os herdeiros e envolvidos que estão vivos forem investigados, processados e presos? 

Estaria toda a estrutura partidária do Brasil preparada a ser passada a limpo? 

Ou tá bom investigar, julgar e prender só os envolvidos no MENSALÃO e PETROLÃO, ignorando de forma criminosa e deixando impunes os envolvidos nos escândalos no BANESTADO, FURNAS, TRENSALÃO, e a famosa PRIVATARIA TUCANA, que colocaria muitos dos que a imprensa procura para falar de ética e investigação?

Voltando às vésperas da manifestação que a mídia tanto ajudou no último domingo, muita gente não sabe, mas a família que controla a Folha/UOL, já se estranhou em negócios com a família proprietária da Globo e colocou o nome da socialite Lily Marinho, esposa do fundador da Globo, Roberto Marinho, logo no topo da matéria. 

Por sua vez, o jornal O Globo estampou o nome dos fundadores da Folha/Uol na capa da ediçao de sexta-feira (13) e assim quase inicia-se a guerra do século, quando alguém chegou e disse: bora fumar um cachimbo da paz, aproveitar essa passeata das viúvas da ditadura e blackblocs sem máscaras e vamos enfiar tudo no c* do petê e da Dilma.

Deu certo! De domingo pra cá, só o que se fala é na manifestação e da "corrupção do PT".



Pronto, estava consolidada a estratégia dos que decidem quem usa os microfones, lentes e páginas da imprensa brasileira para julgar se um governo está indo bem ou não, influenciando assim milhões de pessoas no Brasil e no mundo, mas nem todo mundo!

Muitos lembram e sabem que foi assim que fizeram e permitiram que os militares implementassem um golpe de Estado em 64 e continuaram apoiando-os de forma vergonhosa, durante os 21 anos da severa e implacável Ditadura Militar. 

Só 50 anos depois vieram assumir que erraram, em estimular e dar sustentação ao regime autoritário e cruel que ajoelhou e humilhou o país, omitindo da sociedade brasileira a perseguição política, a violência dos aparatos oficiais, através da censura, controle total da vida e da morte, com tortura nos porões do DOI-CODI e de todas as demais atrocidades cometidas pelos generais e coronéis da ditadura e seu braço midiático, até hoje concentrado nas mãos de poucas e ricas famílias. 

A Ditadura da Mídia.

Quem lembra da edição do debate entre Collor e Lula em 1989, viu acontecer a mesma coisa em Outubro do ano passado, onde a revista Veja estampou em sua capa dois dias antes do 2º turno das eleições presidenciais, mais uma escandalosa tentativa de influenciar o resultado eleitoral. 

Com isso, Dilma foi à TV em seu último programa e prometeu reagir e reeleita, tomou uma medida drástica contra uma parte dessa mídia que tanto trama e persegue seu governo: Optou em punir a VEJA deixando de injetar milhões das verbas publicitárias de empresas estatais na revista. 

A medida era necessária, mas deveria ter sido acompanhada de um conjunto de outras mexidas institucionais e como não o fez, colhe a mais ousada tentativa de golpe, depois de 64. 

Sem receber a milionária verba publicitária, os grupos de comunicação perceberam que a regulação da mídia brasileira lhes é cara, atrapalha seus planos de dominação total da opinião pública, já que abre para outras empresas e grupos o direito a também receberem recursos públicos para fazerem comunicação e assim, os barões da famílias que controlam o império da informação pintaram-se para a guerra.

Com a regulação, sendo tratada como censura, líderes de partidos como o PMDB, hoje o principal aliado do governo, tomam partido pelas empresas de comunicação para não terem suas cabeças degoladas pela tv, antes de serem investigados e julgados, como viram acontecer com os petistas envolvidos no Mensalão. 

Com o povo decidindo através do voto pela 4ª vez deixar o Partido dos Trabalhadores, no comando do país, as famílias donas da mídia que nunca disfarçaram seu intento em acabar com a reputação dos principais dirigentes do partido, inclusive Lula e Dilma, agora partem para uma guerra insana para tirar-lhes do poder a qualquer custo, ou estão pressionando para ter cada vez mais dinheiro público e manter as coisas como estão?

Desta forma, o Brasil segue sendo a terra da hipocrisia e do poder dos que tem dinheiro e o poder de influenciar a opinião pública. Como pode o presidente da Câmara dos Deputados ter indo à TV dizer que a corrupção é algo exclusivamente do poder executivo? 

Será que ele pensa que nunca soubemos de deputados, senadores, vereadores, juízes, desembargadores e até ministros do STF envolvidos em escândalos e desvios éticos e de dinheiro público?

Enquanto isso, em cidades pequenas de norte ao sul do país, qualquer dono de uma rádio pode ser o pior inimigo ou o melhor amigo do prefeito e dos vereadores e enriquecer rápido e de forma garantida receber mensalmente para emitir sua opinião sobre quem é honesto ou corrupto, bastando para isso o enunciado pagar ou não o valor do serviço.

Regular o que já está na constituição não é censura e sim cumprir a lei.

Em um artigo da coordenação da Intervozes, uma das principais entidades que debatem a democratização da comunicação no Brasil, há um trecho que joga luz sobre esse tema:

"Mais de vinte e cinco anos após sua promulgação, nenhum artigo de seu capítulo V, que trata da Comunicação Social, foi regulamentado, deixando um vazio regulatório no setor e permitindo a consolidação de situações que contrariam os princípios ali estabelecidos.

Regular os meios de comunicação de massa neste sentido está longe, portanto, de estabelecer práticas de censura da mídia. Trata-se de uma exigência constitucional de definir regras concretas para o funcionamento destes veículos no sentido de atender aos objetivos definidos pela sociedade em sua carta maior, a Constituição Brasileira que em seu Artigo 54, determina que deputados e senadores não podem ser donos de concessionárias de serviço público. 

