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sexta-feira, abril 16, 2021

Deputado paulista pede impeachment de Bolsonaro por falta de kit intubação

Deputado estadual Arthur do Val pediu impeachment de Bolsonaro.

Via Congresso em Foco 

O deputado estadual paulista Arthur do Val (Patriotas), conhecido como Mamãe Falei, protocolou nesta sexta-feira (16), na Câmara dos Deputados, um pedido de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro. O pedido se sustenta nos requerimentos do governo de São Paulo solicitando medicamentos do "kit intubação" que não foram atendidos pelo Ministério da Saúde.  

"É inaceitável o que este genocida está fazendo e eu quero ver da bancada paulista quem é quem, quais são os deputados que vão apoiar isso. O Bolsonaro não pode simplesmente confiscar os remédios de quem está intubado aqui em São Paulo. Se ele tem briga política com o Doria, o problema é dele, não das pessoas que estão internadas", afirma o deputado.  

"Desde o começo do ano de 2021, quando começou a faltar medicamentos do kit intubação, o Estado de São Paulo enviou diversos ofícios ao Ministério da Saúde pedindo ajuda. Tais ofícios não foram sequer respondidos. Quando finalmente o Estado de São Paulo estava em vias de conseguir os kits, a União, a mando do presidente da República, age de forma desleal, desafiando a decisão do STF e induzindo o sistema de saúde paulista ao colapso, tudo com o único propósito de satisfazer os delírios do presidente da República", diz trecho do documento apresentado à Câmara.

No documento, o deputado sustenta que e "é crime de responsabilidade 'intervir em negócios peculiares aos Estados ou aos Municípios com desobediência às normas constitucionais'. Evidentemente, houve uma intervenção na administração paulista, cujos esforços e planejamento na área da saúde ficaram totalmente desestruturados".  

Veja a íntegra do pedido

segunda-feira, janeiro 25, 2021

O Impeachment de Bolsonaro nos jornais de hoje


 

Via Fundação Perseu Abramo

A questão do impeachment continua sendo abordada pelos jornais. Mas não de forma igual. A Folha de S. Paulo mostra que após as manifestações dos grupo de esquerda, ocorreram manifestações de grupos de direita pelo impeachment. 

Além disso, o jornal informa sobre um manifesto assinado por ex-alunos da Escola Politécnica da USP que também pede o impeachment. O assunto reaparece sem ser o tema central na reportagem sobre a resposta do governo à carta do presidente da Pfizer que informou que o Ministério da Saúde recusou a oferta de 70 milhões de doses da vacina produzida pela empresa. 

Aliás, a repercussão desta carta está em todos os jornais. 

Além dessas reportagens, a Folha ainda tenta enaltecer João Doria em seu editorial que teve como base uma fração da pesquisa do Instituto Datafolha. 

O levantamento aponta que há uma porcentagem maior de pessoas que consideram que Doria foi mais eficiente do que Bolsonaro com relação à pandemia. Mas a pesquisa de opinião, neste caso, parece ter um ponto de partida já muito enviesado. 

O jornal O Globo trata da pressão sobre o governo, mas a questão fica mais presente em artigos de opinião que não foram reproduzidos aqui. 

O jornal carioca e o Estadão entrevistaram a senadora Simone Tebet, candidata à presidência do Senado, e em ambos a manchete aborda o entendimento da senadora de que não há motivo para impeachment. A pauta do Estadão sobre o impeachment está presente no editorial do jornal que faz duras críticas a Jair Bolsonaro. 

Além disso, o Estado de S. Paulo publica reportagem sobre a taxa de apoio que Bolsonaro tem no Congresso e faz um malabarismo percentual para coloca-lo à frente da ex-presidenta Dilma Rousseff. 

O Valor Econômico, por sua vez, publica reportagem sobre a insatisfação do mercado e do setor privado em geral com o governo Bolsonaro. 

Outra questão que o Valor Econômico e a Folha levantam é sobre a volta do auxílio emergencial. Enquanto grandes empresários criticam a proposta, secretários estaduais e parlamentares reivindicam o retorno do auxílio.

terça-feira, julho 07, 2020

Helder Barbalho: Das batidas da PF ao pedido de cassação feito pelo MPE



Por Diógenes Brandão

O jornalista Val-André Mutran retratou, com uma riqueza de argumentos, os lapsos e tropeços do governo de Helder Barbalho. Com sutileza, mas sem perder a firmeza, deixou registrado o despreparo administrativo, a arrogância pessoal e a inépcia no trato da coisa pública, fazendo com que esta gestão ficasse vulnerável à ações da Polícia Federal, que ainda podem resultar em prisões, muito em breve, se confirmadas as investigações que apuram desvios de recursos públicos e improbidade administrativa de diversas facetas e tamanhos. 

Pra piorar, ainda que não sejam exequíveis neste momento, já existem 4 pedidos de impeachment protocolados contra Helder na ALEPA, onde ele mantém o controle da maioria dos deputados, mas Collor e Dilma também tinham e perderam. O resto você já sabe o que aconteceu.

Requisitos

O exercício do poder político por dirigentes eleitos pelo sufrágio universal tecnicamente não exige curso superior, fortuna bancária, latifúndio por herança, sobrenome tradicional, entre outras bobagens de quem nada entende da ciência política. Entretanto, há duas qualidades que o eleitor não perdoa: o voto é destinado para quem exala honestidade e demonstra competência.

Despreparo

Após eleito, o gestor é obrigado a cumprir alguns ritos que alguns erroneamente chamam de “velha política”, o que é um erro. Explico: composições para formação de uma chapa majoritária passam por acertos de distribuição de nacos do futuro governo. Mas, e quando esses nacos são ocupados por quadros despreparados? Invalida ou não o pré-acordo? Este colunista acredita que invalida imediatamente o acordo, por uma simples razão: o sucesso ou fracasso do governo é da solitária responsabilidade de quem foi eleito e ponto.

Negócio desfeito

Não há curso a se matricular para exercer o cargo de prefeito, governador ou presidente. Embora, sem noções básicas do funcionamento da máquina pública, o gestor eleito estará fadado ao fracasso. Mas, mesmo aqueles que nada disso entendem e forem “espertos” — no bom sentido do adjetivo — devem cercar-se de bons quadros. E, se o partido aliado não os tiver, o “dono da caneta” se exime de cumprir o trato selado lá atrás, na composição da chapa.

Começou errado

Me parece ser esse o erro tático cometido pelo governador Helder Barbalho (MDB). Tais equívocos são visíveis desde a posse do jovem herdeiro político dos poderosos Barbalhos.

Quem lê com certa frequência o blog do jornalista Lúcio Flávio Pinto, leitor voraz do Diário Oficial do Estado, sabe que Lúcio vinha apontando, havia um ano e meio, graves problemas nos editais publicados pelo governo, mesmo antes da pandemia do novo coronavírus. A falta de transparência de tais editais é patente e não se sabe o que o TCE faz no Estado que não toma providência alguma.

Fora de controle

A situação agravou-se no início deste ano com a “chegada” da COVID-19 ao Pará, quando, o que se viu foi uma sucessão inacreditável de erros administrativos. Confundiu-se estado emergencial com liberalidade. E outro erro crasso: governador não deve atender telefonema de fornecedor do que quer que seja. Governador ordena o que deve ser feito e, se for mal feito, demite quem não conhece o serviço.

Mexida

Quando se vai à cozinha para fazer um angu, há de observar condições ideais de temperatura, ingredientes e habilidade com a colher de pau. Caso contrário o angu desanda. Helder, como seu antecessor, errou ao “importar” Alberto Beltrame para comandar a Saúde. Isso nunca deu certo no Pará. Secretários de pastas estratégicas “importados” são sinônimo de fracasso. E a história está aí para confirmar.

Licenciado

Beltrame licenciado? Outro erro primário do governador. É caso para demissão com “D” maiúsculo. E quem sustentará a minha afirmação será o desdobramento do inquérito que tramita no Superior Tribunal de Justiça, após a coleta de provas nas operações “Para Bellum” e “Matinta Perera”.

Melancólica

Quem leu a Nota à Imprensa do ex-secretário da Sespa reforça o que todos desconfiavam. A saída sempre é colocar a culpa em alguém, no caso em tela, o “culpado” de todos os males não foi o STF, que decidiu que o governo federal não apitaria nada na pandemia, cabendo aos governadores e prefeitos a tinta da caneta para cuidar do problema. E assim, Beltrame colocou no colo do Ministério da Saúde toda a culpa do que ocorreu no Pará. A Justiça dirá quem tem razão.

