terça-feira, junho 02, 2015

Belém convida o ativismo digital brasileiro para o II AmazonWeb

Por do Sol na orla da Baia do Guajará, em Belém do Pará. 

Belém é uma megalópole fincada no seio direito da amazônia brasileira, que traz a contradição no corpo e n'alma de seu povo, tanto os herdeiros dos nativos, quanto dos que fizeram deste solo, frutífero e de clima tropical que queima e umidifica, seu habitat surreal. 

Se o asfalto encobriu as pedras portuguesas trazidas pelos invasores que colonizaram a cidade e ergueram estranhas catedrais, sob os escombros das ocas tribais que aqui vivam em paz, com a mãe natureza, o mangue sucumbiu primeiro.

As centenárias mangueiras que adornam e fazem a sobra que alivia o calor do centro da pólis, com suas peças trazidas da Europa, quando o ciclo da borracha era pulsante e ostentava riquezas e caprichos dos burgueses, ainda que velhas, trazem o charme para os poucos quilômetros por onde a berlinda desliza no mar de gente que toma suas principais avenidas, todos os meses de Outubro, onde milhões de rezadores em busca de seus milagres e rendendo agradecimentos em forma de promessas, inundam a cidade que exala maniva, tucupi e outros ingredientes indígenas, que hoje encantam os chefs da alta culinária internacional.   

Em meio ao espetáculo da natureza (física e humana) e do caos urbano, Belém será novamente palco do II AmazonWeb, o Fórum do Ativismo Digital da Amazônia.

Saiba o que foi e conheça A Carta da Amazônia, aprovada no I AmazonWeb.




#PutaDei2015Belém



Há muitas lendas sobre as borboletas e uma delas conta que se você, suavemente, capturar uma, sussurrar um desejo para ela e, em seguida, deixá-la ir, ele se realizará. Acredita-se que as borboletas transformam sonhos em realidade. Mas, infelizmente, algumas delas são presas e silenciadas.

Assim como as borboletas, nós, trabalhadoras do sexo, muitas vezes somos silenciadas por causa da falta de entendimento, opressão e estigma na sociedade. Desse modo, somos impedidas de transformar em realidade um sonho em comum para todos: viver em uma sociedade sem discriminações.

E nessa simbologia o PutaDei 2015 propõe ampliar as vozes oriundas das esquinas e que lutam por liberdade e por direitos. Uma luta diária pela dignidade, reconhecimento do ofício perante a legislação brasileira e garantia de seus direitos.

O dia 2 de Junho consegue agregar diversas formas de manifestações que perpetuam o grito das mulheres francesas realizado em 1975 e, atualmente, das prostitutas daqui do bairro da Campina, da Região Metropolitana de Belém e de nosso diverso Brasil. E também como o de todas as mulheres que sofrem repressão no mundo inteiro por serem mulheres, prostitutas e trabalhadoras.

A HISTÓRIA DO EVENTO

O PutaDei se tornou um dia conhecido nacionalmente e, em suas três edições, pretendeu a reconstrução cotidiana e positiva das prostitutas. No primeiro ano, em junho de 2012, foi significativo em apresentar a construção do Núcleo de Comunicação, criar o Blog das Esquinas e lançar a primeira Campanha “Não deixe a Luz da esquina se apagar”.

Tudo isso foi um envolver de parceiros do bairro da Campina em uma programação que aconteceu em vários espaços culturais que existem nesse famoso quadrilátero da zona em Belém, com o intuito de agregar e de quebrar estigmas.

Em Junho de 2013, fomos além de nossas esquinas, a palavra foi Multiplicidade, um mosaico de diferenças e heterogeneidades. Em sua realização abrimos portas para que todos se sintam construtores deste grupo e deste ato político.

Teve debates, atos que uniram a arte e cultura, reflexões com as putas, ativistas e comunicadores. Foi um convite para endossar esse grito pelo fim do preconceito e por melhorias para a classe.

Em junho de 2014, o Puta Dei Brasil seguiu além das esquinas paraenses e ocupou algumas localidades como Minas, Rio de janeiro, Niterói, Campinas, São Paulo e quem mais quis participar. Assim, houve uma busca na afirmação e ressignificação da relação da classe com a sociedade.

Este ano, com o tema #ZeroDiscriminação: Junte-se a transformação, vamos ousar e propor zerar a discriminação, que é fruto da falta de informação. Assim, podemos construir juntos o nosso Puta Dei deste ano, que acredita e defende a multiplicidade.

Texto: Ascom Gempac.

Vai ter troco: Belém tem negada novamente a chance de ser melhor e mais bela


O espaço era onde funcionava o antigo órgão responsável pela fiscalização municipal. Uma reforma em 1985, deu à construção em estilo neoclássico, o papel de restaurante e espaço cultural da cidade. Depois virou um espaço misto, de múltiplos usos: abrigava o Museu do Índio e parte da administração da Feira do Ver-o-Peso, servindo também de base para guardas municipais e tinha banheiros abertos 24 horas por dia, geridos por uma cooperativa.

Apesar de ter sido tombado como patrimônio histórico e cultural, o Solar da Beira estava abandonado, sujo e sendo usado como esconderijo de assaltantes, para consumo de drogas e até estupros.

Aí um grupo de produtores culturais, resolve lavá-lo e ocupá-lo e o espaço que faz parte do Complexo do Ver-o-Peso, desde o último dia 08 de maio, foi reconfigurado com uma intervenção artística, que promoveu cursos, oficinas, aulas públicas, espaço de convivência artística, com exposições, shows e apresentações de teatro, fotografia, cinema e música. Recebeu inúmeras caravanas de escolas públicas e de universidades da Região Metropolitana de Belém.

Um blog e uma página de evento no Facebook foram criadas para mobilizar e divulgar a programação que foi se construindo de forma auto-gestionada e colaborativa, com a seguinte mensagem de apresentação:

De 09 a 17 de maio o Solar da Beira, na feira do Ver-o-Peso, será mais uma vez ocupado! É o Solar das Artes, que envolve mais de cem artistas em um movimento de afeto, política e contestação sobre o uso dos espaços públicos em Belém. Serão propostas diversas ações político-culturais completamente gratuitas para a comunidade da feira e os públicos em geral. Múltiplas linguagens e experiências urbanas.









Num gesto insano, o prefeito de Belém, Zenaldo Coutinho, insatisfeito com a nova utilização do espaço, entrou na justiça e ganhou, na famosa e conservadora justiça (?) paraense, o direito de reiteração de posse do local, que é público, mas envergonhava o principal cartão postal e ponto turístico de Belém: O ver-o-Peso.


A matéria publicada no jornal Diário do Pará dá conta do fim da brincadeira cidadã: 

Foram 19 dias de ocupação no Solar da Beira, um velho casarão entregue à ação do tempo no Ver-o-Peso. A arma usada foi a arte para combater o abandono, o desprezo, a falta de zelo com o patrimônio público, com nossa história e memória. Se a prefeitura não fez, a sociedade tomou as rédeas, movida por um impulso de que a arte salva. Mas nesta segunda-feira (1º), às 9h, essa primeira batalha chega ao fim, ainda sem um final feliz.

