De um anônimo no Quinta Emenda
A imprensa brasileira tem muita roupa suja para lavar, mas algumas coisas já foram superadas no eixo Rio-São Paulo- Brasília. Coisas que aqui, neste rincão amazônico, ainda são tratadas com a maior naturalidade. Vamos a elas:
1) Repórter que é também assessor de imprensa e vai até o assessorado fazer entrevista pelo jornal onde trabalha. Essa prática, explicitamente condenada no código de ética da categoria, é tão reiterada que o repórter nem se importa de assinar a matéria (veja o episódio Micheline). Ah! O pior: os editores incentivam “É melhor mandar o fulano, ele é assessor lá, terá mais acesso, entende melhor o assunto”.
2) Editor que também é assessor recebe matéria contra seu assessorado e, ao invés de se declarar suspeito, simplesmente edita o material da maneira que lhe convém ou ... engaveta a pauta.
3) Editor que tem empresa de comunicação recebe sugestão de pauta interessante e de interesse público, mas como é da empresa concorrente, derruba a sugestão.
4) Repórteres viajam para o interior com despesas pagas por prefeituras e na volta, enchem o município de elogios sem que a informação de quem pagou a viagem seja dada ao leitor.
5) Colunista social presta assessoria para “socialite” (??) e enche sua coluna com fotos da dita-cuja, dos filhos, etc. Não é a toa que as colunas são cheias de notas sobre quem colou grau (isso é notícia?), concluiu o cursinho no Aslan, foi a Fernando de Noronha num feriado prolongado e outras coisas da mesma importância. Quem paga o colunista decide o que é importante. Os interesses do leitor?Que se danem.
Sabe o mais grave: ninguém quer discutir essas coisas.
Por quê? Os donos de jornais porque não querem pagar salários melhores que garantam aos repórteres e editores serem apenas repórteres e editores.
Os repórteres e editores porque não conseguem viver com um salário só e temem que, ao final da lavação de roupa suja, nada melhore nas redações e eles ainda tenham que abrir mão de uma fonte de renda.
Os donos de agência de assessoria porque não se preocupam com a qualidade dos releases que mandam para a redação e ficam contando apenas com o “bom relacionamento”.
Perguntas que gostaria que alguém respondesse aqui: Como fazer uma boa matéria se, nas redações, muita vezes, não se pode ligar para celular ou fazer interurbanos?Como cobrir decentemente o interior do Pará se qualquer ida a Cotijuba é vetada pelo financeiro das empresas? Como fazer uma matéria isenta se o repórter recebe do jornal e da fonte que está lhe dando a informação?Como obter credibilidade se um dos lados está pagando?
A Boa notícia? Há menos de cinco anos, essas indagações ficavam restritas às mesas de bar.
Hoje, já temos espaço onde se pode discutir de maneira mais aberta.
Já é um começo.Viva os blogs.
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