domingo, outubro 30, 2011

Corvos e urubus

No Blog do Emir Sader


 
Repararam que tem gente, que se diz de esquerda, mas que só aparece para criticar a gente de esquerda? Nunca contra a direita, o que quer que esta faça. São especialistas em jogar álcool em qualquer foguinho dentro da esquerda.

Nunca reconhecem vitórias, conquistas, avanços. São apenas prenúncios de derrotas, traições, retornos da direita – cuja culpa será sempre denunciada como responsabilidade da esquerda. Adoram as derrotas, quanto maior, melhor, porque a culpa é dos outros, não importa que o povo seja quem pague o preço.

São ótimos para fazer balanços de derrotas, mas nunca sabem propor alternativas e nunca conseguem dirigir processo algum. São sempre críticos. Espécies de urubus, especialistas em carniças. Corvos, que auguram sempre catástrofes.

Não dá para ter respeito por alguém que se diz de esquerda, mas não está em todas as paradas da luta contra a direita. Aí ficam quietos, espreitando para atacar a esquerda, seja porque não é suficientemente radical, seja porque não derrotou de forma radical e definitiva a direita. Eles mesmos, não são capazes de afetar o poder da direita, nem estão centralmente preocupados com isso, lhes importa sobretudo as “traições” da esquerda.

Numa circunstância grave como a da Bolívia atualmente, por exemplo, colocam para fora o rancor com Evo Morales e sua liderança, como antes tiveram essa atitude contra Lula no Brasil. Todos “traíram”, incluídos Hugo Chaves, Rafael Correa, Pepe Mujica, os Kirchner, Fernando Lugo, Mauricio Funes, só eles são puros. Só que o povo não acha isso, de forma que essa gente nunca consegue formar movimentos populares com forte participação do povo, não dirigem nenhum processo, não conseguem citar um caso em que suas ideias levaram a vitórias e a avanços.

Não elogiam a reforma agrária, a nacionalização das minas, a Assembleia Constituinte postas em prática por Evo. Não apoiam as medidas de política externa soberana do Brasil, no reconhecimento da Palestina, na mediação do Irã, no apoio a Cuba. Só denúncias, porque seu universo não é a luta geral do povo, mas o universo restrito da esquerda. Não fazem luta de massas, só luta ideológica. Não constroem força política para que a esquerda avance, sempre tratam de dividir.

Os conflitos na esquerda, no campo popular, têm que ser discutidos e tratados como conflitos entre tendências de esquerda, mais moderadas ou mais radicais, sem desqualificações que caracterizem os outros como fora do campo da esquerda. Esta atitude é o primeiro passo que leva a assimilar outras tendências da esquerda à direita e assumir equidistância em relação a elas.

Numa situação de crise como a da Bolívia atualmente, tudo o que podemos desejar é que se chegue a um acordo político entre o governo e setores do movimento indígena que estão em enfrentamento aberto. Nem o governo é de direita, nem os movimentos indígenas fazem o jogo da direita. É nesse marco que devemos almejar que sejam enfrentados os conflitos.

Como no Brasil, deve-se criticar o governo e o PT no que se diverge, e apoiar nos pontos comuns. Fazer frente única no que há de comum, a começar na luta contra a direita. E criticar naquilo em que há divergências. Considerando que são diferenças no campo da esquerda e não é possível equidistância entre o governo e a oposição, o PT e a direita.

Emir Sader, sociólogo e cientista, mestre em filosofia política e doutor em ciência política pela USP – Universidade de São Paulo.


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Nota do Blog.

Eis o que disse um ventríloco do PSOL-Belém, no twitter, sobre o resultado do Encontro Municipal do partido:


2 comentários:

  1. Senhoras e Senhores, tem um grupo da imprensa local, poderoso, que tá financiando indiretamente a campanha da Frente Contra Carajás! E, porque não dizer fazendo caixa de campanha para as eleições do próximo ano! Basta ver o que é publicado quase que diariamente em seus jornais, sempre valorizando a figura do presidente da Frente e, pré-candidato a prefeito de Belém, nas próximas eleições. E, com essa atitude antecipa o debate político das eleições de 2012. E, o que mais se tem visto nesta incipiente campanha da Frente Contra a Criação de Carajás é a figura do candidato a Prefeito de Belém nas próximas eleições, Zenaldo, sendo colocada em primeiro plano nesta campanha plebiscitária, na qual deveria ter como figura principal a NÃO DIVISÃO DO PARÁ! Observa-se também, que sua campanha está ou será voltada para as elites que vem financiando indiretamente a Frente e, que financiarão a sua campanha em 2012! Olho vivo! Se liguem!

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  2. Parabéns ao Blog, pois essa matéria é muito coerente com a realidade da esquerda, onde o PSOL não possui disputa nas concepções e ideias do Socialismo, isso fica no discurso, e sim, apenas procuram de forma inconsciente e a qualquer custo disputar a posição de Referencia Politica das esquerdas no País, posição esta ocupada legitimamente pelo PT. Desta forma, ao PSOL não interessa destruir ou desmoralizar a direita, ineteressa destruir o PT, no intuito de tentar se tornar o partido de referencia para lutar contra a direita. E para esta finalidade, une-se a direita, de forma irresponsável e busca incessantemente atingir o PT, PCdoB e seus grandes lideres. Lamentável.
    RSS/NPD

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