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sexta-feira, julho 07, 2017

Edsel: "O círculo é real, o Marco Civil é ficção"

O Marco Civil da Internet tão comemorado, durante uma árdua batalha entre a sociedade e as companhias telefônicas, no Brasil, virou lenda. 

Por Edsel Ferri, no Tribuna de Debates

O cineasta James Ponsoldt é o idealizador do filme “O Circulo”, que utiliza a ficção para fazer uma critica ao crescente monopólio das redes sociais. Esses canais digitais, além de invadir a privacidade das pessoas, as induzem a fazerem coisas, com o pretexto de ser para “o seu bem”, ou enquadrar-se em tipos socialmente aceitos.

Na vida real, o Facebook e o Google já ganham mais em anúncio do que todos os jornais e rádios juntos. Segundo o prestigiado site Bluebus, somados chegam a quase US$ 130 bilhões, por ano, sem esquecer que, ainda vendem seus dados de navegação e preferências de consumo ao mercado, em total desrespeito à privacidade e ao anonimato.

No caso do buscador, chegou a ser multado, recentemente, pela União Européia, por infringir as regras de antimonopólio; Facebook e Twitter não são diferentes, seus algoritmos são segredos de estado e mudam a todo o momento, dificultando a vida de quem utiliza essas ferramentas para distribuição de conteúdo.

Agrega-se tudo isso ao fato de que o Telegram, principal concorrente do Whattsapp, que pertence ao Facebook como o Instagram, vem sendo ameaçado de bloqueio, com o pretexto de ser a ferramenta utilizada pelos “terroristas”, haja vista sua impenetrabilidade ou melhor segurança e privacidade dos usuários.

Agora, vamos a tragédia anunciada à rede progressista no último dia 30/06 (e já sentido de forma amarga pelo movimento ativista de esquerda, que está assistindo as audiências de seus blogs despencarem). O Facebook de forma ilegal, arbitrária e com intuito comercial e de monopólio da distribuição acaba de catalogar como “spammer ” os perfis de ativistas que distribuem mais de 50 links por dia, links não anunciantes , claro; ou seja, de agora em diante seremos punidos por postar em quantidade no facebook, enquanto o poder econômico abusa de anúncios e “cordialidades” de Zuckerberg.

O editor, do influente blog Falando Verdades, desabafou que a audiência de sua página despencou de 100 para 10 mil views, em um único dia praticamente, inviabilizando os custos de manutenção da página. O futuro, que parece se desenhar para os blogs independentes, é o mesmo que ocorreu para as antigas páginas de memes, que se extinguiram, quando o facebook resolveu limitar o alcance de postagens baseadas em imagens (memes).

E o Marco Civil da Internet tão comemorado, durante uma árdua batalha entre a sociedade e as companhias telefônicas, no Brasil, virou lenda. Letra morta não aplicada, não fiscalizada, não garantista. Está ali, esperando para ser revogado por desuso e dar lugar a última fronteira do monopólio da narrativa: a franquia de dados.

Espera-se que o Ministério Público e o Congresso Nacional atentem-se a essa agressiva violação de direitos, em um momento tão efervescente da sociedade, e que sigam o exemplo da União Européia, penalizando pesadamente tais práticas.

*Edsel Ferri é Gremista, Ativista, Ayuhasqueiro e militante da paz e das causas humanitárias.

terça-feira, julho 04, 2017

Bombou! No mesmo dia, Gretchen estréia clipe de Katy Perry e vídeo da Netflix

Cena do vídeo de "Swish Swish", música de Katy Perry e Nicki Minaj, que tem Gretchen como estrela.

Por Diógenes Brandão

Gretchen viveu o apogeu de seu carreira internacional, nesta segunda-feira (04), depois que foi a protagonista escolhida pela popstar norte-americana Katy Perry, para o lançamento simultâneo em todas as suas redes sociais, do clip lyric video (vídeo com letra) de "Swish Swish", música de Katy Perry em parceria com Nicki Minaj.

A força da internet mostrou-se de forma avassaladora e em menos de 24 horas já são quase 4 milhões de visualizações no Youtube, cerca de 2 milhões no VEVO e milhares de comentários, tanto de fãs brasileiros, quanto de diversos outros países. A maioria dos internautas não entendeu a participação da "Rainha do Bumbum", que fez sucesso apenas no Brasil, ainda na década de 80. 

"Quem é essa mulher?" foi um dos maiores questionamentos entre os fãs de fora do Brasil.


Como se não bastasse, Gretchen é a estrela de novo vídeo da Netflix

Além do clip internacional, a cantora é o destaque no material de divulgação da série 'Glow', produzida pela própria Netflix. Rita Cadillac também participou do vídeo comercial lançado também nesta segunda-feira (03). Ambas foram dançarinas do programa do Chacrinha, na década de 80 e fizeram filmes pornôs.

Um dia de retomada do sucesso

Pelo Twitter, a NetFlix Brasil disse "Quem vê Gretchen participando de clipes internacionais não imagina o quanto ela já lutou (literalmente) pra chegar até aqui...".


Internautas até agora se perguntam o motivo do ressurgimento repentino de Gretchen

"Ela é famosa ou o quê? Juro que nunca a vi antes", comentou um fã de Katy Perry, em inglês. Aí os brasileiros entraram explicando em inglês que Gretchen é um ícone dos anos 80 e, mais recentemente, ficou famosa por causa dos milhares de memes com sua imagem que povoam as redes sociais. Foi assim, inclusive, que Katy Perry chegou até ela. 

A hashtag #SwishSwishGretchen foi rapidamente para o topo dos assuntos mais comentados no Brasil e ficou em segundo lugar entre os mais comentados do mundo. Ciente do potencial dos brasileiros, a própria Katy Perry começou com um com um "o lyric video que vocês não pediram, mas que a internet precisava", dando espaço para a criatividade dos fãs, informou o portal UOL Música.

quarta-feira, novembro 30, 2016

A falência da democracia de Facebook

Ao esvaziarem o espaço público e limitarem seus usuários a nichos de opinião, redes sociais criam o “extremismo de enclave” e a síndrome do rebanho feliz.

Por Nathan Heller | Tradução: Inês Castilho, via Outras Palavras

Em dezembro de 2007, o jurista Cass R. Sunstein escreveu no The Chronicle of Higher Education um artigo sobre os efeitos da filtragem que frequentemente acompanha a difusão de informações na rede. “Como resultado da internet, vivemos cada vez mais numa era de enclaves e nichos – a maioria voluntariamente, a maioria produzida por aqueles que pensam saber, e frequentemente sabem, aquilo de que provavelmente gostamos”, observou Sunstein. No artigo, “A Polarização dos Extremos”, Sunstein argumentava que a tendência era de efeitos negativos para a orientação – ou, mais precisamente, a desorientação – da opinião pública. “Se as pessoas estão separadas em enclaves e nichos, o que vai acontecer com sua opinião?”, pergunta ele. “Quais os eventuais efeitos disso na democracia?”

Este mês nos proporcionou uma resposta estridente. A inesperada eleição de Donald Trump deve-se tanto ao extremismo dos nichos quanto à desinformação descontrolada. O Facebook, a mais disseminada das redes sociais, recebeu muita crítica e questionamento. Durante as semanas finais da campanha, tornou-se claro que os “novos” algoritmos do site – um mecanismo que arrasta posts dos amigos online de alguém e expõe, hierarquizando, aqueles que são tidos como de interesse – não estavam distinguindo entre notícias verdadeiras e informações falsas: lendas, teorias da conspiração sem base alguma e propagandas negativas que, na era cenozóica, circulavam principalmente via e-mails encaminhados. (Na campanha eleitoral, histórias falsas abundantemente compartilhadas incluíam relatos de que o Papa Francisco aprovava Donald Trump e que Hillary Clinton havia contratado homicídios). Há dias, o Washington Post publicou uma entrevista com o que chamamos de “empresário de um império de falsas notícias do Facebook”. Ele assumiu responsabilidade. “Penso que Trump está na Casa Branca por minha causa”, disse. “Seus seguidores não checam nenhum fato – eles postam qualquer coisa, acreditam em tudo.”

O Facebook não é a única rede que traficou notícias falsas, mas seus números foram chocantes. Uma pesquisa Pew publicada em maio e muito citada, sugeria que 44% da população em geral usava o Facebook como fonte de notícias, um número insuperável por outras redes sociais. Nesta semana, uma análise feita por Craig Silverman, do BuzzFeed, revelou que as vinte notícias falsas mais lidas superaram as vinte notícias verdadeiras que mais circularam na rede, durante os três meses anteriores àsas eleições – e que dezessete dessas notícias falsas favoreciam a campanha de Trump. Os expoentes da campanha de Trump, incluindo o próprio candidato, citavam sistematicamente informações falsas diante das câmeras. Aos olhos dos críticos, o feed de notícias do Facebook tornou-se um canal de distribuição para informações falsas de propaganda. “Enquanto estiverem no Facebook e as pessoas puderem vê-las… elas começam a acreditar”, disse o presidente Obama às vésperas da eleição, “Ele cria essa nuvem de poeira de nonsense.”

