quinta-feira, dezembro 01, 2016

Lula deve assumir a presidência nacional do PT?


Por Valter Pomar*, em seu blog e no Tribuna de Debates

O Diretório Regional do PT do Rio de Janeiro aprovou, no dia 27 de novembro, a seguinte moção:

“Diante da necessidade profunda de reorganização do PT e de reinseri-lo cada dia mais no seio do povo brasileiro, em especial dos milhões e milhões de beneficiados pelas políticas redistributivas e afirmativas de nossos governos, o PT do Rio de Janeiro faz um apelo para que o Presidente Lula assuma a presidência nacional nacional do partido e lidere a realização de um amplo processo de reorganização partidária para que o PT se afirme cada vez mais como partido popular, socialista, militante e de esquerda, presente no cotidiano da vida do povo brasileiro.
Diretório Estadual do PT RJ.

Dia 27 de novembro de 2016”

Desconheço quantos votos esta moção recebeu.

Desconheço, também, se a proposta é para já (o que exigiria a renúncia do presidente Rui Falcão e a eleição de Lula pelo atual Diretório Nacional) ou para abril de 2017 (o que exigiria que Lula fosse candidato e eleito formalmente pela maioria dos delegados ao sexto congresso do Partido).

Seja como for, considero que trata-se de uma proposta equivocada, pelos motivos que já expus no dia 14 de setembro de 2016, na reunião do conselho da presidência nacional do Partido dos Trabalhadores.

O Partido dos Trabalhadores precisa realizar um balanço de sua trajetória, redefinir seu programa e sua estratégia, sua tática e seu modo de funcionar. E precisa — a partir deste debate e em função das conclusões a que se chegue — escolher uma nova direção partidária.

A eleição de uma nova direção não será o ponto de chegada, mas uma etapa de um longo processo através do qual o PT recuperará seu apoio junto a classe trabalhadora.

Os que defendem que Lula assuma a presidência do Partido parecem achar que isto facilitaria o processo, tendo em vista sua popularidade externa e interna.

Certamente Lula pode e deve contribuir para o processo de reconstrução do PT. Mas a questão é: assumir a presidência nacional do PT é a maior contribuição que ele poderia dar neste sentido?

Lula já é o presidente de honra do PT.

Se o PT fosse um país, Lula seria o chefe de Estado e o presidente do Partido seria o chefe de governo, uma espécie de primeiro-ministro.

Na vida real, quem defende que Lula assuma a presidência do Partido está propondo que ele acumule as duas funções: a de “chefe de Estado” e a de “chefe de governo”.

No caso concreto de Lula, trata-se de um acúmulo brutal de tarefas, especialmente se lembrarmos que ele é vítima de uma perseguição judicial e também nosso pré-candidato à presidência da República.

Ou seja, Lula teria que — entre outras coisas — coordenar sua própria pré-campanha à presidência da República e coordenar a sua própria defesa contra as arbitrariedades judiciais, além de coordenar a ação cotidiana do Partido.

É impossível dar conta, com qualidade, deste conjunto de tarefas. Na prática, muitas delas teriam que ser transferidas para terceiros.

É o que ocorre em vários estados e cidades onde a direção do Partido é exercida por pessoas que exercem, simultaneamente, mandatos parlamentares ou executivos.

Na maioria dos casos, o exercício efetivo da direção partidária é transferido para outras pessoas, que não foram eleitas para esta função.

O que faz a discussão voltar ao ponto de partida… precisamos de um coletivo dirigente que tenha capacidade politica e legitimidade na base do Partido. A ausência deste coletivo contribui para nossa crise; querer resolver este problema através de Lula nos levaria… de volta ao ponto de partida.

Mas vamos supor que Lula fosse um super-homem capaz de assumir tantas e concorrentes tarefas ao mesmo tempo.

Vamos supor, também, para facilitar a argumentação, que uma candidatura de Lula à presidência do PT fosse tão unânime quanto sua candidatura à presidência da República; e que Lula tivesse aptidão e vontade para exercer mais uma vez as tarefas da presidência partidária.

Mesmo assim, o acúmulo de tarefas e funções seria um presente para os adversários e para os inimigos de Lula e do PT. Daria a eles um alvo único para atacar. E, no sentido inverso, seria impossível fazer uma divisão de tarefas entre Lula e o PT.

Mas vamos supor, ainda, que nós conseguíssemos superar estas dificuldades todas.

Ainda assim, pergunto: não seria melhor aproveitar a presença de Lula para ajudar a formar outros quadros (homens e mulheres) capaz de assumir desde já a presidência efetiva do Partido? Porque adiar esta inevitável e necessária renovação?

Falando de outro jeito: se Lula fosse de fato a única solução, isto seria uma confissão de que o PT está muito mais débil do que imaginam nossos inimigos. Afinal, 37 anos depois, a única pessoa que supostamente teríamos capaz de assumir a presidência do Partido, seria aquele que foi o seu primeiro presidente, em 1980.

Entendo que alguns setores do Partido não vejam outra solução. Olham para si mesmos, para suas próprias alternativas e não enxergam ninguém capaz de dar conta da tarefa. E ai lembram de Lula.

Recomendo a estes setores que olhem para outras alternativas no seu interior, e que olhem também para além de si mesmos. Noutras tendências e fora das tendências há ótimos nomes, capazes de assumir a direção nacional do PT.

Não custa lembrar que o Partido é maior do que todas as nossas tendências e grupos. Se não temos entre nós nenhum nome à altura, não é preciso recorrer a Lula: há várias outras alternativas, que permitiriam a Lula cumprir as tarefas que já cumpre e que permitiram ao PT iniciar imediatamente o processo de requalificação e renovação de sua direção nacional.

Deste ponto de vista, escolher Lula seria retardar desnecessariamente o processo de renovação do Partido. Teria o efeito oposto ao pretendido pela referida moção aprovada pelo Diretório do Rio de Janeiro. E incorreria no erro de outros partidos de esquerda, no Brasil e no mundo, que desenvolveram verdadeira dependência em relação a um dirigente específico ou a um grupo muito restrito de quadros.

Considero que este tipo de proposta padece do mesmo defeito de algumas polêmicas que tomaram conta do PT nos últimos meses.

Renúncia da direção? Congresso plenipotenciário? PED? O Partido já consumiu imensas energias debatendo estes e outros “entretantos”. E vem deixando em segundo ou terceiro plano o debate sobre os “finalmente”, sobre qual a linha política que devemos adotar.

E sem uma nova linha política, não há presidente nem direção coletiva que seja capaz de resolver o problema.

Um último comentário: quando falamos de uma nova linha política, não estamos pensando em abstrações sobre cenários de médio e longo prazo.

A crise do governo golpista e a ofensiva reacionária contra os direitos exigem resposta imediata. É também no terreno destas lutas concretas que forjaremos desde já uma nova estratégia, um novo programa, um novo modus operandi e uma nova direção para o Partido dos Trabalhadores.

*Valter Pomar é gráfico e historiador. Foi dirigente nacional do Partido dos Trabalhadores e Secretário Executivo do Foro de São Paulo entre 2005 e 2013.

Camisa de força financeira aumenta força vulcânica das ruas

Protesto de servidores, nas proximidades da Assembleia do Rio, contra pacote de ajuste estadual.

Por Jânio de Freitas, na Folha

Dentro e fora dos prédios, a Praça dos Três Poderes proporcionou, nas últimas 48 horas, razoável amostra do que se pode esperar daqui para a frente, se não for interrompido o acúmulo de equívocos, irresponsabilidades e insensatez que conduzem a mixórdia atual. No lado de fora, manifestantes e policiais perdiam-se em descontroles e fúrias. No de dentro era discutida, e por fim aprovada altas horas, a loucura de um aprisionamento dos governos por 20 anos, quatro mandatos presidenciais, em violenta camisa de força financeira.

