quarta-feira, fevereiro 14, 2018

Começa o ano eleitoral. O que é legal e o que é imoral?



Por Diógenes Brandão 

Um dos ditados populares mais conhecidos pelo povo brasileiro é o que diz que o ano novo só começa de fato depois do carnaval. Como 2018 é um ano de eleições gerais no Brasil, nesta quarta-feira de cinzas podemos dizer que tirando o alto índice de votos nulos que as pesquisas projetam para Outubro, estamos novamente diante das expectativas de renovação e a esperança que as urnas nos trazem. 

No entanto, não se pode dizer que a classe política será ainda este ano tomada por um processo moralizante, como muito esperam por conta do apelo midiático, resultante das expectativas do desfecho das investigações da Operação Lava Jato, hoje estancadas, tal como Romero Jucá previu em conversa com o ex-diretor da Transpetro, onde planejaram um acordo nacional, com supremo e tudo para tirar Dilma da presidência, colocar Michel Temer em seu lugar e delimitar as investigações da Lava Jato onde estavam. Como podemos ver, o plano deu certo: o chefe da polícia federal foi trocado, Temer indicou uma nova Procuradora-geral da República e a Lava Jato estancou. 

Digo isso por considerar que os critérios utilizados para investigar, julgar e condenar alguns políticos e executivos de empresas envolvidas em esquemas de corrupção, investigados e revelados nos últimos anos, trouxe a falsa impressão de que tudo que está aí não presta e que por isso, tudo e todos precisam ser destruídos, aniquilados, para que algo de bom surja mais à frente, como se num passo de mágica, uma nova geração de políticos bem-intencionados fosse surgir e tornasse tudo diferente, com a honestidade tornando-se predominante na política e na gestão pública.   

Apesar de ser belo e utópico, tal pensamento se assemelha a um delírio infanto-juvenil, daqueles em que a pessoa se imagina capaz de mudar o mundo, apenas com uma frase de efeito ou um desejo pré-concebido pela falta de uma vivência com a realpolitik e sem a devida perspectiva histórica, que moldou o sistema político do nosso país, até outro dia, escravocrata e colonial. 

Com milhares de pessoas interconectadas através das redes sociais, muita gente hoje reproduz conteúdos com a narrativa de que só um salvador da pátria poderá executar a tão esperada reforma do sistema político, onde agentes corruptos serão extintos e uma nova sociedade emergirá com a eleição deste herói nacional. 

terça-feira, fevereiro 13, 2018

TSE libera geral a campanha dos ricaços

TSE abre as portas para que o Congresso Nacional seja dominado pelos marajás, tornando o país um paraíso dos ricos.

Por Altamiro Borges, em seu blog  

O Judiciário parece que está decidido a adulterar de vez a frágil democracia nativa. Além de ser cúmplice do golpe que depôs Dilma Rousseff e alçou ao poder a quadrilha de Michel Temer e de participar do conluio que visa impedir a candidatura do ex-presidente Lula, este poder hermético, elitista e cheio de mazelas quer transformar o Brasil em uma “democracia dos ricos”, quase censitária. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) acaba de publicar a íntegra da resolução que permite que os candidatos financiem 100% de suas próprias campanhas. Com isso, a cloaca empresarial e os bilionários levarão enorme vantagem sobre os demais concorrentes nas eleições de outubro próximo.  

Pela resolução, que ainda pode ser revista até 5 de março – prazo final para a publicação das regras que regerão o pleito deste ano –, um ricaço que queira disputar uma vaga na Câmara Federal poderá bancar do bolso todo o limite de gasto previsto pela lei (que é de R$ 2,5 milhões). Postulantes oriundos dos movimentos sociais, por exemplo, só contarão na sua campanha com os parcos recursos do fundo partidário e com doações de pessoas físicas limitadas a 10% do rendimento. A concorrência será desleal, favorecendo a eleição de empresários, ruralistas e de outros bilionários. A composição da Câmara Federal, que já dá ampla vantagem às bancadas patronais, ficará ainda pior. O trabalhador terá ainda mais reduzido seu espaço do parlamento.   

A resolução do TSE afronta à democracia e deve agitar o cenário político nos próximos dias. O chamado autofinanciamento já havia causado polêmica no Congresso Nacional no ano passado, durante a votação da reforma política. O relator da matéria, deputado Vicente Cândido (PT-SP), num primeiro momento apresentou um texto proibindo por completo a sacanagem. Diante da pressão da bancada patronal, ele recuou e impôs limites. Na votação final, acabou sendo aprovada a regra que proibia os candidatos de injetarem mais do que 10% dos seus rendimentos na campanha. Mas o usurpador Michel Temer, capacho dos empresários, vetou a decisão. Diante do impasse, agora o TSE toma as dores dos ricaços e libera geral o uso da grana!   

Diante de mais este golpe contra a democracia, os partidos prometem reagir. O PT já anunciou que questionará a decisão. “O Brasil é uma democracia ou uma plutocracia? Quem tem dinheiro pode tudo? Acabamos com o financiamento empresarial e agora quem for milionário poderá financiar 100% da sua campanha?”, indagou no Twitter o líder petista na Câmara Federal, deputado Paulo Pimenta (RS). No mesmo rumo, a senadora Gleisi Hoffmann (PR), presidente nacional da legenda, foi incisiva: "Derrubamos ano passado o veto que liberou o auto financiamento! Porque o TSE traz isso de novo? Por mais que tentemos, as eleições ainda serão dominadas por quem tem dinheiro? É um atentado contra a democracia popular". O PSB também vai reagir, conforme anunciou o advogado da sigla, Rafael Carneiro. Para ele, a decisão do TSE “coloca em risco a paridade de armas no processo eleitoral e a própria democracia”.

Bloco Chulé de Pato encerra o carnaval de Belém nesta quarta-feira de cinzas

Com o famoso caldo de mocotó com jerimum e em sua 17ª edição, o bloco Chulé de Pato se prepara para encerrar em grande estilo mais um carnaval das antigas, em Belém do Pará.

Por Diógenes Brandão

"Quem já conhece, com certeza não perde e quem ainda não participou, não sabe o que está perdendo". Foi com essa frase estimulante que fui convidado para brincar pela primeira vez do arrastão do bloco Chulé de Pato, que esse ano completa 17 anos levando alegria, na despedida do carnaval pelas ruas de Belém, mais precisamente pelo bairro do Guamá.

A ideia de iniciar a brincadeira de momo, se deu no carnaval de 2001, quando o atual presidente do bloco assistia a transmissão do carnaval pelas ruas da capital Pernambucana, onde blocos como o Bacalhau do Batata e o Galo da Madrugada arrastando uma multidão de foliões na quarta-feira de cinzas, pelas ladeiras de Olinda e recife, respectivamente. 

A concentração inicia ao meio dia desta quarta-feira de cinzas e a saída do bloco está programada para as 15:30h, com direito ao tradicional caldo de mocotó com jerimum, que será servido aos primeiros 1.500 brincantes que chegarem à concentração. 

"Temos convidados até de outros países que estão visitando o nosso Estado e que participarão da festa conosco", revela o compositor, músico e presidente do bloco, Paulinho Mururé, que solicitou a isenção das taxas cobradas pela prefeitura de Belém e o governo do Estado, mas infelizmente teve seu pedido negado. 

A diretoria do bloco Chulé de Pato estima a participação de 5 mil brincantes no arrastão pelas ruas do bairro do Guamá

Diante disso, foi preciso que a diretoria e amigos do bloco metessem a mão no bolso para pagar quase R$1.500 reais de taxas cobradas pelos órgãos públicos municipais e estaduais, que nem se quer aparecem no dia do evento, a exemplo da SEMOB, SEMA, Polícia Militar e o Departamento de Polícia Administrativa da Polícia Civil do ParáMesmo assim, Paulinho Mururé não se amofina e diz que espera que esse ano o bloco bata recorde de público, no carnaval de rua à moda antiga, onde uma banda de fanfarra toca os grandes sucessos dos antigos carnavais, com marchinhas, muitas fantasias e as batalhas de confete e serpentina. Tudo sem fins lucrativos ou venda de abadás.