Neste horário, cerca de 115 artistas que se revezavam nessa ocupação do Solar da Beira saem definitivamente do local, depois de uma programação de desocupação que iniciou às 19h de domingo com uma intensa programação cultural. Mesmo com a saída espontânea, eles receberam ontem uma ordem de reintegração de posse expedida pela juíza Margui Bittencourt.


Porque um prefeito que se elegeu com a promessa de devolver à cidade, seu potencial turístico, ao invés de incentivar a ação dos produtores, artistas e ativistas que ocuparam e produziram arte e cultura de forma marcante, pode ter a coragem de embargar a ação cidadã e expulsá-los do local?

Teria sido o temor de que este fato, entre tantos outros, servir de arma contra sua reeleição, já que vivemos em um sistema político mesquinho e extremamente polarizado, onde qualquer vacilo é amplificado ao máximo? 

Se pensou em se proteger disso, não teria sido mais inteligente, diplomático e civilizado, que ao invés de ter solicitado à justiça a reintegração de posse do local, ter recebido uma comissão dos ocupantes e assinado um acordo de utilização do espaço até que coloque seu plano de revitalização do Solar da Beira, dando assim a chance de Belém ter por mais alguns dias, um local público que inspirava e transbordava por suas 'beiras', o que temos de melhor e mais belo em nossa cidade? 

Tens twitter? O meu é @JimmyNight

Para quase metade dos brasileiros, imprensa é pessimista

Florestan: Minha dúvida é saber quem vai acabar primeiro: a indústria da comunicação ou o partido que eles tanto odeiam.

Confira o artigo "Ibope confirma terrorismo da mídia" no blog do Altamiro Borges.

O Ibope Inteligência publicou na semana passada os resultados de uma pesquisa que comprovam o poder destrutivo da mídia nativa. O instituto sondou a percepção dos brasileiros sobre a realidade do país. Quase a metade dos entrevistados afirmou estar pessimista com o futuro. O interessante é que a maioria demonstrou profundo desconhecimento sobre a economia, o que levou o insuspeito Ibope a concluir: “Os veículos de comunicação podem ter culpa no sentimento de pessimismo dos brasileiros: 41% acham que a imprensa mostra uma situação econômica mais negativa do que o próprio entrevistado percebe no seu dia a dia, contra 28% que discordam dessa posição”.

Segundo matéria postada no site do instituto na sexta-feira (29), 48% dos sondados “dizem que estão pessimistas com o futuro do Brasil. Os otimistas somam 21%, enquanto 28% não estão nem otimistas nem pessimistas e 2% não sabem ou preferem não responder. Os entrevistados também foram questionados quanto às áreas nas quais o país tem os maiores problemas. A saúde aparece em primeiro lugar, quando somadas às três principais menções dos entrevistados, com 61% das citações. Na sequência estão segurança/violência (37%), drogas (35%), educação (34%) e combate à corrupção (27%)”. Até ai nada de anormal. Afinal, o Brasil não é mesmo um paraíso e padece de inúmeros e crônicos problemas.

O interessante é quando o Ibope pergunta sobre desemprego ou inflação. Demonstrando total desinformação, “boa parte dos brasileiros (43%) acha que a inflação atual é maior do que era no governo de Fernando Henrique Cardoso, contra apenas 22% que pensam o contrário. No fim de 2002, último ano de FHC na presidência, o IPCA foi de 12,5% [bem superior ao do governo Dilma]. A maioria dos brasileiros também desconhece a atual taxa de desemprego do país, que foi de 6,4% em abril”. No triste reinado dos tucanos, o desemprego bateu recordes, beirando os 20% da População Economicamente Ativa. Daí a conclusão do Ibope de que a mídia “pode ter culpa no sentimento de pessimismo dos brasileiros”. Pode?

No governo neoliberal de FHC, jornalões, revistonas e emissoras de rádio e tevê bajularam a política econômica rentista e justificaram os altos índices de desemprego, a regressão trabalhista e o congelamento dos salários. Já nos governos Lula e Dilma, as manchetes sempre são terroristas. Os urubólogos de plantão – alguns deles com notórias ligações com os abutres do capital financeiro – só realçam os aspectos negativos e escondem os avanços na geração de emprego e renda e nas políticas sociais nos últimos 12 anos. Esta onda terrorista amplia o pessimismo na sociedade e afeta o próprio crescimento da economia. Ela atinge inclusive as empresas de comunicação, que perdem anunciantes e demitem jornalistas.

A opção pelo terrorismo econômico é política – em detrimento dos próprios negócios empresariais. Como observou o jornalista Florestan Fernandes Júnior, em postagem em sua página no Facebook nesta segunda-feira (1), esta linha editorial chega a ser suicida. Vale conferir seu texto:

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Segundo o Ibope: 41% dos brasileiros acham que imprensa mostra uma situação econômica mais negativa do que a realidade. Pra não entrar na TPN (tensão pré-noticia) agora sou seletivo no que vejo, leio e escuto. Revistas e jornais, dou uma folhada rápida, rádios só de música, telejornais o Repórter Brasil, o do Heródoto Barbeiro na Record News e às vezes o Jornal da Record. Passeio o dia inteiro pelos portais rindo das manipulações grotescas de alguns deles. 

Nossa imprensa faz tempo abriu mão do bom jornalismo, de maneira geral virou panfletária e presta um desserviço para a Nação. A boa informação é um direito do cidadão em qualquer país civilizado do planeta, menos aqui. Os senhores da comunicação estão atirando no próprio pé, o pessimismo alardeado por eles levou a um corte nas campanhas publicitarias. Resultado: demissões em massa nas redações, empresas de comunicação fechando ou sendo vendida para igrejas evangélicas. Minha dúvida é saber quem vai acabar primeiro: a indústria da comunicação ou o partido que eles tanto odeiam.

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segunda-feira, junho 01, 2015

Dúvidas sobre o real motivo da morte de professor paraense em greve

Porque chamar de boato uma probabilidade que poderia ser considerada e porque não dizer, deveria ser averiguada?

Pairam dúvidas sobre o que poderia ter desencadeado o infarto fulminante, que ceifou a vida do professor Aldyr Araújo, na manhã deste sábado (30). Há suspeitas de que sua morte esteja associada ao processo de tensão, com que a situação de greve que ele e muitos professores vivenciaram sexta-feira (29), ao receberem seus contra-cheques com descontos. 

O fato, considerado pelo SINTEPP como uma retaliação do governo contra a greve, revoltou milhares de educadores paraenses, que convocados pelo sindicato, foram no mesmo dia ao Hangar, protestar contra a medida. Lá, chamaram o governador de ladrão e conseguiram a promessa de suspensão dos descontos em folha.

Avaliando a repercussão do caso e os inúmeros comentários expostos nas redes sociais, o blog se pôs a pensar: Por acaso, já foi expedido algum laudo ou declaração de especialistas dizendo que o infarto fulminante não pôde ser motivado por fortes emoções e acúmulo de estresse?