Tem sido difícil de combater tal crítica. Mark Zuckerberg, fundador e presidente do Facebook, desmereceu as reclamações duas vezes, nas últimas semanas — numa conferência e, mais tarde, num longo post. “Os boatos que existem não estão limitados a uma visão partidária, nem mesmo à política. Isso torna extremamente improvável que os boatos tenham alterado o resultado desta eleição num sentido ou no outro”, escreveu ele. “Ainda assim, acredito que devemos proceder com muito cuidado. Identificar a ‘verdade’ é complicado.” 

Poucas pessoas foram tranquilizadas por isso (ainda mais, porque a premissa da estratégia publicitária do Facebook é a ideia de que ele pode mover a bússola da opinião pública), e até mesmo alguns empregados do Facebook sentiram-se desconfortáveis. Há dias, Sheera Frenkel, da BuzzFeed, relatou um complô anônimo de “empregados desertores do Facebook” que acharam desonestas as afirmações de Zuckerberg. Eles estavam trabalhando no desenvolvimento de recomendações formais de mudança. “Você não precisa acreditar que o Facebook elegeu Trump para sentir-se um pouco arrepiado com a alienação da rede em relação aos fatos”, observou Brian Phillips numa fala mordaz da MTV.com. “Uma das condições da resistência democrática é ter uma visão clara sobre a que se deve resistir.”

Os efeitos sobre a democracia da propagação de falsas informações foram a preocupação de Sunstein, quando ele escreveu sobre “autotriagem”, em 2007. Ele citou um experimento realizado previamente no Colorado. O estudo usou pessoas liberais da cidade de Boulder e pessoas conservadoras de Colorado Springs. Os participantes foram divididos em grupos e instruídos a discutir temas controversos: uniões homoafetivas, aquecimento global, ações afirmativas. Pesquisadores gravaram opiniões individuais antes e depois de quinze minutos de discussão. As tendências emergiram. Quando os participantes falavam com pessoas que tinham a mesma visão política, suas opiniões normalmente tornavam-se mais extremas. Os liberais tornavam-se mais liberais em seu pensamento sobre determinado assunto; os conservadores, mais conservadores. A amplitude de opinião estreitava-se, também. Participantes com visões parecidas caminhavam em direção ao consenso.

Sunstein projetou que um direcionamento parecido poderia ocorrer online, onde informações sustentadas por visões preexistentes estavam prontamente disponíveis (e até mesmo difíceis de evitar, dada a maneira como funciona o navegador da internet). Ele chamou a polarização que produz de “extremismo de enclave”. Um fator que contribuiu, ele argumentou, foi o fluxo social da informação: pessoas que convivem com gente de opiniões semelhantes estavam aptas a encontrar uma quantidade desproporcional de informação apoiando aquela visão, intensificando assim seu respaldo. Ele pensou que efeitos mais puramente sociais estavam envolvidos, também: “As pessoas querem ser vistas favoravelmente pelos outros membros do grupo.” A maioria dos cidadãos, na maioria das questões, não sabe precisamente o que pensa, e é suscetível à menor persuasão. Opinião de enclave, que constrói confiança nas próprias opiniões, possibilita que pensamentos genéricos tomem forma e se intensifiquem. O risco era que más ideias obtivessem ampla adesão se a autotriagem funcionasse direito.

Sunstein não levou em conta os algoritmos do Facebook ou a propagação de informação evidentemente falsa. O primeiro fator amplifica o efeito-enclave que ele descreveu; o segundo nutre o extremismo confiante. Mesmo quando a informação é precisa, o extremismo de enclave ajuda a explicar como aqueles que produzem notícias, como os jornalistas, erraram tanto ao captar aspectos da grande cena, tais como o humor eleitoral do país. Nos dias seguintes aos da eleição de Trump, muitos especialistas confusos dos grandes centros lamentaram o que o escritor Eli Pariser chamou de “bolha de filtro”: uma câmara de eco de informação e opinião que, neste caso, levou aqueles que escrevem as notícias a estar desproporcionalmente expostos a informações que confirmavam suas teorias. Quanto mais confiamos na esfera digital como nossa janela para o mundo, mais vulneráveis nos tornamos a suas fraquezas.

Alguns anos atrás, reportando de San Francisco, notei uma erosão do significado público que parecia estar atravessando o progresso cívico. Uma causa-chave, eu sugeri naquele momento, eram os efeitos de filtro da tecnologia – a forma como, à medida em que vivemos cada vez mais numa bolha, perdemos contato com o chão comum, e a linguagem comum que tornou possível a ação pública. Talvez os efeitos de filtro tenham algum papel, mas nada do que vi desde então mudou minha percepção. O espectro intelectual mais perigoso, hoje, parece não ter falta de informações mas ausência de uma esfera comum de informação em que seja possível compartilhar ideias cruzando fronteiras de opinião.

Pauline Kael, crítica de cinema da New Yorker durante muitos anos, fez certa vez uma ironia que ficou famosa, “Vivo num mundo muito especial. Conheço apenas uma pessoa que votou em Nixon.” O extremismo de enclave não é novo, em outras palavras. O que pode ser mais novo é o nosso esquecimento dos momentos que vivemos em sua prisão. 

Se a maioria das pessoas está buscando notícias no Facebook, então esta rede social certamente tem a obrigação cidadã de assegurar que é sólida a informação por ele disseminada. Os efeitos de longo prazo do extremismo de enclave, observa Sunstein, podem ser má notícia para a democracia. “Aqueles que vivem em rebanho, na internet ou em outro lugar, acabarão tão confiantes quanto errados, simplesmente porque não foram suficientemente expostos a contra-argumentações. Eles podem até passar a enxergar seus concidadãos são oponentes ou adversários, em algum tipo de ‘guerra’. Um governo com essa perspectiva é perigoso. Mas um público desinformado e confiante, é muito pior.

terça-feira, julho 19, 2016

Presidente do STF determina restabelecimento imediato dos serviços do WhatsApp



Via STF

O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Ricardo Lewandowski, suspendeu decisão do juízo da 2ª Vara Criminal da Comarca de Duque de Caxias (RJ) para restabelecer imediatamente o serviço de mensagens do aplicativo WhatsApp. Segundo o ministro, a suspensão do serviço aparentemente viola o preceito fundamental da liberdade de expressão e comunicação (artigo 5º, inciso IX, da Constituição Federal) e a legislação de regência sobre a matéria.

A liminar foi deferida na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 403, ajuizada em maio deste ano pelo Partido Popular Socialista (PPS), originalmente contra decisão do juiz da Vara Criminal de Lagarto (SE) que bloqueou o aplicativo. Nesta terça-feira, o partido, por meio de petição, informou a ocorrência de nova ordem judicial no mesmo sentido, desta vez do juízo da 2ª Vara Criminal de Duque de Caxias, e requereu a imediata suspensão daquela decisão.

Ao deferir a liminar, o presidente do STF observou que a Lei 12.965/2014 (Marco Civil da Internet) dispõe que a disciplina do uso da internet no Brasil tem como um dos princípios a “garantia da liberdade de expressão, comunicação e manifestação de pensamento, nos termos da Constituição Federal”. Além disso, há expressa preocupação com a “preservação da estabilidade, segurança e funcionalidade da rede”.

Segundo Lewandowski, é preciso destacar a importância desse tipo de comunicação por mensagens instantâneas até mesmo para intimação de despachos ou decisões judiciais, como já vem sendo feito em alguns casos. O ministro destacou que a própria juíza de Duque de Caxias assinala, na decisão que suspendeu o uso do aplicativo, que ele possui mais de um bilhão de usuários no mundo, e que o Brasil é o segundo país com maior número de usuários.

Quanto à possibilidade de a empresa responsável pelo serviço quebrar ou não a criptografia das mensagens, permitindo acesso ao seu conteúdo, o ministro ressaltou que se trata de tema da mais alta complexidade, não existindo dados e estudos concretos quanto à possibilidade de execução da medida determinada pelo Juízo da 2ª Vara Criminal da Comarca de Duque de Caxias/RJ e supostamente descumprida pelo WhatsApp. Assim, em análise preliminar, concluiu que o poder geral de cautela do magistrado assegura a suspensão de ato aparentemente pouco razoável e proporcional, além de gerar insegurança jurídica, deixando milhões de brasileiros sem esse meio comunicação.

sexta-feira, fevereiro 26, 2016

Quantas redes sociais são necessárias para preencher o nosso vazio existencial?