Para o carnaval de 2019, a diretoria do bloco já planeja realizar eventos que ajudem a arrecadar recursos financeiros ainda esse ano, como o "Chulé de Pato na Roça" em junho e o "1º Grito de Pré-réveillon do Chulé de Pato", em novembro. "Depois disso vamos correr atrás do nosso CNPJ e com ele elaborar projetos que viabilizem patrocínios e incentivos de entidades públicas e empresas interessadas em nos ajudar a manter a festa e até projetos sociais junto à comunidade guamaense, finaliza a entrevista de Paulinho Mururé ao blog AS FALAS DA PÓLIS.

SERVIÇO:

Arrastão do Bloco Carnalesco Chulé de Pato.
Dia: 14.02.2018 (Quarta-feira de Cinzas).
Concentração: A partir do meio dia.
Saída: 15:30h.
Local: Av. Castelo Branco entre, Caripunas e Paes de Sousa. 


sexta-feira, fevereiro 09, 2018

Muito prazer, Luciana Temer

Por Diógenes Brandão 

Ela é professora de Direito Constitucional e dirige uma ONG que desenvolve um trabalho de combate e enfrentamento à exploração sexual de crianças e adolescentes no Brasil. Defende o pai, mas mostra o quanto são diferentes em diversos pontos e o considera conservador por natureza. Trabalhou com Haddad (PT) e Alckmin (PSDB), mas confessa que gosta e tem mais afinidade com o petista.

Pragmática ao falar de corrupção, ela se revela bem mais progressista que o pai ao dizer: "A polarização fica num nível tão raso de discussão: bons e maus, maniqueísta. “Eu sou bom, você é mau”. Eu sempre falo para os meus alunos dessa divisão de “nós” e “eles” – como se o Congresso Nacional fossem “eles”. Quem é o Congresso Nacional se não nós mesmos? Nós mesmos que somos cidadãos brasileiros, nós mesmos que elegemos. Eles só estão lá porque, nós, sociedade brasileira, que colocamos. Quer dizer, não existe “nós” e “eles”. Existem eles que são retrato do que somos nós."  

No entanto, quando ouviu o audio em que Joesley Batista havia combinado o suborno pelo silêncio de Eduardo Cunha com seu pai, Luciana Temer disse aos seus filhos: “olha, meninos, eu não ouvi esse áudio, ninguém ouviu esse áudio. Mas, eu vou dizer pra vocês, eu corto os meus dois braços se o seu avô falou uma coisa dessas. Eu conheço o seu avô há 50 anos, ele jamais, em tempo algum falaria uma frase dessas.”  


Defende a legalização do aborto, das drogas e a regulamentação da prostituição. Essa é Luciana Temer, revelada pela entrevista do Estadão e que o blog AS FALAS DA PÓLIS reproduz na íntegra.




Ela cresceu ouvindo o pai declamar Castro Alves. Dele diz que herdou a consciência moral e da mãe, a consciência cristã. E então foi construindo sua própria trajetória, hoje como professora de direitos constitucionais da PUC-SP e da Uninove, e presidindo o Instituto Liberta, criado pelo filantropo Elie Horn, de combate à exploração sexual de crianças e adolescentes.  

Antes, ela foi secretária de assistência social da prefeitura, na gestão de Fernando Haddad, a quem admira e se identifica. Ex-delegada de defesa da mulher, em Osasco, trabalhou também com Alckmin e tem Gabriel Chalita em alta conta.  

Defende a legalização do aborto, das drogas e a regulamentação da prostituição. Luciana Temer, 48 anos, a filha primogênita do presidente Michel, foge dos paradigmas óbvios do jogo fácil das polarizações políticas. Ela decidiu compartilhar um olhar mais íntimo sobre suas crenças e valores, nesta entrevista que se segue.

“Eu tenho duas irmãs, que são psicólogas. Nós somos três mulheres independentes, que trabalham, que a vida inteira ganharam o seu dinheiro e se sustentaram, e eu escutei do meu pai a vida inteira a seguinte instrução: “você tem que trabalhar e ganhar o seu dinheiro, porque a independência só existe quando você se sustenta. Você só é uma pessoa livre e independente quando paga as suas contas”.  

Aí eu me pergunto, onde está o machista dessa brincadeira do ‘recatada e do lar’? Porque a Marcela tem um outro perfil. É uma grande companheira dele, mesmo, de mais de doze anos, e que tem outro perfil, e que eu respeito perfeitamente. Agora, isso nunca foi imposto, nunca foi uma questão.  Aliás, eu acho que um dos problemas que hoje nós temos é não respeitar as escolhas dos outros, ainda que seja ser princesa. Se quiser ser princesa, deixa ser princesa. Hoje tem um patrulhamento ideológico; e se a mulher não quiser trabalhar e ficar em casa cuidando dos filhos, qual é o problema?”  

“Quem é o Congresso Nacional se não nós mesmos? Nós mesmos que somos cidadãos brasileiros, nós mesmos que elegemos. Eles só estão lá porque nós, sociedade brasileira, que colocamos. Quer dizer, não existe “nós” e “eles”. Existem eles que são retrato do que somos nós.”  

“Nós íamos daqui até Tietê – onde ficava a chácara da nossa família, –, ouvindo meu pai declamar ‘Navio Negreiro’ (Castro Alves) inteirinho. Uma coisa super tocante.”  

“A gente tinha uma regra em casa que era interessante. A gente estava conversando, mas se entrássemos em um elevador, e entrava mais alguém, todo mundo parava de conversar. Porque meu pai achava que em elevador não se conversava com outras pessoas. Essa coisa da reserva, ele dizia: ‘fale muito das coisas, pouco das pessoas e nada de você’.”  

“Palavrão por exemplo, pra ele é inadmissível. “Que saco” é palavrão. Você não ouve ele falando palavrão.”  

“Se você perguntar com quem eu tenho mais afinidade de trabalho, de pensamento, eu tenho muito mais afinidade com o Haddad. Eu tive muito mais liberdade de atuação. Não porque o Alckmin restringisse a minha liberdade de atuação, não é isso; mas eu tive muito mais afinidade, pude avançar mais no que acreditava com o Haddad.”  

“A gente tem bons debates, mas temos uma afinidade num pensamento mais liberal. Lógico, sobre determinados assuntos eu não penso como o meu pai que é de outra geração, suas posições não são as mesmas. Quando aparece um ministro como o Osmar Terra falando em internação e abstinência total dos viciados em drogas, de certa forma ele (o presidente) endossa. É uma linha mais tradicional.”  “Não acho que ele não tenha chamado mulheres (para compor a equipe ministerial) por exclusão. Não houve pré-disposição em não chamar. Por outro lado, não houve pré-disposição em buscar um nome. Parece bobo mas isso faz diferença.”  

“Eu não sei como eles casaram, pra começar! Porque são seres completamente diferentes. Minha mãe é uma pessoa que é um polo de atração, essa pessoa super generosa, super extrovertida. E meu pai é essa pessoa muito consistente, do ponto de vista intelectual, de formação; uma pessoa reservadíssima, de poucos amigos. Ele circula num universo enorme, mas amigos do meu pai eu conto nos dedos os que eu conheci na vida. Minha mãe é amiga do mundo.”  

“É muito triste, muito difícil você ver o nome do seu pai, que é uma pessoa que você conhece há 50 anos, jogado na lama. Quando saiu na Globo aquela primeira chamada dizendo que havia um áudio no qual meu pai dizia pra o Joesley para subornar o Cunha pra ficar calado, eu estava na rua, ouvindo o rádio.  Pensei comigo, essa frase não sairia da boca dele. Porque ele é essa pessoa contida, reservada. Ele jamais se exporia dessa forma para ninguém.  