Nomeado

E os erros não cessam. No lugar de Beltrame o governador nomeou — acreditem — um delegado da Polícia Federal, Rômulo Rodovalho, como novo titular da Sespa. O que um delegado de polícia entende de administração de saúde pública? Das duas uma: a Sespa virou um antro de bandidos perigosos na esfera de crime federais ou Rodovalho omitiu do seu currículo que é médico ou administrador com especialização em gestão pública.
— Um xerife federal para comandar a Saúde? Veremos no que isso dará.

Escolhas

O sucesso na política tem sim uma palavra mágica: escolha. Escolhas são corriqueiras no exercício do poder e tornar esse exercício um ato cercado de cuidados valoriza a prerrogativa de um gestor e faz a diferença de um bom ou mau governo. E tem escolhas dificílimas a serem feitas pelo governador nesses dias, como, por exemplo, a decisão final de adiar ou não o Círio de Nazaré de 2020. Que Nossa Senhora de Nazaré, padroeira do paraenses, ilumine as escolhas do nosso governador. Amém.

Cassação

O Ministério Público Federal pediu na quarta-feira (1º) a cassação do governador do Pará, Helder Barbalho, e o afastamento do vice-governador Lúcio Vale. A ação pede ainda a inelegibilidade de ambos por oito anos e a convocação de novas eleições no Estado. Os políticos são acusados de abuso de poder econômico e uso indevido dos meios de Comunicação durante a campanha. Agora fica a critério do Tribunal Regional Eleitoral acatar ou não o pedido.

segunda-feira, junho 15, 2020

Abaixo-assinado pede o impeachment de Helder Barbalho

Em menos de 2 dias, quase 1.500 pessoas já assinaram o documento eletrônico que pede o afastamento do governador do Pará, por corrupção em licitações superfaturadas.

Por Diógenes Brandão

A plataforma Change.org, utilizada em petições e abaixo-assinados de causas no mundo inteiro, está com uma nova campanha no ar. 

Trata-se do pedido de impeachment do governador Helder Barbalho. A campanha é assinada pelo grupo denominado Direita do Sul do Pará, que revela que o objetivo é pressionar os deputados estaduais a adotarem a medida drástica de afastamento do chefe do poder executivo estadual.

O texto da campanha diz o seguinte:

"O atual governo do Estado do Pará é insustentável!  

Existe verba, estrutura e pessoas para resolver os problemas do Pará, mas o governador aparelhou no estado um sistema de cabides de empregos públicos que é a estrutura de um esquema de corrupção gigantesco!  

Enquanto a população não tem sequer saneamento e morre nas filas e leitos de hospitais, o governador superfatura licitações estapafúrdias comprando insumos mais caros que em mercearias de esquina!  

Queremos este criminoso fora, JÁ!"

Para ver e/ou assinar o abaixo-assinado é só clicar aqui.

quarta-feira, março 27, 2019

Crise entre governo e congresso pode acabar em um novo impeachment

O clima de cordialidade entre Bolsonaro e Maia não durou nem três meses e pode acabar mal para ambos e o Brasil.

Enquanto Bolsonaro não negociar os cargos federais, não terá apoio para reformas


Por Diógenes Brandão


O Brasil assiste uma nova queda de braço entre o governo e o Congresso Nacional. 

Em 2016, ao ser contrariado em seus planos de chantagear Dilma, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (MDB), iniciou o que terminou no impeachment de uma presidenta eleita pelo voto da maioria dos brasileiros. Um ano depois, bombardeada pela oposição liderada por Cunha, Dilma viu o processo que culminou em seu afastamento ser iniciado no dia 02 de dezembro de 2015 e no dia 31 de agosto de 2016, foi arrancada do poder. O processo durou 9 meses.

Agora, estamos vendo a história se repetir entre Jair Bolsonaro (PSL) e Rodrigo Maia (DEM), em uma troca de provocações entre o chefe do executivo, que não quer abrir mão dos cargos federais para os partidos, mas quer o apoio deles para aprovar medidas impopulares, como a Reforma da Previdência. 

Diante do impasse, o mercado reage e o dolar dispara, a bolsa cai de forma dramática o Brasil mantém o desemprego em alta e a economia paralisada. 

Se render-se à tal articulação política que Maia fala, Bolsonaro sinalizará que não tem nada de novo em sua nova forma de fazer política e os cargos da administração direta, tanto em Brasília, quanto nos Estados estarão à mercê dos deputados, senadores e lobistas que dividem o poder através destes espaços em ministérios, autarquias e estatais. 

Caso resista e não se deixe quedar, o governo Bolsonaro corre sério risco de ver o projeto da Reforma da Previdência ser totalmente desconfigurado. Ou talvez o governo de Jair Bolsonaro não chegue em 2022, tal como aconteceu com governo de Dilma Rousseff

terça-feira, junho 05, 2018

Os paneleiros arrependidos

Rodolfo Gonçalo lamenta ter se deixado “contaminar” pelo que falavam de Dilma dentro de seu táxi (Foto: EMILY ALMEIDA/AGÊNCIA O GLOBO)
Surge nas cidades brasileiras uma nova categoria de engajados: os ex-paneleiros que lamentam ter colaborado para a ascensão de Michel Temer, à frente do governo mais impopular da história 

Por JULIANA DAL PIVA E ALESSANDRO GIANNINI, na Época

Eles voltaram. No último domingo à noite, enquanto Michel Temer anunciava em rede nacional um conjunto de medidas para tentar encerrar o movimento dos caminhoneiros grevistas, o barulho das caçarolas tomou conta de diferentes cidades do Brasil. Frequentes nos meses que antecederam o impeachment de Dilma Rousseff, os panelaços foram momentos ruidosos de união cívica entre cidadãos desejosos da deposição da presidente. Muita coisa mudou de lá para cá. O governo impopular da petista foi substituído por um governo ainda mais impopular, que atingiu os maiores índices de reprovação da história. Surgem agora, em meio aos problemas de abastecimento provocados pela paralisação dos caminhoneiros, os primeiros “paneleiros” arrependidos de terem protestado pela queda de Dilma e colaborado para a ascensão de Temer.  

O servidor público Mário Rodrigues Magalhães, de 33 anos, mirava o nada durante o início da tarde da terça-feira 29 de maio. Sentado em um dos bancos do Largo da Carioca, entre a praça do metrô e o caminho que leva ao edifício do BNDES, no centro do Rio de Janeiro, vestia camisa social listrada, calça social e sapatos de couro, ambos pretos. Com os braços cruzados, ele se disse angustiado desde o fim da semana. “Esse clima de pânico geral, não tem como não se abalar.”  

Para ele, mesmo considerando os constantes atrasos de salário nos últimos anos, o momento em que esteve mais preocupado foi na última semana, ao acompanhar as consequências da greve e o desabastecimento de itens básicos nos supermercados, hospitais e postos de gasolina. No domingo, ele e sua mulher, Mara, assistiam à televisão em sua casa no Méier, bairro da Zona Norte do Rio, quando ouviram o pronunciamento de Temer para os transportadores de cargas. Mara repetiu então um gesto que não fazia havia quase dois anos: foi à cozinha, pegou as panelas e repetiu o panelaço que já tinha feito na época em que Dilma Rousseff ocupava a Presidência da República.  

“Minha mulher bateu panela contra a Dilma. Neste último(pronunciamento de Temer) também”, contou sorrindo. Ele afirmou que a vida não melhorou como esperava após a troca de governo. “Fui a favor do impeachment por causa da corrupção, das denúncias, dos escândalos, tudo isso aí mancha muito”, explicou. No entanto, revela que a família mudou de ideia e acredita que a mudança resultou em mais dificuldades.  “Talvez tivesse sido melhor ela (Dilma) ficar, não está acontecendo nada de diferente em relação a antes”, disse Magalhães, que declarou ter votado na petista. Para ele, os índices de economia que melhoraram nos últimos anos não passam de dados para propaganda. O que conta, em sua visão, são o aumento do desemprego, a alta nos preços de combustível e do custo de vida.

Maisa Pacheco diz que se sentiu “manipulada” nos protestos pelo impeachment (Foto: LEO MARTINS/AGÊNCIA O GLOBO).

A apenas alguns metros de Magalhães, a funcionária de um escritório de contabilidade no centro do Rio, Denise Lopes, de 52 anos, amarga um arrependimento semelhante. Trajando uma blusa azul com detalhes verdes e pretos e uma calça jeans, ela retornava apressada para o escritório após o almoço quando encontrou a reportagem. Também expressava um sentimento de cansaço.  

Lopes afirmou que só não chegou a fazer panelaço no domingo porque mora em um local isolado na Portuguesa, na Ilha do Governador. “Ninguém ia ouvir, minha casa é bem afastada. Não adiantaria”, explicou. Ela contou que foi favorável ao impeachment que derrubou Dilma Rousseff, mas também avalia que a troca não trouxe o resultado que esperava. “Fui a favor porque achava que deveria mudar pelo povo brasileiro, que falava não ao governo”, lembrou. Eleitora da petista, Lopes disse que não suportava mais as denúncias de corrupção que envolviam o PT e também achava Dilma omissa em relação à situação dos serviços públicos. “Ela estava fazendo um governo incompetente. Não estava preocupada com o povo brasileiro, assistia algumas partes do Brasil, mas não o povo inteiro.”  

