A derrota nas eleições presidenciais pode custar espaço partidário para o tucano José Serra. Depois de ser senador, ministro do Planejamento e da Saúde, presidente do PSDB, prefeito da capital paulista e governador de São Paulo, Serra pode ser “promovido” para baixo: o PSDB quer que ele assuma o insípido cargo de presidente do Instituto Teotônio Vilela (ITV).
Uma reportagem do jornal O Estado de S.Paulo, publicada nesta terça-feira (23), tenta dar a entender que uma função dessas cai do céu no colo de Serra. Tudo porque o orçamento do ITV é de quase R$ 4 milhões ao ano — o que permitiria ao tucano ser um presidente de fachada e fazer viagens por todo o país. É engodo. O próprio jornal, ao pé da matéria, lembra que “os estudos, pesquisas e análises de conjuntura semanais que o instituto produziu nos últimos quatro anos foram de pouca utilidade e praticamente nenhuma divulgação”. Isso porque a visibilidade no ITV é quase nula. Seu atual presidente, o deputado serrista Luiz Paulo Vellozo Lucas, por exemplo, sofreu a derrota mais humilhante das eleições estaduais, ao perder a disputa ao governo do Espírito Santo para Renato Casagrande (PSB) por 82,3% a 15,5%. O fato concreto é que, caso aceite a proposta, Serra estará no posto mais irrelevante de sua vida pública desde, pelo menos, 1994 — ano em que se elegeu senador. O Estadão, porém, divulga que a indicação de Serra ao ITV é uma “fórmula” para “dar tribuna” a Serra. Na prática, lideranças tucanas tentam isolar Serra, que rachou o PSDB com sua atabalhoada e mal-sucedida candidatura ao Planalto. Boa parte da cúpula tucana não quer entregar a presidência nacional nem qualquer cargo de peso no partido ao candidato derrotado por Dilma Rousseff. Aécio x FHC? A alternativa a Serra favorece o ex-governador mineiro e senador eleito Aécio Neves, que pode ganhar espaço no centro efetivo de poder do PSDB. Em entrevista no começo de novembro, Aécio propôs, enfaticamente, a "refundação do PSDB" — uma ideia que implica redução da força de São Paulo na direção da legenda. Com Serra alocado num mero instituto, essa tendência ganharia força. Aécio só não contava, provavelmente, com a cada vez mais explícita resistência do ex-presidente da República e presidente de honra do PSDB, Fernando Henrique Cardoso. Nesta terça-feira, em plena capital mineira, Belo Horizonte — onde deu palestra num fórum do IEE (Instituto de Estudos Empresariais) —, FHC fez restrições ao termo “refundação”. Segundo ele, “todos os partidos, num certo sentido, estão todo o tempo se renovando. Mas refundação acho que é uma expressão muito forte”. Nas poucas perguntas em que se mencionou o nome de Aécio, tampouco FHC cedeu. Questionado se o mineiro não teria sido mais competitivo para vencer Dilma Rousseff (PT) na disputa presidencial do que José Serra, FHC disse que o assunto é "passado". E agregou: “Tenho uma ligação muito profunda com o Serra e o Aécio. Então, para mim, é sempre difícil falar sobre qualquer um dos dois”. Mas o ex-presidente criticou indiretamente Aécio, ao negar que há predomínio de São Paulo na cúpula tucana. Segundo FHC, o PSDB não é "muito avenida Paulista". Uma das razões, disse, é que o partido elegeu governadores em oitos estados. Falta saber se essa suposta “pulverização” tucana chegará à direção partidária no pós-Serra. Da Redação, com agências
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