Por Leandro Karnal, no portal Raízes

Eu acredito que nós estamos gritando desesperadamente para sermos observados. Eu acredito que nós estamos nos sentindo muito solitários. Eu acredito que nós potencializamos o eu, mas atomizamos, se preferirmos a metáfora física. Ou capilarizamos, se preferirmos a metáfora biológica.

Nós temos, desde a invenção da imprensa, no século 15, na Alemanha, a invenção da grande imprensa, nos século 19 e 20; a televisão, no século 20, o rádio no século 20. Nós temos um crescimento gigantesco na capacidade de comunicação com o grande público. Ainda estamos lidando com estes fatos, mas sem sombra de dúvida as pessoas estão dando opinião de tudo e isso é um bom exercício.

A pergunta é se alguém está ouvindo a opinião alheia, se alguém está lendo a dos outros? Se eu tiver 35 grupos de WatsApp: família, amigos, emprego, festas, etc.; se eu tiver três contas no Instagram; se tiver quatro contas no Face, inclusive um fake para sacanagem. Se tiver tudo isso, quem eu estou lendo de fato, se o meu tempo é consumido pela atualização destas questões?

Eu, como pessoa mais velha, assisti ao nascimento do celular, assisti ao nascimento do computador pessoal, ouvi tocar o primeiro celular em sala de aula. Os jovens não sabem disso, mas não havia celular antes. Eu sei que essa ideia é… é uma ideia muito extraordinária. E como dizem algumas alunas:

– Eu não posso desligar, professor, eu tenho filho.

Como será que nossas mães nos criaram sem o celular? Minha preocupação não é com a tecnologia. Uso o celular e gosto muito, ele é útil, e ele resolve muitas coisas para mim. A minha preocupação não é tirar ou reforçar o celular, é secundário… A minha preocupação é quem sou eu que preciso estar presente em tantos personagens, em tantos lugares, para que tanta gente me veja?

Quando eu falo, às vezes, na televisão, e essa televisão tem interação via redes sociais, eu tenho a sensação que ninguém me escuta, eu tenho a sensação que muitos telespectadores estão casados comigo; não me escutam e não temos sexo. Ou seja, é um casamento absoluto. Eu tenho a sensação que cada um emite a sua opinião imediatamente quando identificam que eu disse alguma coisa. E graças a isso vão mandando mensagens. Mandando mensagens… A participação é muito boa e quando eu escuto, interajo, ela é fundamental.

Nós temos a chance de uma virada. Vou usar uma palavra mais difícil: epistemologia do século 21 em que o conhecimento atingiu um novo patamar de validação. Temos a chance, mas isso ainda não ocorreu. Nós não estamos brilhantes ou mais produtivos do que há trinta anos. Apenas estamos incrivelmente mais ocupados com o mundo virtual. Eu saí com uma profissional de arquitetura que fazia um trabalho pra mim e ela sentou comigo para jantar e discutir um problema de reforma; ela atendeu o celular. Eu fiquei esperando. Certamente era algo grave. Começamos a conversar, ela atendeu novamente. Eu esperei. Certamente era algo gravíssimo que impedia a nossa reunião. Na terceira vez, tocou o celular. Era eu ligando para ela. E dizendo para ela: já que você prefere pelo celular, vamos ter a reunião assim. E tivemos. E foi uma reunião produtiva. E o celular dela não tocou mais. Porque nós tivemos (a reunião).

É uma questão de escolha. Me preocupa que a realidade virtual se sobreponha à realidade real. Me preocupa isso. Mas é provável uma preocupação de idade. Não que seja uma preocupação de criança ou jovem. Isso vai passar. Me preocupa que realmente a fala reflexiva que é o tom da fala de Hamlet tenha desaparecido. E a fala informativa esteja dominando. Como diz um filme sobre a dificuldade de Shakspeare. O problema de Shakspeare é que ele nunca diz: vai daqui prá lá. Shakspeare diz: “Toma das asas de mercúrio e passa deste ponto àquele outro onde o sol se põe”.

As metáforas, as interpolações, os adjuntos, os apostos, os vocativos shakspearianos tornam complicadas as frases reflexivas. Porque a frase reflexiva pressupõe pensar no que estou dizendo. E quando eu penso no que estou dizendo, curiosamente, eu digo menos, que é mais significativo. Quando eu não penso no que estou dizendo eu digo mais coisas porque elas perderam o sabor.

E se tornam num quilo. Apesar do restaurante por quilo ser uma maravilha ele reduziu todos os alimentos a um mesmo sabor. O chuchu, a vitela, o purê, o milho, a alface, todos têm o mesmo gosto. E se não são os onze quando são colocadas, três, pelos menos, certamente têm o mesmo sabor. As pessoas põem um pouco de cada como se fizesse qualquer diferença o frango, o peixe ou a carne. E escolhem a ervilha como quem escolhe pérolas, uma por uma e colocam, delicadamente, no seu prato. Eu fico pensando, é tão sem graça essa comida. Eu tenho que ter muito cuidado ao comer pra me sentir comendo alguma coisa. Ou seja, quando eu não tenho sabor nas coisas que eu vivo e faço eu multiplico as coisas que eu vivo e faço. E falo mais e saio mais e faço mais festas e tenho mais amigos, viajo e não paro de viajar, porque como eu não consigo estar comigo, quero estar em todos os lugares do mundo.

Eu não tolero estar na minha casa. Sou pensativo, então eu tenho que estar no estresse do aeroporto. E visitando. Você foi à Argentina, foi à Buenos Aires, foi à Córdoba? Você conhece Salta? Ah, Salta eu não conheço. Então vamos à Salta neste momento. Agora eu fui a Salta. E a Patagônia? E Mal Del Plata? Ou seja, é uma vida. Uma vida para rodar, rodar, até que fique tão longe que eu perca a consciência de mim mesmo. Por isso que nós viajamos mais do que jamais viajamos no passado. Porque nós não vemos mais nada. E batemos fotos que vão para o computador e não vão ser vistas por ninguém ou você envia cópias para dez mil pessoas que não vão ver ou vão ter inveja de eu estar viajando e vão responder apenas: kakakaka.

Ou seja, este é o vazio que o Hamlet estranharia, já que o Hamlet faz toda a peça dele, a mais reduzida de todas, num único espaço da corte. Num único espaço de Elsinore, em salas do palácio e dali apenas, eles falam de uma viagem à Inglaterra, de navio e de uma ida a Paris. Mas toda peça se passa ali, porque a casca de noz de Hamlet é suficiente reinado; é suficiente para ele.

*Leandro Karnal é um historiador brasileiro, atualmente professor da UNICAMP na área de História da América.

terça-feira, junho 02, 2015

Belém convida o ativismo digital brasileiro para o II AmazonWeb

Por do Sol na orla da Baia do Guajará, em Belém do Pará. 

Belém é uma megalópole fincada no seio direito da amazônia brasileira, que traz a contradição no corpo e n'alma de seu povo, tanto os herdeiros dos nativos, quanto dos que fizeram deste solo, frutífero e de clima tropical que queima e umidifica, seu habitat surreal. 

Se o asfalto encobriu as pedras portuguesas trazidas pelos invasores que colonizaram a cidade e ergueram estranhas catedrais, sob os escombros das ocas tribais que aqui vivam em paz, com a mãe natureza, o mangue sucumbiu primeiro.

As centenárias mangueiras que adornam e fazem a sobra que alivia o calor do centro da pólis, com suas peças trazidas da Europa, quando o ciclo da borracha era pulsante e ostentava riquezas e caprichos dos burgueses, ainda que velhas, trazem o charme para os poucos quilômetros por onde a berlinda desliza no mar de gente que toma suas principais avenidas, todos os meses de Outubro, onde milhões de rezadores em busca de seus milagres e rendendo agradecimentos em forma de promessas, inundam a cidade que exala maniva, tucupi e outros ingredientes indígenas, que hoje encantam os chefs da alta culinária internacional.   

Em meio ao espetáculo da natureza (física e humana) e do caos urbano, Belém será novamente palco do II AmazonWeb, o Fórum do Ativismo Digital da Amazônia.

Saiba o que foi e conheça A Carta da Amazônia, aprovada no I AmazonWeb.




sábado, maio 30, 2015

"O ambiente digital está alterando nosso cérebro de forma inédita", diz neurologista britânica

Susan Greenfield, especialista em fisiologia cerebral, diz que estamos cada dia mais dependentes de redes sociais e videogames e prevê um futuro sombrio para os "nativos digitais", geração que passará a vida inteira online.

Na Veja.