A medicina nos mostra casos muito parecidos, onde mesmo sem ninguém notar, pessoas morrem de forma silenciosa e praticamente sem reações facilmente notáveis. Por isso, é possível dizer que nem mesmo seu familiares, não teriam condições de afirmar, se o professor foi vítima ou não de um processo desencadeado por estresse, muito menos os leigos sindicalistas que propagam a todo custo a tese de que isso é boato.

Porque chamar de boato uma probabilidade que poderia ser considerada e porque não dizer, deveria ser averiguada?

Algum receio?

Há quem compartilhe da opinião de foi um covardia e falta de respeito e consideração, por parte de alguns diretores do SINTEPP, que usaram seus perfis nas redes sociais para fazerem insinuações e acusar setores da imprensa paraense de terem criado "boato" sobre a morte do professor, sendo que a informação surgiu de amigos que conviveram e sabiam que a saúde de Aldyr não constava de nenhum problema e o quanto ele era ligado, sensível e atuante nos processos de luta da categoria.

Entre as grandes empresas de mídia existentes no Estado, apenas uma noticiou o ocorrido (leia aqui e aqui), neste caso, a Rede Brasil Amazônia de comunicação, com sua TV de mesmo nome, o jornal Diário do Pará e seu portal, o Diário OnLine, os únicos que dão voz e espaço ao SINTEPP, em suas lutas contra o poder de comunicação dos governos estadual e municipais, assim como os grupos de comunicação aliados destes, nas greves ocorridas nos últimos anos. Até agora o blog não tem certeza se houve alguma nota publicada nos jornais Amazônia Jornal e OLiberal, mas percebeu que na TV, o Jornal Liberal 1ª edição, que em tese deveria mostrar o caso, mas não o fez.

Na opinião deste blog, tanto o governo, quanto a direção do sindicato, não possuem argumentos científicos e muito menos, o mínimo interesse em debater este assunto, talvez com receio de que esta tese, caso seja melhor apurada, e confirmada, os coloquem em situação delicada e de co-responsabilidade pela morte prematura do educador.

sábado, maio 30, 2015

As velhas e as novas tendências e iniciativas do PT-PA


A notícia encontrada na coluna Repórter Diário, do jornal Diário do Pará deste sábado (30), revela a ruptura do grupo do ex-vereador Marquinho, historicamente ligado à DS - Democracia Socialista, tendência interna do PT dirigida no Estado do Pará pela ex-governadora Ana Júlia e o ex-deputado federal Cláudio Puty.

Ainda sem definição se permanece ou não no bloco da Mensagem ao Partido, hegemonizado no Pará e no Brasil pela DS, a nova tendência pode ser a válvula de escape para militantes que andam insatisfeitos com o distanciamento e falta de organicidade do grupo, que hegemonizou o governo Ana Júlia 2007/2010 e logo depois do fim do mandato petista, viu surgir a polarização entre Puty e Ana. Dali em diante, ambos articularam suas candidaturas para a Câmara Federal e o resultado é sabido por todos: Puty não se reelegeu e Ana Júlia também não logrou êxito.

Mas se alguém acha que a situação da DS é caótica, precisa saber como anda o clima na Unidade na Luta, do senador Paulo Rocha e do ex-deputado federal Miriquinho Batista, ou na Articulação Socialista do deputado federal Beto Faro e do deputado Estadual Carlos Bordalo

Das maiores e significativas tendências, a única que anda mantendo um ar de unidade estratégica, seus problemas internos reservados e não se esfacelou após o último PED - Processo de Eleições Direitas, realizado em 2013, foi o PT pra Valer, hoje denominada Construindo um Novo Pará. As demais não somam força a ponto de serem consideradas pelos dirigentes das tendencias que comandam o partido no Pará, como o "PT de letrinhas". São elas o Partido de Lutas e de Massas, PTLM, Articulação de Esquerda e o Movimento PT.



A única novidade neste cenário, que surge como alternativa agregadora de Gregos e Troianos insatisfeitos com os caminhos traçados pelo PT, mas sai da condição de vítima e reconhece os avanços e responsabilidade de todos é o Fórum da Militância Petista. Propositivos em relação ao fortalecimento do conjunto partidário, a inteligente iniciativa parte de um conjunto de lideranças petistas, que independente das direções das tendências, reúne filiados, simpatizantes e lideranças sindicais e populares da base de todas os grupos do PT e que por isso, vem promovendo importantes debates com a militância petista de vários municípios, inclusive online.

Como a iniciativa ainda é muito recente e parte da Região Metropolitana para o interior, o Fórum planeja ampliar, fomentando debates, seminários, oficinas e atividades de formação política em todos os municípios paraenses, porém sem a pretensão de ser "mais um grupo ou tendência" no partido e sim um autêntico fórum permanente de debates sobre os rumos, ações e as políticas públicas que o PT discute e apresenta à sociedade.

"O ambiente digital está alterando nosso cérebro de forma inédita", diz neurologista britânica

Susan Greenfield, especialista em fisiologia cerebral, diz que estamos cada dia mais dependentes de redes sociais e videogames e prevê um futuro sombrio para os "nativos digitais", geração que passará a vida inteira online.

Na Veja.

Para a neurocientista britânica Susan Greenfield, o admirável mundo novo da internet e das redes sociais não é tão admirável assim. Videogames e redes sociais estão, na visão dela, criando uma nova geração - a de "nativos digitais" - que vai passar a maior parte de sua vida online. E isso não é bom, segundo ela. "As crianças que estão crescendo agora nesse ambiente do ciberespaço, não vão aprender como olhar alguém nos olhos, não vão aprender a interpretar tons de voz ou a linguagem corporal", disse em entrevista ao site de VEJA, concedida em sua passagem pelo Brasil para falar na Conferência Fronteiras do Pensamento, em São Paulo e Porto Alegre.

Susan, de 52 anos, autora de livros como The Private Life of the Brain (A Vida Privada do Cérebro, sem edição no Brasil), afirma que há um grande risco de as pessoas passarem a viver suas vidas exclusivamente em ambientes virtuais. "Um estudo americano, de 2010, mostrou que mais da metade dos adolescentes entre 13 e 17 anos gastava mais de 30 horas por semana na internet. São quatro ou cinco horas por dia não andando na praia, não dando um abraço em alguém, não sentindo o sol no rosto, não subindo em uma árvore, não fazendo todas as coisas que as crianças costumavam fazer."

Outra comparação feita pela neurocientista, que também é professora de Farmacologia na Universidade de Oxford, é entre as redes sociais e a indústria do cigarro. De acordo com ela, assim como as produtoras de tabaco negavam o poder viciante do cigarro, o mesmo ocorre hoje com as companhias que lucram com o uso das redes sociais e videogames. "É preciso admitir que existe um problema", diz ela, citando estudos que relacionam a utilização intensiva de redes sociais com a liberação de substâncias estimulantes no cérebro.

Apesar de enxergar com pessimismo um mundo em que estejamos conectados a maior parte do tempo, Susan diz que não adianta proibir crianças e adolescentes de usar videogames e redes sociais. "É preciso oferecer um mundo tridimensional mais interessante para eles."