Dois anos depois, Lopes afirmou que lamenta a troca há algum tempo. Para ela, o estopim nem foi a greve do transporte, mas as denúncias envolvendo o presidente Michel Temer na delação da JBS e, especialmente, o projeto anunciado por ele para mudar as regras da aposentadoria na reforma da Previdência. “Quando comecei a ver o próprio Temer com as decisões dele em relação à (reforma da) Previdência, a gente viu que foi uma coisa manipulada”, explicou. “Antes tivéssemos esperado um pouco para termos o direito de votar em uma nova eleição.”  

Quem também se sentiu influenciado e mudou de ideia foi o produtor de sistemas de informação Rodolfo Gonçalo, de 38 anos. Morador de Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio, afirmou que passou os últimos anos dividindo suas tarefas em um home office com bicos de taxista. E foi dirigindo que conversou com muitos passageiros e amigos sobre a situação do país. Nesse período, ele disse que ouviu “barbaridades” sobre Dilma e outros políticos. Passado o tempo, avalia que se “deixou contaminar”. Antes favorável ao impeachment, ele disse que não sabe mais se foi a melhor opção. “Houve mudanças? Sim. Melhorou? Ninguém sabe. É o que vejo”, afirmou. “Não sou a favor dela, mas dizer que ela arrebentou tudo?”

O servidor público Mário Magalhães acha que o impeachment trouxe mais dificuldades para sua vida (Foto: EMILY ALMEIDA/AGÊCIA O GLOBO).

Na capital paulista, mais arrependidos. Dona de um sex shop na Rua da Consolação, Maisa Pacheco, de 45 anos, assustou-se com o movimento em sua loja no último domingo. Devido à crise dos caminhoneiros, seu caixa fechou o dia com apenas R$ 16, para uma média de faturamento de R$ 2 mil. Assim, quando Temer surgiu na TV para o pronunciamento, foi para a Avenida Paulista bater panelas. De repente, se viu alvo de olhares curiosos de outras pessoas. “Fiquei sozinha batendo panela na Paulista. O pessoal ficou achando que eu era louca”, brincou. Ela só estava retomando o hábito que cultivou em um passado não muito distante, quando também pegou as caçarolas para apoiar o impeachment de Dilma — período no qual teve farta companhia.  

Examinando a situação em retrospecto, ela acredita que os manifestantes foram manipulados. “Essa coisa já estava errada quando a gente foi para a rua pedir o impeachment”, disse. “Não pensamos que o vice era o Temer. Teve uma manipulação, mas não podemos reclamar. Esse pessoal que votou na Dilma também tinha de saber que era o Temer como vice. Teríamos de fazer uma mudança de processo político”, completou.  

A greve dos caminhoneiros, motivo do último panelaço, bateu no Twitter as menções registradas em outros momentos históricos, entre eles o impeachment de Dilma Rousseff. Segundo um estudo da Diretoria de Análise de Políticas Públicas (DAPP) da FGV, o volume de menções relacionadas à greve dos caminhoneiros na rede social faz do evento o maior dos últimos anos no Brasil. Desde o domingo dia 20 até a terça-feira dia 29, o estudo identificou cerca de 8,5 milhões de menções. Além do impeachment, a greve ultrapassa a repercussão da prisão do ex-presidente Lula e da morte da vereadora Marielle Franco.  

Segundo os pesquisadores, essas menções se distribuem na rede em meio às discussões que, em geral, apoiam as pautas defendidas pelos caminhoneiros, mas sem um consenso nas demais questões debatidas. Por isso, os pesquisadores veem semelhanças com as manifestações de junho de 2013. “Essa manifestação serviu como um catalisador de uma série de insatisfações que têm se acumulado no país. Um desemprego muito alto, a preocupação com inflação, a questão dos combustíveis aumentando direto em função do aumento do dólar. Em algum momento esses fatores iriam confluir como se fosse uma faísca e foi o que aconteceu. Nesse sentido, é muito parecido com o que aconteceu em 2013”, apontou o pesquisador Marco Aurelio Ruediger, líder da DAPP da FGV.



sexta-feira, fevereiro 09, 2018

Muito prazer, Luciana Temer

Por Diógenes Brandão 

Ela é professora de Direito Constitucional e dirige uma ONG que desenvolve um trabalho de combate e enfrentamento à exploração sexual de crianças e adolescentes no Brasil. Defende o pai, mas mostra o quanto são diferentes em diversos pontos e o considera conservador por natureza. Trabalhou com Haddad (PT) e Alckmin (PSDB), mas confessa que gosta e tem mais afinidade com o petista.

Pragmática ao falar de corrupção, ela se revela bem mais progressista que o pai ao dizer: "A polarização fica num nível tão raso de discussão: bons e maus, maniqueísta. “Eu sou bom, você é mau”. Eu sempre falo para os meus alunos dessa divisão de “nós” e “eles” – como se o Congresso Nacional fossem “eles”. Quem é o Congresso Nacional se não nós mesmos? Nós mesmos que somos cidadãos brasileiros, nós mesmos que elegemos. Eles só estão lá porque, nós, sociedade brasileira, que colocamos. Quer dizer, não existe “nós” e “eles”. Existem eles que são retrato do que somos nós."  

No entanto, quando ouviu o audio em que Joesley Batista havia combinado o suborno pelo silêncio de Eduardo Cunha com seu pai, Luciana Temer disse aos seus filhos: “olha, meninos, eu não ouvi esse áudio, ninguém ouviu esse áudio. Mas, eu vou dizer pra vocês, eu corto os meus dois braços se o seu avô falou uma coisa dessas. Eu conheço o seu avô há 50 anos, ele jamais, em tempo algum falaria uma frase dessas.”  


Defende a legalização do aborto, das drogas e a regulamentação da prostituição. Essa é Luciana Temer, revelada pela entrevista do Estadão e que o blog AS FALAS DA PÓLIS reproduz na íntegra.




Ela cresceu ouvindo o pai declamar Castro Alves. Dele diz que herdou a consciência moral e da mãe, a consciência cristã. E então foi construindo sua própria trajetória, hoje como professora de direitos constitucionais da PUC-SP e da Uninove, e presidindo o Instituto Liberta, criado pelo filantropo Elie Horn, de combate à exploração sexual de crianças e adolescentes.  

Antes, ela foi secretária de assistência social da prefeitura, na gestão de Fernando Haddad, a quem admira e se identifica. Ex-delegada de defesa da mulher, em Osasco, trabalhou também com Alckmin e tem Gabriel Chalita em alta conta.  

Defende a legalização do aborto, das drogas e a regulamentação da prostituição. Luciana Temer, 48 anos, a filha primogênita do presidente Michel, foge dos paradigmas óbvios do jogo fácil das polarizações políticas. Ela decidiu compartilhar um olhar mais íntimo sobre suas crenças e valores, nesta entrevista que se segue.

“Eu tenho duas irmãs, que são psicólogas. Nós somos três mulheres independentes, que trabalham, que a vida inteira ganharam o seu dinheiro e se sustentaram, e eu escutei do meu pai a vida inteira a seguinte instrução: “você tem que trabalhar e ganhar o seu dinheiro, porque a independência só existe quando você se sustenta. Você só é uma pessoa livre e independente quando paga as suas contas”.  

Aí eu me pergunto, onde está o machista dessa brincadeira do ‘recatada e do lar’? Porque a Marcela tem um outro perfil. É uma grande companheira dele, mesmo, de mais de doze anos, e que tem outro perfil, e que eu respeito perfeitamente. Agora, isso nunca foi imposto, nunca foi uma questão.  Aliás, eu acho que um dos problemas que hoje nós temos é não respeitar as escolhas dos outros, ainda que seja ser princesa. Se quiser ser princesa, deixa ser princesa. Hoje tem um patrulhamento ideológico; e se a mulher não quiser trabalhar e ficar em casa cuidando dos filhos, qual é o problema?”  

“Quem é o Congresso Nacional se não nós mesmos? Nós mesmos que somos cidadãos brasileiros, nós mesmos que elegemos. Eles só estão lá porque nós, sociedade brasileira, que colocamos. Quer dizer, não existe “nós” e “eles”. Existem eles que são retrato do que somos nós.”  

“Nós íamos daqui até Tietê – onde ficava a chácara da nossa família, –, ouvindo meu pai declamar ‘Navio Negreiro’ (Castro Alves) inteirinho. Uma coisa super tocante.”  