Para a neurocientista britânica Susan Greenfield, o admirável mundo novo da internet e das redes sociais não é tão admirável assim. Videogames e redes sociais estão, na visão dela, criando uma nova geração - a de "nativos digitais" - que vai passar a maior parte de sua vida online. E isso não é bom, segundo ela. "As crianças que estão crescendo agora nesse ambiente do ciberespaço, não vão aprender como olhar alguém nos olhos, não vão aprender a interpretar tons de voz ou a linguagem corporal", disse em entrevista ao site de VEJA, concedida em sua passagem pelo Brasil para falar na Conferência Fronteiras do Pensamento, em São Paulo e Porto Alegre.

Susan, de 52 anos, autora de livros como The Private Life of the Brain (A Vida Privada do Cérebro, sem edição no Brasil), afirma que há um grande risco de as pessoas passarem a viver suas vidas exclusivamente em ambientes virtuais. "Um estudo americano, de 2010, mostrou que mais da metade dos adolescentes entre 13 e 17 anos gastava mais de 30 horas por semana na internet. São quatro ou cinco horas por dia não andando na praia, não dando um abraço em alguém, não sentindo o sol no rosto, não subindo em uma árvore, não fazendo todas as coisas que as crianças costumavam fazer."

Outra comparação feita pela neurocientista, que também é professora de Farmacologia na Universidade de Oxford, é entre as redes sociais e a indústria do cigarro. De acordo com ela, assim como as produtoras de tabaco negavam o poder viciante do cigarro, o mesmo ocorre hoje com as companhias que lucram com o uso das redes sociais e videogames. "É preciso admitir que existe um problema", diz ela, citando estudos que relacionam a utilização intensiva de redes sociais com a liberação de substâncias estimulantes no cérebro.

Apesar de enxergar com pessimismo um mundo em que estejamos conectados a maior parte do tempo, Susan diz que não adianta proibir crianças e adolescentes de usar videogames e redes sociais. "É preciso oferecer um mundo tridimensional mais interessante para eles."

A internet afeta o cérebro? Todos estão interessados em saber como as tecnologias digitais, especialmente a internet, afetam o cérebro. A primeira coisa a saber é que viver afeta o cérebro. O cérebro muda a todo instante de nossas vidas. Tudo que é feito durante o dia vai afetar o cérebro. A razão disso é que o cérebro humano se desenvolveu para se adaptar ao ambiente, não importando qual fosse esse ambiente. É interessante notar que agora o ambiente é muito diferente, de maneira sem precedentes.

Como a imersão num ambiente virtual pode afetar o cérebro? Há várias perguntas diferentes a serem respondidas. Eu acho que há três grupos abrangentes. O primeiro é o impacto das redes sociais na identidade e nos relacionamentos. O segundo é o impacto dos videogames na atenção, agressividade e dependência. E o terceiro é sobre o impacto dos programas de busca no modo como diferenciamos informação de conhecimento, como aprendemos de verdade. É claro que há muitos estudos que ainda precisam ser feitos, mas certamente há cada vez mais evidências sobre aspectos positivos e negativos. 
Por exemplo, já foi demonstrado que jogar videogames pode ser similar a fazer um teste de QI. Pode ser que o aumento de QI visto em alguns testes aconteça graças à repetição de uma certa habilidade ao jogar videogames. Agora, só porque vemos um aumento de QI em quem joga videogames não quer dizer que haja um aumento de criatividade ou capacidade de escrita. Também se sabe, por alguns estudos, e por exames de imagem, que os videogames aumentam áreas do cérebro que liberam dopamina. Também sabemos que, em casos extremos, nos quais as pessoas gastam até 10 horas por dia na frente da tela, existe uma forte correlação com anormalidades em exames cerebrais. Como costumamos dizer, uma andorinha só não faz verão. Então é importante fazer mais estudos. Isto não é definitivo, em se tratando de ciência nada é definitivo, por isso é importante começar a fazer pesquisa básica porque, até agora, está claro que coisas boas e coisas ruins estão acontecendo de um modo que não haviam acontecido em gerações passadas.

Existe um limite de tempo seguro para navegar na internet? É claro que muitos pais já me perguntaram: 'com que frequência meus filhos devem usar a internet? Até quando é seguro?' O que acontece na Inglaterra, acho que aqui também, é que alguns pais falam para os filhos 'façam uma pausa a cada 10 minutos'. Mas eu não conheço ninguém que no meio do jogo pensa 'está na hora da minha pausa de 10 minutos'. Minha sugestão é agradar as crianças, em vez de dizer 'você só jogar por uma ou duas horas, ou você simplesmente não pode jogar.' Não seria melhor se a criança decidisse sozinha que não quer jogar? E por que eles fariam isso? Porque o que você vai oferecer a ele é muito mais excitante, muito mais agradável, muito mais interessante, do que esse jogo. É um desafio, mas o que temos que fazer é tentar pensar em maneiras, não tentar negar a tecnologia. Nós podemos, na nossa sociedade maravilhosa, com toda essa tecnologia, com todas as oportunidades que temos, dar aos nossos filhos um mundo tridimensional interessante para viver.

Há quem associe o aumento da incidência do transtorno de déficit de atenção e da hiperatividade (TDAH) ao uso da internet pelas crianças. Essa ligação faz sentido? Está havendo um crescimento alarmante de TDAH. Sabemos que a prescrição de drogas como ritalina, usadas para TDAH, triplicaram, quadruplicaram nos últimos 10 anos. É claro que isso é muito. A condição pode estar sendo mais diagnosticada ou pode ser que os médicos estejam prescrevendo mais os remédios. Há, porém, outro fator importante: a causa pode ser as tecnologias digitais.

Por que culpar a internet e não a TV, por exemplo? Algumas pessoas dizem que a TV é a mesma coisa que a internet. Mas já se mostrou que não é o caso. Há uma grande diferença para o que fazemos na internet, que é altamente interativa e também tende a ser mais estimulante. Nós também sabemos que, quando se joga videogame, uma substância química no cérebro relacionada com o estímulo, chamada dopamina , é liberada. O que é interessante é que, quando se toma ritalina, a dopamina também é liberada. Então, agora as pessoas estão pensando que talvez as crianças estejam viciadas em videogames. E estão medicando essas crianças porque elas teriam TDAH, e estão fazendo, embora não façam ideia, com que haja mais dopamina no cérebro. Então certamente há uma ligação entre TDAH e videogames, mas precisamos entender mais sobre os mecanismos cerebrais para entender como isso funciona.

Como a senhora acha que a geração atual será no futuro? É interessante pensar no caráter, nas aptidões da próxima geração, os cidadãos da metade do século 21. Eu acho que haverá coisas boas e coisas ruins. Imagino que talvez eles tenham um QI maior e uma boa memória. Acho também que eles correrão menos riscos que nossa geração - isso pode ser tanto bom quanto ruim. Por um lado, ninguém quer pessoas que nunca se arriscam, que são excessivamente precavidas, mas, por outro lado, também não queremos pessoas inconsequentes. Infelizmente, também acho que essa geração terá um senso de identidade mais frágil, menos empatia, menos concentração, e podem ser mais dependentes ao viver o "aqui e agora" em vez de ter um passado, presente e futuro. Talvez eles fiquem mais presos ao presente.

Por que o senso de identidade seria menor? Até recentemente, em muitas partes do mundo, os seres humanos tinham preocupações mais imediatas, como sobreviver, se manter aquecido, não ter dor, não viver com medo e ter onde se abrigar. Essas questões eram as mais importantes quando se era um adulto. Mas agora a tecnologia, em sociedades mais privilegiadas, como o Brasil e a Grã-Bretanha, está permitindo que a população, pela primeira vez na história, viva muito mais e tenha uma vida saudável. Uma criança tem, agora, uma em três chances de viver mais de 100 anos. Então o que fazer com esse tempo? Essa é uma pergunta que não se fazia no passado porque as pessoas morriam de doenças ou estavam preocupadas com outras coisas. Mas agora é factível presumir que as pessoas não saberão o que fazer com a segunda metade de suas vidas, após seus filhos estarem criados. Se elas estiverem saudáveis, em forma, mentalmente ágeis, não poderão simplesmente jogar golfe todo dia, ou sudoku. Acho que uma das grandes questões para eles será fazer perguntas que tradicionalmente apenas adolescentes fazem: "Quem sou eu? Qual é o sentido da vida? Para onde estou indo? Qual o propósito disso tudo?" Na minha opinião, isto pode ajudar a explicar por que, de uma maneira engraçada, Facebook e Twitter são tão populares.

