Charles Alcântara saiu do PT.
Charles Alcântara (na foto), o primeiro chefe da Casa Civil do primeiro governo petista do Pará, que tem à frente a primeira mulher a governar o Estado, está fora do PT.
Formalmente.
Está fora de um partido que, conforme o próprio Charles, lhe ensinou “todo o pouco que sei sobre a vida e sobre o mundo”.
Está fora de um partido que ele, Charles, engrandecia muitíssimo.
“Saio do PT porque não mais o reconheço, porque este abdicou de ser ‘petista’”, diz Charles, em carta endereçada ao presidente do partido, João Bastista da Silva.
O jornalista Franciscou Sidou, sobre a postagem Um socialista da melhor estirpe: No poder, o PT tem revelado uma capacidade incrível para a autofagia política.
Não por acaso, tem perdido seus melhores quadros, a exemplo de Charles, que foi, na verdade, o grande arquiteto da construção da aliança bem-sucedida que levou Ana Júlia ao poder, em 2006. Ele construiu pontes, enquanto alguns arrivistas e alquimistas que estão chegando ou que chegaram ao poder depois de ter sido conquistado continuam erguendo muros e barreiras, que vão acabar ameaçando o projeto de governo, que se apequena na medida em que se transforma apenas em projeto de poder.
Charles e Edilza Fontes são militantes históricos do PT. Com a saída deles, o PT paraense sai perdendo parte de sua história e de sua própria identidade na luta e na crença de que um novo mundo é possível.
Leia a seguir, na íntegra a mensagem encaminhada por Charles ao Presidente do PT no Pará:
Ao presidente do Partido dos Trabalhadores/PA
Belém, 17 de junho de 2010
Caro companheiro João Batista,
Não foi fácil o caminho que percorri para chegar à conclusão que me cumpre comunicar-lhe, depois de tantos anos na condição de filiado ao Partido dos Trabalhadores (nem sei quantos exatamente, pois a minha primeira filiação ao PT foi extraviada).
Mas posso afirmar que, no PT, não passei apenas a maior parte dos meus quase quarenta e cinco anos, mas o melhor da minha ainda breve existência.
Aprendi, no PT, quase todo o pouco que sei sobre a vida e sobre o mundo.
Mas nada devo ao PT e nem me sinto credor deste.
Fui leal à sua história, aos seus princípios, ao seu programa e às decisões tomadas em suas instâncias democráticas de deliberação.
Peço, por este ato, a minha desfiliação do PT.
Saio de cabeça erguida, certo de que fui um bom militante, um bom combatente.
Saio do PT, mesmo sabendo que este abriga muitos sonhadores e construtores de um mundo justo, solidário e próspero.
Saio do PT, mesmo sabendo que este glorioso partido ainda é uma importante trincheira das lutas populares, embora não o julgue mais como a principal trincheira.
Saio do PT por entender que a minha vinculação partidária nega e se opõe à luta pela não interferência político-partidária na administração tributária e pela independência funcional dos agentes do fisco.
Saio do PT porque não mais o reconheço, porque este abdicou de ser “petista”.
Saio do PT, mas não saio da política, pois não saberia viver fora da política. E fora da política não há chance para a transformação social; para a paz; para a promoção da felicidade humana.
Saio do PT sem qualquer ressentimento ou risco de remorso, embora com tristeza.
Ainda que não me sinta obrigado a dar satisfações sobre os meus propósitos futuros, informo-lhe que não me filiarei a outro partido.
Mas de que valem os planos longínquos diante da efemeridade da vida; diante de tantas situações provisórias que duram uma vida inteira e de situações permanentes assustadoramente fugazes?
Que sejamos eternos enquanto duramos.
PT saudações,
Charles Alcântara
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