E, afinal, quando saiu o áudio, essa frase não existia. A frase que aparece no áudio é: “Estou mantendo uma boa relação”. “Ah, você deve mesmo fazer isso”. Isto é meu pai. Ele está falando com você aqui, e às vezes ele está na lua e balançando a cabeça.”  

*Qual seria o inconsciente coletivo do brasileiro hoje, em sua opinião?  
Hoje, as pessoas estão se sentindo à vontade para fazer e dizer coisas, especialmente nas redes sociais, que traduzem o que elas não tinham coragem de dizer antes face a face, e que agora estão mais livres para falar. Se por um lado isso é bom porque as pessoas podem se manifestar mais livremente, por um outro lado, esse espaço criado pela internet, pelas redes sociais, tornou as pessoas mais agressivas, mais radicais nas suas posições.  

Coisas que estavam no inconsciente das pessoas e que elas deixavam lá quietinhas, agora elas estão deixando os bichos ficarem mais soltos. De alguma forma, tem alguma coisa acontecendo que traz uma belicosidade nas colocações como se a gente voltasse um pouco para a idade da pedra. Eu sinto que tem um certo ambiente – que é esse ambiente virtual – que faz com que as pessoas peguem em armas e tratem as questões de forma muito agressiva.  

Eu acho que essa possibilidade acabou gerando um acirramento de posições e uma polarização em todos os setores, em todas as questões, que está muito complicado. Tem uma determinação de impor a sua posição em toda e qualquer circunstância, a qualquer custo, diminuindo o espaço de reflexão.  

Isso é uma coisa brasileira ou mundial?  
Mundial.  

Qual seria o acento brasileiro?  
Eu acho que no Brasil temos essa crise política absolutamente acirrada, onde, supostamente, o brasileiro acordou para uma questão que é a questão da corrupção; mas, ao mesmo tempo eu digo supostamente, porque ficou uma ideia de que esse mal feito brasileiro só acontece e está centrado nos políticos e nas instituições, o que não é verdadeiro.  

Existe uma institucionalização da corrupção no Brasil. Quando eu pago o guarda pra não me multar – isso é uma prática ancestral aqui; ou quando vou procurar um despachante pra pagar e não perder a carta, porque eu tive pontos na carteira. Eu acho muito interessante isso, você está conversando com uma pessoa e ela está acabando com todos os políticos e, de repente ela vira e fala assim: “alguém sabe de alguém que consiga livrar as minhas multas, porque eu vou perder a carteira?”. Ou uma outra situação, de uma amiga que é criminalista e foi a uma médica dermatologista; e a médica, quando perguntou pra ela o que ela fazia – ela falou que era advogada criminal-, e a médica respondeu: “você tem coragem de defender bandidos? Você tem coragem de defender corruptos?”. E quando ela foi pagar a conta no final, a secretária perguntou: “você quer com nota ou sem nota? Sem nota é mais barato”. Sonegação pode? Ela não é bandida, e ela sonega e isto é crime.  

Veja como a gente tem uma irreflexão sobre essas questões, e como a gente está num nível raso de repensar qual é o papel da sociedade brasileira nesse contexto todo de mudança. Quando a gente fala de uma mudança, a gente tem que falar de uma mudança muito profunda.  

A polarização fica num nível tão raso de discussão: bons e maus, maniqueísta. “Eu sou bom, você é mau”. Eu sempre falo para os meus alunos dessa divisão de “nós” e “eles” – como se o Congresso Nacional fossem “eles”. Quem é o Congresso Nacional se não nós mesmos? Nós mesmos que somos cidadãos brasileiros, nós mesmos que elegemos. Eles só estão lá porque, nós, sociedade brasileira, que colocamos. Quer dizer, não existe “nós” e “eles”. Existem eles que são retrato do que somos nós.  

É preciso que o Brasil saia dessa discussão rasa de políticos corruptos e repense toda uma forma de comportamento. 

De ética pessoal.  

Como você permite que seu filho, que tem 17 anos, faça uma identidade falsa pra entrar numa festa para maiores de idade? E essa é uma prática comum, as pessoas permitem isso.  “Ah, mas ele está fazendo com uma pessoa que faz direitinho”. Quem faz direitinho é porque é do Poupa Tempo. Então você está permitindo que seu filho corrompa um funcionário público. Isto não é corrupção? A gente é muito desconectado do discurso com a prática.  

Você acha que falta consciência ética e social no dia a dia do brasileiro?  
Não podemos generalizar, tem gente muito boa. Mas acho que existe uma cultura permissiva no Brasil em todos os aspectos e setores.  

Aqui, as pessoas fecham os olhos para o que consideram menos grave. Não importa se a legislação diz que é crime. Cada um faz seu próprio julgamento.  

Na consciência do brasileiro o não cumprimento da lei é porque essa lei não é boa, essa regra não é boa. Ou é difícil e não vou conseguir cumprir, e eu me permito descumprir.  

Como reage aos escândalos de corrupção que a gente ouve?  
Conheço o pai que tenho e sei os limites éticos dele.  

No seu governo?  
A corrupção é uma coisa endêmica, um problema sério em todos os níveis. É preciso repensar posturas individuais e cotidianas. Falamos muito das grandes corrupções, mas na hora de deixar o carro na vaga reservada a pessoas com deficiência, partimos para o discurso de que “é só um minutinho”. A sociedade precisa ser mais educada.  

Em termos de pensamento político, a sua construção vai por onde?  
Eu tenho uma formação humanista que vem de casa, tanto do lado paterno como materno. Minha mãe, que foi sempre alguém que procurou ajudar as pessoas e me ensinou que era importante cuidar das pessoas que estão à nossa volta. E o meu pai, porque tem essa formação, não só jurídica, mas de família muito rígida, uma moral muito rígida. De família árabe muito grande, muito unida, que teve sempre esse discurso bastante rígido do ponto de vista moral.  Nós crescemos com esses dois lados – a minha mãe, Maria Célia, sempre pelo lado da caridade. Ela é a pessoa mais generosa que eu conheci na minha vida. E a formação mais estruturada do ponto de vista da consciência social, vem do meu pai.  

Nós íamos daqui até Tietê – onde ficava a chácara da nossa família, e íamos todo fim de semana ficar com a minha avó –, ouvindo meu pai declamar ‘Navio Negreiro’ (Castro Alves) inteirinho. Uma coisa super tocante. Eu era pequena, não tinha nem a dimensão do que era aquilo, e a gente adorava. E também ‘O Operário em Construção’, do Vinícius (de Moraes): “O Operário disse: Não! subiu ao alto da construção…” Era uma coisa pra nós muito forte. Essa coisa da consciência social, da desigualdade social.  

São duas influências diferentes, a influência da minha mãe não tem nenhuma consciência social, mas sim uma consciência cristã. E o meu pai, uma consciência social.  

Eu estudava aqui no (Colégio) Sion. Na época, antes da abertura política, havia as eleições pra deputado e tinha a Arena e o MDB. E eu me lembro que no Sion eu era a única que era MDB. Porque os pais da escola tradicional do Sion eram Arena. E eu lembro que era uma coisa difícil até eu entender o por que, só o meu pai era MDB.  

Então, acho que a nossa formação, tanto minha quanto das minhas irmãs vem desse misto, de uma mãe muito extrovertida e um pai muito reservado, muito formal.  

Formal até com os filhos?  
Não diria com os filhos. Mas, por exemplo, a gente tinha uma regra em casa que era interessante. A gente estava conversando, mas se entrássemos em um elevador, e entrava mais alguém, todo mundo parava de conversar. Porque ele achava que em elevador não se conversava com outras pessoas. Essa coisa da reserva, ele dizia: “fale muito das coisas, pouco das pessoas e nada de você”.  

Mas o que seria um discurso rígido do ponto moral?  
Eu não diria que meu pai é um julgador. Todo mundo teve liberdade e respeito pelas escolhas. Ele é mais antigo sob certos aspectos. Mais contido. Tem uma coisa super de reserva. Não sei se moralmente é muito rígido. Com a gente não era rígido. Talvez na fala, mas não na atitude de controle. As regras morais são da geração dele. Mas nunca severo, austero, do tipo “não vai sair pra namorar”. Mais ligado a preservar intimidade. Palavrão por exemplo, pra ele é inadmissível. “Que saco” é palavrão. Você não ouve ele falando palavrão.   