“A gente tinha uma regra em casa que era interessante. A gente estava conversando, mas se entrássemos em um elevador, e entrava mais alguém, todo mundo parava de conversar. Porque meu pai achava que em elevador não se conversava com outras pessoas. Essa coisa da reserva, ele dizia: ‘fale muito das coisas, pouco das pessoas e nada de você’.”  

“Palavrão por exemplo, pra ele é inadmissível. “Que saco” é palavrão. Você não ouve ele falando palavrão.”  

“Se você perguntar com quem eu tenho mais afinidade de trabalho, de pensamento, eu tenho muito mais afinidade com o Haddad. Eu tive muito mais liberdade de atuação. Não porque o Alckmin restringisse a minha liberdade de atuação, não é isso; mas eu tive muito mais afinidade, pude avançar mais no que acreditava com o Haddad.”  

“A gente tem bons debates, mas temos uma afinidade num pensamento mais liberal. Lógico, sobre determinados assuntos eu não penso como o meu pai que é de outra geração, suas posições não são as mesmas. Quando aparece um ministro como o Osmar Terra falando em internação e abstinência total dos viciados em drogas, de certa forma ele (o presidente) endossa. É uma linha mais tradicional.”  “Não acho que ele não tenha chamado mulheres (para compor a equipe ministerial) por exclusão. Não houve pré-disposição em não chamar. Por outro lado, não houve pré-disposição em buscar um nome. Parece bobo mas isso faz diferença.”  

“Eu não sei como eles casaram, pra começar! Porque são seres completamente diferentes. Minha mãe é uma pessoa que é um polo de atração, essa pessoa super generosa, super extrovertida. E meu pai é essa pessoa muito consistente, do ponto de vista intelectual, de formação; uma pessoa reservadíssima, de poucos amigos. Ele circula num universo enorme, mas amigos do meu pai eu conto nos dedos os que eu conheci na vida. Minha mãe é amiga do mundo.”  

“É muito triste, muito difícil você ver o nome do seu pai, que é uma pessoa que você conhece há 50 anos, jogado na lama. Quando saiu na Globo aquela primeira chamada dizendo que havia um áudio no qual meu pai dizia pra o Joesley para subornar o Cunha pra ficar calado, eu estava na rua, ouvindo o rádio.  Pensei comigo, essa frase não sairia da boca dele. Porque ele é essa pessoa contida, reservada. Ele jamais se exporia dessa forma para ninguém.  

E, afinal, quando saiu o áudio, essa frase não existia. A frase que aparece no áudio é: “Estou mantendo uma boa relação”. “Ah, você deve mesmo fazer isso”. Isto é meu pai. Ele está falando com você aqui, e às vezes ele está na lua e balançando a cabeça.”  

*Qual seria o inconsciente coletivo do brasileiro hoje, em sua opinião?  
Hoje, as pessoas estão se sentindo à vontade para fazer e dizer coisas, especialmente nas redes sociais, que traduzem o que elas não tinham coragem de dizer antes face a face, e que agora estão mais livres para falar. Se por um lado isso é bom porque as pessoas podem se manifestar mais livremente, por um outro lado, esse espaço criado pela internet, pelas redes sociais, tornou as pessoas mais agressivas, mais radicais nas suas posições.  

Coisas que estavam no inconsciente das pessoas e que elas deixavam lá quietinhas, agora elas estão deixando os bichos ficarem mais soltos. De alguma forma, tem alguma coisa acontecendo que traz uma belicosidade nas colocações como se a gente voltasse um pouco para a idade da pedra. Eu sinto que tem um certo ambiente – que é esse ambiente virtual – que faz com que as pessoas peguem em armas e tratem as questões de forma muito agressiva.  

Eu acho que essa possibilidade acabou gerando um acirramento de posições e uma polarização em todos os setores, em todas as questões, que está muito complicado. Tem uma determinação de impor a sua posição em toda e qualquer circunstância, a qualquer custo, diminuindo o espaço de reflexão.  

Isso é uma coisa brasileira ou mundial?  
Mundial.  

Qual seria o acento brasileiro?  
Eu acho que no Brasil temos essa crise política absolutamente acirrada, onde, supostamente, o brasileiro acordou para uma questão que é a questão da corrupção; mas, ao mesmo tempo eu digo supostamente, porque ficou uma ideia de que esse mal feito brasileiro só acontece e está centrado nos políticos e nas instituições, o que não é verdadeiro.  

Existe uma institucionalização da corrupção no Brasil. Quando eu pago o guarda pra não me multar – isso é uma prática ancestral aqui; ou quando vou procurar um despachante pra pagar e não perder a carta, porque eu tive pontos na carteira. Eu acho muito interessante isso, você está conversando com uma pessoa e ela está acabando com todos os políticos e, de repente ela vira e fala assim: “alguém sabe de alguém que consiga livrar as minhas multas, porque eu vou perder a carteira?”. Ou uma outra situação, de uma amiga que é criminalista e foi a uma médica dermatologista; e a médica, quando perguntou pra ela o que ela fazia – ela falou que era advogada criminal-, e a médica respondeu: “você tem coragem de defender bandidos? Você tem coragem de defender corruptos?”. E quando ela foi pagar a conta no final, a secretária perguntou: “você quer com nota ou sem nota? Sem nota é mais barato”. Sonegação pode? Ela não é bandida, e ela sonega e isto é crime.  

Veja como a gente tem uma irreflexão sobre essas questões, e como a gente está num nível raso de repensar qual é o papel da sociedade brasileira nesse contexto todo de mudança. Quando a gente fala de uma mudança, a gente tem que falar de uma mudança muito profunda.  

A polarização fica num nível tão raso de discussão: bons e maus, maniqueísta. “Eu sou bom, você é mau”. Eu sempre falo para os meus alunos dessa divisão de “nós” e “eles” – como se o Congresso Nacional fossem “eles”. Quem é o Congresso Nacional se não nós mesmos? Nós mesmos que somos cidadãos brasileiros, nós mesmos que elegemos. Eles só estão lá porque, nós, sociedade brasileira, que colocamos. Quer dizer, não existe “nós” e “eles”. Existem eles que são retrato do que somos nós.  

É preciso que o Brasil saia dessa discussão rasa de políticos corruptos e repense toda uma forma de comportamento. 

De ética pessoal.  

Como você permite que seu filho, que tem 17 anos, faça uma identidade falsa pra entrar numa festa para maiores de idade? E essa é uma prática comum, as pessoas permitem isso.  “Ah, mas ele está fazendo com uma pessoa que faz direitinho”. Quem faz direitinho é porque é do Poupa Tempo. Então você está permitindo que seu filho corrompa um funcionário público. Isto não é corrupção? A gente é muito desconectado do discurso com a prática.  

Você acha que falta consciência ética e social no dia a dia do brasileiro?  
Não podemos generalizar, tem gente muito boa. Mas acho que existe uma cultura permissiva no Brasil em todos os aspectos e setores.  

Aqui, as pessoas fecham os olhos para o que consideram menos grave. Não importa se a legislação diz que é crime. Cada um faz seu próprio julgamento.  

Na consciência do brasileiro o não cumprimento da lei é porque essa lei não é boa, essa regra não é boa. Ou é difícil e não vou conseguir cumprir, e eu me permito descumprir.  

Como reage aos escândalos de corrupção que a gente ouve?  
Conheço o pai que tenho e sei os limites éticos dele.  

No seu governo?  
A corrupção é uma coisa endêmica, um problema sério em todos os níveis. É preciso repensar posturas individuais e cotidianas. Falamos muito das grandes corrupções, mas na hora de deixar o carro na vaga reservada a pessoas com deficiência, partimos para o discurso de que “é só um minutinho”. A sociedade precisa ser mais educada.  

Em termos de pensamento político, a sua construção vai por onde?  
Eu tenho uma formação humanista que vem de casa, tanto do lado paterno como materno. Minha mãe, que foi sempre alguém que procurou ajudar as pessoas e me ensinou que era importante cuidar das pessoas que estão à nossa volta. E o meu pai, porque tem essa formação, não só jurídica, mas de família muito rígida, uma moral muito rígida. De família árabe muito grande, muito unida, que teve sempre esse discurso bastante rígido do ponto de vista moral.  Nós crescemos com esses dois lados – a minha mãe, Maria Célia, sempre pelo lado da caridade. Ela é a pessoa mais generosa que eu conheci na minha vida. E a formação mais estruturada do ponto de vista da consciência social, vem do meu pai.  

