quinta-feira, setembro 23, 2010

Os jornais desta quinta-feira acordaram com sangue nos olhos. O fato político de ontem, e que reverbera hoje na imprensa escrita, foi o lançamento de um manifesto antilula por um grupo de intelectuais vinculados ao tucanato. Trata-se de um texto sofrivelmente escrito, repleto de chavões partidários colhidos às pressas na imprensa conservadora. Em termos jurídicos, é lixo puro, por apresentar versões e denúncias não provadas para acusar autoridades constituídas. O manifesto não tem um pingo de legitimidade, apenas respinga ódio, rancor e preconceito. Reclama das atitudes do presidente ao mesmo tempo em que o acusa de forma leviana e caluniosa. Ao falar sobre a relação entre Executivo e Legislativo, o texto busca somente intrigar dois poderes que devem conviver em harmonia. O texto tem cores antidemocráticas do começo ao fim. E isso eu acho perigoso, essa insidiosa interpretação conservadora do regime democrático, segundo a qual a Constituição é quase um código de Hamurabi, imutável, e o povo tem mais é que se submeter em silêncio ao que diz a lei. Há uma sinistra inversão conceitual logo no início do texto:
Soberana é a Constituição, pois é ela quem dá corpo e alma à soberania do povo.
Essa frase soaria melhor em meus ouvidos se fosse lida ao contrário: Soberano é o povo, pois ele é quem dá corpo e alma à Constituição. Nesse trecho do manifesto, encontramos um chororô tucano autoexplicativo:
É repugnante que essa mesma máquina oficial de publicidade tenha sido mobilizada para reescrever a História, procurando desmerecer o trabalho de brasileiros e brasileiras que construíram as bases da estabilidade econômica e política, com o fim da inflação, a democratização do crédito, a expansão da telefonia e outras transformações que tantos benefícios trouxeram ao nosso povo.
* E o Gabeira, ou melhor, o ex-Gabeira esteve ontem no Clube da Aeronáutica, no centro do Rio, e proferiu insanidades golpistas simplesmente inacreditáveis: Trechos da matéria do Globo:
Fernando Gabeira (...) criticou o governo federal, que, na sua visão, tem a "tentação de suprimir a liberdade de imprensa e até as próprias leis".
"há a tentação de suprimir a propriedade privada, evidentes em iniciativas do MST; tentação de suprimir a liberdade de imprensa; e tentação de suprimir em certos momentos as próprias leis".
Mas o pior vem agora. Respirem fundo: Gabeira defendeu a utilização das Forças Armadas no enfrentamento do tráfico no Rio. (...) "Falta inteligência na segurança. E as Forças Armadas têm grande know-how. O deslocamento de tropas para áreas da cidade tem questões de legislação... Serviço de inteligência, quando bem-feito, ninguém sabe quem fez. E já houve trabalho de inteligência do Exército no combate a civis". Mon Dieu! Macacos me mordam! Ele defende o uso de inteligência do exército no combate a civis! Tudo bem, o exército sempre pode cooperar, mas a maneira como ele se posiciona, parece que está mesmo incentivando um golpe! Primeiro fala que o governo quer suprimir as leis e a propriedade privada, e depois diz que o exército pode usar seu serviço de inteligência para combater civis! Onde ele quer chegar! * Mais manifestações golpistas:
  1. Editorial velhaco e velhusco do Estadão, talvez copiado de alguma edição de março de 1964. Eles atacam o presidente dia e noite, desde que ele tomou posse, e quando Lula reage, eles se colocam como vítimas inocentes.
  2. Dora Kramer e Merval Pereira e suas xaropadas reaças de sempre.
Eu me irritei mesmo com essa notinha do Ancelmo Goes:
Mundo maluco II - O Clube Militar promove hoje um seminário "Democracia & Liberdade de Expressão". No mesmo dia, em São Paulo, alguns sindicatos realizam um ato contra a imprensa. Na ditadura, era o contrário.
Goes sabe muito bem que não era bem assim. Os sindicatos, na época de Jango, apoiavam o governo e também viviam em pé de guerra com a imprensa, a qual, por sua vez, tambem acusava dia e noite o governo de pretender instalar um regime totalitário no país.

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