E a mesóclise?  
Ele cresceu aprendendo isso em português. Ele estudou em escola pública em Tietê, e a mesóclise era uma coisa que era praticada. E ele sempre escreveu muito bem, sempre foi estudioso de português e nunca se desfez desse hábito.  

Ele é uma pessoa de valores tradicionais, não é?  

Bastante. E isto é da família árabe. Ele tem uma coisa da família muito forte. Reverência ao pai, mãe, e ao mesmo tempo essa união da família.  

E a passagem como delegada, por que foi importante?  
Porque eu descobri que existe um mundo fora do mundo que eu conhecia. Uma coisa é você ler jornal – porque o jornal é escrito por um jornalista que também pega o seu mundo e traduz a notícia com a visão dele. E, quando eu fui da Delegacia de Polícia de Defesa da Mulher, em Osasco, e fui conhecer a realidade sem o filtro do jornalista que te passa a notícia, eu comecei a enxergar uma realidade que eu não conhecia, que me trouxe questionamentos sobre as convicções que eu tinha a respeito das relações familiares. Eu vivi num mundo em que família é essa estrutura que te protege, pai é essa figura que te protege; e você começa a entender que essa é uma cultura construída, que existem outras relações que acontecem que não estão na sua esfera de compreensão.  

E aí você começa a ser mais flexível nos seus julgamentos. Porque você tem o seu conceito do que é certo e errado, mas quando olha algumas situações, passa a julgar com menos rigor, começa a compreender que suas convicções são fruto de uma construção cultural, e que existem outras culturas onde outras pessoas estão inseridas.  

Você pode me dar um exemplo?  
Você pode encarcerar todo mundo, isto é um caminho. Ou você pode tentar trazer uma consciência de que isso é errado. 

Quando eu pego um pai que tem a primeira relação com a filha porque acha que isso é normal, você vai tratá-lo como o criminoso que ele é pela nossa legislação. Mas você precisa entender a lógica dele pra transformar essa lógica, porque ele acha um grande absurdo que ele esteja sendo preso por causa disso.  

Se você não admitir que ele pensa diferente de você e tentar transformar por outros caminhos, vamos ficar sempre no processo punitivo.  

Como você se define, ideologicamente falando?  
Eu acho que sou uma pessoa que busca uma maior justiça social de forma ampla, não só do ponto de vista econômico e financeiro.  

Quando você faz um trabalho, como a gente fez na Cracolândia, no De Braços Abertos (gestão Fernando Haddad); isso é justiça social. Não tem a ver com dinheiro, tem a ver com resgate de pessoas.  

Eu me definiria como uma pessoa muito sem preconceitos e que, em tese, acredita no ser humano. Às vezes eu fico meio decepcionada, às vezes meio frustrada, mas eu acredito no ser humano, acho que ele é sempre resgatável.  

Você ter trabalhado com o Haddad é uma coisa curiosa…  
O Haddad é um militante petista, mas ele é um professor universitário, assim como eu sou uma professora universitária. Ele é um sujeito que foi se aprimorando intelectualmente, assim como eu busquei me aprimorar intelectualmente ao longo dos anos.  

Eu fui trabalhar com uma pessoa que fez um caminho de busca, de consciência social, assim como eu fui buscando meu caminho. Então não acho tão estranho que eu tenha ido trabalhar com o Haddad.  

Nesse tempo de polarização, as pessoas tendem muito a associar o seu sobrenome a uma pauta que exclui o direito das mulheres, que torce o nariz ao direito sobre o próprio corpo…  
Eu tenho duas irmãs, que são psicólogas. Nós somos três mulheres independentes, que trabalham, que a vida inteira ganharam o seu dinheiro e se sustentaram, e eu escutei do meu pai a vida inteira a seguinte instrução: “você tem que trabalhar e ganhar o seu dinheiro, porque a independência só existe quando você se sustenta. Você só é uma pessoa livre e independente quando paga as suas contas”.  

Aí eu me pergunto, onde está o machista dessa brincadeira do ‘recatada e do lar’? Porque a Marcela tem um outro perfil. É uma grande companheira dele, mesmo, de mais de doze anos, e que tem outro perfil, e que eu respeito perfeitamente. Agora, isso nunca foi imposto, nunca foi uma questão.  Aliás, eu acho que um dos problemas que hoje nós temos é não respeitar as escolhas dos outros, ainda que seja ser princesa. Se quiser ser princesa, deixa ser princesa. Hoje tem um patrulhamento ideológico; e se a mulher não quiser trabalhar e ficar em casa cuidando dos filhos, qual é o problema?  

Não é a minha escolha, eu não defendo que seja a cultura imposta, eu defendo a igualdade; mas, se a pessoa quiser… se o homem quiser ficar em casa cuidando dos filhos, qual o problema? Porque esse homem também é criticado. Eu sou contra todo e qualquer patrulhamento ideológico, e se todo mundo respeitasse o que cada um acha que é bom pra si, já seria uma grande evolução da humanidade. Isso é uma coisa que sempre foi valorizada na minha casa, sempre tivemos a liberdade de fazer as nossas escolhas.  

Política te interessa?  
A grande política me interessa, política partidária não me interessa pessoalmente, não tenho vocação. Eu me filiei ao MDB para assumir a secretaria de assistência com o Haddad.  

Meu envolvimento de política partidária foi só durante a campanha do Chalita, porque tenho uma relação de irmã com ele. Ele disse que precisava de mim e então eu integrei o núcleo da campanha. Quando ele não foi pra o segundo turno, eu me retirei. Então o Haddad foi eleito e aconteceu de eu virar Secretária de Assistência Social.  

E eu tenho muito orgulho disso. Deixamos uma marca importante na secretaria. Tivemos um papel importante na construção do De Braços Abertos, na condução do programa e na inserção de mais de 500 mil famílias no Bolsa Família.  

Fizemos abrigos para famílias em altíssima vulnerabilidade – pessoas que estão na segunda, terceira geração de rua; um hotel pra 150 pessoas que tinham ido pra rua há pouco tempo – gente que perdeu a casa, estava com as coisas na rua, tem alguma renda. Fizemos um abrigo pra travestis e transexuais. E fizemos uma categoria de abrigo para os imigrantes.  

Nessa virada de gestão você ficou chateada de ver as coisas mudando?  
Algumas coisas mudaram bastante, especialmente o De Braços Abertos.  

Quando você está na gestão pública, não pode ter apego ao que você faz. Nós mudamos o paradigma em São Paulo para essa questão. Tanto é que um programa para 500 pessoas – dentro da dimensão de 2 milhões de habitante da cidade – virou pauta de eleição. O Doria foi eleito com a plataforma de destruir o programa, e ele cumpriu.  

Você gostou de trabalhar com o Alckmin?  
Eu o respeito muito. É um sujeito muito sério, muito íntegro. Essa é minha experiência pessoal com ele.  

Se você perguntar com quem eu tenho mais afinidade de trabalho, de pensamento, eu tenho muito mais afinidade com o Haddad. Eu tive muito mais liberdade de atuação. Não porque o Alckmin restringisse a minha liberdade de atuação, não é isso; mas eu tive muito mais afinidade, pude avançar mais no que acreditava com o Haddad.  

Qual seria sua visão crítica sobre direito constitucional no Brasil?  
Eu dou aula há 26 anos. Quando eu comecei, gostava de dizer aos meus alunos que nós estamos numa democracia, mas nós não somos uma democracia.  

Quando você sai do formal do que diz a constituição e entra na realidade das coisas, você vê uma distorção muito grande. Quando faz um estudo sobre os momentos de autoritarismo e democracia no Brasil, claramente se identifica que nós temos muitos mais anos de sistemas autoritários do que de sistemas democráticos.  