Nós íamos daqui até Tietê – onde ficava a chácara da nossa família, e íamos todo fim de semana ficar com a minha avó –, ouvindo meu pai declamar ‘Navio Negreiro’ (Castro Alves) inteirinho. Uma coisa super tocante. Eu era pequena, não tinha nem a dimensão do que era aquilo, e a gente adorava. E também ‘O Operário em Construção’, do Vinícius (de Moraes): “O Operário disse: Não! subiu ao alto da construção…” Era uma coisa pra nós muito forte. Essa coisa da consciência social, da desigualdade social.  

São duas influências diferentes, a influência da minha mãe não tem nenhuma consciência social, mas sim uma consciência cristã. E o meu pai, uma consciência social.  

Eu estudava aqui no (Colégio) Sion. Na época, antes da abertura política, havia as eleições pra deputado e tinha a Arena e o MDB. E eu me lembro que no Sion eu era a única que era MDB. Porque os pais da escola tradicional do Sion eram Arena. E eu lembro que era uma coisa difícil até eu entender o por que, só o meu pai era MDB.  

Então, acho que a nossa formação, tanto minha quanto das minhas irmãs vem desse misto, de uma mãe muito extrovertida e um pai muito reservado, muito formal.  

Formal até com os filhos?  
Não diria com os filhos. Mas, por exemplo, a gente tinha uma regra em casa que era interessante. A gente estava conversando, mas se entrássemos em um elevador, e entrava mais alguém, todo mundo parava de conversar. Porque ele achava que em elevador não se conversava com outras pessoas. Essa coisa da reserva, ele dizia: “fale muito das coisas, pouco das pessoas e nada de você”.  

Mas o que seria um discurso rígido do ponto moral?  
Eu não diria que meu pai é um julgador. Todo mundo teve liberdade e respeito pelas escolhas. Ele é mais antigo sob certos aspectos. Mais contido. Tem uma coisa super de reserva. Não sei se moralmente é muito rígido. Com a gente não era rígido. Talvez na fala, mas não na atitude de controle. As regras morais são da geração dele. Mas nunca severo, austero, do tipo “não vai sair pra namorar”. Mais ligado a preservar intimidade. Palavrão por exemplo, pra ele é inadmissível. “Que saco” é palavrão. Você não ouve ele falando palavrão.   

E a mesóclise?  
Ele cresceu aprendendo isso em português. Ele estudou em escola pública em Tietê, e a mesóclise era uma coisa que era praticada. E ele sempre escreveu muito bem, sempre foi estudioso de português e nunca se desfez desse hábito.  

Ele é uma pessoa de valores tradicionais, não é?  

Bastante. E isto é da família árabe. Ele tem uma coisa da família muito forte. Reverência ao pai, mãe, e ao mesmo tempo essa união da família.  

E a passagem como delegada, por que foi importante?  
Porque eu descobri que existe um mundo fora do mundo que eu conhecia. Uma coisa é você ler jornal – porque o jornal é escrito por um jornalista que também pega o seu mundo e traduz a notícia com a visão dele. E, quando eu fui da Delegacia de Polícia de Defesa da Mulher, em Osasco, e fui conhecer a realidade sem o filtro do jornalista que te passa a notícia, eu comecei a enxergar uma realidade que eu não conhecia, que me trouxe questionamentos sobre as convicções que eu tinha a respeito das relações familiares. Eu vivi num mundo em que família é essa estrutura que te protege, pai é essa figura que te protege; e você começa a entender que essa é uma cultura construída, que existem outras relações que acontecem que não estão na sua esfera de compreensão.  

E aí você começa a ser mais flexível nos seus julgamentos. Porque você tem o seu conceito do que é certo e errado, mas quando olha algumas situações, passa a julgar com menos rigor, começa a compreender que suas convicções são fruto de uma construção cultural, e que existem outras culturas onde outras pessoas estão inseridas.  

Você pode me dar um exemplo?  
Você pode encarcerar todo mundo, isto é um caminho. Ou você pode tentar trazer uma consciência de que isso é errado. 

Quando eu pego um pai que tem a primeira relação com a filha porque acha que isso é normal, você vai tratá-lo como o criminoso que ele é pela nossa legislação. Mas você precisa entender a lógica dele pra transformar essa lógica, porque ele acha um grande absurdo que ele esteja sendo preso por causa disso.  

Se você não admitir que ele pensa diferente de você e tentar transformar por outros caminhos, vamos ficar sempre no processo punitivo.  

Como você se define, ideologicamente falando?  
Eu acho que sou uma pessoa que busca uma maior justiça social de forma ampla, não só do ponto de vista econômico e financeiro.  

Quando você faz um trabalho, como a gente fez na Cracolândia, no De Braços Abertos (gestão Fernando Haddad); isso é justiça social. Não tem a ver com dinheiro, tem a ver com resgate de pessoas.  

Eu me definiria como uma pessoa muito sem preconceitos e que, em tese, acredita no ser humano. Às vezes eu fico meio decepcionada, às vezes meio frustrada, mas eu acredito no ser humano, acho que ele é sempre resgatável.  

Você ter trabalhado com o Haddad é uma coisa curiosa…  
O Haddad é um militante petista, mas ele é um professor universitário, assim como eu sou uma professora universitária. Ele é um sujeito que foi se aprimorando intelectualmente, assim como eu busquei me aprimorar intelectualmente ao longo dos anos.  

Eu fui trabalhar com uma pessoa que fez um caminho de busca, de consciência social, assim como eu fui buscando meu caminho. Então não acho tão estranho que eu tenha ido trabalhar com o Haddad.  

Nesse tempo de polarização, as pessoas tendem muito a associar o seu sobrenome a uma pauta que exclui o direito das mulheres, que torce o nariz ao direito sobre o próprio corpo…  
Eu tenho duas irmãs, que são psicólogas. Nós somos três mulheres independentes, que trabalham, que a vida inteira ganharam o seu dinheiro e se sustentaram, e eu escutei do meu pai a vida inteira a seguinte instrução: “você tem que trabalhar e ganhar o seu dinheiro, porque a independência só existe quando você se sustenta. Você só é uma pessoa livre e independente quando paga as suas contas”.  

Aí eu me pergunto, onde está o machista dessa brincadeira do ‘recatada e do lar’? Porque a Marcela tem um outro perfil. É uma grande companheira dele, mesmo, de mais de doze anos, e que tem outro perfil, e que eu respeito perfeitamente. Agora, isso nunca foi imposto, nunca foi uma questão.  Aliás, eu acho que um dos problemas que hoje nós temos é não respeitar as escolhas dos outros, ainda que seja ser princesa. Se quiser ser princesa, deixa ser princesa. Hoje tem um patrulhamento ideológico; e se a mulher não quiser trabalhar e ficar em casa cuidando dos filhos, qual é o problema?  

Não é a minha escolha, eu não defendo que seja a cultura imposta, eu defendo a igualdade; mas, se a pessoa quiser… se o homem quiser ficar em casa cuidando dos filhos, qual o problema? Porque esse homem também é criticado. Eu sou contra todo e qualquer patrulhamento ideológico, e se todo mundo respeitasse o que cada um acha que é bom pra si, já seria uma grande evolução da humanidade. Isso é uma coisa que sempre foi valorizada na minha casa, sempre tivemos a liberdade de fazer as nossas escolhas.  

Política te interessa?  
A grande política me interessa, política partidária não me interessa pessoalmente, não tenho vocação. Eu me filiei ao MDB para assumir a secretaria de assistência com o Haddad.  

Meu envolvimento de política partidária foi só durante a campanha do Chalita, porque tenho uma relação de irmã com ele. Ele disse que precisava de mim e então eu integrei o núcleo da campanha. Quando ele não foi pra o segundo turno, eu me retirei. Então o Haddad foi eleito e aconteceu de eu virar Secretária de Assistência Social.  

E eu tenho muito orgulho disso. Deixamos uma marca importante na secretaria. Tivemos um papel importante na construção do De Braços Abertos, na condução do programa e na inserção de mais de 500 mil famílias no Bolsa Família.  

Fizemos abrigos para famílias em altíssima vulnerabilidade – pessoas que estão na segunda, terceira geração de rua; um hotel pra 150 pessoas que tinham ido pra rua há pouco tempo – gente que perdeu a casa, estava com as coisas na rua, tem alguma renda. Fizemos um abrigo pra travestis e transexuais. E fizemos uma categoria de abrigo para os imigrantes.  

Nessa virada de gestão você ficou chateada de ver as coisas mudando?  
Algumas coisas mudaram bastante, especialmente o De Braços Abertos.  

Quando você está na gestão pública, não pode ter apego ao que você faz. Nós mudamos o paradigma em São Paulo para essa questão. Tanto é que um programa para 500 pessoas – dentro da dimensão de 2 milhões de habitante da cidade – virou pauta de eleição. O Doria foi eleito com a plataforma de destruir o programa, e ele cumpriu.  