Por quê? As pessoas têm um senso integral de identidade. De repente elas se sentem importante porque gente ao redor do mundo está se comunicando com elas, comentando o que elas disseram. Então, este tipo de pessoa, que no passado vivia em uma comunidade local, e tinha uma identidade dentro daquela cultura, dentro daquele país, agora tem uma presença global, mas que é construída externamente. Não é real. É como em uma ocasião na qual estava em um café da manhã com Nick Clegg (vice-primeiro-ministro da Grã-Bretanha) e tinha uma mulher perto de mim tão ocupada contando a todo mundo que ela estava tendo uma café da manhã com Nick Clegg que nem conseguiu prestar atenção ao que ele estava dizendo. Ela só ficava tuítando o tempo todo: "café da manhã com Nick Clegg". Eu vi um filme com duas meninas conversando dentro de um carro e uma pergunta para a outra: "Como você se sente dentro deste carro?" Ela não responde "estou triste" ou feliz ou animada, nada disso. Ela diz: "o carro é digno de um post no Facebook."

Por que isso é preocupante? A partir disso eu infiro que as pessoas estão construindo uma identidade no ciberespaço que em boa parte é formada pela visão das outras pessoas. Existe um site chamado KLOUT. Se você entrar nesse site, ele te diz o quão importante você é, te dá um número chamado Klout Score. Klout, em inglês, significa importante. As pessoas pagam para ver qual é a sua pontuação e para aumentá-la. Eu acho interessante essa tendência de que mesmo que você sinta-se muito importante, muito conectada, você se sente insegura, tenha baixa autoestima, sinta-se constantemente inadequada. Existe um livro muito bom escrito por Sherry Turkle chamado Alone Together - Why We Expect More From Technology and Less From Each Other (algo como "Juntos sozinhos - Por que esperamos mais da tecnologia e menos de cada um de nós", lançado em janeiro, ainda sem editora no Brasil). Ela disse: "bizarramente, quanto mais conectado você está, mais você está isolado."

Hoje, entretanto, a maior parte das pessoas continua levando suas vidas normalmente, fora do ciberespaço, e apenas uma pequena parte dentro dele. Isso se inverterá no futuro? A maioria das pessoas dirá que, se tirarmos um instantâneo da sociedade hoje, um monte de pessoas está vivendo normalmente e feliz em três dimensões. Elas têm amizades saudáveis e gostam de estar no Facebook e no Twitter. Com certeza, é apenas uma minoria de pessoas que gastam até 10 horas por dia em frente do computador. Porém eu acho esse tipo de argumento problemático porque é solipsista - você está argumentando a partir do seu ponto de vista. Já falei várias vezes com jornalistas, que geralmente são de meia-idade e de classe média, e dizem que usam isso e aquilo e é fantástico. Às vezes sou criticada porque não estou no Facebook, não estou no Twitter, e mesmo assim estou comentando a respeito. Eu respondo que, mesmo se eu estivesse me divertindo muito no Facebook, isso não quer dizer que todos sejam como eu ou que vão usar do mesmo modo que eu uso, ou que vão ter o mesmo tipo de amizades que eu tenho.

O uso então é exagerado? Eu acho que precisamos olhar para as estatísticas em vez de apenas levar em conta as impressões pessoais ou os meios de comunicação. De acordo com as estatísticas, os chamados nativos digitais, gente que nasceu após 1990, apresentam níveis de uso alarmantes. Por exemplo, um estudo americano, de 2010, mostrou que mais da metade dos adolescentes entre 13 e 17 anos estavam gastando mais de 30 horas por semana na internet. O que me chama atenção não são as 30 horas, mas o que vai além disso. Isso significa que pelo menos quatro ou cinco horas por dia em frente ao computador. O problema com isso é que, não importando o quão fantásticas ou benéficas sejam as redes sociais - vamos dizer que sejam 100% maravilhosas - ainda são quatro ou cinco horas por dia não andando na praia, não dando um abraço em alguém, não sentindo o sol no rosto, não subindo em uma árvore, não fazendo todas as coisas que as crianças costumavam fazer. Acho que devemos prestar atenção a essa questão. Acho também que podemos comparar o que acontece hoje com o momento do anos 50 quando as pessoas começaram a mostrar uma relação entre o câncer e o cigarro. A indústria do tabaco foi hostil a essa descoberta, tentou negar e insistir que fumar não era viciante. E se você tem um grupo de pessoas se divertindo e outro grupo fazendo dinheiro com isso, esse é um círculo perfeito. A primeira coisa a fazer quando pensamos na relação entre os jovens e a internet é reconhecer que talvez aí exista um problema.

Não se trata de excesso de zelo? Existem outras questões também. Há uma grande diferença entre os chamados "imigrantes digitais", pessoas como eu e possivelmente pessoas como as que estão lendo essa entrevista e que tiveram uma educação convencional, cresceram lendo livros, tendo relações apropriadas, em três dimensões, e as crianças que estão crescendo agora, recebendo um comando evolucionário para se adaptar ao meio ambiente. Se esse ambiente é incessantemente o ciberespaço, elas não vão aprender como olhar alguém nos olhos, elas não vão aprender a interpretar tons de voz ou a linguagem corporal. Elas não vão aprender como é quando se toca alguém, se tem um contato físico. O que significa que, se alguém ficar cara a cara com alguém no mundo real será mais desagradável, mais agressivo, então as pessoas vão preferir se comunicar por meio das telas. Já é o caso da Grã-Bretanha, não sei como é aqui no Brasil. Escritórios se tornaram locais bastante silenciosos, porque, em vez de conversarem entre si, as pessoas preferem enviar mensagens. Outro problema que, acho eu, mostra uma tendência, é um fantástico aplicativo - é fantástico que as pessoas paguem por isso. São dois, na verdade. Um deles se chama Self Control (Auto controle). O outro se chama Freedom (Liberdade). Você paga para que eles não o deixem usar a internet obsessivamente. Eles desligam seu computador a cada 50 minutos ou a cada hora. Por que as pessoas deveriam pagar por algo que elas mesmas poderiam fazer facilmente, a menos que estejam obcecadas ou tenham se tornado dependentes? Eu posso chegar para você e dizer que tenho uma maneira brilhante de ganhar dinheiro: você me paga para eu desligar seu computador para você. Você vai me dizer que estou louca.

quarta-feira, maio 27, 2015

O poder das Mídias Digitais e o fiasco de quem pensa que sabe de tudo


Se acontece com a VEJA, uma das "maiores" revistas de circulação nacional, imagine outras iniciativas que se aventuram em ter sites, blogs, redes sociais e canais de vídeo na internet, sem o devido tratamento e planejamento para a área.

O mundo digital ainda é um terreno onde publicitários, jornalistas, e empresários da comunicação em geral, ainda não pisam com firmeza e por isso, não alcançam seus objetivos como pretendem. Ou não querem gastar nessa área, ou investem sem perceber os 'cases' de sucesso,  e por isso vão ficando cada mais para trás. 

Enquanto a pré-candidata Hillary Clinton anuncia que sua campanha irá priorizar as redes sociais e demais canais na Internet, no Brasil o papel e as velhas fórmulas de atração do eleitorado persistem na cabeça dos marqueteiros, que desconhecem a intimidade e confiança geradas entre o público eleitor e seus candidatos, através das novas mídias digitais.

O resultado não pode ser outro se não o retratado no artigo "O monumental fiasco que é a TVeja" de Paulo Nogueira, no Diário do Centro do Mundo.

Achei estranho, e fui verificar.

Li, num texto sobre as demissões na Veja, que havia uma área da revista “bombando”.

Foi exatamente esta a expressão usada: “bombando”. Essa área poderia, li, representar o futuro da Veja.

A TVeja.

Quem disse isso foi uma fonte da Veja.

Bem, fui verificar, porque poucas vezes vi um projeto editorial tão disparatado como a TVeja.

O que encontrei confirmou minhas suspeitas.

Trata-se de um monumental fracasso.

Você pode inflar a circulação de uma revista com diversos métodos. Continuar a enviar exemplares para quem não renovou a assinatura é um desses métodos.

Mas na internet cada clique é registrado. E o Youtube, que paga por boas audiências, não se deixa ludibriar por truques.

No YouTube está a verdade da TVeja.

A parte 1 de uma entrevista com Serra, por exemplo, teve 714 visualizações.

Outra com o senador Eduardo Amorim ficou em 80.

Uma mesa redonda com Augusto Nunes, Felipe Moura Brasil e Caio Blinder estacionou em 95.

Uma conversa com Marco Antônio Villa sobre um delator teve 712.

Ronaldo Caiado rendeu 249 cliques.

Nem Beto Richa, tão comentado pelos problemas com os professores, saiu do chão. Sua entrevista teve 795 visualizações.

Isso na parte 1. Na parte 2, foram 367.