Michel Temer é um joguete entre pressões, fraco e acovardado diante de todas, mas Henrique Meirelles extravasa uma pretensão sobre os tempos e os fatos vindouros que não cabe nos domínios da racionalidade e do equilíbrio. O Congresso propenso a segui-lo, feita já no Senado a primeira aprovação da camisa de força, é um supermercado de interesses. Se há compensação para aprovar seja o que for, e o Planalto e São Paulo são usinas de compensações, a irresponsabilidade prevalece.

Mas na praça de Brasília e nas ruas do Rio, simultaneamente, a sobrecarga de novos ônus para a população, com o desemprego efetivado e o esperado, a queda da "renda" familiar e demais apertos, traz uma resposta com raiz própria. Em 2013, os ataques ao Congresso e a ministérios foram extensões desordeiras, por falta de metas claras e de controle, das manifestações pacíficas. Os recentes ataques ao Congresso e a ministérios; no Rio, a invasão da Assembleia Legislativa e as tentativas de repeti-la, exprimem a indignação que não é mais satisfeita em protestos pacíficos: necessita da violência. É o que se vê, com diferentes graus, em muitas partes do país. A camisa de força vem aumentar essa outra força, vulcânica.

É coerente com o momento a divergência que se acirra entre Judiciário e Legislativo, a poder de equívocos e de insensatez. Com alta contribuição inflamatória. Portadora de um espírito de classe por tantos anos insuspeitado, a ministra Cármen Lúcia, presidente do Supremo, faz um diagnóstico temerário: "(...)busca-se mesmo criminalizar o agir do juízes brasileiros". É sua reação às discussões, no Câmara, do projeto de medidas contra a corrupção e, no Senado, contra o abuso de autoridade.

O primeiro dos dois nem nasceu na Câmara ou no Senado. Foi criado na Lava Jato. Com ajuda de igrejas evangélicas ativadas por procuradores, colheu as chamadas assinaturas populares. E afinal entregue ao Congresso com a exigência da Lava Jato de que fosse aprovado sem alteração alguma. Até o fim do governo Figueiredo, poderia sê-lo. Depois, não há mais como se admitir, por exemplo, a validação de provas colhidas ilegalmente pela "boa-fé" de procuradores e policiais. Como não há por que conceder mais privilégios, neste país que já paga tanto por eles.

Uma observação paralela: os juízes estão incluídos nos dois projetos só por necessário formalismo. Não os motivaram. Exceto Gilmar Mendes, não é preciso dizer por quê, e Sergio Moro, cujo arbítrio agrada aos ressentidos mal informados, mas, para os outros, suscita preocupação com a legalidade democrática.

São até poucas as manifestações hostis ao Judiciário. O que espera a ministra Cármen Lúcia da soberba com que seu tribunal recebe a publicação de que um processo, como o do senador Valdir Raupp, descansa ali há 18 anos? Não há uma satisfação a dar aos cidadãos? Ou, por outra, não há no Supremo um ministro com a humildade ao menos residual para dá-la? E não são poucos os casos assim.

Nenhum otimismo se justifica, pelo que se vê, ouve, sente.

Procuradores da Lava Jato dizem que Temer implanta a ditadura da corrupção

Deltan Dallagnol: Câmara desvirtuou projeto das Dez Medidas.

Via Carta Capital, sob o título Lava Jato contra-ataca e ameaça renúncia coletiva

O desafio feito pela Câmara ao Judiciário e à Operação Lava Jato na madrugada desta quarta-feira 30, ao aprovar no pacote anticorrupção uma emenda que estabelece crime de responsabilidade para juízes e integrantes do Ministério Público, recebeu na tarde desta quarta a resposta da força-tarefa que investiga os crimes na Petrobras e outros órgãos públicos. Em entrevista coletiva, os procuradores da Lava Jato ameaçaram abandonar a operação caso o texto seja sancionado por Michel Temer.

"A nossa proposta é de renunciar coletivamente caso essa proposta venha a ser sancionada pelo presidente", afirmou Carlos Fernando dos Santos Lima, um dos procuradores da Lava Jato.

Lima criticou o texto da emenda, afirmando que ele responsabiliza pessoalmente os promotores, procuradores e magistrados e em termos genéricos. "Eles aproveitaram um projeto de combate à corrupção para se proteger e fizeram isso porque estamos investigando, descobrindo os fatos e iríamos chegar muito mais longe do que chegamos até o momento", afirmou.

O texto-base aprovado pelos deputados teve origem na Comissão Especial montada para analisar o projeto de iniciativa popular surgido a partir da campanha Dez Medidas contra a Corrupção do Ministério Público Federal (MPF).

Medidas propostas pelo MPF consideradas autoritárias, como a legalização de provas ilícitas e restrições ao habeas corpus, foram retiradas do texto, mas os deputados manobraram para incluir no pacote medidas para se livrar de acusações, como a anistia ao caixa dois, e para rebater o ímpeto de procuradores e magistrados. A anistia ao caixa dois acabou não sendo analisada, mas a emenda do crime de responsabilidade foi aprovada, por 313 votos a 132, durante a madrugada.

"Rasgou-se o texto das 10 medidas", afirmou Deltan Dallagnol, o chefe da força-tarefa. "O parlamento é soberano, mas nós, depois de todo esse processo, saímos sem solução para acabar com as brechas que permitem a corrupção", afirmou o procurador. 

Dallagnol, cujas investigações ajudaram a formar o caldo que culminou com o impeachment de Dilma Rousseff, lembrou que o governo da petista apresentou propostas anticorrupção melhores que as aprovadas pelo Congresso. "Até o governo Dilma avançou propostas contra a corrupção muito melhores que as que foram aprovadas", disse. 

Para o procurador, a aprovação do crime de responsabilidade tem o dedo do governo Michel Temer. "O que aconteceu ontem não é expressão de pessoas específica, e sim da articulação de líderes dos partidos e do governo", afirma Deltan Dallagnol.

Na entrevista coletiva, Dallagnol voltou a usar o termo "estancar a sangria" para designar a pressão contra a Lava Jato. Trata-se do termo usado pelo líder do governo no Senado, Romero Jucá (PDMB-RR), para avançar o impeachment de Dilma. "O objetivo é estancar a sangria", disse Dallagnol. O avanço de propostas como a 'lei da intimidação' instaura uma ditadura da corrupção."

Na votação da emenda, evidenciou-se a divisão entre PMDB, partido de Temer, e o PSDB, que integra a base aliada do governo. Na bancada tucana, 32 dos 42 deputados presentes no plenário votaram contra a proposta de punir juízes e procuradores. Entre os 56 peemedebistas, apenas 9 parlamentares se opuseram à medida.

No MP e no Judiciário, indignação

Não foram apenas os integrantes da força-tarefa que manifestaram indignação com a emenda aprovada pelo Congresso. Rodrigo Janot, o procurado-geral da República, chefe do Ministério Público, emitiu dura nota criticando a votação.

“As 10 medidas contra a corrupção não existem mais. O Ministério Público brasileiro não apoia o texto que restou, uma pálida sombra das propostas que nos aproximariam de boas práticas mundiais. O Ministério Público seguirá sua trajetória de serviço ao povo brasileiro, na perspectiva de luta contra o desvio de dinheiro público e o roubo das esperanças de um país melhor para todos nós”, disse.
Na manifestação, Janot afirmou ainda que as alterações são “medidas claramente retaliatórias” e pediu apoio da sociedade para que o projeto não seja concretizado no Senado, para onde segue para votação posterior.

“Um sumário honesto da votação das 10 Medidas, na Câmara dos Deputados, deverá registrar que o que havia de melhor no projeto foi excluído e medidas claramente retaliatórias foram incluídas. Cabe esclarecer que a emenda aprovada, na verdade, objetiva intimidar e enfraquecer Ministério Público e Judiciário”.