A internet afeta o cérebro? Todos estão interessados em saber como as tecnologias digitais, especialmente a internet, afetam o cérebro. A primeira coisa a saber é que viver afeta o cérebro. O cérebro muda a todo instante de nossas vidas. Tudo que é feito durante o dia vai afetar o cérebro. A razão disso é que o cérebro humano se desenvolveu para se adaptar ao ambiente, não importando qual fosse esse ambiente. É interessante notar que agora o ambiente é muito diferente, de maneira sem precedentes.

Como a imersão num ambiente virtual pode afetar o cérebro? Há várias perguntas diferentes a serem respondidas. Eu acho que há três grupos abrangentes. O primeiro é o impacto das redes sociais na identidade e nos relacionamentos. O segundo é o impacto dos videogames na atenção, agressividade e dependência. E o terceiro é sobre o impacto dos programas de busca no modo como diferenciamos informação de conhecimento, como aprendemos de verdade. É claro que há muitos estudos que ainda precisam ser feitos, mas certamente há cada vez mais evidências sobre aspectos positivos e negativos. 
Por exemplo, já foi demonstrado que jogar videogames pode ser similar a fazer um teste de QI. Pode ser que o aumento de QI visto em alguns testes aconteça graças à repetição de uma certa habilidade ao jogar videogames. Agora, só porque vemos um aumento de QI em quem joga videogames não quer dizer que haja um aumento de criatividade ou capacidade de escrita. Também se sabe, por alguns estudos, e por exames de imagem, que os videogames aumentam áreas do cérebro que liberam dopamina. Também sabemos que, em casos extremos, nos quais as pessoas gastam até 10 horas por dia na frente da tela, existe uma forte correlação com anormalidades em exames cerebrais. Como costumamos dizer, uma andorinha só não faz verão. Então é importante fazer mais estudos. Isto não é definitivo, em se tratando de ciência nada é definitivo, por isso é importante começar a fazer pesquisa básica porque, até agora, está claro que coisas boas e coisas ruins estão acontecendo de um modo que não haviam acontecido em gerações passadas.

Existe um limite de tempo seguro para navegar na internet? É claro que muitos pais já me perguntaram: 'com que frequência meus filhos devem usar a internet? Até quando é seguro?' O que acontece na Inglaterra, acho que aqui também, é que alguns pais falam para os filhos 'façam uma pausa a cada 10 minutos'. Mas eu não conheço ninguém que no meio do jogo pensa 'está na hora da minha pausa de 10 minutos'. Minha sugestão é agradar as crianças, em vez de dizer 'você só jogar por uma ou duas horas, ou você simplesmente não pode jogar.' Não seria melhor se a criança decidisse sozinha que não quer jogar? E por que eles fariam isso? Porque o que você vai oferecer a ele é muito mais excitante, muito mais agradável, muito mais interessante, do que esse jogo. É um desafio, mas o que temos que fazer é tentar pensar em maneiras, não tentar negar a tecnologia. Nós podemos, na nossa sociedade maravilhosa, com toda essa tecnologia, com todas as oportunidades que temos, dar aos nossos filhos um mundo tridimensional interessante para viver.

Há quem associe o aumento da incidência do transtorno de déficit de atenção e da hiperatividade (TDAH) ao uso da internet pelas crianças. Essa ligação faz sentido? Está havendo um crescimento alarmante de TDAH. Sabemos que a prescrição de drogas como ritalina, usadas para TDAH, triplicaram, quadruplicaram nos últimos 10 anos. É claro que isso é muito. A condição pode estar sendo mais diagnosticada ou pode ser que os médicos estejam prescrevendo mais os remédios. Há, porém, outro fator importante: a causa pode ser as tecnologias digitais.

Por que culpar a internet e não a TV, por exemplo? Algumas pessoas dizem que a TV é a mesma coisa que a internet. Mas já se mostrou que não é o caso. Há uma grande diferença para o que fazemos na internet, que é altamente interativa e também tende a ser mais estimulante. Nós também sabemos que, quando se joga videogame, uma substância química no cérebro relacionada com o estímulo, chamada dopamina , é liberada. O que é interessante é que, quando se toma ritalina, a dopamina também é liberada. Então, agora as pessoas estão pensando que talvez as crianças estejam viciadas em videogames. E estão medicando essas crianças porque elas teriam TDAH, e estão fazendo, embora não façam ideia, com que haja mais dopamina no cérebro. Então certamente há uma ligação entre TDAH e videogames, mas precisamos entender mais sobre os mecanismos cerebrais para entender como isso funciona.

Como a senhora acha que a geração atual será no futuro? É interessante pensar no caráter, nas aptidões da próxima geração, os cidadãos da metade do século 21. Eu acho que haverá coisas boas e coisas ruins. Imagino que talvez eles tenham um QI maior e uma boa memória. Acho também que eles correrão menos riscos que nossa geração - isso pode ser tanto bom quanto ruim. Por um lado, ninguém quer pessoas que nunca se arriscam, que são excessivamente precavidas, mas, por outro lado, também não queremos pessoas inconsequentes. Infelizmente, também acho que essa geração terá um senso de identidade mais frágil, menos empatia, menos concentração, e podem ser mais dependentes ao viver o "aqui e agora" em vez de ter um passado, presente e futuro. Talvez eles fiquem mais presos ao presente.

Por que o senso de identidade seria menor? Até recentemente, em muitas partes do mundo, os seres humanos tinham preocupações mais imediatas, como sobreviver, se manter aquecido, não ter dor, não viver com medo e ter onde se abrigar. Essas questões eram as mais importantes quando se era um adulto. Mas agora a tecnologia, em sociedades mais privilegiadas, como o Brasil e a Grã-Bretanha, está permitindo que a população, pela primeira vez na história, viva muito mais e tenha uma vida saudável. Uma criança tem, agora, uma em três chances de viver mais de 100 anos. Então o que fazer com esse tempo? Essa é uma pergunta que não se fazia no passado porque as pessoas morriam de doenças ou estavam preocupadas com outras coisas. Mas agora é factível presumir que as pessoas não saberão o que fazer com a segunda metade de suas vidas, após seus filhos estarem criados. Se elas estiverem saudáveis, em forma, mentalmente ágeis, não poderão simplesmente jogar golfe todo dia, ou sudoku. Acho que uma das grandes questões para eles será fazer perguntas que tradicionalmente apenas adolescentes fazem: "Quem sou eu? Qual é o sentido da vida? Para onde estou indo? Qual o propósito disso tudo?" Na minha opinião, isto pode ajudar a explicar por que, de uma maneira engraçada, Facebook e Twitter são tão populares.

Por quê? As pessoas têm um senso integral de identidade. De repente elas se sentem importante porque gente ao redor do mundo está se comunicando com elas, comentando o que elas disseram. Então, este tipo de pessoa, que no passado vivia em uma comunidade local, e tinha uma identidade dentro daquela cultura, dentro daquele país, agora tem uma presença global, mas que é construída externamente. Não é real. É como em uma ocasião na qual estava em um café da manhã com Nick Clegg (vice-primeiro-ministro da Grã-Bretanha) e tinha uma mulher perto de mim tão ocupada contando a todo mundo que ela estava tendo uma café da manhã com Nick Clegg que nem conseguiu prestar atenção ao que ele estava dizendo. Ela só ficava tuítando o tempo todo: "café da manhã com Nick Clegg". Eu vi um filme com duas meninas conversando dentro de um carro e uma pergunta para a outra: "Como você se sente dentro deste carro?" Ela não responde "estou triste" ou feliz ou animada, nada disso. Ela diz: "o carro é digno de um post no Facebook."

