No Blog do Josias de Souza
Presidenciável do PSDB, o governador José Serra converteu-se em expectador de uma sessão de espancamento da era tucana.
A convite de Lula, Serra sentou-se na platéia da megacerimônia de lançamento do marco legal para a exploração do petróleo do pré-sal.
Ao discursar, Lula desancou o governo do antecessor Fernando Henrique Cardoso, presidente de honra do PSDB e amigo de Serra.
Lula disse que, em 1997, sob FHC, "altas personalidades chegaram a dizer que a Petrobras era um dinossauro”.
Não um dinossauro qualquer, mas “o último dinossauro a ser desmantelado". Lembrou que o tucanato investira contra a estatal.
Chegara mesmo a cogitar a mudança de nome da empresa, que passaria a se chamar Petrobax. Ironizou: "Sabe lá o que esse xis queria dizer nos planos de alguns exterminadores do futuro".
Agora, disse Lula, esses "pensamentos subalternos" foram superados. "O país deixa para trás o complexo de inferioridade. Como é bom andar de cabeça erguida e olhar com confiança para nosso futuro!"
"Benditos amigos e companheiros do dinossauro, que sobreviveu à extinção, deu a volta por cima e descobriu no pré-sal o passaporte para o nosso futuro".
Nesse e noutros pontos do discurso, Lula foi efusivamente aplaudido. Serra, sob marcação cerrada das lentes do repórter Lula Marques, eximiu-se de bater palmas (confira abaixo).
Lula Marques/Folha
Ao resumir os “tempos subalternos” da era FHC, Lula disse que “o país tinha deixado de acreditar em si mesmo”.
“Juros estratosféricos, praticamente não tinha reservas internacionais, volta e meia o país quebrava”.
Quando ia à breca, “tinha de pedir ajuda ao FMI”. Um auxílio que vinha “acompanhado de um monte de imposições”.
“Hoje, o quadro é bem diferente”, Lula se gabou. “Os países descobriram na crise que, sem regulação do Estado, o deus mercado é capaz de afundar o mundo num abrir e fechar de olhos”.
Estava mesmo decidido a fustigar o tucanato. Deu de ombros para o bico de Serra. Em contraposição à ideia do choque de gestão, Lula disse que “o papel do Estado voltou a ser valorizado”.
Empilhou dados de sua gestão: crescimento médio de 4,1% entre 2003 e 2006. Criação de 11 milhões de empregos formais.
“Não só pagamos a divida externa como acumulamos reservas de US$ 215 bilhões. Reduzimos a miséria e as desigualdades...”
“Mais de 30 milhões de brasileiros saíram linha pobeza. E 20 milhões ingressaram na nova classe média, fortalecendo o mercado interno...”
“...Hoje, temos uma economia organizada, pujante e voltada para o crescimento. Uma economia testada na crise”.
Outra alfinetada em FHC: “Não só não quebramos como fomos um dos últimos a entrar na crise e um dos primeiros a sair dela”.
Mais outra: “Antes, éramos alvos de chacotas. Hoje, a voz do Brasil é ouvida lá fora com muito respeito”.
De quebra, Serra, autoconvertido em platéia, foi compelido a assistir ao retorno da potencial adversária Dilma Rousseff à boca do palco.
Um palco armado também para que Dilma, depois de um sumiço de dez dias, ressurgisse triunfante, cavalgando o pré-sal.
Serra não pretendia participar da cerimônia. Deixou-se convencer por Lula, num jantar ocorrido na noite de domingo (30).
O governador de São Paulo fora ao Alvorada junto com os colegas do Rio, Sérgio Cabral, e do Espírito Santo, Paulo Hartung.
Os três foram a Lula para evitar que o governo bulisse na repartição dos royalties pago aos Estados produtores de petróleo. Tiveram êxito.
Ao término do jantar, Lula encareceu aos governadores que comparecessem à pajelança do pré-sal. Eles aquiesceram.
A julgar pelas caras e bocas que fez durante a discurseira, Serra deve ter sido tomado de assalto pelo arrependimento. Viu-se no centro de uma arapuca política.
À saída da cerimônia, o presidenciável tucano disse meia dúzia de palavras. Condenou a petro-pressa.
"O governo teve 22 meses pra fazer um projeto de lei [do pré-sal]. É razoável que o Congresso e a sociedade tenham um tempo para discutir isso”.
Acha que o prazo desejado por Lula, 90 dias, é demasiado curto: “Não vai haver tempo bom, hábil, razoável, para que se discuta um projeto que tem implicações para as próximas décadas”.
Nenhuma palavra em defesa de FHC.
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