Mais cedo, a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia, divulgou uma nota em que também lamentou a aprovação do crime de abuso de autoridade para juízes e procuradores. Na nota, Cármen Lúcia "reafirma seu integral respeito ao princípio da separação dos poderes. Mas não pode deixar de lamentar que, em oportunidade de avanço legislativo para a defesa da ética pública, inclua-se, em proposta legislativa de iniciativa popular, texto que pode contrariar a independência do Poder Judiciário”.

Em nota, a Associação Nacional dos Procuradores do Trabalho (ANPT) repudiou a inclusão no pacote anticorrupção de emendas "que têm como objetivo central a retaliação, a intimidação e o enfraquecimento do Ministério Público e do Poder Judiciário".

Segundo a ANPT, criminalizar a regular atuação de membros do Ministério Público e de magistrados importa apenas “àqueles cujos interesses inconfessáveis se sobrepõem ao incansável trabalho de defesa dos direitos sociais e do patrimônio público desempenhado pelos agentes públicos em testilha”.

O Movimento do Ministério Público Democrático também declarou repulsa à desconfiguração do pacote anticorrupção. "Da proposta original, subscrita por mais de dois milhões de cidadãos, quase nada resta, foi transformada num passe livre para corruptos, que não serão mais punidos e sequer terão de devolver o dinheiro subtraído dos cofres públicos. É estarrecedor!"

quarta-feira, novembro 30, 2016

Delator de Paulo Rocha se contradiz perante promotor militar e desfaz acusações

O blog aguardou a notícia ser veiculada pelos canais oficiais do senador, mas ele não publicou nada a respeito.

Por Diógenes Brandão

No dia 15 deste fatídigo mês que hoje termina, o blog trouxe um vídeo polêmico que circulava desde o dia anterior pelas mídias sociais, com fortes e contundentes denúncias do militante petista Josué Carvalho, contra o senador Paulo Rocha (PT-PA). Com menos de quatro (04) minutos de duração, o material gravado traz informações sobre lobby em obras e contratos de órgãos do governo federal e estadual e que o motivo das denúncias seria para garantir a vida do denunciante e de sua família. Leia em Petista denuncia senador Paulo Rocha de receber propina 

Quase uma semana depois, em uma entrevista que consumiu uma página inteira do jornal Diário do Pará, o senador Paulo Rocha defendeu-se das acusações e prometeu ameaçando: "Vou fazer uma representação à Procuradoria Geral da República (PGR) para que Josué apresente provas de todas as acusações que fez contra mim". Até hoje nenhuma informação foi anunciada de que a promessa tenha sido cumprida. 

Como na denúncia do delator Josué Carvalho havia acusações de arrecadação de dinheiro para o senador Paulo Rocha, com o envolvimento de dois coronéis da Polícia Militar do Pará, Leitão e Sena, o Promotor de Justiça Militar Armando Brasil abriu um inquérito e convocou o denunciante a explicar o que havia sido dito contra os militares.

Segundo postagem feita no blog da jornalista Franssinete Florenzano, o depoente Josué Carvalho Costa acompanhado pelo advogado Rafael Oliveira Araújo, declarou ontem na sede do Ministério Público Militar, que confirma que publicou vídeo nas redes sociais, através do aplicativo WhatsApp, tecendo uma série de acusações de natureza penal ao senador Paulo Rocha e aos coronéis Leitão e Sena, da Polícia Militar do Pará, entre outras pessoas, mas se retratou de tudo o que disse. 

Leia abaixo: 



O curioso de tudo isso é o fato de que nenhum canal de comunicação oficial do senador Paulo Rocha, noticiou o fato. Apenas poucos assessores deram repercussão ao caso, mas ainda assim com poucas curtidas e compartilhamentos. Porque será?

A falência da democracia de Facebook

Ao esvaziarem o espaço público e limitarem seus usuários a nichos de opinião, redes sociais criam o “extremismo de enclave” e a síndrome do rebanho feliz.

Por Nathan Heller | Tradução: Inês Castilho, via Outras Palavras

Em dezembro de 2007, o jurista Cass R. Sunstein escreveu no The Chronicle of Higher Education um artigo sobre os efeitos da filtragem que frequentemente acompanha a difusão de informações na rede. “Como resultado da internet, vivemos cada vez mais numa era de enclaves e nichos – a maioria voluntariamente, a maioria produzida por aqueles que pensam saber, e frequentemente sabem, aquilo de que provavelmente gostamos”, observou Sunstein. No artigo, “A Polarização dos Extremos”, Sunstein argumentava que a tendência era de efeitos negativos para a orientação – ou, mais precisamente, a desorientação – da opinião pública. “Se as pessoas estão separadas em enclaves e nichos, o que vai acontecer com sua opinião?”, pergunta ele. “Quais os eventuais efeitos disso na democracia?”

Este mês nos proporcionou uma resposta estridente. A inesperada eleição de Donald Trump deve-se tanto ao extremismo dos nichos quanto à desinformação descontrolada. O Facebook, a mais disseminada das redes sociais, recebeu muita crítica e questionamento. Durante as semanas finais da campanha, tornou-se claro que os “novos” algoritmos do site – um mecanismo que arrasta posts dos amigos online de alguém e expõe, hierarquizando, aqueles que são tidos como de interesse – não estavam distinguindo entre notícias verdadeiras e informações falsas: lendas, teorias da conspiração sem base alguma e propagandas negativas que, na era cenozóica, circulavam principalmente via e-mails encaminhados. (Na campanha eleitoral, histórias falsas abundantemente compartilhadas incluíam relatos de que o Papa Francisco aprovava Donald Trump e que Hillary Clinton havia contratado homicídios). Há dias, o Washington Post publicou uma entrevista com o que chamamos de “empresário de um império de falsas notícias do Facebook”. Ele assumiu responsabilidade. “Penso que Trump está na Casa Branca por minha causa”, disse. “Seus seguidores não checam nenhum fato – eles postam qualquer coisa, acreditam em tudo.”

O Facebook não é a única rede que traficou notícias falsas, mas seus números foram chocantes. Uma pesquisa Pew publicada em maio e muito citada, sugeria que 44% da população em geral usava o Facebook como fonte de notícias, um número insuperável por outras redes sociais. Nesta semana, uma análise feita por Craig Silverman, do BuzzFeed, revelou que as vinte notícias falsas mais lidas superaram as vinte notícias verdadeiras que mais circularam na rede, durante os três meses anteriores àsas eleições – e que dezessete dessas notícias falsas favoreciam a campanha de Trump. Os expoentes da campanha de Trump, incluindo o próprio candidato, citavam sistematicamente informações falsas diante das câmeras. Aos olhos dos críticos, o feed de notícias do Facebook tornou-se um canal de distribuição para informações falsas de propaganda. “Enquanto estiverem no Facebook e as pessoas puderem vê-las… elas começam a acreditar”, disse o presidente Obama às vésperas da eleição, “Ele cria essa nuvem de poeira de nonsense.”

Tem sido difícil de combater tal crítica. Mark Zuckerberg, fundador e presidente do Facebook, desmereceu as reclamações duas vezes, nas últimas semanas — numa conferência e, mais tarde, num longo post. “Os boatos que existem não estão limitados a uma visão partidária, nem mesmo à política. Isso torna extremamente improvável que os boatos tenham alterado o resultado desta eleição num sentido ou no outro”, escreveu ele. “Ainda assim, acredito que devemos proceder com muito cuidado. Identificar a ‘verdade’ é complicado.” 