No entanto, a família Sarney, os senadores Fernando Collor, Agripino Maia e Edson Lobão Filho, entre tantos outros parlamentares, controlam inúmeros canais em seus estados. Sem uma lei que regularmente tal artigo, ele – como os demais da Constituição – torna-se letra morta e o poder político segue promiscuamente ligado ao poder midiático.

Essa é a guerra que está sendo estratégicamente escamoteada da sociedade brasileira, inclusive a parcela que marchou como zumbis pelas ruas no último domingo, com suas faixas e cartazes pelo fim da corrupção e a satanização de um partido que quer justamente iniciar o processo de Reforma Política e Democratização da Mídia, mas é barrado. 

Cabe portanto, uma repactuação do Estado brasileiro com as entidades classistas como a OAB, federação dos jornalistas, órgãos do Poder Judiciário, Partidos, Movimentos Sociais e todos os que sempre foram censurados pelos oligopólios que centralizam, controlam e lucram de forma exorbitante e estão no epicentro da corrupção, tendo como clientes e parceiros, tanto corruptos, quanto corruptores.

Como afirma a Intervozes: "a radiodifusão é, assim como a energia, o transporte e a saúde, um serviço público que, para ser prestado com base no interesse público, requer regras para o seu funcionamento. No caso das emissoras de rádio e TV, a existência dessas regras se mostra fundamental em função do impacto social que têm as ações dos meios de comunicação de massa, espaço central para a veiculação de informações, difusão de culturas, formação de valores e da opinião pública".

terça-feira, março 17, 2015

A direita tira a máscara, a Globo incentiva resto e a esquerda faz o quê?




































Por Diógenes Brandão

Este domingo sem dúvida ficará registrado.

Assim como o dia 15/03 de outros anos, outros eventos também já haviam registrado fatos marcantes da história brasileira.

A coincidência (?) é quem todos tinham alguma relação com a ditadura militar.

E ontem foi um dia intenso de percepção e interpretação das informações que a grande mídia e as pessoas manifestaram, tanto nas ruas, como nas mídias digitais, com destaque para o Facebook, o Twitter e o Whatsapp. 

Por internet, ou pela PT pudemos ver um pouco de tudo.

Do lado direito, manifestantes pedindo a intervenção militar, ofensas do pior tipo, tais como aquela que surgiu na copa, onde a televisão deveria não permitir as crianças assistirem de dia, como: "Ei Dilma, vai tomar no ** e defendendo até a morte da presidente Dilma, do ex-presidente Lula, dos filiados ao PT, além de frases contraditórias misturando a palavra "democracia", com "ditadura".

A percepção sobre a cobertura jornalística da grande mídia, com destaque à rede Globo é de que houve um investimento pesado na mobilização dos seus telespectadores.

E não foi nada discreta.

Trocaram o jornalismo por propaganda do evento. Marketing puro.

Cinegrafistas e editores trabalhando em real time, amparavam os comentaristas espalhados pelas empresas de televisão afiliadas da poderosa rede globo e não disfarçavam o incentivo para que as pessoas saíssem às ruas, pois segundo os jornalistas, estava tendo uma manifestação "pacífica", "ordeira", com segurança da PM, que garantiam até momentos de descontração de famílias, até com crianças (Sic).

O resultado não poderia ser outro: Pessoas saíram às ruas em algumas das principais capitais brasileiras, não de todas, e atenderam o chamado de criticar apenas o PT e o governo federal.

Lá, a responsabilidade da lógica capitalista, da justiça, dos governadores e prefeitos foi esquecida.

Tudo virou "culpa da Dilma e do PT".

Mas sobra pra socialistas, comunistas, anarquistas, centristas e até grevistas!

Esperar que o golpe em curso seja concretizado e aceitar ou simplesmente não se posicionar-se sobre o que aconteceu neste domingão, é deprimente. Urge a necessidade da unidade política dos setores progressistas como um todo, para organizar e estruturar as ações que deverão ser realizadas daqui em diante.

Precisamos cobrar e ajudar que isso se realize, sob pena de registrarmos nossa omissão histórica. 

Não é de hoje que intelectuais, jornalistas, blogueiros e ativistas digitais alertam a sociedade sobre o risco de transformarmos o debate político partidário em uma arena de guerra e selvageria. 

A turma que organizou essa manifestação não tem moral e nem passado limpo pra criticar desse jeito este governo, que pode não ser perfeito, mas foi o melhor que o Brasil já teve. 

Veja os números e compare qualquer índice, seja ele social ou econômico. Se quiser entender como a mídia é manipuladora e faz com que acreditem em tudo que dizem, pesquise sobre a palavra corrupção e compare o que este governo fez para combatê-la e perceberás que nunca um governo fez tanto para tentar remover esse câncer da sociedade brasileira. 

Apesar de ter casos onde petistas, (claro, o partido é enorme e temos corruptos nas igrejas, empresas e qualquer outra instituição) estão envolvidos em desvios éticos e corrupção, mas no geral é o governo que menos houve casos desta praga que chegou no Brasil em 1500 e até hoje persiste. Não surgiu agora, como tentam te fazer acreditar.

Se eu fosse dirigente de um partido de esquerda ou de uma central sindical, não deixaria de dialogar e de organizar um levante e ocupação das ruas, com trabalhadores do campo e da cidade. 

Crise: Edmilson Rodrigues perde seu braço esquerdo no PSOL

Luiz Araújo deixou o PT para fundar o PSOL, onde viveu até então organizando a corrente interna "Primavera Socialista" e supostame...