Hoje, estou muito confiante na nossa democracia. Porque eu acho que passamos por muitas turbulências nesses anos todos e nós estamos num sistema de respeito às instituições.  

Eu sou favorável, eu gosto do que o Supremo tem decidido em vários setores. Quando você pega a decisão sobre o aborto de fetos anencéfalos, sobre casamentos homoafetivos; eu adoro essas decisões do Supremo, mas quando olho criticamente, eu falo que o Supremo está decidindo em esferas que não são dele. São decisões que deveriam ser tomadas pelos representantes eleitos pela sociedade, e não por doze pessoas que não foram eleitas pela sociedade.  

Mas, a verdade é a seguinte, se eu fizer hoje um plebiscito perguntando certas coisas, a resposta que eu vou ter da sociedade é a que eu quero ouvir? Talvez não.  

Na sua família o pensamento é homogêneo?  
Não. Muito chato pensamento homogêneo. Com quem você vai discutir no almoço?  

A gente tem bons debates, mas temos uma afinidade num pensamento mais liberal. Lógico, sobre determinados assuntos eu não penso como o meu pai que é de outra geração, suas posições não são as mesmas e temos bons debates sobre essas questões. A questão de gênero, a questão de política de drogas, a gente tem posições que são diferentes. A parte boa é que existe um respeito sobre as opiniões diversas e um debate que é produtivo.  

Por exemplo, outro dia a gente teve um debate bem interessante – eu tomando uma posição, e meu pai e minha irmã outra; que era a priorização de investimentos na educação ou na saúde. Eles estavam defendendo a priorização na saúde, e eu argumentando porque eu entendia que a maior parte dos investimentos tinha que ser na educação.  

Em gênero e drogas vocês discordam?  
Na verdade, ele pensa uma política de enfrentamento da droga mais conservadora. Quando aparece um ministro como o Osmar Terra falando em internação e abstinência total, de certa forma ele endossa. É uma linha mais tradicional.  

Quanto a gênero, meu pai é uma pessoa que prega uma relação de igualdade. Nunca pregou desigualdade. Mas ele parte de um discurso de que basta a defesa da igualdade, não precisa cotas nem distinções. Nesse ponto acho que a gente tem alguma divergência.  

Como você se sentiu quando ele apresentou uma equipe ministerial composta apenas por homens?  
É uma questão um pouco de um homem mais velho que teve um convívio mais fácil a vida inteira com homens. Ele tem mais referências de homens que mulheres. Eu se fosse montar uma equipe, talvez montasse uma equipe mais feminina.  

Mas veja, Haddad, que é super moderno, tinha 3 mulheres em 27 secretarias…  

Não acho enfim que ele não tenha chamado mulheres por exclusão. Não houve pré-disposição em não chamar. Por outro lado, não houve pré-disposição em buscar um nome. Parece bobo mas isso faz diferença.  

Lembrando que partiu dele a primeira indicação de uma mulher para ocupar o cargo de procuradora do Estado, Norma Kyriakos, durante o governo Montoro.  

Acho que não lhe chegaram nomes fáceis de mulher para nomear ministras. Porque eles não chegam. Depois ele trouxe a Raquel Dodge (Procuradora Geral da República), a Flávia Piovesan (Secretaria de Direitos Humanos).  

Como você definiria a sua mãe e o seu pai?  
Eu não sei como eles casaram, pra começar! Porque são seres completamente diferentes. Minha mãe é uma pessoa que é um polo de atração, essa pessoa super generosa, super extrovertida. E meu pai é essa pessoa muito consistente, do ponto de vista intelectual, de formação; uma pessoa reservadíssima, de poucos amigos. Ele circula num universo enorme, mas amigos do meu pai eu conto nos dedos os que eu conheci na vida. Minha mãe é amiga do mundo. 

Como você atravessou esse período de turbulências políticas?  
Com muita dificuldade, não foi fácil. Ao mesmo tempo eu tive um respaldo importante dos dois envolvidos. Por um lado, eu tinha o meu pai, que estava passando por todo esse processo do impeachment e tudo mais. E havia uma cobrança que ele sofria, de “o quê sua filha está fazendo na gestão do Haddad?” E o meu pai bancou: “minha filha é uma ótima gestora, ela vai estar onde quiser”. Por um outro lado, o Haddad sofria a mesma cobrança. E a resposta do Haddad era: “ela é uma ótima gestora, e vai concluir a gestão”. Eu tive apoio dos dois.  

Conte um pouco sobre o trabalho do Instituto Liberta.  
Estamos na estrada há um ano e cuidamos de uma temática exclusiva, que é a exploração sexual de crianças e adolescentes no Brasil.  

O Brasil é o segundo país com maior índice de exploração sexual infantil e o quarto país no índice de casamentos infantis. A estimativa é de mais ou menos 500 mil meninas e meninos explorados anualmente, e a maioria têm entre 7 e 14 anos. São dados muito tristes.    



Tem casos de 7, 8 anos? Existe isso?  
Sim. Temos referências, como um livro da Eliane Trindade (“As meninas da esquina”), que conta quando as meninas começam a se prostituir. Há também a CPI da exploração sexual, com depoimentos do país inteiro de meninas muito novas que contaram os seus casos às deputadas. Vem daí os dados da nossa campanha.  

Vou te contar outro dado significativo. Quando você olha a questão da natalidade no Brasil, nosso país vem conseguindo diminuir esses índices, o que é uma grande vitória. Mas, quando você pega o recorte de meninas de 10 a 14 anos, você vê que esse índice não cai. Pelo contrário, ele tem uma leve subida. Tem alguma coisa errada nesse processo.  

Onde são os maiores focos?  
Olha, na verdade é difícil dizer onde estão os maiores focos, porque nosso instrumento de dados é o ‘disque 100’, que é o canal de denúncia do Governo Federal. Lá, umas das maiores regiões de denúncias é a Sudeste, mas isso não traduz que há mais exploração, e sim que há mais consciência.  Então, é difícil dizer exatamente onde tem. O que posso afirmar com segurança é que em todas as regiões do Brasil você tem características diferentes, especificidades regionais. Mas, há no Brasil inteiro situações diversas de exploração sexual de meninas e meninos.  

Em São Paulo temos dois polos importantes, que são o CEAGESP e o Terminal de Cargas da Fernão Dias. São conhecidos, um polo sabido pela mídia, pelo Ministério Público; não significa que tenha só esses.   

O que o instituto está fazendo efetivamente?  

A missão do instituto é de comunicação e conscientização. A gente não trabalha diretamente com os meninos e meninas explorados. Trabalhamos com campanhas nacionais e regionais que falam sobre o assunto. Costumo dizer que a grande missão do instituto hoje é fazer o Brasil falar sobre esse assunto. Enquanto não se fala, não é um problema; e se não é um problema, não se busca solução.  

Vamos falar da prostituição infantil e deixar o país constrangido com o número de crianças exploradas sexualmente, e que isso diz respeito a todos nós, não só pela questão moral, de dignidade humana, mas como custo social da gente fechar os olhos para isso.   

Você está otimista com 2018? O que espera para esse ano?  
Acho que ninguém sabe exatamente quais os rumos do mundo pra 2018. Eu sou uma pessoa otimista por natureza. Quando estou muito triste e desacreditada no mundo, penso na Idade Média, em “Os Miseráveis”, nessas coisas, e falo: olha, a gente andou. Andamos. Não todo mundo junto, não tudo igual, mas andamos.  

Quando aconteceram essas crises agudas envolvendo o seu pai, você conseguiu separar as coisas, ficar tranquila?  
Não. É muito triste, muito difícil você ver o nome do seu pai, que é uma pessoa que você conhece há 50 anos, jogado na lama.  