Poucas pessoas foram tranquilizadas por isso (ainda mais, porque a premissa da estratégia publicitária do Facebook é a ideia de que ele pode mover a bússola da opinião pública), e até mesmo alguns empregados do Facebook sentiram-se desconfortáveis. Há dias, Sheera Frenkel, da BuzzFeed, relatou um complô anônimo de “empregados desertores do Facebook” que acharam desonestas as afirmações de Zuckerberg. Eles estavam trabalhando no desenvolvimento de recomendações formais de mudança. “Você não precisa acreditar que o Facebook elegeu Trump para sentir-se um pouco arrepiado com a alienação da rede em relação aos fatos”, observou Brian Phillips numa fala mordaz da MTV.com. “Uma das condições da resistência democrática é ter uma visão clara sobre a que se deve resistir.”

Os efeitos sobre a democracia da propagação de falsas informações foram a preocupação de Sunstein, quando ele escreveu sobre “autotriagem”, em 2007. Ele citou um experimento realizado previamente no Colorado. O estudo usou pessoas liberais da cidade de Boulder e pessoas conservadoras de Colorado Springs. Os participantes foram divididos em grupos e instruídos a discutir temas controversos: uniões homoafetivas, aquecimento global, ações afirmativas. Pesquisadores gravaram opiniões individuais antes e depois de quinze minutos de discussão. As tendências emergiram. Quando os participantes falavam com pessoas que tinham a mesma visão política, suas opiniões normalmente tornavam-se mais extremas. Os liberais tornavam-se mais liberais em seu pensamento sobre determinado assunto; os conservadores, mais conservadores. A amplitude de opinião estreitava-se, também. Participantes com visões parecidas caminhavam em direção ao consenso.

Sunstein projetou que um direcionamento parecido poderia ocorrer online, onde informações sustentadas por visões preexistentes estavam prontamente disponíveis (e até mesmo difíceis de evitar, dada a maneira como funciona o navegador da internet). Ele chamou a polarização que produz de “extremismo de enclave”. Um fator que contribuiu, ele argumentou, foi o fluxo social da informação: pessoas que convivem com gente de opiniões semelhantes estavam aptas a encontrar uma quantidade desproporcional de informação apoiando aquela visão, intensificando assim seu respaldo. Ele pensou que efeitos mais puramente sociais estavam envolvidos, também: “As pessoas querem ser vistas favoravelmente pelos outros membros do grupo.” A maioria dos cidadãos, na maioria das questões, não sabe precisamente o que pensa, e é suscetível à menor persuasão. Opinião de enclave, que constrói confiança nas próprias opiniões, possibilita que pensamentos genéricos tomem forma e se intensifiquem. O risco era que más ideias obtivessem ampla adesão se a autotriagem funcionasse direito.

Sunstein não levou em conta os algoritmos do Facebook ou a propagação de informação evidentemente falsa. O primeiro fator amplifica o efeito-enclave que ele descreveu; o segundo nutre o extremismo confiante. Mesmo quando a informação é precisa, o extremismo de enclave ajuda a explicar como aqueles que produzem notícias, como os jornalistas, erraram tanto ao captar aspectos da grande cena, tais como o humor eleitoral do país. Nos dias seguintes aos da eleição de Trump, muitos especialistas confusos dos grandes centros lamentaram o que o escritor Eli Pariser chamou de “bolha de filtro”: uma câmara de eco de informação e opinião que, neste caso, levou aqueles que escrevem as notícias a estar desproporcionalmente expostos a informações que confirmavam suas teorias. Quanto mais confiamos na esfera digital como nossa janela para o mundo, mais vulneráveis nos tornamos a suas fraquezas.

Alguns anos atrás, reportando de San Francisco, notei uma erosão do significado público que parecia estar atravessando o progresso cívico. Uma causa-chave, eu sugeri naquele momento, eram os efeitos de filtro da tecnologia – a forma como, à medida em que vivemos cada vez mais numa bolha, perdemos contato com o chão comum, e a linguagem comum que tornou possível a ação pública. Talvez os efeitos de filtro tenham algum papel, mas nada do que vi desde então mudou minha percepção. O espectro intelectual mais perigoso, hoje, parece não ter falta de informações mas ausência de uma esfera comum de informação em que seja possível compartilhar ideias cruzando fronteiras de opinião.

Pauline Kael, crítica de cinema da New Yorker durante muitos anos, fez certa vez uma ironia que ficou famosa, “Vivo num mundo muito especial. Conheço apenas uma pessoa que votou em Nixon.” O extremismo de enclave não é novo, em outras palavras. O que pode ser mais novo é o nosso esquecimento dos momentos que vivemos em sua prisão. 

Se a maioria das pessoas está buscando notícias no Facebook, então esta rede social certamente tem a obrigação cidadã de assegurar que é sólida a informação por ele disseminada. Os efeitos de longo prazo do extremismo de enclave, observa Sunstein, podem ser má notícia para a democracia. “Aqueles que vivem em rebanho, na internet ou em outro lugar, acabarão tão confiantes quanto errados, simplesmente porque não foram suficientemente expostos a contra-argumentações. Eles podem até passar a enxergar seus concidadãos são oponentes ou adversários, em algum tipo de ‘guerra’. Um governo com essa perspectiva é perigoso. Mas um público desinformado e confiante, é muito pior.

Os covardes contra os guerreirxs


Por Alex Rocha Rodrigues* 

Ontem foi um dia muito triste para história do nosso país. o Brasil acordou com a notícia do acidente aéreo que vitimou mais de 70 pessoas (lamentamos e nos solidarizamos cm os familiares e amigxs).

No mesmo dia em um ato de total desrespeito com as famílias enlutadas, o senado federal resolveu dar continuidade nas atividades da casa pondo em votação a maléfica PEC 55.

Na ocasião, milhares de estudantes (guerreirxs) do Brasil inteiro organizados em caravanas, foram a Brasília de forma ordeira, pacífica e em paz (assim como foi em todas as ocupações das escolas, institutos e universidades), manifestar sua contrariedade a essa PEC que cobra a dívida de quem não fez, que vai vitimar milhares de brasileiros durante esses 20 anos. 


Vale ressaltar que as despesas da maioria dos estudantes foram custeadas cm seus próprios esforços e suor, através de bingos, rifas, pedágio, coletas e outras ações. Mesmo a mídia escondendo o protagonismo da juventude diante dos covardes do congresso, passando o dia todo bombardeando o noticiário oportuno do acidente aéreo e tentando a todo momento criminalizar o movimento legítimo dos estudantes. O fato é que não conseguiram, as redes sociais mostraram a verdade!

Os estudantes do Brasil inteiro, em especial do Pará e de Abaetetuba, são nossos heróis guerreirxs, receberam de forma gratuita e sem reagir ataques de bombas de gás, balas de borrachas e spray de pimenta, por atos de infiltrados, cm fortes suspeita do envolvimento do governo golpista na armação e no massacre doentio da PM, as suspeitas são com bases em atos semelhantes do ministro da Justiça do Temer, quando era secretário de segurança do estado de São Paulo. Conforme as denúncias do senador Lindbergh Farias.

A verdade é que a maioria dos senadores, os exatos 61, vendidos, corruptos, mais uma vez mostraram que não estão do lado do povo. Que nessa batalha os estudantes deram uma verdadeira aula de maturidade e cidadania. 

Nenhum estudante que participou da batalha contra a PEC 241 e agora PEC 55, será o mesmo, todos eles tem na sua bagagem da vida uma enorme contribuição pelo nosso país. A cada dia que a situação for se agravando diante da retirada de direito, com impacto direto na saúde (postos médicos, UPA, ACS e Mais Médicos), Educação (institutos, universidades, escolas e outros), Assistência  (bolsa família, CRAS, farmácias popular, distribuição de renda) enfim, a todo momento o protagonismo dos estudantes será lembrado. 

Muitos que ficaram em casa ou se tornaram militante virtual se envergonharam. Mas vcs meus queridos amigos e amigas serão eternizados como guerreiros e guerreiras. 

Todos nós somos vitoriosos. Venham na paz, Sintam-se abraços!