Você gostou de trabalhar com o Alckmin?  
Eu o respeito muito. É um sujeito muito sério, muito íntegro. Essa é minha experiência pessoal com ele.  

Se você perguntar com quem eu tenho mais afinidade de trabalho, de pensamento, eu tenho muito mais afinidade com o Haddad. Eu tive muito mais liberdade de atuação. Não porque o Alckmin restringisse a minha liberdade de atuação, não é isso; mas eu tive muito mais afinidade, pude avançar mais no que acreditava com o Haddad.  

Qual seria sua visão crítica sobre direito constitucional no Brasil?  
Eu dou aula há 26 anos. Quando eu comecei, gostava de dizer aos meus alunos que nós estamos numa democracia, mas nós não somos uma democracia.  

Quando você sai do formal do que diz a constituição e entra na realidade das coisas, você vê uma distorção muito grande. Quando faz um estudo sobre os momentos de autoritarismo e democracia no Brasil, claramente se identifica que nós temos muitos mais anos de sistemas autoritários do que de sistemas democráticos.  

Hoje, estou muito confiante na nossa democracia. Porque eu acho que passamos por muitas turbulências nesses anos todos e nós estamos num sistema de respeito às instituições.  

Eu sou favorável, eu gosto do que o Supremo tem decidido em vários setores. Quando você pega a decisão sobre o aborto de fetos anencéfalos, sobre casamentos homoafetivos; eu adoro essas decisões do Supremo, mas quando olho criticamente, eu falo que o Supremo está decidindo em esferas que não são dele. São decisões que deveriam ser tomadas pelos representantes eleitos pela sociedade, e não por doze pessoas que não foram eleitas pela sociedade.  

Mas, a verdade é a seguinte, se eu fizer hoje um plebiscito perguntando certas coisas, a resposta que eu vou ter da sociedade é a que eu quero ouvir? Talvez não.  

Na sua família o pensamento é homogêneo?  
Não. Muito chato pensamento homogêneo. Com quem você vai discutir no almoço?  

A gente tem bons debates, mas temos uma afinidade num pensamento mais liberal. Lógico, sobre determinados assuntos eu não penso como o meu pai que é de outra geração, suas posições não são as mesmas e temos bons debates sobre essas questões. A questão de gênero, a questão de política de drogas, a gente tem posições que são diferentes. A parte boa é que existe um respeito sobre as opiniões diversas e um debate que é produtivo.  

Por exemplo, outro dia a gente teve um debate bem interessante – eu tomando uma posição, e meu pai e minha irmã outra; que era a priorização de investimentos na educação ou na saúde. Eles estavam defendendo a priorização na saúde, e eu argumentando porque eu entendia que a maior parte dos investimentos tinha que ser na educação.  

Em gênero e drogas vocês discordam?  
Na verdade, ele pensa uma política de enfrentamento da droga mais conservadora. Quando aparece um ministro como o Osmar Terra falando em internação e abstinência total, de certa forma ele endossa. É uma linha mais tradicional.  

Quanto a gênero, meu pai é uma pessoa que prega uma relação de igualdade. Nunca pregou desigualdade. Mas ele parte de um discurso de que basta a defesa da igualdade, não precisa cotas nem distinções. Nesse ponto acho que a gente tem alguma divergência.  

Como você se sentiu quando ele apresentou uma equipe ministerial composta apenas por homens?  
É uma questão um pouco de um homem mais velho que teve um convívio mais fácil a vida inteira com homens. Ele tem mais referências de homens que mulheres. Eu se fosse montar uma equipe, talvez montasse uma equipe mais feminina.  

Mas veja, Haddad, que é super moderno, tinha 3 mulheres em 27 secretarias…  

Não acho enfim que ele não tenha chamado mulheres por exclusão. Não houve pré-disposição em não chamar. Por outro lado, não houve pré-disposição em buscar um nome. Parece bobo mas isso faz diferença.  

Lembrando que partiu dele a primeira indicação de uma mulher para ocupar o cargo de procuradora do Estado, Norma Kyriakos, durante o governo Montoro.  

Acho que não lhe chegaram nomes fáceis de mulher para nomear ministras. Porque eles não chegam. Depois ele trouxe a Raquel Dodge (Procuradora Geral da República), a Flávia Piovesan (Secretaria de Direitos Humanos).  

Como você definiria a sua mãe e o seu pai?  
Eu não sei como eles casaram, pra começar! Porque são seres completamente diferentes. Minha mãe é uma pessoa que é um polo de atração, essa pessoa super generosa, super extrovertida. E meu pai é essa pessoa muito consistente, do ponto de vista intelectual, de formação; uma pessoa reservadíssima, de poucos amigos. Ele circula num universo enorme, mas amigos do meu pai eu conto nos dedos os que eu conheci na vida. Minha mãe é amiga do mundo. 

Como você atravessou esse período de turbulências políticas?  
Com muita dificuldade, não foi fácil. Ao mesmo tempo eu tive um respaldo importante dos dois envolvidos. Por um lado, eu tinha o meu pai, que estava passando por todo esse processo do impeachment e tudo mais. E havia uma cobrança que ele sofria, de “o quê sua filha está fazendo na gestão do Haddad?” E o meu pai bancou: “minha filha é uma ótima gestora, ela vai estar onde quiser”. Por um outro lado, o Haddad sofria a mesma cobrança. E a resposta do Haddad era: “ela é uma ótima gestora, e vai concluir a gestão”. Eu tive apoio dos dois.  

Conte um pouco sobre o trabalho do Instituto Liberta.  
Estamos na estrada há um ano e cuidamos de uma temática exclusiva, que é a exploração sexual de crianças e adolescentes no Brasil.  

O Brasil é o segundo país com maior índice de exploração sexual infantil e o quarto país no índice de casamentos infantis. A estimativa é de mais ou menos 500 mil meninas e meninos explorados anualmente, e a maioria têm entre 7 e 14 anos. São dados muito tristes.    



Tem casos de 7, 8 anos? Existe isso?  
Sim. Temos referências, como um livro da Eliane Trindade (“As meninas da esquina”), que conta quando as meninas começam a se prostituir. Há também a CPI da exploração sexual, com depoimentos do país inteiro de meninas muito novas que contaram os seus casos às deputadas. Vem daí os dados da nossa campanha.  

Vou te contar outro dado significativo. Quando você olha a questão da natalidade no Brasil, nosso país vem conseguindo diminuir esses índices, o que é uma grande vitória. Mas, quando você pega o recorte de meninas de 10 a 14 anos, você vê que esse índice não cai. Pelo contrário, ele tem uma leve subida. Tem alguma coisa errada nesse processo.  

Onde são os maiores focos?  
Olha, na verdade é difícil dizer onde estão os maiores focos, porque nosso instrumento de dados é o ‘disque 100’, que é o canal de denúncia do Governo Federal. Lá, umas das maiores regiões de denúncias é a Sudeste, mas isso não traduz que há mais exploração, e sim que há mais consciência.  Então, é difícil dizer exatamente onde tem. O que posso afirmar com segurança é que em todas as regiões do Brasil você tem características diferentes, especificidades regionais. Mas, há no Brasil inteiro situações diversas de exploração sexual de meninas e meninos.  

Em São Paulo temos dois polos importantes, que são o CEAGESP e o Terminal de Cargas da Fernão Dias. São conhecidos, um polo sabido pela mídia, pelo Ministério Público; não significa que tenha só esses.   

O que o instituto está fazendo efetivamente?  

A missão do instituto é de comunicação e conscientização. A gente não trabalha diretamente com os meninos e meninas explorados. Trabalhamos com campanhas nacionais e regionais que falam sobre o assunto. Costumo dizer que a grande missão do instituto hoje é fazer o Brasil falar sobre esse assunto. Enquanto não se fala, não é um problema; e se não é um problema, não se busca solução.  

Vamos falar da prostituição infantil e deixar o país constrangido com o número de crianças exploradas sexualmente, e que isso diz respeito a todos nós, não só pela questão moral, de dignidade humana, mas como custo social da gente fechar os olhos para isso.   

Você está otimista com 2018? O que espera para esse ano?  
Acho que ninguém sabe exatamente quais os rumos do mundo pra 2018. Eu sou uma pessoa otimista por natureza. Quando estou muito triste e desacreditada no mundo, penso na Idade Média, em “Os Miseráveis”, nessas coisas, e falo: olha, a gente andou. Andamos. Não todo mundo junto, não tudo igual, mas andamos.  

Quando aconteceram essas crises agudas envolvendo o seu pai, você conseguiu separar as coisas, ficar tranquila?  
Não. É muito triste, muito difícil você ver o nome do seu pai, que é uma pessoa que você conhece há 50 anos, jogado na lama.  