Quando saiu na Globo aquela primeira chamada dizendo que havia um áudio no qual meu pai dizia pra o Joesley para subornar o Cunha pra ficar calado, eu estava na rua, ouvindo o rádio. E aí eu cheguei em casa, meus filhos estavam em casa, não tinham ouvido a notícia; liguei no Jornal Nacional, e aí o meu filho virou pra mim e falou assim: “O que é isso? Você acredita? O que está acontecendo?”.  

Eu falei: “olha, meninos, eu não ouvi esse áudio, ninguém ouviu esse áudio. Mas, eu vou dizer pra vocês, eu corto os meus dois braços se o seu avô falou uma coisa dessas. Eu conheço o seu avô há 50 anos, ele jamais, em tempo algum falaria uma frase dessas.”  

Essa frase não sairia da boca dele. Porque ele é essa pessoa que eu descrevi, uma pessoa contida, reservada. Ele jamais se exporia dessa forma para ninguém.  

E, afinal, quando saiu o áudio essa frase não existia. A frase que aparece no áudio é: “Estou mantendo uma boa relação”. “Ah, você deve mesmo fazer isso”. Isto é meu pai. Ele está falando com você aqui, e às vezes ele está na lua e balançando a cabeça.  

Então, é lógico que foi muito triste, muito difícil pra todos nós. Eu sei o pai que eu tenho, eu sei o pai que me criou. E acabou.

Congresso será mais conservador e renovação, pequena, diz Diap

 “A pauta do Congresso que será eleito em 2018, com a criminalização da esquerda e o afastamento do PT do governo, tende a ser mais conservadora”, afirma o diretor do Diap, Antônio Augusto de Queiroz.


O perfil dos deputados e senadores eleitos em 2014 surpreendeu por ter sido o mais conservador desde o golpe de 1964, frustrando a expectativa criada pelas manifestações iniciadas de junho do ano anterior. Para 2018, o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) arrisca um prognóstico para o pleito de outubro e, assim, evitar nova surpresa: o fenômeno conservador será potencializado pelo aumento das bancadas ruralista, religiosa, empresarial e da bala.  

“A pauta do Congresso que será eleito em 2018, com a criminalização da esquerda e o afastamento do PT do governo, tende a ser mais conservadora”, afirma o diretor do Diap, Antônio Augusto de Queiroz.    

Toninho, como é chamado por parlamentares e jornalistas, é um dos analistas de Congresso mais ouvidos no mundo político de Brasília. O Diap foi criado há 34 anos para assessorar sindicatos de diversas categorias no acompanhamento do trabalho dos congressistas e hoje atende a 900 organizações. 

Segundo ele, o crescimento conservador deve acirrar a tensão sobre temas como a redução da maioridade penal, a revisão do estatuto do desarmamento e a imposição de barreiras a discussões envolvendo questões de gênero. “Todas as bancadas conservadoras estão se preparando para aumentar. Será um Congresso pior que o atual”, afirma. 

Renovação frustrada 

O diretor do Diap avalia também que haverá frustração no desejo de renovação do Congresso desejado pela sociedade. Este será o efeito direto de mudanças feitas pelos atuais parlamentares na legislação eleitoral. Queiroz estima uma redução no índice de renovação - abaixo dos 50% desde 1994.  

Na contramão, os atuais deputados serão beneficiados pelo menor tempo de propagada eleitoral gratuita na televisão, reduzida de 45 para 35 minutos. A diminuição do tempo de campanha de 90 para 45 dias também favorecerá deputados e senadores com mandato.  

Queiroz afirma que a mudança no modelo de financiamento - restrito ao fundo eleitoral, recursos próprios e doações de pessoas físicas - deve impedir o surgimento de novatos. “O candidato [com mandato] vai negociar com o partido que só fica [no partido] se a legenda der para ele prioridade nos recursos e espaço no horário eleitoral gratuito. Os novos [candidatos] que aspiram essa oportunidade [de ser parlamentar] não vão ter essa mesma oportunidade”, compara.  

Os prefeitos precisarão escolher entre novos e velhos aliados, que devem ser favorecidos pela distribuição de emendas parlamentares. Cada deputado tem direito a R$ 14,8 milhões por ano para destinar a cidades de sua base eleitoral. No total, as emendas formam bolo de R$ 8,8 bilhões em 2018, disputado por prefeitos de todo o país.  

A estrutura para exercício de mandato do atuais deputados e senadores é outro fator que joga contra estreantes nas urnas. “É uma série de vantagens que quem está chegando não tem – como o auxílio gasolina para rodar o estado, verba de correio, funcionários de gabinete para campanha. Como o espaço será pequeno, com o tempo de campanha reduzido, embora haja no Brasil um desenho de renovação não há condições objetivas para novatos se eleger”, sugere.  

Foro privilegiado  

O foro privilegiado será fator decisivo na decisão dos parlamentares de se candidatar à reeleição. O medo é perder prerrogativa de responder a processos no Supremo Tribunal Federal (STF), geralmente mais lento para julgar corruptos em relação às primeira e segunda instâncias.  

De acordo com o Diap, o índice tradicional de 20% de deputados que não buscam a reeleição deve cair. Com isso, a renovação será prejudicada. O cálculo é de que a cada cem deputados em reeleição, 80 conseguem renovar o votos para permanecer na Câmara. Uma peneira com mais mandatários na disputa dificulta a passagem de candidatos em busca do primeiro mandato.  

O foro deve levar alguns senadores a desistir da reeleição para tentar uma vaga na Câmara. “O que vai ocorrer é uma circulação no poder com o cara que é senador saindo para deputado”, diz o diretor do Diap.  

Serão 54 das 81 cadeiras em disputa no Senado, contra 513 vagas para a Câmara. “Na nossa simulação, devem se reeleger de 21 a 25 senadores. Será menos de 50% de reeleição”, afirma. “Haverá uma renovação a partir de celebridades, parentes [de políticos] e ocupantes de cargos públicos em outras estruturas como ex-prefeitos.”

segunda-feira, fevereiro 05, 2018

INÉDITO: Pela primeira vez, Pará passa Minas na produção de minério de ferro

O minério de ferro responde por 54,04% das exportações paraenses, enquanto em Minas Gerais reponde por 27,18%.

Via ASSOPEM

A Associação Paraense de Engenheiros de Minas (Assopem) levantou com exclusividade nesta segunda-feira (5) que, pela primeira vez na história, a produção física de minério de ferro do Pará ultrapassou a de Minas Gerais, líder da produção mineral brasileira. 

Os dados de produção física dos estados referentes a janeiro acabam de ser divulgados pelo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC). 

Em janeiro, o Pará produziu 14,1 milhões de toneladas (Mt) de minério de ferro, o que rendeu 652,92 milhões de dólares em exportações. 

É muito mais que os 11,91 Mt de janeiro de 2017, que movimentaram 638,79 milhões de dólares. Enquanto isso, Minas Gerais produziu em janeiro deste ano 11,21 Mt de ferro e movimentou 534,72 milhões de dólares, uma queda em relação ao ano passado, quando extraiu 14,06 Mt e as vendeu por 754,99 milhões de dólares. 

O minério de ferro responde por 54,04% das exportações paraenses, enquanto em Minas Gerais reponde por 27,18%. Além de inédito, o dado revela a força adquirida pelo projeto de ferro S11D, na Serra Sul do complexo minerador de Carajás, que está em franca expansão da capacidade produtiva e com previsão de atingir carga plena em 2020. 

A Serra Sul fica no município de Canaã dos Carajás. 

O MDIC aponta crescimento de 1.360% na produção de minério de ferro de S11D em janeiro deste ano frente a janeiro do ano passado. 

Na prática, o projeto adicionou pelo menos 3,5 Mt à produção conjunta das minas de Serra Norte (em Parauapebas) e Serra Leste (em Curionópolis).  

PRODUÇÃO EM 2017  

De acordo com o MDIC, as saídas de minério a partir de Parauapebas, Canaã dos Carajás e Curionópolis, municípios nos quais a mineradora multinacional Vale mantém operações, totalizaram 163,82 milhões de toneladas métricas em 2017. 