Nossos corações estão apertados de tanta aflição pelo dia de ontem, queremos dar um forte abraço em cada um de vcs. 

A luta continua ! Vcs nos representam! 

*Alex Rocha Rodrigues é ocupante, egresso do Instituto Federal do Pará, membro do Conselho Diretor-Condir do Campus Abaetetuba-PA.

terça-feira, novembro 29, 2016

Moro está fugindo



Por Leandro Fortes*

A Operação Lava Jato, dentro de um contexto social e político honesto, teria sido um presente para o Brasil. Acho que ninguém discorda de que, um dia, seria necessário acabar com a cultura da corrupção que sempre ligou empreiteiros e políticos brasileiros.

O fato é que, em pouco tempo, foi fácil perceber que as decisões e ações demandadas pelo juiz Sérgio Fernando Moro estavam eivadas de seletividade. Tinham como objetivo tirar o PT do poder, desmoralizar o discurso da esquerda e privilegiar aqueles que, no rastro da devastação moral levada a cabo pelo magistrado, promoveram a deposição da presidenta Dilma Rousseff.

Hoje, graças à Lava Jato, a economia nacional está devastada, o Estado de Direito, ameaçado, e o poder tomado por uma quadrilha que fez do Palácio do Planalto uma pocilga digna de uma republiqueta de bananas de anedota.

Agora, quando os grupos golpistas ligados ao PSDB e PMDB começam a ser atingidos pela mesma lama que a Lava Jato pensou em represar apenas para o PT, o juiz Moro pensa em tirar um ano sabático, nos Estados Unidos.

Isso, obviamente, não pode ser uma coisa séria. 

Um juiz de primeira instância destrói a economia e o sistema político de um país, deixa em ruínas 13 anos de avanços sociais, estimula o fascismo, divide a nação e, simplesmente, avisa que vai tirar férias de um ano? 

Não se enganem: o que está havendo é uma fuga planejada.

E precisamos saber o porquê, antes que ela seja consumada.

*Leandro Fortes é jornalista.

segunda-feira, novembro 28, 2016

O desafio das esquerdas: Com Lula agora ou daqui há 20 anos


Via Unisinos

O paradoxo da vida brasileira neste fim de 2016 é que, ao contrário do que aparenta a atual guerra política, o ano termina melhor para os derrotados do que para os vencedores. A afirmação soa estranha e precisa ser explicada. Para começar, lembro que raramente é simples apontar os verdadeiros vitoriosos nos grandes confrontos da sociedade.

O comentário é de Marcos Coimbra, sociólogo, presidente do Instituto Vox Populi, em artigo publicado por Carta Capital, em 28-11-2016.

Para o conjunto de forças políticas, empresariais e sociais articuladas em prol da derrubada de Dilma Rousseff e da retomada do controle do Estado, a questão nunca se resumiu a tirá-la do Palácio do Planalto. Nem a substituí-la pela lamentável alternativa disponível. Tampouco a simplesmente formular os tópicos de uma nova agenda. Buscava-se implantar e assegurar a continuidade de uma série de políticas desenhada de acordo com seus interesses.

Vejamos o caso da medida apresentada como pedra angular da política econômica, a PEC 241. Nenhum de seus defensores esconde que os efeitos positivos esperados não virão nos próximos meses ou anos. Só em mais de uma década, talvez duas.

O atual governo, baseado nos “argumentos” de sempre para obter maioria no Congresso, pode até aprová-la para vigência imediata. Mas quem garante sua duração? O governo que o suceder disporá de “argumentos” iguais para modificá-la. Se a administração de agora, que nem sequer obteve um mandato autêntico, fabricou uma maioria, por que o próximo não conseguiria?

É ingênuo imaginar que investidores de dentro e fora do País não percebam algo tão evidente e acreditem que as propostas do atual governo serão preservadas por quem vencer em 2018. Dessa desconfiança, aliás, emerge sua baixa disposição a investir, o que explica a situação cambaleante da economia.

Interessam de verdade as eleições de 2018. E elas estão mais próximas do que supomos. Quando passar a temporada de festas de fim de ano, as férias e o Carnaval de 2017, estaremos a pouco mais de um ano do chamado das urnas. Muito antes de outubro de 2018, tudo girará em torno da disputa presidencial.

Se acontecerem, é claro. Nossas elites mostraram-se tantas vezes capazes de violências institucionais que a hipótese sempre deve ser considerada. O mais provável, porém, é que ocorram. Pega bem, no mundo contemporâneo, fingir que se respeita a lei. Assim, teremos uma eleição presidencial no curto prazo que decidirá o que o Brasil vai ser nos próximos anos, não no breve e confuso governo de Michel Temer.

Existem muitas pesquisas a respeito do cenário eleitoral e as mais recentes, da CUT/Vox Populi e da CNT/MDA, mostram um mesmo quadro: a oposição de esquerda está em vantagem e o governismo vai mal. Mais: nos últimos meses, a esquerda cresceu, enquanto o situacionismo patinou.

O candidato favorito é Lula. Sozinho, tem a mesma intenção espontânea de voto que a soma de todos os outros nomes. Possui mais que o dobro de qualquer candidato do PSDB, de Marina Silva (apesar do recall de duas eleições recentes), seis vezes mais que Temer e outros nomes à direita. Não perde para ninguém nos cenários de segundo turno, empatando com os mais bem colocados, apesar de estar no pior momento de sua trajetória.

A esquerda brasileira tem em Lula um forte candidato a vencer a próxima eleição, alguém cuja posição melhorou depois do impeachment, em vez de cair. Nas forças à direita, não há ninguém cujo desempenho se aproxime daquele do ex-presidente. Além disso, elas são obrigadas a assumir o fardo da impopularidade do atual governo.

Para as esquerdas, há dois caminhos: organizar-se para disputar, com ampla chance, a próxima eleição, ou resolver se é melhor adiar, sine die, qualquer expectativa razoável de chegar ao poder. Nessa opção, quem sabe, terão um candidato daqui a 20 anos. Na primeira, já têm.

Se considerarem que a melhor forma de se contrapor à direita é derrotá-la na eleição, as esquerdas precisam mobilizar-se para ao longo de 2017 preparar em conjunto um projeto para o Brasil, com propostas na área econômica, de justiça social, de reforma política e de regulamentação dos meios de comunicação.

O fundamental é, no entanto, cerrar fileiras em torno de Lula, para defendê-lo como cidadão e liderança da perseguição e do achaque dos adversários. Os partidos, movimentos sociais, organizações populares e de representação coletiva não podem se eximir dessa luta. Com ele, é possível construir uma candidatura viável e que expresse todas as correntes.

Para a direita, quanto mais tarde for dada a largada para a eleição de 2018, melhor. Ela espera, até lá, conseguir viabilizar um candidato real. Para a esquerda, quanto mais cedo, melhor, pois, hoje, possui um candidato pronto.

Senador petista vivencia assalto à peixaria de Belém

Senador Paulo Rocha (PT-PA) e sua esposa almoçavam quando três assaltantes invadiram peixaria causando pânico. Foto David Alves.
Por Diógenes Brandão

Assalto à uma peixaria na Travessa Almirante Wandenkolk, quase acaba em tragédia.

Segundo matéria do Bom Dia Pará, noticiário matinal da TV Liberal, três (03) assaltantes invadiram o local por volta das 14:30 deste domingo, levando objetos, como carteiras e celulares dos clientes e chegaram a disparar tiros, mas as armas não funcionaram.

Entre os clientes presente no local e horário do crime, estava o senador Paulo Rocha (PT-PA), sua esposa e um assessor que saíram ilesos, porém assustados por vivenciar uma cena que tornou-se comum em Belém.

Em uma rede social, o assessor parlamentar Raimundo Palheta declarou aliviado: "Foi um pânico total. Mas graças a Deus, ninguém morreu. Quero agradecer a Deus, pelo livramento de morte".