Quando saiu na Globo aquela primeira chamada dizendo que havia um áudio no qual meu pai dizia pra o Joesley para subornar o Cunha pra ficar calado, eu estava na rua, ouvindo o rádio. E aí eu cheguei em casa, meus filhos estavam em casa, não tinham ouvido a notícia; liguei no Jornal Nacional, e aí o meu filho virou pra mim e falou assim: “O que é isso? Você acredita? O que está acontecendo?”.  

Eu falei: “olha, meninos, eu não ouvi esse áudio, ninguém ouviu esse áudio. Mas, eu vou dizer pra vocês, eu corto os meus dois braços se o seu avô falou uma coisa dessas. Eu conheço o seu avô há 50 anos, ele jamais, em tempo algum falaria uma frase dessas.”  

Essa frase não sairia da boca dele. Porque ele é essa pessoa que eu descrevi, uma pessoa contida, reservada. Ele jamais se exporia dessa forma para ninguém.  

E, afinal, quando saiu o áudio essa frase não existia. A frase que aparece no áudio é: “Estou mantendo uma boa relação”. “Ah, você deve mesmo fazer isso”. Isto é meu pai. Ele está falando com você aqui, e às vezes ele está na lua e balançando a cabeça.  

Então, é lógico que foi muito triste, muito difícil pra todos nós. Eu sei o pai que eu tenho, eu sei o pai que me criou. E acabou.

segunda-feira, janeiro 22, 2018

Rodrigo Maia, o otimista

Rodrigo Maia: “Tenho 1% na pesquisa e o dia que eu tiver 7% as coisas melhoram muito”.

Por Milton Hatoum, em sua fanpage

Muitos políticos são apenas cínicos e ignorantes; outros, repugnantes e cruéis. E não são poucos os que reúnem outras tantas “qualidades”, que o leitor pode intuir num piscar de olhos.  

Li em vários jornais que Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, afirmou em Washington que o programa bolsa família escraviza as pessoas. “Criar um programa para escravizar as pessoas não é um bom programa social. O programa bom é onde você inclui a pessoa e dá condições para que ela volte à sociedade e possa, com suas próprias pernas, conseguir um emprego.”  

Hoje, Washington talvez seja mesmo a cidade ideal para esse tipo de político anunciar sua candidatura à presidência do Brasil. O programa bolsa família foi criado no governo FHC e ampliado no governo Lula. Nas duas últimas décadas, esse programa social tirou da miséria absoluta milhões de famílias brasileiras.  

O deputado Rodrigo Maia, mais um cínico profissional, esconde a taxa de desemprego do atual governo. Ele defende a reforma da previdência, como se fosse um elixir mágico, capaz de gerar milhões de empregos. A magia consiste em enxugar o Estado e implementar uma política de desenvolvimento. Mas ele não diz nada sobre o Refis para as grandes empresas. Nenhuma palavra sobre a corrupção na Caixa Econômica e no ministério desse governo que ajudou a colocar no poder naquela noite memorável do impeachment. Nenhuma palavrinha sobre o aumento da taxação de impostos dos mais ricos. E que silêncio sepulcral sobre as regalias afrontosas dos membros do alto escalão dos três poderes! E que silêncio de campo-santo sobre as dívidas (INSS) das grandes empresas. E nadinha, nenhuma sílaba ou oração (coordenada ou subordinada) sobre a imunidade tributária a templos religiosos, mesmo sabendo que muitos deles cobram dízimos dos desvalidos.  

Maia (filho de um ex-esquerdista possuído por uma piração folclórica enquanto prefeito do Rio) sonha com a presidência. “Tenho 1% na pesquisa e o dia que eu tiver 7% as coisas melhoram muito”, declarou ao Valor Econômico (17/01/2018).  

Ele consegue ser mais otimista que o mais ridículo dos otimistas da literatura: Pangloss, do “Candide” de Voltaire. Será que Rodrigo Maia, o otimista, esqueceu os inquéritos contra ele e seu pai? São inquéritos que investigam crimes de corrupção ativa, corrupção passiva, peculato e lavagem de dinheiro. Este é o presidente da Câmara dos deputados e futuro candidato ao palácio do planalto (se chegar a 7% e Pangloss ajudar).

sexta-feira, dezembro 29, 2017

Cenários para as eleições de 2018 no Brasil



Por Edir Veiga*, em seu blog Bilhetim

As eleições de 2018 no Brasil será diretamente influenciada pelos acontecimentos políticos que emergiram nos últimos quatro anos no mundo ocidental e no Brasil tendo como pontos de referências, no plano externo, a mundialização das relações econômicas e políticas e seu reflexo nos Estados nacionais e a crise do ciclo dos governos sociais na Europa, EUA e América do Sul.  No plano interno, a operação Lava Jato, o golpe parlamentar contra a presidente Dilma e a ascensão de Michel Temer ao governo central.  

Nenhum projeto nacional pode estar desvinculado das novas interações e processos que vem se consolidando nas relações internacionais consubstanciados nas estruturação de relações de poder mundial impulsionado por dois processos concomitantes: a mundialização de decisões econômicas que incidem diretamente sobre Países da periferia do capitalismo mundial e a transformações nas relações sociais a partir da emergência de sociedades estruturadas em redes sociais fundada na individualização extrema de vida e valores.  

Efetivamente, decisões estratégicas para as sociedade nacionais têm sido tomadas por atores e instituições financeiras. Assim, Banco Mundial, Organização Mundial do Comércio, Banco Central Americano, organizações financeiras e econômicas regionais, corporações transnacionais tomam decisões que estão desprovidas de controle social e que tem efeitos avassaladoras para os Estados nacionais.   

A formação do preço do câmbio, os preços das commodities a exemplo do petróleo, soja etc, protecionismo de base sanitária, decisão de investimento em energias que geram impacto ambiental são exemplos marcantes de tomada de decisões que impactam negativamente os governos nacionais.  

Qualquer governo ou candidatos a governar um País deve apresentar esta discussão à sociedade. Efetivamente, precisa-se de articulações supra nacionais, tanto dos Estados nacionais, como das sociedades civis. Para controlar decisões que afetam diretamente cada País é fundamental que a sociedade civil se articule no plano regional e internacional para atuar decisivamente no enfrentamento de decisões de instituições que impactam diretamente as sociedades nacionais.  

No plano dos Estados nacionais é decisivo a definição de uma política local (Merco Sul), regional (das Américas) e global (relação Sul-Norte e Sul-Sul) para que o Brasil tenha força a partir de organizações estatais regionais e mundial na tomada de decisões econômica, sociais, políticas, ambientais e Humanitárias que repercutem decisivamente na vida dos povos.  

Neste momento, o governo Temer parece não entender a determinação que a as relações externas têm nos destinos das políticas internas. Ou seja, os ajustes fiscais internos, representam apenas um aspecto relacionado ao complexo sistema que incidem sobre as relações comerciais no plano internacional, e que não é o central para o fluxo positivo da presença do Brasil no mundo dos negócios e da política.

A enorme crise econômica e política enfrentada no início do segundo governo Dilma está diretamente relacionada à incidência de variáveis externas sobre a economia brasileira.  A queda dos preços no mercado internacional  do petróleo e dos produtos agrícolas no curso do primeiro governo Dilma, produziram enorme queda das receitas da fazenda nacional produzindo o início de um gigantesco déficit público.  

Todo este complexo processo de formação de preços a partir de variáveis internacionais começou a ocorrer no curso do primeiro governo Dilma, como houve a decisão de ampliar os gastos públicos em função da eleição presidencial que se aproximava, estes gastos ampliaram-se no curso do ano de 2014, produzindo um enorme déficit nas contas públicas.  É neste contexto de início de uma aguda crise econômica que se inicia o segundo governo Dilma em 2015. Agora temperado com o enorme escândalo envolvendo o Partido dos Trabalhadores, a partir de outubro de 2014.  

O governo Dilma, a partir de janeiro de 2015, foi marcado, desde a sua segunda posse por uma grave crise econômica impulsionada pelo déficit das contas públicas e pela crescente crise política que, efetivamente se instaurou com a eleição de um oposicionista extremado para presidir a câmara do deputados, que foi o deputado Eduardo Cunha.  

O segundo governo Dilma inicia com a necessidade premente de tomar medidas contracionista na economia  para enfrentar o grave déficit público acumulado no curso do final do seu primeiro mandato. Estas medidas passavam pelo corte de gastos sociais, contenção dos salários dos servidores públicos e  reforma previdenciária.  

Neste momento, os escândalos envolvendo a cúpula do Partido dos Trabalhadores estavam em franco processo de ampliação. O presidente da câmara do deputados, Eduardo Cunha, aliado ao centro político conservador desta instituição, iniciou a produção da chamada “pauta bomba”, que objetivava ampliar os gastos públicos num contexto de grave déficit público, inviabilizando, sistematicamente as iniciativas políticas do governo Dilma.  