Esse dado pode não bater com o número consolidado da Vale, a ser apresentado este mês, por conta da metodologia de cálculo.  

No próximo dia 16, uma sexta-feira, antes da abertura dos mercados financeiros, a Vale vai divulgar seu relatório de produção referente ao 4º trimestre do ano passado do qual vai constar a produção do Sistema Norte, ao qual estão integradas as minas do complexo de Carajás (Serra Norte, Serra Sul e Serra Leste). 

A partir deste ano, o relatório de produção será divulgado dez dias antes do relatório de desempenho financeiro e incluirá informações sobre o desempenho das vendas no trimestre. 

Já o relatório de desempenho financeiro referente ao quarto trimestre de 2017 será divulgado no dia 27, uma terça-feira, após o fechamento dos mercados.

IMPERDÍVEL: O dia que um senador fez um raio X daquilo que mais escraviza o nosso país





Por Roberto Requião*

Há tempo que a ciência e os fatos da vida comprovam que nada é por acaso.  

No entanto, embora a ideia medieval da abiogênese, a “geração espontânea”, seja a representação paradigmática daqueles tempos trevosos, ainda hoje a proposição do espontaneísmo resiste e é amplamente aceita, quando se trata da política ou mesmo da economia.  

Diariamente, a mídia empresarial espalha a intrujice de que do acúmulo de lixo nascem insetos e ratos, que é possível originar vida de matéria não viva.  Se Humberto Eco foi assertivo ao dizer que a internet liberou infindáveis legiões de néscios, ele esqueceu de acrescentar à turma os comentaristas e ditos analistas de política e economia que infestam as televisões, rádios e jornais da mídia comercial e monopolista.  É notável a incapacidade de raciocinar, de somar dois com dois.  Gramsci dizia que não existe o canalha absoluto, que o canalha absoluto é uma criação ficcional.  Essa generosidade do filósofo que sofreu no corpo debilitado os horrores do fascismo sempre me impressionou.  Então, se concedemos que nem todos sejam canalhas plenos, integrais, resta outra suposição: a burrice córnea.  A ceratina penetrou de tal forma na cabeça dessa gente que as tornou duras, resistentes, impermeáveis à verdade dos fatos.  Se, ato contínuo à ampliação de nosso mar territorial de 12 para 200 milhas marítimas, em 1970, sob Garrastazu Médici, os norte-americanos movimentam sua IV Frota — por mais que o governo militar fosse um aliado incondicional– não o fazem para competir com os franceses na pesca da lagosta.  Se, sob Ernesto Geisel, em 1975, de repente, os Estados Unidos tornam-se guardiões dos direitos humanos e pressionam a ditadura brasileira, não é porque a tortura, os assassinatos, o desaparecimento de opositores os preocupassem, e sim os acordos nucleares do Brasil com a Alemanha.  

Mais recentemente, quando os norte-americanos grampeiam a presidente Dilma, monitoram suas conversas, perscrutam suas decisões e controlam sua comunicação com ministros, auxiliares e políticos, não estão à procura da receita de sua dieta para emagrecer.  

Quando os serviços de espionagem dos Estados Unidos invadem, vasculham, devassam todas as informações da Petrobrás, não são os Cerveró, os Duque, os Paulo Roberto Costa, os Youssef, os Barusco ou os Sérgio Machado que os mobilizam.  

A corrupção é um segredo de polichinelo, o pré-sal o prêmio.  Se, antigamente, a Escola das Américas era o centro formador dos torturadores, dos assassinos estatais, dos sabotadores dos governos populares e nacionalistas, hoje, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, em cooperação com o FBI, a CIA, a NSA, encarrega-se de seduzir, domesticar e abduzir juízes, procuradores e policias.  

E políticos é claro.  

A produção de cabos Anselmo não foi interrompida, sofisticaram-se os meios e os métodos. Ao invés dos sicários a soldo, temos os heróis de almanaques.  

Os super-juízes, os super-procuradores, e, como contrafação, já que nenhuma exageração escapa do ridículo, temos o japonês da federal. E o coreano do MBL.  

Quando o presidente Lula sanciona, em 2010, a Lei da Ficha Limpa e a presidente Dilma, em 2013, assina a Lei das Organizações Criminosas, disciplinando a delação premiada; quando se desequilibra a harmonia entre os poderes, e produz-se a hipertrofia do Judiciário, do Ministério Público e da Polícia Federal; quando o presidencialismo de coalizão cede a um Parlamento que se transformou em mandalete dos financiadores de campanha; quando o presidente Lula coloca no Banco Central e no Ministério da Fazenda homens de confiança do mercado financeiro; quando a presidente Dilma, na crise política após as jornadas de 2013 e a eleição de 2014, adota políticas neoliberais, aprofundando a crise; quando tanto um como outro presidentes constrangem-se diante das pressões da mídia monopolista e comercial e fogem de adotar aqui as mesmas legislações que os norte-americanos e alguns países europeus  adotaram para democratizar os meios de comunicação; quando tudo isso somado produz um salto qualitativo, temos o golpe e seu corolário de horrores: a alienação da soberania nacional, a entrega do petróleo, dos minérios, das terras, da água, a destruição da República Social, a sabotagem da Petrobrás, as privatizações.  

E o aceleramento da marcha da desindustrialização e da precarização da ciência e da tecnologia.  

Na divisão internacional do trabalho é o papel que nos reservam: celeiro do mundo, exportador de grãos e de matérias primas minerais, fornecedor de petróleo. E de água!  

Afinal, vimos em Davos a Nestle e a Coca-Cola renovarem a cobiça pelo aquífero Guarani, uma das maiores reservas de água doce do planeta.  

Senhoras e senhores, esses são os fatos da realidade. Essa é a verdade que os fatos revelam, por mais que o cinismo e a estultícia da grande mídia tentem perverter e adulterar a natureza das coisas.  

Como antídoto para o massacre diário do discurso antinacional, antidemocrático e antipopular que se estabeleceu no país, quero oferecer um texto do professor de Filosofia da Universidade Federal do Espírito Santo, Maurício Abdala, publicado no “Le Monde Diplomatique”.  

Os 13 pontos do professor Abdala são uma leitura necessária para quem ama o Brasil e acredita que ainda é possível vencer esses tempos tão sinistros da nossa história.  

Vamos ao contraveneno às sandices daqueles que acreditam que do lixo que produzem é possível brotar alguma vida.  

Vamos lá.  

1 – O foco do poder não está na política, mas na economia. Quem comanda a sociedade é o complexo financeiro-empresarial com dimensões globais e conformações específicas locais.  

2 – Os donos do poder não são os políticos. Estes são apenas instrumentos dos verdadeiros donos do poder.  

3 – O verdadeiro exercício do poder é invisível. O que vemos, na verdade, é a construção planejada de uma narrativa fantasiosa com aparência de realidade para criar a sensação de participação consciente e cidadã dos que se informam pelos meios de comunicação tradicionais.  

4 – Os grandes meios de comunicação não se constituem mais em órgãos de “imprensa”, ou seja, instituições autônomas, cujo objeto é a notícia, e que podem ser independentes ou, eventualmente, compradas ou cooptadas por interesses. Eles são, atualmente, grandes conglomerados econômicos que também compõem o complexo financeiro-empresarial que comanda o poder invisível. Portanto, participam do exercício invisível do poder utilizando seus recursos de formação de consciência e opinião.  

5 – Os donos do poder não apoiam partidos ou políticos específicos. Sua tática é apoiar quem lhes convém e destruir quem lhes estorva. Isso muda de acordo com a conjuntura. O exercício real do poder não tem partido e sua única ideologia é a supremacia do mercado e do lucro.  

6 – O complexo financeiro-empresarial global pode apostar ora em Lula, ora em um político do PSDB, ora em Temer, ora em um aventureiro qualquer da política. E pode destruir qualquer um desses de acordo com sua conveniência.  