No Diário OnLine, um detalhe que chama a atenção pela sorte de uma das vitimas: "De acordo com depoimentos colhidos pela Polícia Militar, um dos bandidos tentou arrancar um celular da mão do filho de uma das vítimas, que, não compreendendo a gravidade da situação, segurou o braço do criminoso. Ao perceber a reação do filho, o pai se desesperou e tentou conter o assaltante, travando luta corporal com o criminoso, que tentou efetuar disparos, mas a arma falhou".

Novos Prefeitos: Planejar para não errar

Com a crise econômica, leis de transparências e de controle social, os novos prefeitos precisam se adequar para o desafio de uma gestão moderna e eficiente, sob o risco de iniciarem errando e pagarem caro por erros primários.

Por Diógenes Brandão

Os governos brasileiros (municipais, estaduais e federal) têm enfrentado mudanças profundas na condução de suas políticas públicas, forçados tanto pela atual situação econômica, quanto pelas crescentes reivindicações da sociedade. Diante de tantos gestores processados e alguns até responsabilizados penalmente por erros muitas vezes primários na gestão pública, os prefeitos que acabaram de serem eleitos precisam se voltar para um governo de resultados, cuja análise das necessidades sociais revela forte enfoque na qualidade da prestação dos serviços públicos, que serão oferecidos à população que os elegeram. E isso não pode demorar. 

Assim como trouxemos o artigo que abordou sobre a importância da transição municipal representada no interesse da população em primeiro lugar, trazemos mais um fruto de uma entrevista feita com o cientista Dornélio Silva. Sabedor da necessidade de que os serviços públicos precisam ser continuamente modernizados, eficientes e efetivos, para acompanhar a evolução das necessidades sociais, ele tem sido consultado por diversos prefeitos eleitos afim de contribuir no planejamento e na efetividade da gestão municipal de importantes cidades paraenses.

Para Dornélio, antes mesmo de serem diplomados como prefeitos de seus municípios, os gestores eleitos precisam fazer um diagnóstico, para assim poderem visualizar a real situação administrativa, fiscal e financeira do que irão assumir.

"A identificação de quais as medidas serão levadas em consideração na decisão das prioridades que serão atendidas no início dos seus novos governos, podem ser o que influenciará todo o mandato do prefeito. Por isso, uma das principais orientações que nossa equipe repassa de forma sistematizada é que as prefeituras utilizem o método da Gestão Dirigida*, no qual são consideradas como fundamentais as variantes de um relevante instrumento de orientação para a escolha de prioridades na gestão dos recursos públicos: O Índice de Efetividade da Gestão Municipal (IEGM) - elaborado pela Rede Nacional de Indicadores (Indicon) e sugerido pelos Tribunais de Contas dos Estados e Municípios, assim como pelo Ministério Público Eleitoral - que engloba sete dimensões: saúde, educação, planejamento, gestão fiscal, meio ambiente, cidade e governança de tecnologia da informação”, conclui o cientista político da DOXA, Dornélio Silva, que com sua equipe de profissionais atuou no levantamento de dados quantitativos de 142 pesquisas, realizadas em 60 municípios paraenses, onde obtiveram 85% de acerto nos resultados eleitorais deste ano, conforme noticiamos.

Qual a importância do PPA, LDO, LOA e do IEGM?

O Planejamento orçamentário no Brasil é regulado por um conjunto de normas que incluem leis, portarias e normativas dos órgãos de controle. Além disso, em alguns estados, os órgãos de controle (Tribunais de Contas) padronizam as informações orçamentárias através de sistemas eletrônicos de registro e acompanhamento. As três peças orçamentárias no Brasil são baseadas no conceito de orçamento programa. Tal método conseguiria materializar três funções básicas dos orçamentos: planejamento, gestão e controle.

Sob a perspectiva do planejamento, os programas cumprem com a formalidade na apresentação das peças (PPA, LDO e LOA), e não como possível informação sistematizada de gestão por programas e, quando esta visão existe, encontra-se uma baixa qualidade em sua elaboração.

O Índice de Efetividade da Gestão Municipal – IEGM mede a qualidade dos gastos municipais e avalia as políticas e atividades públicas do gestor municipal. Apresenta, ao longo do tempo, se a visão e objetivos estratégicos dos municípios estão sendo alcançados de forma efetiva. Ele pode ser utilizado como mais um instrumento técnico nas análises das contas públicas, sem perder o foco do planejamento em relação às necessidades da sociedade.

O IEGM permite observar quais são os meios utilizados pelos municípios jurisdicionados no exercício de suas atividades que devem ser disponibilizadas em tempo útil, nas quantidades e qualidades adequadas e ao melhor preço (economia), de modo a entender a melhor relação entre os meios utilizados e os resultados obtidos (eficiência), visando ao alcance dos objetivos específicos fixados no planejamento público (eficácia).

Ele propicia também a formulação de relatórios objetivos em áreas sensíveis do planejamento público para a alta administração da Corte de Contas e alimenta com dados técnicos o pessoal da fiscalização, em complementação às ferramentas hoje disponíveis.

*Gestão Dirigida é o conjunto de metodologias desenvolvidas por uma equipe multi-profissional, que atua no assessoramento de gestões públicas e empresariais na região Norte do Brasil.

Das histórias que eu sei sobre a luz [ versão II ]


Era manhã. A casa da minha avó ficava lá em cima. Mais ou menos uns quinze minutos de carreira da nossa casa. Nossa mãe mandou deixar algo. Por lá ficamos, meu irmão e eu.

À hora mais acesa do dia, o céu começou a enfraquecer, uma cor estranha começou a pintar nossa cidade linda. Sol e lua pareciam desistir da luz.

- Esse é o dia que não ia demorar pra chegar. O sol está desmaiando, sem força. Um dragão com cabeça de lobo tenta devorar lua e sol e roubar a luz. Esse é o dia do fim. Meus filhos, depressa! Vão morrer perto da mãe e do pai de vocês.

Bênçãos da avó e despedidas. Corremos enlouquecidos, segurávamos nossos corações, era quase um voo, com os olhos no céu. Ouvíamos o bater de latas e panelas, cantos de galos, gatos incandescentes atravessavam, gritos de medo riscavam a rua, entravam nos nossos ouvidos. Do Mirante avistamos a grande sombra do dragão sobre o rio. Olhamos o chão e as pedras eram estrelas apagadas.

À porta da nossa casa, ficamos paralisados. Eu vi páginas de lumes no céu, enquanto o meu voo. Um espantoso alaranjado se movia rapidamente para uma cor vinagre-castanho; nuvens perto dos astro se tornavam verdes-caindo mais escuro; um céu lilás parecia prestes a desabar, estirões tintos imaginei que fossem a língua do dragão; sol e lua estavam violetas-pálido, depois ficaram cinza-quase-negros; moitas de nuvens pareciam asas de anjos num redemoinho púrpura; bem mais no fundo havia azul noturno; seguiu o surgimento de línguas de flores se abrindo em cores que a tornavam frágeis candeeiros...

O céu escureceu a cidade, o céu trouxe medo, o mundo se acabava na conta de um mal súbito do sol. Foi a primeira vez que tive medo de estar vivo.

Chegamos à casa, extenuados, queríamos devolver nossos corações ao lugar do coração. Essa é a hora em que o filho quer o abraço da mãe.

O sol foi recobrando os sentidos, nossas caras assustadas, o céu foi clareando, os pássaros que haviam se agasalhados estavam barulhentos, como todas as gentes… Foi assim aquela pequena noite da nossa cidade. Foi a primeira vez que presenciei o fim do mundo.

*Edmir Carvalho Bezerra é poeta.

domingo, novembro 27, 2016

O piloto, cadê o piloto?




