No site do SINDPD-PA.
No dia da Consciência Negra, o SINDPD-PA foi em busca da história de
vida de um trabalhador negro para compor a publicação de uma matéria alusiva à
data e encontrou um tesouro: Dois álbuns repletos de poesias, panfletos,
jornais e poemas do escritor e jornalista autodidata, Edivaldo Parente.
Ex-presidente do sindicado e hoje aposentado há 12 anos como funcionário
do SERPRO, o “Parente” como é mais conhecido, foi entrevistado em sua casa, no
bairro da Sacramenta, pelo Diretor de Comunicação do SINDPD-PA, Edu Maciel, com
quem teve uma conversa rica em detalhes, com a história de luta dos
trabalhadores do SERPRO e demais empresas de processamento de dados do Pará,
desde os anos 60.
Em entrevista à assessoria de comunicação do sindicato, Parente, o
poeta-operário resgatou uma parte vibrante da história de luta dos
trabalhadores no Brasil. No auge de seus 76 anos e dotado de uma memória
invejável, disse na gravação: “Quando ingressei no serviço público, nós
trabalhadores, não tínhamos consciência de nossa condição de explorados
intelectual e fisicamente pelo governo militar e foi na busca de nossa união e
organização, durante as reuniões que fazíamos, que aos poucos fomos
reconhecendo que havia a luta de classes, percebendo as mazelas do capitalismo
e a necessidade de nos organizarmos.”
Com sua Olivetti no colo, Parente
relatou como foi enfrentar a Ditadura Militar e ajudar a organização dos
trabalhadores, no tempo em que reivindicar direitos trabalhistas e melhorias
salariais era tido como subversão e perturbação da ordem pública. Logo, a
conquista da Carta Sindical, e por conseguinte, da fundação do SINDPD-PA, vindo
assumir anos depois a presidência do mesmo, deu-lhe mais esperança e convicção
de que lutar era importante e garantia vitórias e conquistas.
“Como ainda não existiam computadores, os digitadores da época eram
perfuradores de cartões em maquinas da IBM garantindo assim o processamento dos
dados das empresas públicas”, revela o sindicalista que sempre se assumiu como
negro e usou a escrita como instrumento de luta e mobilização de sua categoria,
bem como contra o preconceito e a descriminação racial, praticada até por
outros negros que ocupavam cargos superiores e queriam igualar-se aos brancos
que adotavam práticas racistas.
No final da entrevista, provocado por Diógenes
Brandão, Assessor de Comunicação do SINDPD-PA, Edvaldo Azevedo Parente,
concordou em doar seu acervo pessoal para o sindicato que na manhã desta
terça-feira (20) assumiu o compromisso de publicar um livro e um blog com os
textos do poeta que sempre sonhou e lutou por uma sociedade mais justa e
igualitária.
Além do sindicato, nosso poeta protagonista também foi membro da APE -
Associação Paraense de Escritores e do CEDENPA, bem como participou da fundação
da CUT no Pará e em 1988, ano em que se
comemorava o centenário da abolição da escravidão no Brasil e a Igreja Católica
lançava a Campanha da Fraternidade: "Ouvi o clamor deste povo", com a
temática negra, Edvaldo
Parente escreve um poema arrebatador!
Confraternizando com o Negro
Antes
de ser o ano do negro brasileiro...
Antes
de ser (o negro) a frente de batalha,
Antes
de (o negro) não ter sido liberto a cem anos atrás...
Antes
de (o negro) enfrentar
de frente s tonelagens dos pré-conceitos,
Entendemos que de
nada adiantará “Campanha da Fraternidade” se continuarmos:
Viver sem amor,
Será o mesmo que
viver sem afeto
Será morrer um
pouco cada dia,
Será sofrer
sorrindo da vida pela fé,
Será chorar sem
consolo na escuridão,
Será ignorar porque
respiramos.
Porque amar é
contemporizar.
Amigo você sabe,
Há muitas formas de
ser dar...
Amor aos nossos
semelhantes
Que não se
encontram em meio às multidões,
Amigo você sabe,
ama-se,
Para renascermos na
luta
Através de nossos
filhos,
Fruto do mais belo
amor,
E para continuarmos
vivendo.
Sem violência sê
possível,
Sem agressões
morais ou o equivalente,
Sem os
pré-conceitos divisores,
Sem diferenças de
classes cor e raça,
Enfim, sem a malfadada
intolerância,
Vamos pensar
infinitivamente no amor,
E viver...!
Edvaldo Parente.
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