Patrick Paraense*
O PT sentiu a conseqüência de não
ter se reciclado, ao exemplo daquilo que vimos em São Paulo, mesmo no berço do tradicionalismo
petista onde a escolha do “poste” Haddad foi “sugerida” pelo ex-presidente Lula
(o gênio da raça) e tendo todo o empenho e a força do governo e de suas
lideranças a campanha fugiu da obviedade de buscar simplesmente
colar o candidato no sucesso dos números do governo federal e nas
popularidades meteóricas de Dilma e Lula.
A campanha em SP, mesmo
defendendo o legado do governo, apresentou propostas novas, disputou o
imaginário da cidade para um projeto petista, envolveu a militância e a
sociedade e fez com que os eleitores compreendessem que mesmo o PT governando o
Brasil com um governo vitorioso ainda temos fôlego para apresentar novidades e
mobilizar a sociedade.
Tivemos a oportunidade, nestas
eleições, de fazer um debate claro com a sociedade comparando o antagonismo dos
projetos do PT e do PSDB. Perdemos a oportunidade de expor para a sociedade as
diferenças entre o nosso governo e o governo dos tucanos. Abrimos mão de
denunciar o descaso com que eles tratam as conquistas do governo Ana Júlia, o
abandono de projetos estratégicos para o estado e o mais grave: a completa
irresponsabilidade com que o governo Jatene lida com as ações do governo
federal, mostrando a total incapacidade do PSDB de governar para os mais
pobres.
Infelizmente, aqui, o PT cometeu
o erro da obviedade. A nossa campanha sustentou-se apenas em reivindicar a
legitimidade, a patente, o DNA do PT. O slogan “o verdadeiro candidato do PT”
ao invés de nos posicionar diante de todo o eleitorado nos limitou a disputar o
voto em um campo demarcado, onde estão os militantes orgânicos e os
simpatizantes do PT, identificando o PSOL como principal adversário.
Com isso, o PT criou uma arena
política na qual nos apequenamos numa disputa imaginária com o PSOL pelo
“Eleitorado petista”, em que a insistência dessa disputa acabou transformando a
campanha num “túnel do tempo” aquele quadro da TV que relembra coisas do
passado.
O PSOL dispunha apenas de 1:37”
de TV no primeiro turno, daí, por um erro de estratégia, coube ao PT relembrar,
durante boa parte da campanha, as ações do governo que era do PT, mas que foram
coordenadas pelo Edmilson, candidato pelo PSOL. Talvez se o candidato fosse
outra pessoa a estratégia “túnel do tempo” pudesse ter rendido melhores
resultados, mas acredito ser difícil disputar o imaginário do governo do povo
quando do outro lado quem ia reivindicar o mesmo legado era o próprio ex-prefeito.
A idéia de que uma campanha na
qual acreditávamos que bastaria posicionar o candidato como representante do
verdadeiro petismo seria o suficiente para apresentar a nossa candidatura como
competitiva serviria caso a eleição a que me refiro fosse o nosso PED e não a
eleição numa capital com a maioria dos mais de 1 milhão de seus eleitores conservadores e despolitizados.
Tivemos uma derrota política e
eleitoral no primeiro turno, e cabe ao PT refletir e se reciclar, para dar
conta da responsabilidade que tem de coordenar a esquerda na oposição aos
tucanos, pois precisamos aceitar que eles foram os grandes vencedores desse
processo eleitoral no Pará, na contra-mão
do que aconteceu no resto do Brasil onde a oposição tucana foi esmagada. Aqui,
o PSDB saiu fortalecido e é necessário unidade na esquerda, não apenas pela
defesa do legado do governo Dilma, mas principalmente em defesa da vida das
pessoas mais humildes de nossa terra e contra a criminalização dos movimentos
sociais.
Daí o gesto do PT em Belém foi
grandioso, o apoio no segundo turno ao candidato do PSOL demonstrou para a
sociedade e para a esquerda que não é por um acaso que o PT é o maior partido
de esquerda do Brasil, que não é por um acaso que coordenamos um governo que
muda o Brasil e a forma que o mundo nos vê.
Mesmo com os erros que cometemos
conseguimos ser conseqüentes e responsáveis, e o apoio ao PSOL demonstra
claramente isso. O PT acertou ao apoiar Edmilson, foi uma demonstração de responsabilidade
e clareza na política, ao contrário do que fez o próprio PSOL nas eleições de
2010 aqui no Pará, quando no 2º turno declarou voto nulo e que repetiu isso nas
eleições de 2012 em cidades importantes como São Paulo, Fortaleza e Salvador.
