domingo, agosto 04, 2019

Carta ao Governador



Por Eneida Guimarães*

Governador Helder Barbalho, como cidadã e militante do movimento social desde os idos de 1980 no Estado do Pará, atualmente conselheira titular do Conselho Nacional dos Direitos Humanos onde represento a União Brasileira de Mulher e membro do Forum Estadual dos Direitos Humanos, assisti estarrecida o vídeo do desfile em comemoração aos 13 anos do Batalhão de Política Tática, unidade de elite do Pará, cujo comando maior é o Governador.

A demonstração determinada ao forte barulho das botinas no chão ao rítmo da marcha do pelotão de homens uniformizados e em compasso aos gritos: "Arranca a cabeça e deixa pendurada/É a Rotam patrulhando a noite inteira/pena de morte à moda brasileira". 

A cena enaltece a liquidação de vidas de forma assassina decepando cabeças. Inaceitável numa ação profissional de combate ao crime. 

Fato ocorrido em sua presença na última quarta-feira, 31 passado. Ao que respeitosamente indago: 

Queriam lhe passar uma "boa impressão"? Conseguiram lhe impressionar?  A atitude silenciosa do Governador diante da gravidade do ato deplorável é bastante preocupante. Passa certa conivência, pois há um antigo ditado que: "quem cala consente". 

Isso se torna perigoso no contexto de uma onda obscurantista no país, onde o próprio chefe da Nação incita o ódio e incentiva a violência. Onde há governadores, que a bordo do helicóptero da Policia Militar do seu estado acompanha as rajadas disparadas do alto tendo como alvo áreas da periferia. Onde esse país vai parar se a violência é banalizada pelas próprias autoridades escolhidas pelo voto para manter a governabilidade, fazer uma gestão onde, no mínimo se valoriza a vida?  
Não se pode permitir que passe a versão de que a autoridade maior do Governo aceite ou reforce atos desumanos também aqui no Pará.

Estado que já se demonstra tão violento pelo próprio histórico de mortes nos campos e nas cidades em períodos seguidos, além do recente extermínio de jovens, negros, mulheres e trabalhadores pobres. 

A ocasião das chacinas ocorridas em Belém, solicitamos em nome da representação do Conselho Nacional dos Direitos Humanos uma agenda com V. Sa.juntamente com as entidades do Forum Estadual dos Direitos Humanos onde nos reunimos para refletirmos sobre a defesa e promoção dos direitos humano no Pará.  

Após um mês da citada solicitação recebemos resposta da sua assessoria informando sobre os avanços na investigação daqueles fatos e nos repassando para fazermos o contato com os secretários. A demora em responder foi tanta que não nos sentimos á vontade, embora ainda preocupados com a política pública de segurança com a valorização da vida, e nos colocamos  abertos ao diálogo com o próprio Governador. 

A continuar nessa linha de reforçar a desumanização torna-se preocupante a implantação do chamado Programa Territórios pela Paz. Arrancando cabeças, impondo pena de morte a brasileira - modelo que incentiva a violencia e aumenta a letalidade entre os/as filhos/as da pobreza, jamais se concretizará em Belém e outros municípios essa ideia de TerPaz no Pará. 

*Eneida Guimarães é conselheira titular do Conselho Nacional dos Direitos Humanos e mãe de Jorge Panzera, presidente da IOEPA - Imprensa Oficial do Estado do Pará e presidente estadual do PCdoB.

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