Por que isso é preocupante? A partir disso eu infiro que as pessoas estão construindo uma identidade no ciberespaço que em boa parte é formada pela visão das outras pessoas. Existe um site chamado KLOUT. Se você entrar nesse site, ele te diz o quão importante você é, te dá um número chamado Klout Score. Klout, em inglês, significa importante. As pessoas pagam para ver qual é a sua pontuação e para aumentá-la. Eu acho interessante essa tendência de que mesmo que você sinta-se muito importante, muito conectada, você se sente insegura, tenha baixa autoestima, sinta-se constantemente inadequada. Existe um livro muito bom escrito por Sherry Turkle chamado Alone Together - Why We Expect More From Technology and Less From Each Other (algo como "Juntos sozinhos - Por que esperamos mais da tecnologia e menos de cada um de nós", lançado em janeiro, ainda sem editora no Brasil). Ela disse: "bizarramente, quanto mais conectado você está, mais você está isolado."

Hoje, entretanto, a maior parte das pessoas continua levando suas vidas normalmente, fora do ciberespaço, e apenas uma pequena parte dentro dele. Isso se inverterá no futuro? A maioria das pessoas dirá que, se tirarmos um instantâneo da sociedade hoje, um monte de pessoas está vivendo normalmente e feliz em três dimensões. Elas têm amizades saudáveis e gostam de estar no Facebook e no Twitter. Com certeza, é apenas uma minoria de pessoas que gastam até 10 horas por dia em frente do computador. Porém eu acho esse tipo de argumento problemático porque é solipsista - você está argumentando a partir do seu ponto de vista. Já falei várias vezes com jornalistas, que geralmente são de meia-idade e de classe média, e dizem que usam isso e aquilo e é fantástico. Às vezes sou criticada porque não estou no Facebook, não estou no Twitter, e mesmo assim estou comentando a respeito. Eu respondo que, mesmo se eu estivesse me divertindo muito no Facebook, isso não quer dizer que todos sejam como eu ou que vão usar do mesmo modo que eu uso, ou que vão ter o mesmo tipo de amizades que eu tenho.

O uso então é exagerado? Eu acho que precisamos olhar para as estatísticas em vez de apenas levar em conta as impressões pessoais ou os meios de comunicação. De acordo com as estatísticas, os chamados nativos digitais, gente que nasceu após 1990, apresentam níveis de uso alarmantes. Por exemplo, um estudo americano, de 2010, mostrou que mais da metade dos adolescentes entre 13 e 17 anos estavam gastando mais de 30 horas por semana na internet. O que me chama atenção não são as 30 horas, mas o que vai além disso. Isso significa que pelo menos quatro ou cinco horas por dia em frente ao computador. O problema com isso é que, não importando o quão fantásticas ou benéficas sejam as redes sociais - vamos dizer que sejam 100% maravilhosas - ainda são quatro ou cinco horas por dia não andando na praia, não dando um abraço em alguém, não sentindo o sol no rosto, não subindo em uma árvore, não fazendo todas as coisas que as crianças costumavam fazer. Acho que devemos prestar atenção a essa questão. Acho também que podemos comparar o que acontece hoje com o momento do anos 50 quando as pessoas começaram a mostrar uma relação entre o câncer e o cigarro. A indústria do tabaco foi hostil a essa descoberta, tentou negar e insistir que fumar não era viciante. E se você tem um grupo de pessoas se divertindo e outro grupo fazendo dinheiro com isso, esse é um círculo perfeito. A primeira coisa a fazer quando pensamos na relação entre os jovens e a internet é reconhecer que talvez aí exista um problema.

Não se trata de excesso de zelo? Existem outras questões também. Há uma grande diferença entre os chamados "imigrantes digitais", pessoas como eu e possivelmente pessoas como as que estão lendo essa entrevista e que tiveram uma educação convencional, cresceram lendo livros, tendo relações apropriadas, em três dimensões, e as crianças que estão crescendo agora, recebendo um comando evolucionário para se adaptar ao meio ambiente. Se esse ambiente é incessantemente o ciberespaço, elas não vão aprender como olhar alguém nos olhos, elas não vão aprender a interpretar tons de voz ou a linguagem corporal. Elas não vão aprender como é quando se toca alguém, se tem um contato físico. O que significa que, se alguém ficar cara a cara com alguém no mundo real será mais desagradável, mais agressivo, então as pessoas vão preferir se comunicar por meio das telas. Já é o caso da Grã-Bretanha, não sei como é aqui no Brasil. Escritórios se tornaram locais bastante silenciosos, porque, em vez de conversarem entre si, as pessoas preferem enviar mensagens. Outro problema que, acho eu, mostra uma tendência, é um fantástico aplicativo - é fantástico que as pessoas paguem por isso. São dois, na verdade. Um deles se chama Self Control (Auto controle). O outro se chama Freedom (Liberdade). Você paga para que eles não o deixem usar a internet obsessivamente. Eles desligam seu computador a cada 50 minutos ou a cada hora. Por que as pessoas deveriam pagar por algo que elas mesmas poderiam fazer facilmente, a menos que estejam obcecadas ou tenham se tornado dependentes? Eu posso chegar para você e dizer que tenho uma maneira brilhante de ganhar dinheiro: você me paga para eu desligar seu computador para você. Você vai me dizer que estou louca.

Lúcio Flávio Pinto: O fim da Amazônia

Autor de diversos livros sobre a região amazônica, Lúcio Flávio Pinto lançará sua mais nova obra: O fim da Amazônia.

O que ele escreve em seu Jornal Pessoal, raríssimos jornalistas escreveriam com tamanha independência e imparcialidade, beirando o anarquismo libertário. Ainda mais sendo esta, uma das mais áreas mais violentas e retrógradas do planeta. 

Por isso, já foi censurado, ameaçado e processado inúmeras vezes e em algumas condenado e obrigado a pagar indenizações para os ricaços que denunciou. Sua história de vida é vasta de grandes polêmicas, mas ninguém ousa dizer-lhe algo que desabone sua reputação. 

Já foi agredido por um dos herdeiros das Organizações Rômulo Maiorana, por uma publicação que acusava o grupo de comunicação de ser uma quitanda, onde a opinião do jornal "OLiberal", era facilmente comprada com dinheiro de empresas e políticos influentes e capitalizados. Uma vez, por causa de um meme publicando em uma redes social, também fui ameaçado pelo irmão de Romulo, o Ronaldo Maiorana, o mais mimado dos herdeiros, pelo fato de ter relembrado a prática criminosa, de usarem suas concessões de rádio e TV para fazer política e lucrar com repasses de verbas públicas, travestidas de anúncios e contratos com o governo do Estado.

Lúcio Flávio Pinto é uma daquelas pessoas que precisaríamos clonar. Conhece e escreve sobre a região Amazônica ao ponto de ter sua crítica incômoda, tanto para a esquerda, quanto para a direita, mas ninguém ousa enfrentá-lo em um debate aberto. 

Eu, na condição de blogueiro e entusiasta do retorno de Lula à presidência do Brasil, gostaria que um dia, antes deste se recandidatar, ou até mesmo Dilma, antes de deixar o cargo, pudessem ler seus escritos e/ou conceder-lhe uma audiência, para que ele, com toda a sua bagagem intelectual e informações, pudesse falar o que sabe e pensa sobre o futuro do Brasil, em especial, da Amazônia, assim como externar o que não podemos continuar fazendo no presente.

Fique agora com o post "A Amazônia não se democratiza", publicado no blog do Lúcio Flávio Pinto.

Transcrevo a seguir, com ligeiros ajustes, a entrevista que Rita Soares e Francisco Viana fizeram comigo, publicada no blog da jornalista paraense. O tema é o mais recente livro que escrevi sobre a Amazônia, O Fim da Amazônia.

No início, a sensação que fica é que Lúcio Flávio, nascido Lúcio Flávio Pinto, em Santarém, no distante ano de 1949, quando Belém ainda respirava os ares do rico ciclo da borracha, não passa de um cidadão comum, com tarefas comuns para vencer no dia a dia. Mas quando exibe um exemplar do seu novo livro, “O Fim da Amazônia”, logo se percebe que ele não apenas conhece a Amazônia, e conhece a fundo, como é capaz de falar com destemor. Sua voz é suave, elegante, mas firme e imperativa. Ele fala sentado num velho sofá, num ambiente cercado de livros: livros, revistas, jornais, todos empulhados, sem qualquer ordem aparente, mas, ao contrário, quando discorre sobre o livro e a região os fatos são ordenados, cortantes, rememora acontecimentos que ficam perdidos no cotidiano.

Não podia ser diferente. Há quase cinco décadas, Lúcio Flávio acompanha a implantação dos grandes projetos na Amazônia. O seu olhar crítico esteve na implantação da usina hidrelétrica de Tucuruí e a abertura da mina de Carajás, a maior reserva de minério de ferro do mundo, ambos no Pará. A originalidade do seu trabalho resultou em quatro prêmios Esso e dois Fenaj, a Federação Nacional dos Jornalistas.

Em 1988 deixou a chamada grande imprensa e passou a se dedicar ao jornal alternativo, Jornal Pessoal, onde mantém uma cobertura aprofundada e crítica do processo de ocupação da região, que compara ao Gênesis, só que ainda a ser feito pelo homem, como destacou Euclides da Cunha. O Brasil pode não lembrar de Lúcio Flávio, mas o mundo civilizado não o esquece.

Ele é visto internacionalmente como um militante em defesa da verdade e contra as injustiças sociais, tanto que recebeu em Roma, em 1997, o prêmio Colombe d’oro per La Pace e, em 2005, o prêmio anual do CPJ (Comittee for Jornalists Protection), de Nova York. É autor de vários livros sobre a Amazônia e, em 2012 recebeu o Prêmio Wladimir Herzog pelo conjunto da sua obra. Foi considerado pela ONG Repórteres Sem Fronteiras, com sede em Paris, como um dos mais importantes jornalistas do mundo, o único selecionado no Brasil para essa honraria.

Em “O Fim da Amazônia” , faz um alerta dramático para os riscos que o processo de ocupação colonial representa para a região de maior diversidade do planeta e, por consequência, para as futuras gerações não só no Brasil, mas em todo mundo. Nesta entrevista, Lúcio faz críticas às políticas públicas para a região e explica as razões de seu apelo. Para ele, a região ainda vive os tempos do regime militar, coberta pelo obscuro manto da doutrina de segurança nacional.

O seu livro não tem um nome apocalíptico demais?

É, mas serve como uma advertência. Porque o processo de ocupação da Amazônia está sendo feito intensamente com alteração das condições naturais, o que é uma novidade em relação às outras formas anteriores de ocupação da Amazônia. No passado, no decorrer do ciclo extrativista da borracha, era feita a coleta de sementes, extração do látex, não se destruía a floresta. A partir da construção das estradas de integração, se destruiu, em 50 anos, o equivalente a três vezes a área ocupada pelo estado de São Paulo. E não existe na história de ocupação de fronteiras tanta destruição de florestas quanto na Amazônia.

Por que isso aconteceu?

Nas áreas coloniais em geral a percepção é retardada, e às vezes tardia. Não é contemporânea dos acontecimentos. Mesmo as empresas de vanguarda do mundo, quando chegam à Amazônia vestem a roupa primitiva, do capitalismo primitivo. Usam o método primitivo de intervenção na natureza que é o fogo, usam o trabalho escravo. São formas sociais de produção antiquíssimas. Porque se considera que a fronteira não é o lugar para a contemporaneidade, é lugar do passado, é lugar em que capitalista veste a roupa de capitão do mato.

O livro tem esse título porque nós tivemos várias oportunidades perdidas de desenvolvimento. Hoje um terço da Amazônia foi alterado e um quarto desmatado. O problema daqui é a fragilidade da floresta e a sua heterogeneidade, que exige um equilíbrio dinâmico. Se você derruba um hectare afeta cinco. Afeta a fauna, a flora, a água, a chuva. Então, a área prejudicada ou até destruída é muito maior daquela registrada.

Por que o Brasil esqueceu a Amazônia?

O Brasil não esqueceu a Amazônia. Em 1976, as exportações do Pará somavam 300 milhões de dólares. Hoje essa exportação é de 14 bilhões (já chegou a 18 bilhões). O modelo deu certo porque o objetivo era gerar dólares e gerou. Hoje o principal produto de exportação do Brasil é o minério de ferro e o principal exportador é o Pará. E o principal destino é a Ásia, 60% para a China, 20% para o Japão. Então, o modelo deu certo. O Plano de Desenvolvimento da Amazônia da década de 1970 já dizia que a Amazônia é área de fronteira. A especialidade dela é gerar dólar.

Mas quando se fala que esqueceu, está se falando porque não se discute isso…

O Brasil esquece o que é a Amazônia, mas está usando intensamente a Amazônia.

É uma atitude colonial dentro do próprio país?

Sim. E isso está escrito lá com todas as letras. Mudou o regime militar, mudaram os presidentes civis, nenhum alterou essa diretriz que continua perfeitamente aplicada. O Brasil não é apenas dual – o Brasil do Jacques Lambert. Passou a ser uma tríade. O Brasil moderno continua dominante, continua no mesmo lugar, o Brasil intermediário, que é o Nordeste, com algumas indústrias abandonadas pela região Sul, e o Brasil da fronteira.

Nesse Brasil da fronteira, não interessa se você está destruindo o recurso mais abundante e mais importante que é a floresta. Continuam queimando floresta hoje, o que é um absurdo. Não interessa que essa população seja escravizada ou que o índice de desenvolvimento esteja entre os piores do planeta, o que interessa é se está chegando produto no porto de embarque. E temos cada vez mais portos de embarque na Amazônia.