Sendo assim, ao reconhecer, mesmo
com criticas ao método do PSOL, que o nosso verdadeiro adversário é o PSDB, em
nosso projeto de sociedade, a entrada das lideranças locais, ministros, do
ex-presidente Lula e da Presidenta Dilma que declararam apoio ao PSOL, na
campanha, nesse 2º turno, demonstra uma maturidade e foco na disputa real da
política do Pará, onde elegemos 23 prefeituras e mais de 185 vereadores, o que nos
credencia a coordenar a oposição aos tucanos, não só no estado como em Belém, onde
elegemos 3 vereadores dos 10 que a
esquerda fez e lideramos a polarização nas ruas no 2º turno. Mas dessa vez,
precisamos ter a capacidade e a maturidade de dialogar como um campo,
envolvendo e agregando forças e movimentos.
Mas com toda a certeza a grande
lição que as eleições de 2012 deixam para o PT, é que o crescimento
institucional é importante, mas o parlamento e o executivo são apenas algumas
trincheiras na luta por uma sociedade mais justa e não um fim em si. Precisamos
avaliar o momento sem o tom inquisicionista que alguns irão fundamentar o seu
discurso.
Se é verdade que precisamos
refletir e aprender com os erros precisamos comemorar as vitórias e ampliar os
acertos. Nesse sentido, o PT tem a obrigação de demonstrar capacidade de
renovação e inovação na política do Pará, sem abrir mão das suas conquistas e
lideranças, por isso tenho certeza de que mesmo após enfrentar mais de 7 anos
de ataque da mídia e da direita golpista do Pará e do Brasil, a volta do
companheiro Paulo Rocha soma com a tarefa de unir experiência e capacidade de
renovação que o PT tem. Os ventos que sopram para o PT são de esperança e luta.
A direita irá continuar no
comando de Belém, do Estado e nos seus municípios mais importantes. A região
metropolitana agora é um ninho tucano. Por isso, temos o dever de reinventar o
PT em Belém, de voltar a tomar as ruas e não deixar um dia sequer Zenaldo,
Pioneiro e o Jatene descansarem.
Mas para isso não basta apenas ser do PT, o PT
tem que ser PT, não somos apenas um partido, somos o espaço onde a maioria da
sociedade e dos movimentos sociais se referenciam e a nossa timidez cala essas
vozes. O PT em Belém precisa tomar banho de rua e de povo.
Patrick Paraense é militante do
PT Belém.
Excelent texto fantástico e altamente real.
ResponderExcluirO PT, aqui, perde pra ele mesmo, perde pra falta de novas lideranças, perde pra capitulação de politicas anti democreticas, perde pra falta da competencia na administração pública, perde para os arcos de alianças irresponsáveis. Se continuar assim, será novamente derrotado e encolherá em todo o Norte do Brasil. Já que continua tendo atenção da direção nacional apenas no sudeste.
ResponderExcluirO pt nacional não se preocupa com a periferia do Brasil.Tá aí a resposta: O norte é da oposição.Te cuida pt nacional, os caras estão comendo pela beirada e assim vão chegar em Brasilia.
ResponderExcluirAqui no Pará, o psdb teve quase todos os partidos na sua coligação. Todos !O psol perdeu porq não teve coligação, pois não foi pelo candidato.
enquanto vcs do PT continuarem se degladiando e dizendo que isto é democracia, enchovalham os companheiros, derrubam dos cargos, etc e ai querem o que? que a direita fique com pena de vcs?
ResponderExcluirAlô Lula! Precisa de um poste urgente!!!
ResponderExcluirEduardo Rosas
Não tenho quaisquer dúvidas que o PT precisa se reinventar no âmbito local, e por isso sempre entendi que precisávamos de choque. A necessidade de ir as ruas, ocupar os espaços sociais e não dar sossego aos governos da direita, é tarefa que já tínhamos de estar mergulhados desde 2004, quando o Dudu venceu em Belém, e tínhamos o Governo estadual a partir de 2006, e ao invés de fortalecermos o processo de oposição, tivemos a graça de fortalecer aquele que ali estava instalado.
ResponderExcluirPerdemos o Estado, e permanecemos na inércia, onde a capacidade de mobilização do partido se reduziu monstruosamente, pois seja pelo Governo do Povo (1997/2004) ou pelo Governo Popular (2007/2010), muitos se acomodaram através dos subsídios e cargos. Desta forma, o Movimento Social demoliu no âmbito de sua organização e capacidade de aglutinação.