É neste contexto que entra em ação o vice-presidente da república, Michel Temer que se alia ao presidente da câmara e conduz o PMDB e seus satélites conservadores para a política da pauta bomba de Cunha, gerando uma ingovernabilidade política que durou todo o ano de 2015 e parte do ano de 2016.  

Com a paralisia congressual estavam dadas as condições para o golpe parlamentar contra a presidente da república. Os defensores do impeachment utilizaram uma ferramenta legal para dar início à derrubada de Dilma. Assim, o impeachment, veio a afastar e posteriormente cassar o mandato da presidente Dilma.  

Deve-se registrar que a presidente Dilma jamais foi acusada ou envolvida com as denúncias da operação Lava Jato contra o Partido dos Trabalhadores. O argumento utilizado para afastar a presidente foi de ordem administrativa, ou seja a presidente Dilma foi acusada de pedaladas fiscais, qual seja, fazer deslocamento de receitas públicas para pagar o programa Bolsa Família. Deslocamento orçamentário este, que não foi  autorizado pelo congresso nacional. 

Deve-se registrar que o Supremo Tribunal Federal legitimou todo este processo de golpe parlamentar a partir de uma provocação do próprio Partido dos Trabalhadores. Ou seja, quando o presidente da câmara dos deputados conduziu a aprovação do rito do impeachment, o PT recorreu ao STF solicitando que o rito fosse alterado, no que o foi atendido pela corte suprema. A partir deste momento o rito do impeachment estava legalizado.  

Pois bem, com a queda da presidente Dilma, ascendeu à presidência da república o vice-presidente Michel Temer, que construindo uma ampla maioria parlamentar vem enfrentando a crise econômica com políticas ortodoxas consubstanciadas em políticas de contingenciamento do orçamento público, notadamente para saúde, educação, segurança, corte de gastos de programas sociais , arrocho salarial do funcionalismo público e reformas administrativas que vêm penalizando o trabalho e protegendo o capital.  

O resultado de toda esta política contracionista e antipopular é a rejeição estratosférica do presidente da república pela sociedade brasileira, que chega a 80% e aprovação que não passa de 3%. Neste contexto de arrocho contra a classe trabalhadora e os setores médios da população observa-se o crescimento da popularidade do ex-presidente Lula, que hoje é apontado pelos institutos de pesquisas, como favorito para ganhar as eleições presidenciais de 2018, caso venha a ser candidato.  

É neste contexto que passo a analisar os possíveis cenários para as eleições de 2018 no Brasil. Eu diria que este cenários serão nebulosos até meados de 2018, tendo em vista a possível condenação, em segunda instância, do ex-presidente Lula no dia 24 de janeiro pelo Tribunal Regional Federal da quarta região.  

Com efeito, Lula tem sido o personagem central da sucessão presidencial de 2018. Como existe grande probabilidade de sua condenação no dia 24 de janeiro de 2018, os desdobramentos poderão ter incidência sobre os rumos da sucessão presidencial de 2018 no Brasil. Mas vamos aos prováveis cenários para 2018 no Brasil.  

As forças políticas que estarão no centro das disputas eleitorais no Brasil nas eleições de 2018 deverão estar representada no centro: Geraldo Ackmin, Lula, Marina Silva e Álvaro Dias. Pela direita, Jair Bolsonaro e pela esquerda Ciro Gomes.  Muitos outros candidatos, portadores de diversas matizes ideológicas deverão se lançar à presidência mas com baixo poder de polarização política, a exemplos dos candidatos do PC do B, PSOL e PPS.  

Cenário 1 com a presença de Lula candidato (cenário improvável) -  Lula e Alckmin ocuparão o espaço do centro, Alckmin atingindo boa parte da direita e Lula boa parte da esquerda. Diria eu, este dois candidatos esvaziarão candidatos pelo centro e pela esquerda. Os candidatos com perfil de centro como Marina Silva, Álvaro Dias e Cristovam Buarque tenderão a ser esvaziados. Pela esquerda, candidatura como a de Ciro Gomes perderá potencial de crescimento.  

Creio que neste cenário, Lula. Alckmin e Jair Bolsonaro travarão uma dura batalha pelo segundo turno. Caso venham a passar Alckmin e Lula, o tucano a partir da migração maciça dos votos de Bolsonaro tenderia a sair vitorioso. Caso venha a passar Alckmin e Bolsonaro, a maioria dos votos de Lula dariam a vitória ao tucano em segundo turno. Caso venha a passar Lula e Bolsonaro, Lula sairia vitorioso a partir da migração dos votos de Alckmin para Lula em segundo turno.  

Cenário 2- sem Lula:  Neste cenário haveria uma grande fragmentação eleitoral ao centro e à esquerda. No centro, que tem potencial de 50% de votos, Alckmin, Marina, Cristovam Buarque e Ávaro Dias dividiriam o voto ao centro, com tendência de que o tucano passasse ao segundo turno. Pela esquerda o candidato do PT, Ciro Gomes, Manuela D’avila  do PC  do B e o candidato do PSOL, dividiriam os votos à esquerda, cujo potencial é de 30%, perdendo poder de passagem ao segundo turno. Neste cenário, o candidato de direita, Jair Bolsonaro, com potencial de 20% de votação passaria ao segundo turno.  

Num confronto entre Alckmin e Bolsonaro, a tendência seria de vitória de Alckmin, ou qualquer outro candidato que viesse do centro político, haja vista que a maioria dos eleitores de esquerda, dariam um voto anti Bolsonaro no segundo turno das eleições de 2018.   

A presença de Lula, como cabo eleitoral poderá alterar a dinâmica deste eventual cenário. A entrada de um outro candidato petista na disputa presidencial poderá retirar qualquer chance de um candidato de esquerda vir a disputar a passagem ao segundo turno nas eleições de 2018. Creio que o voto de Lula é somente de Lula e os votos da legenda do PT, são outra coisa, perante as massas, nesta eleição vindoura. Creio que o PT, como partido, só começa sua recuperação eleitoral nas eleições seguintes, quando passar a penitência decretada, desde 2016 pelo eleitorado brasileiro.  

Mas, o que é improvável, caso Lula e o PT resolvam apoiar uma candidatura, como a de Ciro Gomes, desde o primeiro turno, o cenário se transformaria favoravelmente para a esquerda. Como Ciro Gomes tem de saída 10% de intenção de votos, Lula tenderia a transferir mais 10 ou 15% por cento, o que colocaria esquerda em condições de disputar o segundo turno de 2018 no Brasil. Neste cenário Ciro só tenderia a sair vitorioso se viesse a enfrentar Jair Bolsonaro, pois a maior parte dos eleitores do centro político tenderiam a dar um voto anti Bolsonaro, desde que Ciro Gomes moderasse seu discurso, seu programa e fizesse um aceno ao centro político.  

O fenômeno Bolsonaro representa a negação da política e dos partidos e este candidato está em ascensão devido ao sentimento genérico de rejeição do sistema político como um todo, seja a negação dos poderes da república seja a descrença nas próprias instituições democráticas no Brasil. Somado a tudo isso, temos a terrível conjuntura da violência urbana e a falência dos serviços públicos básicos. A duplicação de votos brancos e nulos, em relação às eleições de 2014, deverá marcar este sentimento de rejeição da política por grande parte do eleitorado esclarecido brasileiro.  

Portanto, as eleições de 2018 é propícia a emergência de outsiders. Existe um sentimento genérico de renovação política nas disputa para os cargos majoritários nas eleições de 2018, a exemplo das disputas para os cargos de presidente, governador e senador. Nestas disputas majoritárias o eleitor terá maiores chances de realizar a operação “degola”.  

Dados mais recentes publicados pelos institutos de pesquisa, notadamente o DataPoder, analisando o potencial de votos de cinco candidaturas presidenciais: Lula, Bolsonaro, Alckmin, Marina e Ciro revelaram um dado enigmático, em média 50% do eleitorado brasileiro rejeita todas estas cinco candidturas.   

O desejo de mudança política se anuncia nas disputas majoritárias, porém esta renovação fica muito difícil nas disputas proporcionais porque o eleitorado não compreende como se elege deputados, devidos as regras eleitorais do sistema proporcional de lista aberta que preside as disputas para os assentos parlamentares no Brasil. Portanto, os deputados acusados de corrupção, mas com poder administrativo ou financeiro tenderão a continuar na vida pública, apesar da operação Lava Jato.

*Edir Veiga é Dr. em ciência política e professor da UFPA.

Obs: O editor do blog As Falas da Pólis identificou alguns pequenos erros de ortografia e/ou digitação, mas manteve o texto e o título fiéis aos originais, limitando-se apenas e inserir a imagem ilustrativa desta postagem, já que a original não possui.

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