Alguns vídeos foram um pouco adiante. Um no qual Reinaldo Azevedo elogiou Olavo de Carvalho registrou 4 524 cliques.

Um vídeo em que Reinaldo Azevedo instou o Senado a reprovar Fachin teve 8 837 acessos.

Bem, por aí vai.

Não fiquei em nada surpreso com os números que encontrei.

A TVeja é um símbolo da extraordinária dificuldade que dinossauros da mídia têm para se adaptar ao novo ambiente.

Vídeos, na Era Digital, devem ser curtos, diretos, e capturar o espectador rapidamente, ou ele zarpa.

Os da TVeja são o extremo opostos. As conversas são intermináveis: muitas vezes, ultrapassam 40 minutos.

É muita pretensão imaginar que alguém na internet vai suportar a apresentadora Joice Hasselman dissertando interminavelmente sobre o mesmo assunto – os pecados do PT — com diferentes interlocutores.

Fica evidente que o projeto foi concebido sem a presença de ninguém do mundo digital.

E é esse fracasso que alguém da Veja disse que está “bombando”.

É o autoengano tão comum em empresas em declínio. Algumas semanas atrás, numa entrevista ao Valor, Roberto Irineu Marinho conseguiu dizer que não está caindo a audiência da tevê aberta.

Isso com o Ibope de toda a programação da Globo – das novelas aos telejornais — desmoronando. Na semana passada, um levantamento de um colunista de tevê do UOL mostrou que a Globo perdeu 35% do público de domingo de 2005 para cá.

O que aconteceu com as carruagens quando os carros apareceram?

O mesmo que vai acontecer com grandes companhias de mídia tradicional com o advento da internet.

Não poderia haver melhor imagem para esse processo de extinção do que a calamitosa TVeja.

quarta-feira, março 11, 2015

Entenda por que os políticos devem monitorar as redes sociais mesmo após as eleições

As redes sociais foram um canal muito usado por políticos nas eleições de 2014, mas será usá-las só no período eleitoral é o suficiente?


As redes sociais revolucionaram a forma como empresas, personalidades, instituições e pessoas se relacionam e se portam. No que se refere a eleições e política, as redes desempenharam um papel determinante para que candidatos e partidos pudessem mapear e se aproximar de seus eleitores. Foi possível atestar esta nova realidade nas últimas eleições, principalmente na de 2014, com disputas entre partidários. Candidatos investiram no uso de canais digitais para, entre outras coisas, posicionarem-se trabalhando suas imagens enquanto figuras do poder público.

Mapeando votos

O monitoramento online é hoje uma das ferramentas fundamentais e mais eficazes do marketing digital que, em 2014, foi amplamente explorado no processo eleitoral. É possível coletar dados, inclusive em tempo real, identificando mensagens positivas e negativas sobre a imagem de corporações, reputação de grandes marcas no mercado e, também, sobre o que tem sido dito sobre política.

Com a utilização de métricas, filtros como identificação de gênero, dados demográficos, socioeconômicos, faixa etária etc, é possível determinar e analisar o perfil dos eleitores bem como a forma como a imagem do político tem sido percebida e discutida pela audiência. Isso permite traçar estratégias eficientes para a conquista de eleitores além de solidificar a escolha de simpatizantes. Vale lembrar que, para ter sucesso definitivo, o político não deve se olhar para esses canais apenas nos períodos eleitorais. É preciso usar as redes sociais para conhecer, ouvir e entender o que a população está querendo. O político que sabe lidar com as redes sociais como intermediárias entre ele e o público-alvo dele — mostrando-se realmente preocupado com as questões desse público — ganha vantagem em relação ao político que apenas usa essas ferramentas como forma de obter mais votos.

Monitoramento antes, durante e depois

O recente processo eleitoral foi marcado pela militância e conectividade de eleitores que nunca discutiram tanto sobre política utilizando as redes sociais como canais de interação. Em um artigo publicado na BBC Brasil, podemos aferir que durante os 3 meses de campanha eleitoral, cerca de 674,4 milhões de interações sobre as eleições ocorreram só no Facebook.

Mas, é fundamental entender que a imagem e a reputação de figuras públicas como políticos não possuem prazo de validade. Logo, é imprescindível que menções sobre a personalidade do poder público sejam acompanhadas não apenas no período eleitoral mas sim durante toda carreira política do candidato. É fundamental que haja uma rotina contínua de ações relativas ao posicionamento do político nas redes sociais tendo ele sido eleito ou não.

Arme-se para a próxima guerra digital

Durante a corrida eleitoral no Brasil, os candidatos que chegaram ao 2ª turno investiram (e muito!) nas redes sociais. O Twitter e o Facebook foram usados como  plataformas para confrontos, divulgação de personalidades com apoios polarizados, além de conquistas dos governos e a busca pelo engajamento de militantes e eleitores simpatizantes.

Se o candidato já estiver pensando em uma próxima eleição, ele pode usar esse período para divulgar seu nome, ideias e estreitar relacionamento com os eleitores.  E já que a maioria só olha para as redes sociais apenas durante o período eleitoral, o candidato que usar as redes sociais como ferramenta estratégica — mesmo fora de campanha ou mandato — estará um passo à frente da concorrência e poderá aproveitar esse momento para se firmar cada vez mais.

Prevenção de crise em tempo real 

Com o compartilhamento constante de notícias e opiniões sobre o político ou partido nas redes sociais, o mundo da política passou a lidar com situações de crise a todo momento e numa escala muito maior. Se o político fica de olho nesses canais, ele consegue identificar crises rapidamente e já pensar em formas de reverter a situação. Além disso, acompanhar a repercussão dos assuntos  nas redes sociais podem ajudar a guiar as próximas ações e a postura frente aos assuntos polêmicos.

Mais do que estratégias com o intuito de angariar votos, o posicionamento e a manutenção da imagem dos candidatos nas redes sociais demandam acompanhamento constante devido à grande exposição dos políticos que, afinal, são figuras públicas cujas posturas morais são acompanhadas e avaliadas pelo eleitorado.

E você, participou da guerra digital durante as eleições? Entendeu por que o monitoramento é essencial não só durante as eleições, mas sim durante todo o mandato do candidato? Se você tem alguma dúvida ou sugestão escreva pra nós através dos comentários!

sexta-feira, dezembro 19, 2014

Brasileiros gastam mais tempo na internet para se informar

IBOPE realiza a mais nova Pesquisa Brasileira de Mídia.

Segundo o IBOPE, o brasileiro gasta mais tempo na internet do que na TV para se informar, embora a telinha continue como a principal fonte de informação da maioria e seu horário nobre tenha passado a ser de 22 às 23h da noite. A Rede Social Facebook é acessada por 83% dos brasileiros, seguido do Whatsapp com 58% da preferência dos que usam as mídias digitais. Os jornais só possuem 7% de leitores diariamente, mas ainda são os meios de informação com maior credibilidade para 21% dos entrevistados.

 As informações estão na matéria do Valor Econômico, mas você pode ler abaixo:



A Pesquisa Brasileira de Mídia edição 2015 mostra que a televisão continua sendo a principal fonte de informação dos brasileiros, mas cresceu o acesso à internet. O levantamento divulgado nesta sexta-feira pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, encomendado ao Ibope, mostra que os jornais impressos ainda são a fonte mais confiável de informação, embora o índice de leitura diária seja pequeno.

Um dos objetivos da pesquisa é orientar a aplicação das verbas de publicidade do governo federal, que em 2013, investiu R$ 2,3 bilhões na veiculação de propaganda oficial. "A função principal dessa pesquisa é ajudar na nossa de cisão de publicidade, temos obrigação legal e formal de usar os recursos da forma mais eficiente, é fundamental para a nossa estratégia de comunicação", disse o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação, Thomas Traumann.

O ministro destacou o aumento do acesso à internet como fonte de informação. “A diferença (em relação ao rádio) ainda é pequena, mas mostra uma tendência importante e que deve ser analisada”, afirmou Traumann. “O tempo dá um parâmetro de como o brasileiro está migrando de forma consolidada para os meios de comunicação digitais”, completou.

Atualmente, cerca de 15% da verba oficial de publicidade destina-se à internet, e esse índice pode chegar a 18%, a partir dessa pesquisa, avalia o ministro. A pesquisa mostra que a televisão é a principal fonte de informação para 95% dos brasileiros, seguida do rádio, preferido por 55%, e da internet, com 48% da preferência nacional. O jornal impresso é a fonte mais confiável de informação para 21% dos entrevistados, porém apenas 7% leem jornais diariamente.