Um fator discordante se reflete a método de campanha do PT, pois teve de correr atrás de estereótipo que em tése seria seu, porém estava estampado na campanha do Psol, incluindo imagem, projetos, legado e reconhecimento. E com grande parcela de sua militância desviada para a outra campanha em vista de uma fortíssima perspectiva de vitória eminente, inclusive com focos e batida no primeiro turno. Tais fatores causaram grande evacuação, e o seu tempo de televisão, independentemente de tamanho ou volume, deixou de ter e de ser uma alternativa pra sua própria família, pois já estava crendo que a outra alternativa já se consolidara vitoriosa, além das elevadas e fortíssimas diferenças estruturais que inegavelmente se viu nas ruas e no potencial de produção televisiva obtida pela campanha adversária, quanto ao potencial extremamente reduzido, seja no aspecto tecnológico, quanto da falta de criatividade e até mesmo de compromisso com nossa campanha.
Uma frase d texto é muito interessante, "Não basta ser do PT, O PT tem de ser PT" e relembrou uma frase que já dizíamos, "Não basta dizer ou ser da esquerda, tem de ser esquerda", e isso deve ser fator de reflexão. Porém, sem duvida alguma convergimos em dizer que o PT precisa se renovar, inovar e mostrar todo o seu tamanho e volume, que em nada é pequenino. Agora, há razões mais que suficientes pra que essa aglutinação seja mais real e eficaz.
ResponderExcluirO DISCRETO CHARME DA MINEIRICE - BH,A CAPITAL DO 'CAIXA 2'
Nacional. O caixa 2 tucano alimentou campanhas Brasil afora
Em breve, como se espera, o Supremo Tribunal Federal, após o julgamento do chamado “mensalão petista”, se encarregará do Inquérito 3.530, conhecido, mas ainda não popularizado, como mensalão tucano, igualmente originado em Minas Gerais e até agora ainda sob a relatoria do ministro Joaquim Barbosa, que assumirá a presidência do STF em novembro, pelo princípio do rodízio. Não se sabe se abrirá mão da tarefa. Provavelmente, sim.
O mensalão tucano, e não mineiro, como às vezes se diz e se escreve, ora por descuido e, principalmente, por má-fé, montado a partir de Belo Horizonte, em 1998, para a reeleição do então governador mineiro Eduardo Azeredo, está intimamente ligado ao processo eleitoral nacional e, por consequência, à reeleição de Fernando Henrique Cardoso.
Marcos Valério, o publicitário, ou operador financeiro, como é caracterizado, passou a ser o fio condutor de todo esse moderno processo de formação de caixa 2 que ainda norteou, em 2002, a primeira eleição de Aécio Neves para o governo de Minas Gerais. O dinheiro gerado em Minas se espalhava pelo País.
Nada pode ser entendido se for descartado, por exemplo, o livro O Voo do Tucano, do deputado petista Durval Ângelo, publicado em 1999. Praticamente circunscrito ao fechado mundo mineiro, onde tudo acontece e nada transpira, a obra ganhou alguma notoriedade na CPI dos Correios (2005), após as denúncias de Roberto Jefferson.
Valério era somente consultor financeiro quando se envolveu no processo de salvação da empresa de publicidade SMP&B. Por intermédio dele, o hoje senador Clésio Andrade aportou recursos na agência. Integrante, como vice, da chapa de Aécio Neves, ele repassou as ações para Valério numa operação cuja legalidade é discutida.
A sequência dessa história, que passa pela famosa Lista de Furnas, que a mídia tentou desqualificar, é conhecida e comprovada pelo advogado Dino Miraglia Filho, uma voz sem repercussão em Belo Horizonte.
Miraglia se ofereceu como assistente do Ministério Público na ação do mensalão tucano. Ele articula a esse processo a figura controvertida de Nilton Antônio Monteiro e a complexa história do assassinato de uma modelo que transitava com desenvoltura pelos caminhos abertos pela elite política e empresarial de Belo Horizonte.
Miraglia é um acusador implacável e que não usa meias palavras quando trata do que chama de “crimes de corrupção praticados pelos ocupantes do governo de Minas desde 1987 e que perduram até hoje”. Ele não sonega nomes: Eduardo Azeredo, hoje deputado, ex-governador de Minas, e Dimas Toledo, ex-presidente de Furnas, ambos envolvidos na construção de caixa 2 na campanha de Aécio Neves.
“Diante da robustez das provas e após perícias que comprovaram serem autênticos os documentos apresentados por Monteiro, o grupo criminoso montou um riquíssimo esquema jurídico e midiático para desacreditá-lo perante a opinião pública”, argumenta.
Miraglia tem em seu poder “muitos originais” aguardando a intimação do STF para depositar no cofre da secretaria, especialmente o documento aqui reproduzido parcialmente. Os tucanos, na ausência de barba, devem botar o bico de molho.