7 – Por isso, o exercício do poder no campo subjetivo, responsabilidade da mídia corporativa, em um momento demoniza Lula, em outro Dilma, e logo depois Cunha, Temer, Aécio, etc. Tudo faz parte de um grande jogo estratégico com cuidadosas análises das condições objetivas e subjetivas da conjuntura.  

8 – O complexo financeiro-empresarial não tem opção partidária, não veste nenhuma camisa na política, nem defende pessoas. Sua intenção é tornar as leis e a administração do país totalmente favoráveis para suas metas de maximização dos lucros.  

9 – Assim, os donos do poder não querem um governo ou outro à toa: eles querem, na conjuntura atual, a reforma na previdência, o fim das leis trabalhistas, a manutenção do congelamento do orçamento primário, os cortes de gastos sociais para o serviço da dívida, as privatizações e o alívio dos tributos para os mais ricos.  

10 – Se a conjuntura indicar que Temer não é o melhor para isso, não hesitarão em rifá-lo. A única coisa que não querem é que o povo brasileiro decida sobre o destino de seu país.  

11 – Portanto, cada notícia é um lance no jogo. Cada escândalo é um movimento tático. Analisar a conjuntura não é ler notícia. É especular sobre a estratégia que justifica cada movimento tático do complexo financeiro-empresarial (do qual a mídia faz parte), para poder reagir também de maneira estratégica.  

12 – A queda de Temer pode ser uma coisa boa. Mas é um movimento tático em uma estratégia mais ampla de quem comanda o poder. O que realmente importa é o que virá depois.  

13 – Lembremo-nos: eles são mais espertos. Por isso estão no poder.  

Senhoras e senhores, Brasileiros, os pressupostos estão aí. Mas essa compreensão incisiva da realidade obriga-nos um passo seguinte: a ação.  

Depois que Hitler invadiu a França, despojando-a de sua soberania, anulando-a como nação, Charles de Gaulle chamou seus compatriotas à resistência, acima dos interesses de cada um.  

O que estava em jogo era a existência do país, seus valores, suas tradições, suas crenças, sua identidade.  

Até mesmo os contrabandistas que tão bem conheciam as fronteiras da França, até eles foram convocados à grande tarefa de libertação do país.  

Não estou insinuando que, no caso da grande tarefa de libertação do Brasil, até corruptos devam ser convocados, mesmo porque boa parte deles estão de papo para o ar, refestelados nos milhões com que foram premiados pela delação.  

Convoco os homens e as mulheres que amam este país, que abominam a corrupção e o entreguismo.  Que rejeitam ser escravos do dinheiro; que não aceitam a prevalência do capital financeiro sobre o capital produtivo.  

Que não querem ver esse país tão rico transformado em uma plantation colonial, a ofertar ao mundo desenvolvido grãos, minérios, petróleo, terras e água.  

Que não querem ver os nossos trabalhadores transformados em mão de obra semiescravizada, para o desfrute global.  

Com Shakespeare e Henrique V, antes da batalha de Agincourt, encerro dizendo: aqui estão os brasileiros que deviam estar.  

E os que não estiverem vão se arrepender até o fim de suas vidas não terem estado conosco.  

Nada temos a perder, pois o que tínhamos está sendo surrupiado, desbaratado e vendido a preço de banana pelos entreguistas do Brasil, com a prestimosa colaboração de alguns tolos que se arvoram em heróis da pátria.  

*Roberto Requião é senador da República, no segundo mandato. Foi governador do Paraná por três mandatos, prefeito de Curitiba, secretário de estado, industrial, agricultor, oficial do exército brasileiro e advogado. É graduado em direito e jornalismo com pós graduação em urbanismo e comunicação

Helder Barbalho é um dos ministros milionários de Temer que têm bolsa-ajuda para comer e morar




Figurando na lista de políticos mais ricos do país, ministros de Michel Temer ganham ajuda mensal dos cofres públicos para morar e comer.  

Alexandre Baldy, titular das Cidades, tem à sua disposição um apartamento funcional de mais de 200m, apesar de ser dono de casa em um dos pontos mais valorizados da capital federal.

Em 2016 o ministro comprou um imóvel no Lago Sul de Brasília por R$ 7,6 milhões.  Mesmo assim, continuou tendo um apartamento da Câmara a seu dispor —Baldy se licenciou do mandato de deputado em novembro para assumir o novo cargo.  

A Folha visitou o prédio e constatou com funcionários que Baldy é pouco visto no imóvel público, que seria usado, na verdade, por assessores.  

Em resposta à Folha, o ministro afirmou, por meio de sua assessoria, que o funcional vinha sendo usado "com o objetivo de dar suporte às atividades funcionais que não são realizadas em sua residência para preservar a rotina e necessidades de seus filhos, esposa e demais familiares".  

Baldy afirmou ainda que, apesar disso, não vê mais necessidades de uso do apartamento, "o qual já acredita ter sido entregue para a Câmara". A Casa informou que o ministro ainda não havia feito a devolução até esta sexta (2).  

Lei federal que trata de ajuda para moradias a ministros veda o recebimento de benefício por aqueles que têm imóvel próprio na capital federal.  

O ministro das Cidades declarou em 2014 ter bens que somavam R$ 4,2 milhões. Ele é casado com uma ex-integrante do bloco de controle da Hypermarcas.  

'COMBATER PRIVILÉGIOS' 

Outro ministro milionário que recebeu ajuda pública para morar e comer é o chefe da equipe econômica e um dos condutores do discurso governista pelo fim dos privilégios.  

Henrique Meirelles (Fazenda) recebeu, desde que virou ministro, em 2016, R$ 7.337 de auxílio-moradia e R$ 458 de vale-refeição todo mês.  

Só quando cresceram as movimentações para lançá-lo à corrida presidencial o ministro decidiu abrir mão da ajuda para moradia. Desde novembro ele não tem o auxílio, mas ainda recebe o de alimentação.  

A remuneração mensal de Meirelles é de R$ 30.934, o equivalente a mais de 32 salários mínimos.  O ministro declarou publicamente seu patrimônio pela última vez há 15 anos, quando se candidatou a deputado federal. Na ocasião, já acumulava R$ 45 milhões em bens, incluindo uma casa em Nova York.  

Ex-presidente mundial do BankBoston, Meireles recebeu em 2015 e 2016 mais de R$ 200 milhões por consultorias a empresas, entre elas a J&F, dos irmãos Batista.  

No último programa do seu partido, o PSD, o ministro foi à TV dizer que o Brasil tem um "enorme dívida social" e que é preciso "combater privilégios e distribuir renda".  

Blairo Maggi (Agricultura) também integra a lista de ministros milionários, já que foi citado em reportagem de 2014 da revista "Forbes" como segundo político mais rico do país, dono de patrimônio de US$ 1,2 bilhão (R$ 3,85 bi).  

Empresário do agronegócio, Maggi (PP) declarou em 2014 à Justiça Eleitoral bens que somam R$ 143 milhões. Como senador licenciado, ele também tem a seu dispor imóvel funcional em Brasília.

Os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Helder Barbalho (Integração Nacional) também recebem auxílio-moradia e vale-refeição. Em suas últimas declarações de bens, Padilha (2010) e Helder (2014) informaram bens em valores superiores a R$ 2 milhões.  

Dono de bens declarados no valor de R$ 6,5 milhões em 2014, Gilberto Kassab (Ciência e Tecnologia) recebe, todo mês, R$ 458 de auxílio para alimentação.  

A Folha mostrou nos últimos dias que integrantes da cúpula do Judiciário (26 ministros de três tribunais superiores) recebem auxílio-moradia mesmo tendo imóvel próprio na capital federal.  

Os juízes que estão à frente dos processos da Lava Jato no Paraná —Sergio Moro— e no Rio de Janeiro —Marcelo Bretas— também são beneficiados mesmo tendo moradia própria na cidade onde trabalham.

Crise: Edmilson Rodrigues perde seu braço esquerdo no PSOL

Luiz Araújo deixou o PT para fundar o PSOL, onde viveu até então organizando a corrente interna "Primavera Socialista" e supostame...