No
blog da Tatiane Pires.
A
Agência de Autorregulação da Internet (Anarnet), conforme textos publicados em
sites de notícias sobre tecnologia, é uma agência com o objetivo de reunir
opiniões de empresas, organizações não governamentais e membros da sociedade
civil sobre a Internet no Brasil. