segunda-feira, setembro 14, 2015

Delegado da Polícia Federal fez manipulação grotesca para incriminar Lula

A instrumentalização de investigações policiais para fins partidários ou privados é incompatível com a democracia.

Na Carta Maior.

O delegado da Polícia Federal Josélio Azevedo de Souza fez uma manipulação grotesca no despacho entregue ao STF com o objetivo principal de incriminar o ex-presidente Lula e livrar a barra do PSDB.

O documento de 218 páginas não é uma peça técnica de investigação criminal, mas um libelo recheado com apreciações e ilações políticas. É um texto que dispensa a oposição golpista e o chefe da conspiração, FHC, de fazer o serviço sujo.

O despacho foi protocolado no STF às 13:34 horas de 10/09, mas não surpreende se tiver sido entregue antecipadamente na redação da revista Época, do grupo Globo, porque antes do próprio Lula saber da armação, a “denúncia” já bombava no noticiário online.

A manifestação do delegado Josélio integra o volume XII do Inquérito nº 3989, instaurado no STF para investigar políticos implicados na Operação Lava Jato que gozam de foro privilegiado. O volume XII vai da página 2442 à 2660 do Inquérito, cujo arquivo podendo ser acessado aqui; nele faltam as folhas 2466, 2467 e 2468 – pode ser um detalhe irrelevante, mas em se tratando da PF, toda cautela é recomendável.

Adiante são reproduzidos alguns trechos, conservando os destaques e grafias do calhamaço original:

- em depoimento, Pedro Henry Neto, do PP, afirmou “QUE jamais tratou da nomeação de PAULO ROBERTO COSTA com o então Presidente LULA; QUE, igualmente, não tem conhecimento se PEDRO CORRÊA e JOSÉ JANENE trataram deste assunto com o Ex-Presidente; ...” [pág. 2446 do Inquérito];

- depoimento de Paulo Roberto Costa: “QUE, indagado sobre os motivos que lhe levam a crer que a Presidência da República tinha conhecimento sobre os comissionamentos proporcionados a partir da Diretoria de Abastecimento da PETROBRÁS, afirma que decorre ‘do tempo em que PAULO ROBERTO COSTA ficou na Diretoria de Abastecimento, e do conhecimento de vários integrantes do partido, tanto do PP, quanto do PT e do PMDB sobre o assunto’; QUE apesar disso o declarante afirma não dispor de nenhum elemento concreto que permita confirmar tal suposição” [pág 2650].

Apesar disso, o delegado da PF, numa lógica capciosa, conclui: “Vê-se, portanto, que os colaboradores PAULO ROBERTO COSTA e ALBERTO YOUSSEF presumem que o ex-Presidente da República tivesse conhecimento do esquema de corrupção descortinado na PETROBRÁS em razão das características e da dimensão do mesmo. Os colaboradores, porém, não dispõem de elementos concretos que impliquem a participação direta do então presidente LULA nos fatos” [na mesma página 2650].

Em depoimento, Paulo Roberto Costa afirmou “QUE, com relação ao mesmo [Deputado Eduardo da Fonte, do PP], sabe ainda que este participou, juntamente com SERGIO GUERRA, das reuniões para pôr fim à CPI da PETROBRÁS, e que resultaram no pagamento de Dez milhões de reais pagos pela Construtora QUEIROZ GALVÃO, na pessoa de IDELFONSO COLARES, conforme já explicitado em Termo de Colaboração próprio” [pág 2594].

O delegado Josélio, entretanto, livra o PSDB, apesar da implicação direta do ex-presidente do partido: “Segundo se depreende dos fatos que ensejaram sua instauração, houve a construção de um esquema de distribuição de recursos ilícitos a agentes políticos de pelo menos três partidos políticos, PP, PMDB e PT, ..” [pág 2537].

Na página 2654, outra conclusão tendenciosa do delegado tucano: “Ainda segundo PEDRO BARUSCO (fls. 156), o esquema foi institucionalizado no ano de 2003, ou seja, trata-se de um esquema que perdurou por quase 10 anos”. É bem conhecido o depoimento deste funcionário corrupto neste mesmo inquérito, revelando que o sistema de corrupção na PETROBRÁS – que está sendo decididamente investigado no governo do PT –, nasceu lá em 1997, na gestão do FHC.

A Polícia Federal, a pretexto duma duvidosa “autonomia funcional”, foi aparelhada por setores da corporação que atuam como um Estado dentro do Estado: com regras, procedimentos, princípios e critérios próprios – acima das Leis e da Constituição.

Os precedentes são complicados. Recentemente, o Diretor-Geral da PF, delegado Leandro Daiello concedeu uma entrevista – não desautorizada pelo Ministro da Justiça – na qual se apresentava como um quinto poder da República, ao lado do Executivo, do Legislativo, do Judiciário e da mídia.

A manipulação da PF no Inquérito da Lava Jato não representa apenas um ataque à figura e à honra do ex-presidente Lula, porque é também uma violência à democracia e à estabilidade política e institucional.

O silêncio oficial ante um ato de tamanha gravidade enfraquece a democracia e o ideal da sujeição das polícias à ordem democrática. A instrumentalização de investigações policiais para fins partidários ou privados é incompatível com a democracia.

Empresários presos na Lava Jato denunciam a cúpula do PSDB na corrupção da Petrobras



Se confirmada a informação que alguns jornalistas publicaram durante este final de semana, os principais envolvidos no esquema que arma o pedido de impeachment de Dilma, estão fazendo aquilo que todo bandido faz: Jogar a culpa na costa dos outros. 

A tentativa de derrubar Dilma torna-se cada dia mais explicável: Ela foi a primeira e única presidente a combater de fato a roubalheira em nosso país.


Segundo informações do colunista Cláudio Humberto, no Diário do Poder, dois executivos da construtora Andrade Gutierrez, ouvidos no processo da Lava Jato, afirmaram que as principais lideranças do PSDB, senadores José Serra (SP), Aécio Neves (MG) e Aloysio Nunes Ferreira (SP), estariam envolvidos no esquema de corrupção que tirou recursos da Petrobras. 

No início deste mês o tucano Aloysio Nunes começou a ser investigado pela Procuradoria-Geral da República (PGR), após declarações do dono da construtora UTC, Ricardo Pessoa, de que Nunes teria recebido R$ 200 mil de caixa dois para sua campanha ao Senado. Em março o principal delator da operação Lava Jato, Alberto Youssef havia afirmado que o senador Aécio Neves estaria envolvido em um esquema de corrupção de Furnas (estatal mineira de energia subsidiária da Eletrobras). 

A empreiteira Andrade Gutierrez foi a maior doadora de recursos para a campanha de Aécio Neves em 2014, concedendo um total de R$ 20 milhões, divididos em 322 doações, segundo dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Diário do Poder

Executivos da Andrade Gutierrez implicam PSDB

Acordo de delação premiada firmado por dois executivos da construtora mineira Andrade Gutierrez, uma das integrantes do cartel de empreiteiras responsável pela roubalheira à Petrobras, envolve no esquema do Petrolão as principais lideranças do PSDB, maior partido de oposição ao governo Dilma. São citados na delação os senadores José Serra (SP), Aécio Neves (MG) e Aloysio Nunes Ferreira (SP).

Brasil 247

Delação da Andrade Atinge Aécio, Serra e Aloysio

Em acordo de delação premiada, dois executivos da construtora Andrade Gutierrez, uma das investigadas no esquema de corrupção da Petrobras, citam os nomes das principais lideranças do PDSB: os senadores Aloysio Nunes (SP), José Serra (SP) e Aécio Neves (MG); Aloysio já é alvo de pedido de investigação por parte da Procuradoria Geral da República por suposto recebimento de doação irregular na campanha; a Andrade Gutierrez contribuiu com R$ 19 milhões para a campanha de Aécio à presidência da República em 2014

Dois executivos da construtora Andrade Gutierrez, uma das envolvidas no esquema de corrupção da Petrobras e investigada pela Operação Lava Jato, citam os nomes das principais lideranças tucanas em acordo de delação premiada.

São mencionados os senadores José Serra (SP), Aécio Neves (MG) e Aloysio Nunes (SP), de acordo com o colunista Cláudio Humberto, do Diário do Poder (leia aqui).

Aloysio já é alvo de pedido de investigação da Procuradoria Geral da República ao Supremo Tribunal Federal. E Aécio já foi mencionado em depoimento do doleiro Alberto Youssef por ter recebido dinheiro de Furnas.

A empreiteira, que teve seu presidente, Otávio Azevedo, preso em junho, foi a maior doadora de recursos na campanha de Aécio à presidência em 2014. Foram 322 doações, que somaram mais de R$ 20 milhões, de acordo com dados do TSE.

domingo, setembro 13, 2015

Ator brasileiro acusa oposição: Querer tirar Dilma por corrupção é limpar o chão com bosta

Gregório Duvivier: “Querer tirar Dilma por corrupção é limpar o chão com bosta”.

"Eduardo Cunha, Aécio Neves e Renan Calheiros querem tirar a Dilma por causa da corrupção? Até parece. É querer limpar o chão com bosta". Em Portugal, Gregorio Duvivier falou sobre o atual momento político no Brasil.


O humorista e escritor Gregório Duvivier, do grupo Porta dos Fundos, concedeu uma entrevista ao canal 24, em Portugal, em que detonou o movimento pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff.

“Será que só agora descobriram a corrupção? É tudo uma grande mentira. Querem tirá-la para roubar mais. Quem quer a Dilma fora é Renan Calheiros, Eduardo Cunha e Aécio Neves, que são comprovadamente corruptos”, disse ele.

Gregório afirmou ainda que essa mudança seria equivalente a “limpar o chão com bosta”.

“São esses que querem tirar um presidente por causa da corrupção ? Até parece. É querer limpar o chão com bosta!”

Em outro trecho da entrevista, o ator afirmou que Dilma corre o risco de cair justamente por ser a presidente menos conivente com a corrupção que o Brasil já conheceu.

Assista o vídeo:


quarta-feira, setembro 09, 2015

Senta aqui, Fábio



"Com uma única frase e uma única bandeira, Fábio representou as toneladas de ódio que o reacionarismo à braZileira tem espalhado por 2015, deu-se a palmatória do mundo, fez-se Judas das esquerdas..Em surto aparente de fixação anal, Fábio imaginou (e descreveu) o dedo mindinho de Lula (morto e enterrado na fábrica, há décadas) enfiado no ânus dos brasileiros, nosso, dele, do Fábio.."


Não sei se está acontecendo no mundo lá fora ou se é um fenômeno na linha do tempo do meu Twitter, frequentada por comentaristas que eu mesmo selecionei seguir. Mas o fato é que meu adorado cantor Fábio Jr. conseguiu uma façanha inédita na primeira semana de setembro deste 2015 tão exaustivo que já parece durar quatro anos. Nesta Apoteose do Ódio que estamos vivendo, por conta de umas frases trôpegas, Fabião conseguiu nivelar os odiadores aos odiadores dos odiadores.

Tal qual o leão circense de Roberto Carlos em 1964, o ódio está solto nas ruas – e nas redes, onde, pela primeira vez, vejo hordas inteiras de esquerdistas descerem ao mesmo nível dos ignorantes políticos que gritam “Lula cachaceiro/ devolve o meu dinheiro” nas avenidas. A façanha foi de Fábio.

Tanto quanto é fino e delicado na interpretação das canções do coração infantilizado machucado, o cantor de “Senta Aqui” (1984) foi grosso, grosso, grosseiro e grosseirão ao falar do Brasil (e se enrolar numa bandeira do Brasil) num evento chamado Brazilian Day, promovido sazonalmente na mais simbólica megalópole do país que mais quer roubar de nós nosso pré-sal e nosso futuro: New York, nos United States of North Améerica.

Em surto aparente de fixação anal, Fábio imaginou (e descreveu) o dedo mindinho de Lula (morto e enterrado na fábrica, há décadas) enfiado no ânus dos brasileiros, nosso, dele, do Fábio. Sua atitude, na contramão, atiçou esquerdistas e progressistas brasileir@s a dirigir contra ele, um despretensioso (e excelente) cantor romântico, um naco assustador de ódio, provavelmente aquele ódio acumulado por tanto desaforo engolido, tanta agressão suportada, tanta ofensa sublimada.

Com uma única frase e uma única bandeira, Fábio representou as toneladas de ódio que o reacionarismo à braZileira tem espalhado por 2015, deu-se a palmatória do mundo, fez-se Judas das esquerdas, virou um Wilson Simonal que tivesse servido à Globo como galã-símbolo da branquitude de um país nada branco. E então o Brasil choveu uma avalanche de Fábios do Fábio, todos à esquerda de Fábio, de Lula, de Luciana Genro, do mundo, de Deus.

Rolou de um tudo para mesmerizar o eterno meninão sedento de colo e carinho. Para desmentir o preconceito antipetista ostentado por Fábio-Ostentação, petistas xingaram esse cara de drogado, bêbado (“Fábio cachaceiro/ devolve o meu dinheiro”), carrasco de pai, o diabo.

Outros se inspiraram na fixação anal nova-iorquina do ex-garanhão e mandaram Fabião ir tomar no cu, assim, sem meias palavras (como se fosse ruim tomar no cu, não é verdade, crianças de todos os sexos?).

Alguém sugeriu malhar um boneco inflável (ou “inflávio”, como têm grafado os jornalistas estagiários desta nossa triste profissão) do Fábio, um Fábio InFlávio, um InFábio. (Esses, aleluia!, trataram com bom humor esse assunto de altíssima desimportância.)

Uma outra turma usou Bono Vox, um chato de galocha supostamente esquerdista, para depreciar nosso mais novo candidato a sucessor filosófico do roqueiro reaça Roger Lobão. O que tem o cu a ver com as calças?, perguntaria eu, sob o risco de também embarcar  na voga da fixação anal.

Gosto do Fábio cantor (e eventualmente compositor) desde a minha infância. Um bom número dos meus clássicos afetivos particulares me parecem, além disso, excelentes canções pop brasileiras: “20 e Poucos Anos”, “Quero Colo” (1979), “Eu Me Rendo”, “Seu Melhor Amigo” (1981), “Enrosca” (sua versão sexy-safada para a obra-prima soul-pop do genial Guilherme Lamounier), “O Que É Que Há”, “Seres Humanos” (1982), “Quando Gira o Mundo” (1985), “Vida”, “Caça e Caçador” (1988), “Alma Gêmea” (1994)…

Movido por esse meu amor, vi alguns shows do Fábio ao longo dos anos, o último deles em março deste ano, logo depois do início das manifestações de ódio coxinha contra os trabalhadores e as trabalhadoras do Brasil. Ensaiei escrever sobre aquele show, mas desisti, me acovardei, passei pano – porque foi um espetáculo triste, melancólico,  deprimente.

Começava pelo ambiente, um decadentíssimo Credicard Hall, o mesmo lugar onde João Gilberto cunhou, para ferir a elite paulista, o meme “vaia de bêbado não vale”. Ah, se João estivesse naquele show do Fábio… Teria uma síncope.

Nesse dia de show do Júnior, o Hall dos artistas semideuses caía aos pedaços. Os leds apagados dos telões armavam horrorosas crateras no rosto do cantor de “enrosca o mu pescoço, dá um beijo no meu queixo e geme”. Taças tortas de plástico riscado acolhiam as lágrimas de Chandon que embebedavam a elite fabista.

De início achei que era azar meu ter caído numa mesa de bêbados de visual playboy e playgirl que conversavam sem parar, xingavam Fábio quando ele cantava (ou melhor, tentava cantar) uma música menos conhecida, gritavam “fora Dilma” a plenos pulmões, afirmavam aos berros que o show estava chato. A agressividade sublimada no ar estava pelas tampas (e pensar, hoje, que aquele ainda era o começo do começo do começo).

Depois fui prestando mais atenção ao redor e vi que a minha mesa era igual a todas as outras. A comunicação entre o artista e uma plateia de ~privilegiados~ extremamente mal-educados era zero. A  única celebridade presente, que Fábio fez questão de bajular, era Ronaldo Fenômeno, que parecia tão depressivo na plateia quanto Fábio no palco. As metades da laranja, dois amigos, dois irmãos. Saímos calados e sorumbáticos do show.

Os meses se amontoaram de março para cá, em clima de progressiva exaustão. Ninguém aguenta mais o arco tenso em que os verdadeiros decadentes transformaram nosso país. Ninguém aguenta mais. À esquerda, à direita e ao centro, ninguém aguenta mais.

O governo não acerta em debelar crises inventadas e falsificadas, menos ainda as que têm algum fundamento. Os odiadores não acertam em içar bonecos infláveis para navegar no mesmo espaço habitado por helicópteros lotados de cocaína e jatinhos sem nota fiscal.

A mídia que fomenta o ódio transforma (moto contínuo) ódio em falência e falência em ódio. Destila ódio no garrafão de pinga (Lula cachaceiro! Fábio cachaceiro!), dissemina ódio para seres submissos que leem jornais, assistem a telejornais e frequentam(os) shows burocráticos e hierárquicos de MPB.

Fábio, um notório artista não-militante, senta lá e vê o público que o humilha gritar “fora Dilma” e tem a brilhante ideia: vou ser igual a eles. As metades da laranja. Dois amigos. Dois irmãos.

O petista de tez autoritária vê o triste espetáculo protagonizado por Fábio contra Lula e Dilma e tem a brilhante ideia: vou ser igual e ele, a eles, a todo mundo que me trata como lixo o tempo inteiro. As metades. Da laranja.

Fábio, um notório artista não-militante, senta lá e vê o público que o humilha gritar “fora Dilma” e tem a brilhante ideia: vou ser igual a eles. As metades da laranja. Dois amigos. Dois irmãos.

O petista de tez autoritária vê o triste espetáculo protagonizado por Fábio contra Lula e Dilma e tem a brilhante ideia: vou ser igual e ele, a eles, a todo mundo que me trata como lixo o tempo inteiro. As metades. Da laranja.

Não estamos em ano de eleição (ou estamos, no moto contínuo da eleição perpétua). Não é ano de Copa, não tiramos 7 a 1 na prova de cultura política (essa, por sinal, é uma disciplina que até pouco tempo atrás nem estava incluída nas nossas grades escolares). Ainda não é ano de Olimpíada (vai ter!).

O nível de tensão estrangula tod@s, não há seres humanos que aguentem esta vida sem tréguas. Dá vontade de fazer a Wanderléa e sair gritando enrolada na bandeira verdamarela: por favor, senhores juízes, parem agora!

Sem seios e com pelo nas pernas, Thammy posa sem roupa


Uma foto de Thammy Miranda, 33, está dando o que falar. Completamente sem roupa, a filha de Gretchen, 56, posou para a biografia “Nadando Contra a Corrente”, lançada nos últimos dias em São Paulo.
Exibindo o resultado da cirurgia de retirada dos seios, além de mostrar pelos nas pernas, a famosa comentou com o jornal “O Dia” sobre a operação que realizou no ano passado. “Em casa eu ficava sem camisa até quando ainda tinha peito! Agora não saio na rua sem camisa porque não tem necessidade. Mas na praia ou na piscina fico sem camisa”, declarou.
Thammy também comentou que quase desistiu de lançar o livro que narra a sua trajetória. “Quando eu estava fazendo a revisão final da biografia pensei em desistir.Fiquei com medo de me expor tanto! Mas não fiz porque só pensava que ajudaria muita gente com isso“, disse ela reforçando que deixou “muitas coisas das ex-namoradas” de fora do livro para preservar as moças.

Carta ao Fábio Jr ou "Senta aqui"



Por Fernando Waschburger.

Fábio, fiquei pensando sobre o que escrever a respeito desse desabafo de Nova Iorque. Confesso que você, com toda a franqueza, há algum tempo vem parecendo decadente, beirando ao ocaso, um tanto em busca do seu canto do cisne, sabe?

Discursos politizados nunca foram o seu forte. Durante os anos de chumbo você falava de outros temas, lembra? É claro que lembra, até hoje você canta as mesmas músicas.

Quero te dizer que nunca me interessei pela sua vida privada, seus múltiplos casamentos e o seus problemas extracampo. Isso eu deixo para as revistas de fofoca. Agora, vamos e venhamos, Vinicius de Moraes lidou muito melhor com seus vários amores e até com o problema do álcool. Mas, que cabeça a minha, que comparação descabida, né?

Vou ser direto: aquela piadinha sobre o dedo do Lula, não fica bem nem em mesa de boteco no meio dos amigos. Ficou feio demais. Se você tem algo enfiado aí, guarda pra ti, amigão. Isso é coisa íntima e não interessa pra ninguém se dói ou não. Eu quase não resisti e ia escrever que para você o "Lula pintou como um sonho e foi atrás com tudo". Mas mudei de ideia. Se eu escrevesse isso, estaria me rebaixando ao teu nível de discurso.

Faz assim, diz que tinha bebido umas e outras e pede desculpas. Faz isso rápido, porque o Lobão foi nessa linha e tem cancelado um monte de shows. Se tudo der errado, também não invente de virar cantor gospel. A moçada dessa área é profissional, sabe ganhar grana e não vai cair nesse teu papinho oportunista.

A única palavra que me vem à cabeça sobre tudo isso é "constrangedor".

Mas, Fabinho... Resta uma saída! Como você é especialista em casamentos, quem sabe você não passa uma cantada na eterna "namoradinha do Brasil". A Regina, dizem que tem umas fazendas em terras indígenas e o discurso é bem parecidinho com o teu. Vai fundo amigão, afinal quem sabe vocês não são "almas gêmeas".


Quem fala, discursa ou reclama da saúde pública deveria participar da Conferência de Saúde


Por Gcrson Domont*

A XI Conferência Estadual de Saúde, tem como tema “Saúde pública de qualidade para cuidar bem das pessoas: direito do povo brasileiro”. Uma temática que incorpora diferentes significados, em contraposição à mercantilização, privatização e precarização dos serviços de saúde.

Vai discutir temas considerados transversais: a Reforma democrática e política, participação social, direitos sociais e democratização dos meios de comunicação, e o papel fundamental dos movimentos populares e conselhos de saúde.

Neste tempo de crise, é importante afirmarmos os valores da democracia e da participação. Conseguiremos construir uma sociedade justa, igualitária, fraterna e inclusiva se tivermos meios democráticos, de ampla participação popular. Não se constrói com autoritarismo uma sociedade efetivamente justa.

Destacamos a superação do modelo de comunicação em que o SUS dependia da intermediação da mídia tradicional, a informação não está mais exclusivamente nas mãos da grande mídia e a saúde não deve e nem precisa esperar que a mídia tradicional atue em seu favor. Essa intermediação já não é nem necessária na prática. Com o surgimento da internet, a mídia tradicional perdeu essa intermediação, foi superado pelos comunicadores que somos todos nós, a partir das redes sociais.

É necessário ir além das mudanças de regras eleitorais e colocar no centro das discussões a questão do poder de forma ampla. “O exercício do poder, os mecanismos que temos para exercer o poder e os caminhos que temos para controlar o poder. O poder reflete a desigualdade brasileira e também estrutura os processos de desigualdades que vivemos. Que o poder seja alicerçado na soberania popular, afastando o Poder econômico e seu monopólio. A reforma do sistema político é um dos caminhos fundamentais para a democracia e a participação social no país.

É por isso consideramos que o processo da XV Conferência Nacional de Saúde, onde se encontra a XI Conferência Estadual de Saúde, nos contempla. O CNS assumiu a crítica, quanto aos limites e equívocos cometidos pelos Conselhos de Saúde que levaram à perda da representatividade dos Conselhos de Saúde e recolocou a questão de que a quantidade, a diversidade e a autonomia devem ser buscadas e refletem a qualidade do processo da participação, nos fóruns instituídos de participação – propôs por exemplo, retomar o caráter reflexivo e mobilizador dos Conselhos de Saúde – isso ajuda a se enfrentar os mecanismos de exclusão cristalizados nos Conselhos de Saúde.

A XV Conferência Nacional de saúde inova ao incluir no seu processo a inclusão dos não incluídos e o diálogo com os movimentos populares, fortalece o processo ao incluir uma quarta etapa as Conferências de Saúde, talvez a mais obvia das ações; o monitoramento do PPA. Pouco adianta se chamar os usuários do SUS os trabalhadores de saúde e os prestadores e gestores, sem que fosse garantida a inclusão das diretrizes das Conferências no Plano Pluri Anual (PPA), a Lei que transforma em política pública as propostas e diretrizes da Conferência. Agora se espera que cada conselheiro cumpra seu papel, melhor articulado com os movimentos sociais e respaldado pela base legal do SUS, amplie e consolide definitivamente o SUS.

"O Conselho Nacional de Saúde também reafirma o papel das conferências como processo político mobilizador de caráter reflexivo, avaliativo e propositivo, não devendo ser visto meramente como um evento. Diante disso, na 15ª Conferência Nacional de Saúde, o CNS propõe incentivar o princípio da paridade de gênero, sem comprometer a paridade entre os segmentos; superar as barreiras de acessibilidade às pessoas com deficiência; e Instância máxima de deliberação do SUS, Lei nº 8.142, de 28/12/1990. Lei nº 8.142, de 28/12/1990. Garantir acesso humanizado. Recomenda também a participação de movimentos sociais e populares não institucionalizados, conforme estabelece o Regimento da 15ª CNS”.

A etapa estadual da Conferência Nacional e a XI Conferência Estadual de Saúde acontecerão nos dias 15, 16 e 17 de setembro de 2015, no Centro de Cultura Cristã, em Ananindeua discutindo e aprofundando as mesmas temáticas assim como aconteceu nas etapas municipais.

*Gerson Domont é presidente do Conselho Estadual de Saúde do Estado do Pará.

segunda-feira, setembro 07, 2015

Prefeito do PSDB é constrangido durante desfile escolar


Manoel Pioneiro, prefeito de Ananindeua passou vergonha por não pagar os direitos dos professores municipais. 

Durante os desfiles das escolas municipais, na Semana da Pátria, promovida pela Prefeitura Municipal de Ananindeua, um homem com uma criança no colo se aproximou do palanque oficial e entregou uma camisa ao Prefeito Manoel Pioneiro (PSDB), que todo alegre, achando que era um eleitor a prestar-lhe uma homenagem, recebeu uma camisa ofertada pelas mãos do garoto, suspenso pelos braços do ilustre desconhecido.

No entanto, para sua surpresa e constrangimento, o "presente" continha a frase: "Prefeito, pague a GNS do (a) meu Professor".

A sigla "GNS", significa "Gratificação de Nível Superior", que o tucano se recusa a pagar aos professores municipais, na segunda maior e mais mais populosa cidade da região metropolitana de Belém do Pará, Estado com o pior desempenho no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), de 2014.  

Veja as fotos.









Até entre os seus amigos e assessores, a ‪#‎VengonhaAlheia‬ do prefeito foi inevitável e a tentativa de gritar com o manifestante, piorou ainda mais a situação embaraçosa que um homem comum, com seu gesto de protesto, conseguiu promover de forma criativa e impactante. 

Manoel Pioneiro, assim como o prefeito de Belém, Zenaldo Coutinho, elegeram-se em 2014 prometendo mundos e fundos, ao lado do governador Simão Jatene, alegando que por serem todos do mesmo partido, o PSDB, resolveriam os problemas de má renumeração dos servidores municipais e da estrutura física dos prédios públicos, principalmente da educação e da saúde.

Pena que nenhum outro blog tenha dado destaque para o fato tão inusitado, que bombou nas redes sociais e por isso ganhou uma pequena nota no jornal Diário do Pará, já que os outros dois (O Liberal e Amazônia), raramente noticiam algo negativo das gestões do PSDB. 

Segundo uma fonte do blog, que teve contato com um assessor de Pioneiro, este teria admitido logo após o fato, que nem o SINTEPP, Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Estado do Pará, havia lhe causado tamanho estresse e constrangimento, nestes 13 anos que ele está como prefeito de Ananindeua.


Symmy Larrat e seu destaque como coordenadora LGBT no governo Dilma

Paraense, ela só assumiu sua transexualidade aos 30 anos, sabendo que enfrentaria o preconceito. (Foto: Marcello Casal Jr./Ag. Brasil)

Gostei muito da entrevista com Symmy Larrat, publicada na edição deste domingo (06), no jornal Diário do Pará e avalio que foi até pequena para demostrar as lutas e conquistas desta pessoa amiga e trabalhadora, que eu conheço desde os tempos em que era estudante do curso de Comunicação Social, na UFPA e tive a honra de conviver no movimento estudantil e até fazer alguns "freelas". 

Nunca esquecerei das revistas e materiais da área da comunicação e do jornalismo, que lá por volta de 1998, o Marcelo Carvalho (como ainda era chamada) me dava para ler e estudar. Por ser minha vizinha no bairro da Marambaia, sempre a encontrava nos ônibus da linha "Sacramenta Nazaré" e depois morou de aluguel em um apartamento do tipo kitnet, em minha rua, poucos antes de partir para Brasília, onde há dois anos se destaca como profissional e militante dos direitos humanos e LGBTs

Antes de chegar à Coordenadoria Geral de Promoção dos Direitos LGBT, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Larrat batalhou muito. Foi dirigente estudantil, assessora de imprensa e comunicação de mandatos parlamentares, entidades sindicais e de vários segmentos sociais, além de contribuir com a formulação, debate e elaboração de várias políticas públicas voltadas à sua área de militância político-social, tanto no Pará e agora nacionalmente. 

Onde quer que esteja, ou o que for que faça, Larrat sempre arrasa!


Simmy Larrat é dessas pessoas que não costumam esconder o que pensam. É segura, objetiva e tem na luta pelos direitos humanos sua maior bandeira. Paraense de 37 anos, Simmy é, hoje, uma referência para pessoas que, como ela, defendem o direito de ser o que são em sua essência: é uma mulher, que, como tantas outras, enfrentou todo tipo de preconceito e discriminação para se assumir. Symmy Larrat é a primeira travesti a ocupar a função de coordenadora-geral de Promoção dos Direitos LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais), da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.

Para chegar aonde chegou, Symmy Larrat percorreu um longo caminho. O primeiro desafio foi aceitar a si mesma, para assumir sua transexualidade, o que só aconteceu aos 30 anos. Homens e mulheres transexuais e travestis são pessoas que nascem com um sexo biológico, mas se identificam como sendo do outro gênero. E isso acontecia com Sammy desde a infância, quando preferia brincar com as bonecas da irmã mais velha do que com os carrinhos.

De família católica, sofria com a possibilidade de fazer a mãe – sua melhor amiga e confidente – sofrer. As duas hoje se falam todos os dias. Sofrem juntas o distanciamento físico – Simmy mora em Brasília e a mãe, em Belém. Nesta entrevista, Simmy Larrat fala do preconceito e do “fascismo”, segundo ela, exercido pela bancada conservadora do Congresso Nacional. Em sua opinião, o Brasil avançou bastante nas políticas de gênero, mas ainda há muito o que trilhar. Ela critica duramente a forma como algumas câmaras municipais vêm tratando os planos de educação, excluindo deles a questão de gênero.

A paraense também não poupa críticas ao governador Simão Jatene, que, acredita, assim como uma fatia de conservadores paraenses, utiliza uma forma velada para camuflar o preconceito, ao não regulamentar o Projeto de Lei 25/2010, de autoria da deputada Bernadete Ten Caten, que proíbe discriminação de qualquer cidadão em virtude de sua orientação sexual, de seu credo, sua raça ou cor. O projeto foi aprovado por unanimidade na Assembleia Legislativa do Pará (Alepa), em 2011, mas nunca foi regulamentado por Simão Jatene. Se já tivesse sido sancionada a lei, o Pará seria o primeiro Estado a punir atos homofóbicos. Como isso não aconteceu, o Pará é um dos poucos Estados brasileiros que não têm legislação própria nessa esfera de direitos.

P: Como foi chegar ao cargo que você ocupa, que é o mais alto hoje no país, entre pessoas LGBTs?

R: Vivemos um período de reconhecimento e de conquistas pela luta por nossos direitos. Por outro lado, é também o momento em que há uma reação muito forte dos conservadores. As pessoas que têm preconceito tiraram as máscaras e começaram a declarar ser contra todas as conquistas que obtivemos, que eles não aceitam pessoas trans nas escolas e nem mesmo conviver com pessoas assim. Neste cenário, a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República decidiu nomear uma trans para um cargo de grande simbolismo para essa população. Acho que isso é de grande importância e mostra que há uma luz no fim do túnel.

P: Pode-se dizer que o paraense tem um jeito mais leve de ser, sem tanto preconceito ou conservadorismo?

R: Acho que o paraense não tem uma reação tão latente e tão forte quanto há hoje em outras regiões do país. Por outro lado, temos muita dificuldade de ver no Pará políticas públicas para esta população sendo executadas. Às vezes, não falar contra não quer dizer que as pessoas não sejam contra. Às vezes, elas operam na surdina para evitar que qualquer conquista nossa seja colocada em prática.

P: Não cooperar pode significar algum tipo de preconceito?

R: Exatamente. Nós temos, por exemplo, uma lei contra discriminação no Pará, de autoria da deputada Bernadete TenCaten, que foi aprovada em 2011 na Assembleia Legislativa e que até hoje não foi colocada em prática. Em São Paulo e em muitos outros Estados brasileiros, existem leis semelhantes que funcionam, que são aplicadas. E você não vê essa lei funcionando no Pará. É a mesma lei, exatamente igual, mas nunca foi sancionada pelo governador do Pará. O mais importante é que essa lei não trata apenas do preconceito de gênero, mas aborda também preconceito de raça, religioso, entre tantos outros sofridos pelas minorias. E você não vê essa lei sair do papel no Pará. Esse é um exemplo de como o preconceito velado, às vezes, é mais prejudicial.

P: E na sua infância, como foi enfrentar isso tudo?

R: Eu nasci e fui criada em Belém, na Marambaia, com minha mãe, no Conjunto Médici. No fim da adolescência, entrei na Universidade Federal do Pará.

P: Já como trans?

R: Não. Eu só assumi minha travestilidade aos 30 anos. Eu venho de uma família muito religiosa. São católicos e muito conservadores. Minha mãe tinha muito medo de como a sociedade ia me encarar. O medo dela era em relação à violência a que eu estaria exposta. Eu sempre fui uma pessoa muito ligada à minha mãe. Eu não queria fazer nada que a magoasse. Sempre fui muito expansiva, sempre militei em movimentos estudantis. Minha mãe tinha muito medo de que algo me acontecesse. Por isso, por minha mãe e pela relação que temos, demorei a assumir meu lado trans. Eu acabei, por muito tempo, negando minha identidade trans, com o objetivo de poupar a minha mãe de sofrimentos. Somente depois que amadureci passei a lutar pelo apoio da minha mãe pela minha verdadeira identidade. Hoje, digo com muito orgulho que minha melhor amiga é minha mãe. Essa é, para mim, uma conquista maior do que a conquista que tenho hoje (do cargo na Secretaria de Direitos Humanos na Presidência da Repúbilca). Minha mãe entende a pessoa que sou hoje. Essa é a maior conquista da minha vida.

P: Você já tem algum projeto que possa ser comemorado?

R: Estou há apenas 2 meses aqui neste cargo. Mas muito em breve vamos apresentar para a sociedade uma proposta de inclusão de pessoas trans. Essa será, com certeza, uma grande conquista. Eu acredito que o processo de elaboração de pesquisas vai dar um retorno positivo para a sociedade, principalmente na inclusão de pessoas que são invisíveis para o Estado.

P: Você precisa do apoio do Congresso para implantar essas políticas públicas?

R: Há, hoje, no Congresso, uma lei tramitando, baseada em leis internacionais sobre identidade de gênero. O projeto de lei (PL 5002/2013) é de autoria do deputado Jean Wyllys (PSol-RJ) e da deputada Éricka Kokay (PT-DF). Essa lei garante a identidade de gênero, ou seja, toda e qualquer pessoa terá o direito de solicitar a retificação registral de sexo e a mudança do prenome e da imagem, sem burocracia. Mas acho difícil, pela atual composição e conjuntura do Congresso, que essa lei caminhe. Não acredito que vá para frente nos próximos 2 anos.

P: Em outros países, é comum as pessoas sofrerem tanto preconceito como acontece no Brasil?

R: Sim. A onda conservadora não é privilégio brasileiro. Porém, aqui, estamos vendo com muita incisão o discurso conservador que chega até a agressão física. Temos, por exemplo, três parlamentares brasileiros que são constantemente atacados por suas posições em defesa dos direitos humanos. Essas pessoas sofrem, inclusive, agressões físicas. Estou falando de Jean Wyllys, de Ericka Kokay e de Maria do Rosário (PT-RS), que já tomou empurrões de grupos conservadores, que já ouviu um colega parlamentar dizer a ela que merecia ser estuprada. Você pode imaginar o que é uma mulher ouvir isso? Nessa proporção de ataques a pessoas, o Brasil está vivenciando um momento lastimável no Poder Legislativo.

Transitamos com muita facilidade em outras esferas de poder, como no Executivo e no Judiciário. Mas essa reação tão ríspida e tão desvelada acontece hoje no Legislativo brasileiro. Há um discurso de ódio no Legislativo. O que vivemos no Congresso é fascismo puro. Tudo pelo que lutamos está voltando de forma odiosa, sem que ninguém faça nada. É muito temeroso o que está acontecendo no Legislativo brasileiro.

P: Apesar de tudo isso, você acha que o Brasil avançou de alguma forma nessa questão?

R: Sim, e muito. No Legislativo Federal, não avançamos em nada. Mas há avanços nos Legislativos estaduais, nos Executivos estaduais e municipais e no Judiciário. No Judiciário, o casamento de pessoas do mesmo gênero trouxe inúmeros benefícios, como direito ao plano de saúde e à herança. Os mesmos direitos de pessoas de sexos opostos em uma união. Temos também a conquista do homossexual no SUS (Sistema Único de Saúde), que, é claro, ainda é muito pequena, mas que abre portas para novas conquistas. Temos direito ao nome social. Ou seja, o que temos hoje não é pouca coisa. Mas isso, para séculos de exclusão, ainda deixa a desejar.

P: Você está morando em Brasília. Do que sente mais falta da sua vida no Pará?

R: Da minha mãe e do povo. Nós, paraenses, somos acolhedores de uma forma que não existe igual em nenhum outro lugar do Brasil. Estou há quase 2 anos longe de Belém e sinto muita falta do calor e do carinho do povo paraense. E também sinto muita falta do nosso açaí. Eu adoro açaí.

sexta-feira, setembro 04, 2015

Para reflexão de todos: Pacto contra o rentismo



Por Silvio Caccia Bava.

Não há “erros” praticados na condução do ajuste. É a defesa dos interesses rentistas que define a política, em oposição a um amplo leque de atores que sofrem com essa estratégia.

A estratégia tem vários componentes: capturar o Estado e submetê-lo a seu estrito controle, apropriar-se da receita pública para proveito próprio, baixar o custo da força de trabalho, privatizar bens públicos, cortar políticas sociais, transformar a questão social numa questão de polícia.

Na crise, as grandes empresas aplicam no mercado financeiro para garantir seus lucros, mas as pessoas passam a ter menos dinheiro para consumir, o aumento do desemprego rebaixa os salários e a pobreza retoma seu espaço no lar das maiorias. Com isso, o mercado se contrai e o faturamento dos comerciantes e prestadores de serviços cai. As pequenas e médias empresas se veem em dificuldades. Evidentemente, há muita gente descontente, e o grande vilão são os juros.  

Contra a alta dos juros e em favor da manutenção do emprego, da ampliação da capacidade de consumo e da dinamização do mercado interno, podemos observar manifestações recentes de centrais sindicais, da Fiesp, da Abimaq, entre outras importantes entidades dos trabalhadores e empresariais.

É preciso superar a interdição do debate sobre as alternativas de desenvolvimento e trazer para o espaço público as análises e propostas que podem enfrentar a crise de uma perspectiva que garanta a retomada do crescimento com inclusão social e sustentabilidade ambiental.

Há questões que a conjuntura estimula a pensar. É possível estabelecer pactos sociais pontuais para enfrentar as políticas macroeconômicas do rentismo? O impacto do ajuste, que começa a ser mais intenso agora, abre uma oportunidade ímpar de negociações e articulações para organizar a resistência e a reversão dessas políticas. 

Há, no entanto, uma condição essencial: a reapropriação do espaço público. Os cidadãos, e suas representações coletivas, precisam vir a público debater suas ideias, suas posições. É o contrário do panelaço, que interdita a fala. É preciso assegurar aos cidadãos brasileiros que há estratégias alternativas para superarmos a presente crise, sem que a conta recaia unicamente nas costas dos mais pobres.

Sabemos que a democracia está em risco, violada em todos os poderes da República, violada no respeito mútuo que a igualdade de direitos deveria assegurar entre os cidadãos. Caminhamos para a radicalização, a violência, regimes autoritários.

Essa tendência, no entanto, pode ser revertida. É uma tarefa para a cidadania ativa. No mundo, e aqui mesmo, assistimos recentemente a enormes manifestações de rua. No nosso caso, desde junho de 2013, e mesmo antes, se considerarmos o número crescente de greves e manifestações dos movimentos sociais, os cidadãos estão se reapropriando do espaço público. A particularidade deste momento é a presença das classes médias nas ruas. Há uma disputa do espaço público e das narrativas que explicam a crise e apontam seus responsáveis.

Mesmo com toda a mídia contra, as forças sociais de resistência ao ajuste ainda têm espaço de expressão pública e podem conquistar espaços mais amplos. Agregando distintos setores sociais, a combinação de seus esforços pode ampliar a adesão social ao movimento de resistência. Porque é disto que se trata: disputar na sociedade as alternativas de desenvolvimento. Não sobraram instituições políticas capazes de processar os conflitos sociais.

A democracia e suas instituições serão revigoradas apenas por pressão social e por mudanças nas políticas macroeconômicas que atendam aos interesses das maiorias. Neste momento trata-se de politizar o social e socializar a política. Trata-se de realizar um enorme esforço de esclarecer a cidadania, organizar debates públicos, apresentar e debater propostas de saída para a crise, para construir um Brasil melhor para todos.     

Já há uma trajetória de acúmulos nos debates e negociações sobre a possibilidade de pactos sociais que envolvam atores interessados na promoção do desenvolvimento sustentável com inclusão social. Pouco tempo atrás, depois de um ano de debates, o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social apontou para a possibilidade efetiva de estabelecer um mínimo denominador comum, um conjunto pequeno de proposições que alinham interesses e atores diversos num compromisso de ação para superarmos a presente crise.

A construção de um pacto contra o rentismo vai se tecendo. A recente declaração conjunta de todas as centrais sindicais em defesa do emprego e da democracia é um importante passo nesse sentido. Mas o acontecimento mais importante na perspectiva de articular as forças de resistência ao ajuste é o lançamento, neste mês, da Frente Brasil Popular. Passam a agir em conjunto movimentos, entidades, associações, sindicatos e partidos, fundamentalmente para lutar contra o rentismo, ampliar o espaço público e debater com a sociedade a encruzilhada do nosso desenvolvimento.

Há uma necessidade sentida por toda parte, nos bares, nos ônibus, nas conversas, nesta particular conjuntura, de um debate nacional sobre o futuro do país. Como superar a crise? Qual desenvolvimento queremos? Como chegar lá? Criar novos espaços para abrigar essas preocupações e debatê-las pode aglutinar distintas forças sociais. Pode mesmo criar condições para que se convoque um Fórum de Desenvolvimento e se convidem entidades patronais para o diálogo.

O diálogo e o debate são o caminho para o resgate da democracia, para a negociação de novos pactos sociais, para sairmos do estrangulamento econômico que o ajuste nos impõe. Para isso a sociedade precisa se dotar de instrumentos e espaços para o diálogo. Há exemplos, como as “mesas de concertación” no Peru, de construção de mesas de diálogo nacionais e regionais com a participação de todas as classes sociais, para negociar o modelo de desenvolvimento e questões específicas. O futuro se decide agora.


*Silvio Caccia Bava é diretor e editor-chefe do Le Monde Diplomatique Brasil.

quarta-feira, setembro 02, 2015

Estudo do IPEA afirma: Pará oferece a segunda pior condição de vida da região Norte.

Na região Norte, 41,9% dos municípios estão no grupo de IVS - Índice de Vulnerabilidade Social - muito alto. O Estado que apresenta maior percentual de municípios nessa faixa do IVS é o Amazonas, com 80,6%, seguido do Pará, com 63,6%.

Por Luiza Mello, no Jornal Diário do Pará.

A região Norte concentrava, em 2010, 41% dos municípios na faixa de muito alta vulnerabilidade social. O Pará, mais uma vez, desponta como um dos Estados de mais alta exposição de sua população à má qualidade de serviços públicos. Os dados foram divulgados ontem, pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O Índice de Vulnerabilidade Social (IVS) no Brasil avaliou parâmetros de infraestrutura urbana, saúde, educação, renda e trabalho entre 2000 e 2010. Quanto maior o índice, piores são as condições de vida da população.

Nenhum município da região Norte se encontra na faixa de IVS muito baixo e 29 estão na faixa do IVS baixo. O Estado que apresenta maior percentual de seus municípios na faixa do IVS baixo é Rondônia, com 25%. Em seguida, aparece o Estado do Tocantins, com 10,8% dos municípios, observados no eixo da rodovia BR-153; e Boa Vista (RR).

Na faixa do IVS médio estão 24,1% dos municípios desta macrorregião, incluindo Belém, Manaus, Porto Velho, Rio Branco e Macapá. Já as capitais Palmas e Boa Vista apresentam baixo IVS. As maiores evoluções do IVS (redução da vulnerabilidade social), entre 2000 e 2010, ocorreram nos Estados do Tocantins, de forma generalizada, e, pontualmente, em municípios da área central de Rondônia, sudeste do Pará, oeste do Amapá e nos municípios de Tefé e Codajás, no Amazonas.

No Brasil, o IVS caiu 27% entre 2000 e 2010. O indicador que mede a exclusão social da população passou de 0,446 para 0,326 em uma década. Com o resultado, o Brasil passa da faixa de alta vulnerabilidade social para a faixa média do índice.

O levantamento atualiza o índice dos 5.565 municípios brasileiros, segundo avaliação feita em 2010. A quantidade de municípios com vulnerabilidade social baixa ou muito baixa subiu de 638 para 2.326 em dez anos, segundo o documento. Os municípios com alta ou muito alta vulnerabilidade, que eram 3.610 em 2000, somaram 1.981 em 2010. A melhoria foi mais intensa nos indicadores de trabalho e renda, e menor na área de infraestrutura urbana, segundo o Ipea.

DESIGUALDADES REGIONAIS

Na região Nordeste, os estados do Maranhão, Alagoas, Pernambuco e partes da Bahia concentraram municípios com muito alta vulnerabilidade social. Mas a maior predominância na região é o índice de alta vulnerabilidade, com quase 50% das cidades nordestinas, em 2010.

O levantamento apontou ainda, que a melhora foi mais nítida em alguns estados das regiões Centro-Oeste ( faixa de fronteira de Mato Grosso do Sul), Norte (especialmente no Tocantins) e Nordeste (sobretudo no Sul da Bahia, Ceará, Rio Grande do Norte e leste de Pernambuco).

“O conjunto de mapas e gráficos demonstra que a melhoria nas condições de prosperidade social não ocorreu de forma homogênea em todo o território nacional”, diz o relatório do Ipea.

Segundo o estudo, enquanto a maior parte dos municípios do centro-sul do país avança para os níveis mais altos da combinação entre alto desenvolvimento humano e baixa vulnerabilidade social, os municípios do Norte e Nordeste permanecem, em sua maioria, à margem do desenvolvimento. 
De acordo com o Ipea, isso evidencia a existência de um país polarizado, com realidades, necessidades e prioridades distintas, que “devem ser mais profundamente investigadas a fim de superar as, ainda existentes, desigualdades regionais”.


terça-feira, setembro 01, 2015

Quem te viu, quem te vê: Luciana Genro cai nas graças de FHC



Depois de Marina Silva aceitar ter sido financiada pelo Itaú, em sua campanha para presidente em 2014, chegou a vez de outra presidenciável da esquerda piscar para o outro lado.

Segundo a Folha, Luciana Genro se encontrou com FHC, isso mesmo, Fernando Henrique Cardoso, um dos caciques do PSDB, nesta segunda-feira (30) e não estava sozinha. Levou consigo a cúpula do PSOL para pedir apoio do tucano e juntos tiveram momentos de descontração e alegria, ao ser recebida pelo ex-presidente, que sempre acusou de neoliberal e representante das elites, que ela e seu partido dizem combater. 

Luciana Genro foi expulsa do PT junto com a então senadora Heloísa Helena (AL) e os deputados João Batista Babá (PA) e João Fontes (SE), em dezembro de 2003, após decisão do Diretório Nacional do partido que decidiu que não havia espaço no partido para quem queria fazer oposição ao governo (Lula) à época. 


Marina Silva foi ministra de Lula e desfiliou-se em Agosto de 2009, alegando que iria "em busca do sonho de lutar pelo desenvolvimento sustentável do meio ambiente".

Como se vê, ambas saíram do PT dizendo entre outras coisas, que o partido havia perdido seus princípios fundadores e que por isso, não lhes caberiam mais. Assim como as duas fizeram em 2014, Heloísa Helena também concorreu à cadeira de presidente do Brasil (em 2010), porém todas, como se sabe, não obtiveram êxito. 



A matéria da Folha dá o resto do informe histórico e até outro dia, inacreditável para milhares de militantes do Partido do Socialismo e Liberdade

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tentou explicar sua declaração sugerindo a renúncia da presidente Dilma Rousseff durante uma reunião com uma comitiva do PSOL nesta segunda-feira (31). Ele ainda ofereceu ajuda ao pequeno partido contra uma proposta em tramitação no Congresso.

O grupo, recebido pelo ex-presidente em seu instituto, era liderado pela ex-deputada Luciana Genro, que se notabilizou por embates com o tucano Aécio Neves na campanha eleitoral de 2014.

Há duas semanas, Fernando Henrique afirmou, em texto publicado em sua página no Facebook, que a renúncia da presidente seria um "gesto de grandeza".

Aos dirigentes do PSOL ele disse que a sua declaração foi interpretada de modo equivocado, e que o sentido da manifestação foi: "Ou renuncia ou governa."

Luciana Genro organizou a reunião com o ex-presidente buscando apoio para evitar a aprovação no Senado de um projeto que reduz o espaço de partidos menores em debates e na TV já na campanha eleitoral do ano que vem.

Em clima descontraído, os temas do encontro migraram para assuntos de afinidade entre os dirigentes do partido e o ex-presidente, como o movimento estudantil de 1968 na França e o papel das redes sociais na organização política.