Gente ruim, medíocre, arrogante, venal e desonesta ocupa os palácios, as residências, os aviões, os carros e todo ativo oficial – seja federal, estadual ou municipal. Além de usar e abusar de mordomias e nepotismo, mete a mão no dinheiro público sem o menor pudor ou receio. Com uma audácia que faria a corte de Luís XVI parecer republicana. Gasta como se fizessem parte da corte sideral de um rei colocado no posto pela mão divina. E criaram um mundo de fantasia que, como uma bolha impenetrável, os isola da realidade, do dia a dia de trabalho e sacrifício, ou de renúncias e carências do homem comum, do cidadão que vai à luta para sobreviver.

A crise econômica tem solução. Os brasileiros não só acreditam nela como fazem a sua parte cotidianamente, numa rotina que resiste à expansão do desemprego, à queda do valor da renda, ao desaparecimento dos clientes, ao encolhimento dos negócios, ao crédito oferecido com taxas de agiotagem, às relações de troca desiguais, às incertezas, que causam imensa preocupação, mas não desânimo. O brasileiro comum é um forte, exceto na hora de votar.

Pode-se discordar e até abominar algumas das propostas que o governo, sem autonomia (felizmente) para decidir tudo isoladamente, propôs a um parlamento corrupto, desidioso, relapso, preguiçoso e incompetente, Ele é a pedra no meio do caminho da recuperação da marcha batida que o Brasil precisa adotar para se recompor e voltar a embalar num ritmo adequado às suas carências, em sintonia com suas potencialidades. Mas é pior sem ele, fechado à base de baionetas nada caladas, como é usual no Brasil.

O maior problema é agora o político, o que não devia ser, já que seu motor é a vontade o desejo, a disposição de fazer. Temer repete Dilma: demite um ministro atrás do outro, a cada nova crise, provocada por denúncias de malfeitos. Para Dilma eram até proveitosas as defecções: assim ela se livrava da influência dominante e já opressiva de Lula. Mas lhe faltava o talento do antecessor para criar sua própria base de sustentação no Congresso. Arrogante autoritária e com o vezo de sabichona, ela cavou o buraco no qual se afundou.

Já Temer, raposa passada na casca de alho, achou que bastava esperteza, relações públicas e espírito de corpo para ir levando os problemas na flauta, indiferente à urgência de atos concretas para estancar as hemorragias financeiras do país. Esqueceu que lhe falta a condição necessária para essa postura: a condição de chefe. O Brasil entrou no redemoinho encapelado, como na imagem de Guimarães Rosa sobre o sertão. Endemoniado, pois.

O futuro que desconhecemos


Por Diógenes Brandão

Embora discordando a tese de que o atual governo era melhor do que o anterior e que "está se esforçando para imprimir um pouco mais de racionalidade na gestão pública e nas relações entre Executivo e Legislativo", trago o artigo do professor da UNESP, Marco Aurélio Nogueira, publicado no Estadão, por considerar que boa parte de sua reflexão importa para o discernimento do que estamos vivenciando no país da piada pronta.

Leia

As últimas semanas foram tão fartas de ruídos e atritos que ganhou corpo a imagem de um País fora de controle. Não foram poucos os que anteviram o apocalipse, falando em golpe militar, impeachment de Temer, fim da Lava Jato, insurreição popular, “ocupações” sucessivas que sitiariam o sistema.

Alguns fatos alimentaram o catastrofismo. Num dia, 50 direitistas invadem a Câmara dos Deputados falando em ditadura e fechamento do Congresso. Em outro, o ministro da Cultura se demite por não aceitar pressões indevidas do ministro Geddel Vieira Lima, uma gota a mais no oceano de corrupção e tráfico de influência que inundou o País. A denúncia abalou o governo Temer, que preferiu desgastar-se mais um pouco para não pôr em risco sua base parlamentar. O ministro Geddel demitiu-se ontem, mas o estrago já estava feito.

A discussão sobre a PEC dos gastos e a reforma da Previdência incrementa o pessimismo, pois seus efeitos serão certamente dolorosos e impulsionam retóricas finalistas, nas quais o povo pobre é visto como dramaticamente afetado. Para complicar, a economia continua a patinar, o desemprego persiste, o consumo está estagnado, Trump venceu nos EUA e vão começar as delações da Odebrecht. A discussão sobre o caixa 2 mostra a disposição de muitos deputados (de variados partidos, PT incluído) de aliviar crimes como lavagem de dinheiro e falsidade ideológica.

Tudo vai sendo acomodado às pressas na ideia de que golpistas maldosos e políticos hipócritas estão a patrocinar a desmontagem das conquistas sociais e do progresso do País. O cenário não corresponde por inteiro à realidade profunda, mas enfeitiça muitos brasileiros, que se deixam arrastar pelo ativismo frenético ou pelo desinteresse conformista.

Há muita desorientação na parte mais ativa da sociedade. Políticos, partidos, lideranças, intelectuais, ativistas parecem mais interessados em definir a que nicho pertencem do que em criar zonas de entendimento. Faltam-lhes ideias e ousadia, sobram raiva, ressentimento e indignação. Há protestos e ocupações de direita e de esquerda e as diferentes tribos que as protagonizam se consideram iluminadas. Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul são só a ponta de um enorme iceberg. O colapso fiscal dos Estados põe a Federação em crise. Para onde quer que se olhe, o cenário é complicado.
No meio dessa mixórdia de vozes dissonantes, a gigantesca maioria dos brasileiros deseja seguir com a vida sem muitos sobressaltos, mas a essa maioria não é oferecida nenhuma análise fundada em discernimento, serenidade e visão de futuro.

O governo Temer não é pior do que o governo que tínhamos até ontem, ou anteontem. Em certos aspectos, chega até a ser melhor. Está se esforçando para imprimir um pouco mais de racionalidade na gestão pública e nas relações entre Executivo e Legislativo. Carece, porém, de eixo. Sua composição o fragiliza, sustentada que está pela preocupação de evitar divisões na base parlamentar. As circunstâncias não o favorecem: o cenário global é instável, o nacional é uma incógnita. As instituições, ainda que valorizadas, não conseguem domar o País, cuja complexidade é um desafio. Vista de Brasília, a sociedade se mostra distante, quase um borrão no mapa, quando deveria ser a razão mesma do Estado.

O governo caminha sobre o fio de uma lâmina afiada, agarrado exclusivamente a uma meta de ajuste e reorganização das contas. Seu discurso é raso, não comove nem mobiliza. Não parece ter outras políticas, o que o deixa trôpego e vacilante diante de um contínuo turbilhão de problemas, conflitos e ameaças.

Se as coisas estão assim tão desgraçadamente ruins, o razoável é que se reduzissem as polarizações brutas e as simplificações maniqueístas feitas a partir de uma visão grosseira de esquerda e direita, e se buscasse adquirir uma articulação democrática superior que propusesse algo de positivo, com os pés no chão. Poucos, porém, cogitam disso.

Houve quem comemorasse a prisão de Garotinho e Sérgio Cabral, e houve quem se aproveitasse dela para denunciar a “mídia oligopolizada”, bater na PF e na Lava Jato, defender os direitos humanos. Ficou difícil entender a situação. Aplaudir prisões expressa um desejo de vingança. Explorá-las para atacar a Justiça é um erro político.

Demonizar a “mídia oligopolizada” virou clichê em parcela da esquerda. É uma fantasia para processar o que nos desagrada ou atenuar o medo ancestral que nos assusta. Impede que se compreendam a complexidade e o caráter contraditório dos fenômenos midiáticos atuais. Quanto mais se insiste nisso, mais a análise fica ideológica, sem objetividade.