O percentual de pessoas que se informam pela internet todos os dias cresceu de 26%, na edição de 2014 da pesquisa, para 37% no atual levantamento. Os horários de pico de navegação são das 10 horas às 11 horas, e das 20 horas às 22 horas. Uma diferença é que, ao navegar na internet, os leitores dão atenção exclusiva ao que fazem, enquanto quem assiste televisão ou ouve rádio faz outras atividades ao mesmo tempo. 

A pesquisa também aferiu que o uso de plataformas digitais de leitura de jornais ainda é baixo. Dos 79% de leitores diários de jornais, apenas 10% acessam as versões digitais. Esse acesso é maior no Ceará, Piauí e Paraná.

O levantamento revela que a rede social mais usada no Brasil é o Facebook, acessado por 83% dos brasileiros. Em segundo lugar, vem o aplicativo WhatsApp, utilizado por 58% dos brasileiros. O Twitter é a rede preferida por apenas 5%. O WhatsApp foi amplamente utilizado na campanha para divulgação de propaganda eleitoral.

O Ibope saiu a campo entre os dias 5 e 22 de novembro e ouviu 18.132 pessoas, maiores de 16 anos, por meio de entrevistas domiciliares em 848 municípios.

quarta-feira, dezembro 17, 2014

A desonestidade da mídia ao falar sobre blogs e publicidade estatal

Entrevista de Lula a blogueiros gerou série de ataques da mídia aos blogs.

Por Pedro Muxfeldt, no Trocando Ideia

A luta que a grande imprensa trava contra blogs e outros portais que não rezam sua cartilha neoliberal e conservadora ganhou mais um capítulo na madrugada desta quinta. Após decisão do STF que obrigou o governo a revelar todos os seus gastos com publicidade nos últimos anos, o jornalista Fernando Rodrigues, do UOL, publicou uma série de matérias em seu blog apresentando e questionando algumas cifras do governo federal em propaganda em 2013. 

E o alvo principal do jornalista, é claro, foram os 'blogs sujos' - como a mídia passou a chamá-los após entrevista do ex-presidente Lula a alguns blogueiros no início do ano. Na imagem que segue abaixo, compartilhada por Fernando, as páginas Conversa Afiada, GGN, Carta Maior, Opera Mundi, Brasil de Fato, Brasil 247 e Fórum têm destrinchados os seus valores de publicidade estatal federal revelados e sua audiência.

Aí começa a desonestidade do jornalista. Na imagem, ele apresenta a audiência do mês de dezembro das páginas, que por causa das festas de fim de ano costuma ser um período de baixa em qualquer portal da internet, e a compara com o ganho anual em publicidade que elas tiveram. A tática seria burra se não fosse canalha.

Se dividirmos por 12 a verba obtida pelas páginas, fica mais claro o quanto elas lucraram de verdade. A revista Fórum, por exemplo, recebeu, em média, R$ 4.800 por mês, quase nada para sustentar uma redação. Dono do maior ganho, o Brasil 247, teve cerca de R$ 90 mil por mês para tocar sua estrutura.

Jornalista comparou audiência mensal com ganho anual. Clique na imagem para ler a matéria.

Estes e os demais casos são para Fernando a mostra da farra com dinheiro público feito pelas estatais. Por debaixo dos panos, ele quer também provar que estas páginas defendem o governo federal apenas porque são bancadas por ele.

O que ele se "esquece" é de colocar sua lupa sobre os gastos do governo na mídia tradicional. Aí mora a verdadeira farra. Apesar do crescimento indiscutível da internet no Brasil, o governo segue investindo muito mais em todos os outros meios (TV, jornal, rádio e revista).

E mesmo com a queda vertiginosa de audiência destas plataformas, vide as demissões em massa em redações de jornal em 2014 e o fechamento de muitas revistas do grupo Abril, que deveria pressupor reduções dos investimentos, Fernando Rodrigues se nega a questionar os gastos estatais nestes meios porque sabe que são eles que ainda mantêm Globos, Vejas e Folhas de pé.

Se a torneira que despeja milhões (ou bilhões) de dinheiro público for fechada, a farra que vai acabar é a dos grandes grupos. Para manter seu quinhão intacto e evitar o fim de festa melancólico, essas empresas, hoje representadas por Rodrigues, atacam como podem os pequenos blogs que, tão legitimamente quanto as grandes empresas, recebem dinheiro estatal e têm incomodado sobremaneira o monopólio da informação que a mídia tanto preza.

segunda-feira, dezembro 01, 2014

Chico Cavalcante: Marketing político não faz milagre

Chico Cavalcante em sua sala na Vanguarda, durante uma conversa sobre Marketing na Internet.
"Quem é ateu e viu milagres como eu
Sabe que os deuses sem Deus
Não cessam de brotar, nem cansam de esperar
E o coração que é soberano e que é senhor
Não cabe na escravidão, não cabe no seu não
Não cabe em si de tanto sim
É pura dança e sexo e glória, e paira para além da história"
Trecho da canção "Milagres do Povo" de Caetano Veloso.


Chico Cavalcante, ou o Chiquinho da Vanguarda como é conhecido por muitos é uma das mentes mais brilhantes do Estado do Pará. Avalio que ele chegou longe por seu talento e inteligência, mas principalmente pela capacidade de escutar e não agir emocionalmente.

Por respeito ao seu trabalho e pessoalmente admirá-lo como ser humano, trago a entrevista publicada na edição dominical do jornal Diário do Pará, mas antes gostaria de dizer que acho lamentável, que o profissional Francisco Cavalcante não dê à internet a devida atenção que ela merece e chamo a atenção para a parte da entrevista, onde ele diz que a comunicação da campanha do senador Paulo Rocha foi perfeita.

Quem monitorou e observou o desenvolvimento do site e a administração das redes sociais do candidato, sabe do que estou falando. No entanto, isso é apenas um detalhe numa campanha vitoriosa e cheia de estórias para contar e o Chiquinho conta um pedaço dela.

No mais, senti falta do reconhecimento da inigualável força e empenho da militância do PT e dos partidos coligados na defesa do legado da esquerda, representados na candidatura de Paulo Rocha, que de certa forma canalizou um sentimento de injustiça, tal como outras injustiças existentes no Estado do Pará, mas isso é pauta para outra postagem.

Os desafios de fazer marketing político no Pará.

No Diário do Pará.

Conhecido por expressar opiniões sem meias palavras, titular de uma agência de marketing político e outra de marketing comercial, autor de seis livros, o jornalista e publicitário Chico Cavalcante conduziu campanhas para o PT paraense de 1994 a 2006, colecionando vitórias. Depois de um breve hiato nos pleitos de 2010 e 2012 quando não trabalhou para a legenda, Cavalcante retornou a convite de Paulo Rocha e comandou sua a exitosa campanha ao senado.


P: A vitória de Paulo Rocha foi fácil como dizem?

R: Quem acredita nisso não entende nada da mecânica complexa de uma eleição para o senado ou para o governo. Não existe vitória eleitoral fácil. Ganhamos porque somamos mais acertos do que erros. Eu diria que sou perseguido por um tipo de opinião desqualificada, que sempre diz que as nossas vitórias foram fruto do acaso. Eu estive a frente de eleições vitoriosas em 1996, 2000, 2004, 2006, 2008, 2010 e 2012. Paulo Rocha venceu porque acumulou mais acertos, desde a engenharia política estruturante até uma comunicação melhor que a dos demais. O que pode, para um leigo, parecer uma eleição fácil, uma jogada de sorte, foi a mais difícil das disputas eleitorais enfrentadas por Paulo Rocha. Entramos nesta campanha sem dinheiro e enfrentando outros cinco obstáculos dificílimos. Primeiro, a alta rejeição de Paulo Rocha, desencadeada pelos violentos ataques que sofreu quando foi arrolado no chamado “mensalão”. Paulo Rocha, um homem honrado, foi acusado pela imprensa, condenado pela opinião pública, mas inocentado pelo Supremo Tribunal Federal.

No entanto, sua inocência não teve nem 3% do espaço na mídia que foi ocupado pelos ataques que abalaram sua imagem. Essa conta desequilibrada gerou um alto resíduo de rejeição, que era o nosso primeiro e maior obstáculo a enfrentar para angariar votos suficientes numa disputa de uma única vaga ao Senado. O segundo obstáculo foi o revés jurídico, quando Paulo Rocha teve seu registro eleitoral recusado pelo Tribunal Regional Eleitoral. Passamos a eleição inteira à sombra dessa espada, à espera de uma decisão do TSE que só chegou no momento final da campanha de rádio e TV.