O tucano provocou gargalhadas ao responder a um comentário de Luciana sobre pesquisas que a mostram em segundo lugar na disputa pela Prefeitura de Porto Alegre no próximo ano. "O povo é maluco mesmo", falou.

O ex-presidente ainda levou a cúpula do partido a uma visita por galerias de seu instituto, no centro de São Paulo. O PSOL tentou marcar um encontro também com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para debater a proposta, mas a reunião não foi realizada.

Luciana disse que já tinha conversado com o tucano há um mês e que ele vem adotando uma posição "muito corajosa" sobre a descriminalização da maconha. "É uma pessoa que preza valores democráticos e por isso está nos ouvindo", disse à reportagem.

Para a ex-candidata, o apoio do PSDB é fundamental para derrubar a proposta no Senado. Fernando Henrique disse que sua influência no partido é limitada, mas falou que contataria senadores para discutir o assunto.

Veja abaixo o que Luciana disse sobre FHC, em um debate ocorrido em Setembro do ano passado. Para coisas mais pesadas, uma rápida busca no Google fará qualquer um ficar de boca aberta com a mudança de comportamento de "revolucionária" militante do PSOL.

segunda-feira, agosto 31, 2015

Wlad ia fazer "maior onda", mas virou o deputado mais gazeteiro de Brasília

Destaque na imprensa nacional, o deputado federal mais votado do Estado do Pará é também o mais gazeteiro.

Por Diógenes Brandão´

Wladimir Costa era radialista e com seu ‘estilo’ ácido e moralista, sempre meteu o pau na classe política, chegando a dizer várias vezes que jamais seria político, por abominar a corrupção e as regalias existentes. Foi processado várias vezes por calúnia e difamação, além de ser acusado por muitos prefeitos e empresários paraenses por extorsão. 

A prática de ameaçar contar algum “podre” de alguém, para depois receber dinheiro para ficar calado foi durante muito tempo uma marca do 'Wlad', como gosta de ser chamado. Com o feito, começou a comprar bens e investir em sua carreira artística e empresarial.

Irreverente e egocêntrico, Wlad montou uma banda musical e ingressou no ramo artístico, onde aumentou o alcance de sua imagem pública e com isso, lançou-se a candidato na disputa eleitoral para uma vaga na Câmara dos Deputados, nas eleições de 2003, quando prometia chegar em Brasília e “fazer muita onda”, com os políticos “ladrões e preguiçosos”. Deu certo e de lá pra cá, Wlad é reeleito com uma das maiores votações do Estado do Pará. 

É claro que algumas rádios comerciais e comunitárias que o deputado federal coleciona, lhe ajudam bastante a propagar suas mensagens ao público eleitor, atacando seus adversários e se auto-elogiando, além de manter o ciclo lucrativo com as concessões públicas de radiodifusão, proibidas pela Constituição Federal de serem de mandatários políticos, mas que é letra morta em nosso país.

Polêmico e envolvido em diversas denúncias de peculato, desvio de recursos públicos entre outras acusações e respondendo a inúmeros processos em diversas cortes judiciais, tanto na justiça paraense, quanto no STF, Wlad que é titular da Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados, ganha agora outro título, o de deputado federal mais gazeteiro de Brasília.

A informação está publicada na matérias "Os 20 deputados que mais faltaram no primeiro semestre" publicada no portal MSN e a vergonha é de todos os eleitores, deste que se proclama o “federal do povão”.


terça-feira, agosto 25, 2015

Tarso Genro: O legado de Cunha



A naturalidade com que foi recebida a resposta de Eduardo Cunha pelos “formadores de opinião” da grande mídia e a passividade de boa parte da bancada governista federal -inclusive do meu Partido- a respeito das denúncias contra ele, mostra que crise não vai recuar e que o poder do Presidente da Câmara, por razões até agora desconhecidas, é muito maior do que se pensa.

Leio que dois dignos deputados federias do Partido dos Trabalhadores, Alexandre Molon e Henrique Fontana (certamente temos outros), em conjunto com deputados de outras extrações, lideram um movimento para a retirada de Cunha da presidência da Câmara Federal, fundados na denúncia do Procurador Janot. Como Cunha respondeu a esta denúncia? Respondeu que não vai “retalhar”.

Vejam: a resposta é que não vai “retalhar!”. Esta reação, por si só, mostra que Eduardo Cunha vai jogar o jogo até o final e que, por desespero ou segurança, está convicto que pode continuar sendo -muito além da plêiade tucana- o principal líder da oposição ao Governo da Presidenta Dilma que, atado numa base parlamentar que defende a “austeridade” (para os outros), não tem vontade política nem projeto para sair da crise, diferente daquele que o neoliberalismo defende em escala mundial: um “ajuste” meramente orçamentário, sem tocar na política monetária, na orgia dos juros, e sem encaminhar um combate -a curto e médio prazo- às desigualdades de renda, num país que ainda é fundamentalmente injusto.

Quando Cunha diz que não vai “retalhar” ele está dando, na verdade, três recados, a distintas fontes de poder político e jurídico: ao Governo Federal, está dizendo que pode ”retalhar”, se quiser; à oposição demo-tucana, que continua às ordens, para sabotar qualquer iniciativa do Governo; ao Procurador Janot -que ele acusa absurdamente de estar agindo a pedido do Governo- avisa que não reconhece a sua denúncia como o cumprimento de um dever republicano, mas como mero produto de uma barganha política.

A resposta do Presidente da Câmara escancara, não a falência da Carta de 88 ou do regime de democracia política que está inscrito naquele diploma, mas sim a decadência completa de um sistema político específico, que permite que um líder da oposição seja do Partido mais forte que está Governo e que este mesmo quadro, acusado de corrupção (desta mesma oposição), seja o fiador, ao mesmo tempo, da estabilidade do Governo, e da possibilidade do seu impedimento.

Trata-se de uma situação de aparente “normalidade”, que, na verdade abre espaço para a “exceção”, já que esta sempre se apoia num certo desencanto do povo -formalmente criador e destinatário das normas de convívio político democrático- que passa a sentir a democracia como um regime falido. E o sentimento de que a democracia está falida e que os líderes das diversas facções de opinião não se entendem para preservá-la, abre espaço para tentação fascista: a autoridade substitui a política e a burocracia substitui os partidos.

Produz-se, então, uma época triste e violenta em que, como disse recentemente Boaventura Souza Santos, o “insulto tornou-se meio mais eficaz de um ignorante ser intelectualmente superior a um sábio” e a “desigualdade tornou-se mérito”. A resposta de Cunha à denúncia do Procurador Janot foi um ataque à democracia e à República, não uma peça de defesa. Este é o seu principal legado. Devem estar celebrando aqueles que, em manifestações recentes, se apresentaram como “todos somos Cunha.”

Penso que a grande maioria de todos os partidos democráticos não é representada por Cunha e não aceitam ser confundidos com ele, pelo menos até que sua inocência seja acatada pela Justiça, se o for. Por isso deveríamos aproveitar este momento, em que a crise política é levada ao seu ponto mais alto de maturação, para desbloquear a Câmara Federal, promovendo um movimento amplo e suprapartidário, para que ele, Eduardo Cunha, responda o processo fora da Presidência da daquela casa parlamentar. Este seria o único aspecto positivo do seu legado.

Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil

Crise: Edmilson Rodrigues perde seu braço esquerdo no PSOL

Luiz Araújo deixou o PT para fundar o PSOL, onde viveu até então organizando a corrente interna "Primavera Socialista" e supostame...