Alguns dos que batem na Justiça, no MP, na PF e na Lava Jato dizem que as operações anticorrupção existem para perseguir o PT. Outros querem simplesmente salvar a pele. Ambos os lados falam em “criminalização” da política e não se importam em defender o indefensável. As denúncias contra o arbítrio, o abuso de autoridade e o desrespeito à integridade da pessoa – que sempre devem ser consideradas com atenção – terminam assim por engrossar um caldo de cultura que esvazia e deslegitima o combate à corrupção.

Pode-se não gostar de Moro, das conduções coercitivas e dos procedimentos de delação premiada, achar que extrapolam o razoável, mas o esforço deveria estar concentrado em avaliar seus efeitos e resultados. Por vias que incomodam alguns, a Lava Jato e outras operações judiciais estão revolvendo as entranhas do sistema político brasileiro, enfiando a faca na relação entre empreiteiras, governos e partidos, desnudando práticas e manobras ilícitas de enriquecimento e financiamento político, mostrando o prejuízo que causam ao País.

Se o sistema político e partidário não sobreviver a essas operações, é porque está tão bichado que não merece seguir respirando. Não deveríamos ter tanto medo do futuro que desconhecemos.

*Marco Aurélio Nogueira é professor titular de teoria política e coordenador do Núcleo de Estudos e Análises Internacionais da Unesp.

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O PT no divã


Por Maurício Moraes*, no Tribuna de Debates

Está na hora das lideranças e da militância decidirem o que querem ser.

O resultado do primeiro turno das eleições municipais foi o golpe derradeiro de 2016 na militância do PT. Há dois anos, petistas seguem resilientes em mares bravios, com impeachment, Petrobras, PF e tudo o que o noticiário apresenta, com muitas convicções, mas nem sempre com muitas provas.

A artilharia é diária e vem de todo lado, à direita e à esquerda. A perda de prefeituras importantes, em especial a derrota acachapante do partido em São Paulo, foi o anúncio que alguns tentavam adiar: chegou a hora de rediscutir e relançar o PT.

Assim que fecharem as urnas do segundo turno e o mapa político do Brasil pós-impeachment estiver definido, será chegada a hora fatal de o PT deitar no divã.

Os espasmos na base já começaram. Alguns setores pedem a renúncia das direções nacional e estaduais, um novo congresso e o fim do PED, o processo eleitoral interno do PT, em uma espécie de reforma política do PT. As propostas encontram resistência em outros campos, sobretudo em setores majoritários que compõem o atual establishment petista.

Não se trata necessariamente de se opor à dirigência de Rui Falcão ou à corrente dominante, a Construindo um Novo Brasil (CNB). A questão vai além: é geracional. Para novos tempos de PT é necessária uma direção com novas ideias, práticas e soluções para tempos adversos. Uma direção que consiga fazer a autocrítica e avaliar os erros do partido.

É preciso conversar, francamente, sobre práticas da velha política adotadas pelo PT uma vez no governo. Falar, sim, sobre corrupção. E quando se fala em geracional, é preciso lembrar que hoje boa parte da juventude petista também se tornou velha nas ideias, respaldando sem questionar práticas de nossos caciques vermelhos.

É preciso, portanto, uma nova geração de dirigentes que insira o PT em debates contemporâneos, como o de direitos humanos, nova ordem econômica, sustentabilidade e desenvolvimento, segurança internacional, novos formatos de organização política e política de drogas, para enfrentar os tempos áridos que se iniciam. É preciso se reconectar com as periferias, buscar a paridade de gênero.

Desde o início da grande crise do PT, Lula tratou de liderar o grupo, historicamente diverso. A disputa interna no PT continuou ferrenha. Só que foram-se os tempos em que o objeto de disputas eram teses formuladas pelas diversas correntes petistas.

Correntes mais à esquerda até buscaram emplacar caminhos alternativos, mas no geral boa parte do embate se deu por espaços e cargos irrelevantes, puxadas de tapete gratuitas, em uma briga que mais se assemelha a eleição de diretório acadêmico do que ao que se espera do maior partido de esquerda das Américas.

O avanço da Lava Jato sobre Lula deve não só retirar o ex-presidente da disputa eleitoral em 2018. Os efeitos serão mais amplos. É dado como certo que as “sempre fortes convicções da Lava Jato” devem culminar na prisão do ex-presidente ou na impossibilidade de que ele dispute as eleições.

Com Lula fora do jogo, o PT segue em mares bravios, mas com seu principal capitão mais ocupado em fazer sua defesa do que em apresentar a renovação do projeto político do PT, embora haja dúvidas se mesmo o ex-presidente teria a capacidade de atualizar a agenda petista como o esperado. Em suma, a crise do PT não é só conjuntural, é uma crise de ideias.

O PT precisa decidir o que quer ser. Continuará apostando que será o grande protagonista da esquerda, reeditando com sucesso seu atual modelo? Vai se dar conta de que diminuiu e formará uma frente de centro-esquerda com outros partidos, reconhecendo o êxito de legendas menores como o PSOL na condução de tradicionais bandeiras petistas?

Ou vai se dar por satisfeito em ser um PSB na política, um partido que um dia já foi esquerda e hoje é só mais uma agremiação oportunista na colcha de retalhos da política brasileira?

Se quiser se manter grande na política, a missão do PT é, mais uma vez, captar o zeitgeist, o “espírito do tempo”, na expressão do filósofo alemão Geord Hegel, o espírito dos anseios da sociedade em determinado momento histórico. No fim dos anos 1970, Lula e os sindicalistas do ABC captaram o zeitgeist da época, criando um partido de trabalhadores em meio à decadência do regime militar, a fim de ganhar protagonismo na redemocratização. Voltou a perceber o espírito do tempo nos anos 1990, ao reajustar sua perspectiva e trilhar o caminho rumo à presidência.

O PT de hoje, no entanto, é um partido deslocado de seu tempo. Deslocou-se por estar no governo e se deixar burocratizar. Deslocou-se porque não renovou seus quadros. Tem uma base aflita, militante, que sonha com mudanças estruturais.

Uma base de esquerda que nunca recebeu mensalinhos e que critica o setor financeiro enquanto vê dirigentes que um dia foram sindicalistas se tornarem amigos de banqueiros e não titubear em convidá-los para festas luxuosas com direito a foto na coluna social. O PT é hoje um partido que tem uma dirigência desconectada de sua base social. Isso ajuda a explicar o resultado de 2016.

E na base, por sua vez, o sentimento muitas vezes é de desânimo e de alienação. Petistas ou se retiram do debate, escondidos em suas bandeiras, não acreditando no estado de coisas. Ou vivem em uma bolha, fazendo altos debates retóricos, brigando por detalhes, reproduzindo o velho sectarismo alienante da esquerda e sua arrogância característica, enquanto a direita empurra sua agenda de desmonte dos direitos sociais como a PEC 241, que vai congelar os investimentos em saúde e educação por duas décadas.

A autoanálise do PT não será rápida e será dolorida. Mas talvez seja a última chance de o PT recuperar e manter sua capacidade de influir na agenda brasileira, não com conchavos de gabinetes, mas com um debate legítimo que surja das ruas e represente os anseios dos trabalhadores e da classe média.

Para tanto, é preciso reconhecer o lugar inglório que a conjuntura reservou ao PT, ser humilde no debate, reconhecer erros e começar a construir a nova fase do PT. E a velha guarda vai ter de entender que, se quiser manter o projeto petista, terá de abrir espaço para uma nova geração que capte o espírito do tempo, o tal do zeitgeist. Aguardamos com ansiedade.

**Maurício Moraes é jornalista, mestrando em Administração Pública no King’s College (Londres). Ativista de direitos humanos e LGBT, foi secretário de governo em Araçoiaba da Serra (SP) e candidato a deputado federal pelo PT.

Crise: Edmilson Rodrigues perde seu braço esquerdo no PSOL

Luiz Araújo deixou o PT para fundar o PSOL, onde viveu até então organizando a corrente interna "Primavera Socialista" e supostame...