O terceiro obstáculo foi suplantar o corredor polonês formado por cinco candidatos com estrutura cara e apoio aberto da máquina estadual, um deles detentor do mandato e disputando com grande agressividade sua reeleição. O quarto obstáculo era a campanha suja empreendida pelos adversários. A propaganda difamatória, aquela feita com base na mentira, se fortaleceu imensamente neste pleito. Eu diria mesmo que ela se profissionalizou. Vídeos apócrifos, mensagens de texto difamatórias e falas agressivas no rádio e na TV buscavam associar Paulo Rocha a práticas antiéticas que jamais fizeram parte de sua conduta. O quinto obstáculo era o desconhecimento brutal que as pessoas tinham acerca da atuação parlamentar de Paulo Rocha e do valor de sua atuação para resolver problemas concretos da população do Pará. Ninguém sabia, por exemplo, que sem a iniciativa de Paulo Rocha, a prefeitura de Belém não teria tido condições de construir um segundo Pronto Socorro, que é o do Guamá, construído e inaugurado graças aos recursos obtidos por emendas de Paulo Rocha. 

P: Se o governador não tivesse lançado cinco candidatos ao senado, Paulo Rocha teria o mesmo desempenho.?

R: Lula disse algo muito sagaz em um dos comícios da campanha em Belém. Ele disse que o adversário precisou juntar cinco candidatos para enfrentar Paulo Rocha e que isso era sinal de força do candidato do PT. Ao fazer essa afirmação, Lula expressou na verdade a envergadura da tarefa que estava diante de Paulo Rocha: enfrentar um bloco de adversários com muito poder de fogo, agrupados em volta da máquina cuja mecânica os tucanos conhecem como poucos. Se Paulo perdesse, teria perdido para tudo isso; Lula deu a senha desse discurso. Ocorre que a estratégia do adversário era, de fato, uma ação de autodefesa. Jatene precisava de uma rede de proteção e usou os seus candidatos ao senado como escudo humano.

Então o esquema dos cinco candidatos ao senado era vital para ele criar um cinturão de força. Essa decisão foi o que deu o arranque para que Jatene iniciasse o processo de recuperação, que foi lenta e paulatina. Os senadores do governador não eram meros elementos ornamentais, eles tinham um papel estratégico, basilar, e pretendiam disputar entre si a vaga do Senado, já que tinham Paulo Rocha como previamente fora de combate. Um tucano me disse “cara, não tem como ressuscitar o Paulo Rocha; vocês vão fracassar, seja no voto, seja nos Tribunais”. A estrutura de campanha desses candidatos era milionária, intimidadora, e a máquina operou por eles com grande perícia. Estratégia política correta, comunicação impecável e o apoio fraterno de Helder e de sua estrutura, foram os elementos decisivos para começar o processo de escalada de votos que culminou com a vitória acachapante de Paulo Rocha. Ninguém tropeça nessa montanha de votos. Para conquistá-los é preciso acertar muito.

P: Em 2010, Paulo Rocha perdeu. Agora, sem tudo isso, ele venceu. Que papel a propaganda ou o marketing tiveram nessa eleição?

R: Marketing político não faz milagre. Sozinho, não ganha eleição. Quem diz o contrário é marqueteiro desonesto. O que ganha eleição é a combinação efetiva de cinco elementos: planejamento, estratégia, engenharia política, marketing e propaganda, organizados e dirigidos em torno de um candidato viável e de um processo de mobilização continuado.

É esse conjunto que pode encontrar o caminho do eleitor e combater os movimentos ofensivos dos adversários. . O marketing é um elemento importante, mas é um elemento condicionado. Do mesmo modo que as pessoas superestimam o papel do marketing e subestimam o papel da política em uma eleição, elas confundem propaganda e marketing. São categorias distintas. Marketing é estratégico; é a arte de planejar o antes, o durante e o depois da propaganda no rádio e na TV. O marketing tem a ver com o “todo”. Propaganda é um instrumento tático, tem a ver com a forma que será usada para posicionar o candidato e estimular o eleitor a nos entregar o seu voto; se expressa em diferentes meios, desde as ações de rua, web, até o horário eleitoral gratuito. Como parte de qualquer boa estratégia, o marketing que desenvolvemos para o Paulo exigiu a definição de objetivos, priorização de ações e escolha de indicadores de sucesso. 

P: Você trabalhou para o PT em campanhas exitosas, mas em 2010 e 2012 esteve fora. O que o levou a retornar justamente em uma campanha que você considerava difícil?

R: Não escolho a campanha pela facilidade ou dificuldade, mas pela identidade que tenho com o candidato. Paulo Rocha me chamou e eu aceitei. Não apenas porque temos identidade, mas porque Paulo confiou no marketing político que praticamos e que extravasa o campo da forma e se infiltra na estratégia política. Fazemos marketing sistêmico. Ouvindo os dirigentes políticos, organizamos a estratégia de modo a tornar persuasivo o discurso político respeitando a autoridade do comando. Eu não crio a diretriz política, mas posso me imiscuir a ela, interpretando-a, expressando-a, dando-lhe forma persuasiva. Paulo nos pediu isso, para traduzirmos a política para a linguagem do marketing.

Isso é Political Branding, ou “Inteligência Política”, como prefiro chamar, que está um passo além do que no Brasil se chama marketing político, que se confunde muito com propaganda eleitoral. Por exemplo, Paulo Rocha aparecia em nossos levantamentos como alguém sisudo, mal humorado. Isso é tudo o que ele não é. Paulo é um ser humano afável; um dos políticos mais dispostos a ouvir com quem já tive o prazer de trabalhar. Ele é agregador e evita o confronto. Mas não importa. As pessoas viam de outro modo e era preciso traçar um plano para resolver isso. Mostramos o Paulo Rocha humano, ante-sala do Paulo Rocha político, realizador, comprometido. E isso diminuiu a rejeição a ele de modo paulatino. Ou seja, transformamos a verdade em instrumento de reconstrução de imagem. A verdade é eficiente.

P: E quando a mentira é eficiente?

R: A mentira é eficiente especialmente quando desencadeia o medo. A propaganda de guerra está cheia de exemplos disso. Mas a mentira só funciona efetivamente quando ganha semelhança espectral com a verdade, quando ela encontra pontos de apoio no imaginário e se torna tão parecida com a verdade que passa a ser vista como tal. 

Há muitos exemplos, como aquele momento em se propagou que, se Lula fosse eleito presidente, quem tivesse duas casas teria que entregar uma delas aos sem-teto. Essa mentira, hoje vista como absurda, funcionou naquele momento, gerando medo na classe média. Na campanha ao senado aqui, os adversários de Paulo Rocha distribuíram via web e via whatsapp um link cuja manchete dizia que nosso candidato havia tido seu registro cassado pelo TSE. Ao seguir esse link, você era conduzido a uma página de um dos maiores sites de notícias do país, mas não encontrava a matéria ali. Não importa. Estava criada a verossimilhança.

A informação que ficava para o eleitor era de que Paulo Rocha havia tido sua candidatura cassada em última instância e que em algum momento essa matéria havia sido publicada naquele site de prestígio. Era mentira, mas criar um link e associá-lo a uma prestigiada página de notícias dava a essa mentira ares de verdade. Teríamos obtido uma votação ainda maior, se não tivéssemos sido alvo desse tipo de investida a eleição inteira. O outro exemplo que aconteceu aqui foi a propagação vertiginosa, em Belém e em toda a região metropolitana, do boato de que Helder, uma vez eleito, iria “dividir o Pará”. Ora, qualquer pessoa um pouco mais informada sabe que um governador – não Helder apenas, mas qualquer governador – não tem o poder de dividir um estado, não apenas o Pará, mas qualquer estado. Seria inconstitucional, mesmo porque ao tomar posse, o governador jura defender a integridade territorial do estado. 

P: Muito tem se falado das pesquisas. Há uma discussão no Congresso para proibir suas divulgações, para evitar, segundo o autor do projeto, o “fator indutor” que teriam. Como foi o uso de pesquisas eleitorais na campanha de Paulo Rocha?

R: Usamos mais pesquisa antes da campanha, para planejamento, do que durante, porque campanhas de baixo custo não têm dinheiro para investir pesado em pesquisas, que são sempre caras. Claro que são instrumentos importantes, mas penso que estão sendo superestimadas especialmente porque ganharam uma aura de novidade que não têm.

O cálculo de probabilidade, em que se baseiam as pesquisas eleitorais modernas, remonta a 1693, quando John Graunt examinou os registros paroquiais de batismo, casamentos e falecimentos em Londres e lançou seu método de tabelas e, com ele, as bases do que chamou de “uma nova racionalidade baseada nos números”. Ou seja, não há novidade alguma nas pesquisas ou em suas metodologias. O problema das pesquisas eleitorais não é fazê-las; se temos recursos, devem ser feitas. O problema é torná-las oráculos, achar que elas são espécies de escrituras sagradas que não podem ser contrariadas ou seremos punidos.


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