Só na região de Itaituba (oeste do Pará) serão sete portos novos de exportação de soja. O porto de Barcarena é um porto de exportação da oitava maior fábrica de alumínio do mundo, a Albrás, da maior fábrica de alumina do mundo, que é Alunorte (Hidro), da maior fábrica de Caulim do mundo que é a da Imerys. Então, o brasileiro é que não descobriu a Amazônia, mas o governo sabe o que está fazendo, mas o que ele faz não é em benefício Amazônia.

Isso converge para quê?

Para a condição colonial da Amazônia.

Mas quem é que ganha com esse modelo?

A China, por exemplo. A China quando começou em 2001 essa veiculação, da mesma maneira como em Car ajás. Carajás começou em 1985. Nesse ano, quem mandava em Carajás eram os japoneses, enquanto no resto do Brasil ainda eram os Estados Unidos. Então, houve uma modernização da dependência estrangeira na Amazônia antes que acontecesse no Brasil. A mesma coisa aconteceu em 2001 com a China. Antes que ela tivesse penetrado em outras partes do Brasil, já estava aqui. E o processo é mesmo parecido com cocaína. A China chegou a pagar 180 dólares a tonelada do minério de ferro e aí a Vale se reordenou todinha para ficar dependente inteiramente da China e aí a China começou a baixar o preço. Hoje está em 40 dólares.

E dentro da Amazônia não há reação, não há uma elite que reaja contra isso? A sociedade não reage?

Ela nem sabe o que está acontecendo. Essa condição colonial, é uma condição amarga. Porque o colonizado pensa pela cabeça do colonizador, reage aos impulsos do colonizador, e o colonizador faz a manipulação.

Exemplo?

Quando a Vale descobriu ouro em Carajás, no Igarapé Bahia, houve um ano em que, pela primeira vez, em 170 anos, o maior produtor de ouro deixou de ser Morro Velho. Aí a sociedade paraense começou a discutir o que fazer com o ouro, como verticalizar a produção. Em dez anos acabaram as jazidas do ouro e a discussão continuava sendo travada sem nenhum objetivo concreto. Há descompasso para perceber o que está acontecendo, e não só perceber o que está em curso, mas antecipar. Porque a única forma de reescrever uma história colonial como essa, que vem de fora para dentro, é você se antecipar. Porque o colonizador antecipa.

Quando houve o primeiro choque do petróleo, que inviabilizou a indústria do alumínio no Japão, a primeira missão de japoneses foi para o Pará. Eles já tinham o rumo, onde instalar, o que seria a maior fábrica japonesa de alumínio, que é a Albrás, e garante 15% de toda necessidade do Japão a 20 mil quilômetros de distância do Japão por um preço que saiu mais barato do que se tivessem continuado a produzir lá.

Nesse período, houve mudanças do regime militar para a democracia e mudanças de governo. Não houve interesse em alterar essa política para a Amazônia?

Não. O primeiro ato do (presidente José Sarney) Sarney como presidente da República foi renovar a doutrina de segurança nacional na Amazônia com a operação Calha Norte. Então, o Brasil estava democratizado, a Amazônia não. Continuava sob a tutela da doutrina de segurança nacional.

E o Fernando Henrique?

O Fernando Henrique seguiu a lógica do velho marxismo ortodoxo. Primeiro o capital. O capital tem o poder de explorar e o poder de libertar. O Marx era péssimo teorizador de colonialismo, porque ele estava na Inglaterra e acreditava que o capitalismo era libertador, então ele dizia: primeiro a ferrovia para índia, para ocupar a Índia com o capitalismo moderno, modernizar gerações de produção. Depois, a população se modernizava e expulsa o colonizador, só que o problema era a expulsão. Para o Fernando Henrique tinha que ser feita uma revolução capitalista na Amazônia. A privatização da Vale foi o ato nocivo, não só pelo valor aviltado, mas porque deixou uma situação exemplar de como o poder central em conluio com grandes investidores se estabelecem na Amazônia.

E Lula?

Quando Lula se elegeu presidente em 2002, antes de tomar posse, ele deu entrevista e disse que uma das coisas que mais admirava é como os militares planejavam a ocupação da Amazônia. Que era um planejamento sério, e iria seguir a mesma diretriz.
E o governo Dilma, o que caracterizou a visão?
Ela continuou o mesmo esquema do Lula

Se a Amazônia acabar, se continuar esse processo, como você denuncia, o que acontece, se não mudar essas políticas?

Se a floresta acabar, acaba a Amazônia que é um produto de sol, planta e água. É um processo incrível, um processo. Euclides da Cunha, há um século, dizia que a região era uma página do Gênesis que Deus não escreveu, deixou para o homem. Realmente quando você tem uma percepção mais íntima da região, você percebe que é uma máquina de funcionamento perfeito, mas equilíbrio precário. Não se pode tirar uma peça sem saber como vai funcionar sem a peça.

sexta-feira, maio 29, 2015

Professores chamam o governador de ladrão e conseguem a promessa de suspensão dos descontos em folha

Há 80 dias sem energia elétrica, os estudantes e professores de uma escola estadual protestaram durante evento, que teria a presença do governador Simão Jatene, que desistiu de ir por causa de uma manifestação da greve, que já dura mais de 2 meses.

No início da noite desta sexta-feira (29), professores e estudantes paraenses ocuparam a entrada do Centro de Convenções e Eventos da Amazônia - Hangar, onde realizaram um protesto contra o governador do Estado do ParáSimão Jatene, o qual foi chamado de ladrão por centenas de alunos e professores da rede pública estadual de ensino.

A manifestação pacífica, ocorreu na abertura da XIX Feira Pan-Amazônica do Livro e o local foi por alguns momentos, o lugar mais protegido e seguro de Belém. Avisado da presença dos manifestantes, o comandado da Polícia Militar ordenou o envio de dezenas de viaturas  para protegerem a chegada e saída do governador. 

Segundo uma fonte do blog, o governador chegou a planejar que faria a abertura da Feira e partiria rapidamente para sua residência, escoltado por um forte aparato policial, com a cobertura de dezenas de viaturas e até de um helicóptero da polícia militar, mas minutos antes de ir, orientado por assessores que informavam a situação que lhe aguardava, desistiu do intento. Em meio à indecisão e várias informações desencontradas, este blog e outros veículos de comunicação, foram levados ao erro de noticiar que Simão Jatene teria ido e sido vaiado, mas não foi.


Mesmo assim, o constrangimento não pôde ser evitado e centenas de manifestantes passaram mais de duas horas entoando palavras de ordem, entre as quais, destacaram-se as seguintes"Essa feira vai parar, se o Jatene não pagar", "Jatene seu caloreiro, devolve o meu dinheiro" , Não é mole não, ter um governador chamado de ladrão.

Pressionado, ciente da revolta e possível radicalização dos grevistas, motivada pelos altos descontos nos contra-cheques dos professores, o governador Simão Jatene propôs uma inédita reunião com uma comissão formada por três (03) dirigentes do SINTEPP, onde se comprometeu em rever os descontos que deu nos salários da categoria, em uma folha suplementar, prometida para ser paga até o dia 05 de Junho.

Como o seguro morreu de velho e já tiveram outras promessas quebradas, os educadores aprovaram em assembleia fazer a ocupação do Hangar, das 10h da manhã, até às 10h da noite, a partir da próxima segunda-feira (01), até verem o cumprimento do acordo selado hoje. A próxima assembleia geral da categoria ficou agendada para o dia 5, às 16h, no Hangar.

Após o pedido de abusividade da greve, os professores pedem a saía do atual secretário de Educação, Helenilson Pontes.

No mesmo momento em que o vexame ocorria, a assessoria de comunicação do governador, usou sua página no Facebook para emitir uma nota, na qual diz ter ocorrido um erro na impressão de milhares de contra-cheques, os quais deixaram os professores estarrecidos com os valores descontados. Houve professores que ganham cerca de três mil reais, que quase infartam, ao verem seu contra-cheque com míseros R$54,00.


Propostas do Governo - via Portal G1-PA.

A proposta prevê um reajuste de 13,01% no vencimento-base da categoria, obedecendo à variação no valor do novo Piso Salarial da Educação, a partir da folha de pagamento do mês de abril. Segundo o Governo do Estado, um professor em início de carreira, lotado com 220 horas em regência e 70 horas suplementares, vai receber R$ 5.520 por mês. O pagamento de piso retroativo será feito em quatro parcelas, duas em ainda em 2015 e duas em 2016.

A versão do SINTEPP

Por sua vez, o SINTEPP alega que o governo rejeitou a proposta do sindicato, que trata da reposição das aulas durante este período e inviabiliza a execução dos 200 dias letivos obrigatórios, segundo a LDB, e age de forma intransigente cortando o ponto dos grevistas e não grevistas. Em assembleia geral, realizada no Hangar os professores mantiveram a greve e denunciaram a falta de salas climatizadas, a má qualidade a merenda escolar servida nas escolas, os banheiros sujos, bebedouros anti higiênicos e a manobra do governo querer pagar parceladamente as dívidas do piso 2011 - que o sindicato diz sr fruto de uma de suas vitórias da greve de 2013, além de querer estender para 2016, o pagamento do retroativo de 2015. Uma verdadeira bola de neve, alegam os dirigentes sindicais.

Em uma Carta Aberta, o sindicato dá sua versão sobre a manutenção da greve, aprovada em assembleia realizada na quarta-feira (28), que também decidiu pelo ato de protesto e outra assembleia no Hangar.

Uma vitória a comemorar

Paralelo à assembleia geral, parte da direção do sindicato, finaliza a totalização dos votos da eleição que reelegeu para outro mandato, os atuais  dirigentes. Ou seja, os 700 mil alunos e os professores perderam, mas já teve quem tenha ganhado alguma coisa com a greve estadual que se arrasta por mais de 2 meses. Detalhe: O grupo vitorioso coordena o sindicato há quase 30 anos.


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Jatene usa o ex-delegado geral de Ana Júlia para repassar a 'sensação de segurança', à população de Belém



O governador Simão Jatene, escalou o ex-delegado geral da polícia civil do governo Ana Júlia, para segundo ele, "transmitir segurança à população", através de uma peça publicitária, veiculada no canal de vídeos do governo, no Youtube

Não se sabe se a peça será exibida para a TV. Se for, serão mais alguns milhões, quase que exclusivamente, para a TV Liberal, emissora do grupo ORM, o maior aliado do governo do PSDB, nestes quase 20 anos no poder.

Um dos objetivos da propaganda é mostrar que está sendo feito um esforço conjunto das forças de segurança do Estado, para coibir a escalada de violência que assola a Região Metropolitana de Belém do Pará.

No início da semana, o governo do Estado enviou para serem entrevistados pelo programa Jornal Liberal 1º edição, o comandante do policiamento da capital e no outro dia, o secretário adjunto de segurança. Ambos não souberam explicar os motivos de tantas mortes por assassinato, do último final de semana para cá, repetindo os discursos de que o problema é nacional, das fronteiras e etc&tal..

Na Assembleia Legislativa, a oposição bem que tenta, mas não move um só músculo do presidente da casa, que apoiado em suas duas eleições pelo governador, elegeu-se líder dos deputados. Márcio Miranda (DEM), faz cara de paisagem e submete o Pará aos ditames do governador, 'roubando' o protagonismo e missão do poder legislativo, de fiscalizar e propor leis e medidas a serem cumpridas pelo executivo, dando significado ao seu nome.

Entre os deputados, o que mais tem sido enfático em suas intervenções em plenário é Carlos Bordalo (PT), que tem dito que o Pará vive em um "estado de Sítio". Além das contundentes criticas, o parlamentar também tem insistido para que o governador Simão Jatene, faça a solicitação de apoio à força nacional de segurança para o governo federal, tal como outros Estados, como o Rio de Janeiro fizeram, mas o conhecido orgulho de Simão Jatene é maior que a dor de milhares de pessoas, que perdem suas familiares e amigos por conta da violência que tornou o Pará um dos piores para se viver.


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quinta-feira, maio 28, 2015

Contra Privatização da Educação, Chicão diz que governo Jatene é só propaganda

Para o Deputado Estadual Chicão (PMDB), o grande instrumento do esse governo é a propaganda. 

No Diário Online, sob o título "Mudanças em parcerias serão debatidas na AL".

Devem ser debatidas na próxima semana as emendas parlamentares ao Projeto de Lei Ordinária 42/2015, de autoria do Executivo Estadual, que altera dispositivo da Lei 7649, de 24/6/2012, que, por sua vez, dispõe sobre normas de licitação e contratação de Parcerias Público-Privadas no âmbito do Estado do Pará. O PL foi aprovado em primeiro turno durante sessão ordinária ontem e ainda precisa ser votado em segundo turno e redação final, mas passou com muitas críticas feitas pela bancada de oposição ao governo no parlamento, que quer obter mais informações sobre quais áreas poderão ser alvo de PPP a partir dessa mudança. A maioria dos discursos dos oposicionistas mostrou temor à possibilidade de que essas parcerias se tornem uma forma de o Estado delegar a terceiros as suas responsabilidades para com setores básicos, como a Educação. 

O deputado Francisco Melo, o Chicão, do PMDB, fez questão de se colocar a favor do projeto, sob a condicionante de que seja previsto em emendas que o Estado não terceirize aquilo que lhe cabe primordialmente. “Acho que PPPs podem e devem chegar a outros setores. Nossas estradas e rodovias, por exemplo, carecem de aporte financeiro, mas não. Querem estender para a Educação porque é verba carimbada, dinheiro vem fácil. Aí passam mais três anos fazendo propaganda vendendo a ilusão de que a Educação está melhor, porque o grande instrumento desse governo é a propaganda”, disparou.

José Scaff, da mesma bancada, engrossou o coro. “Boa parte dessa crise tem como motivo o fato de que o governador Simão Jatene se escondeu do povo, dos problemas, e isso nos traz ao caos não só da Educação como da Segurança pública. A omissão do Poder Executivo traz prejuízo imenso em todas as áreas.”

Crise: Edmilson Rodrigues perde seu braço esquerdo no PSOL

Luiz Araújo deixou o PT para fundar o PSOL, onde viveu até então organizando a corrente interna "Primavera Socialista" e supostame...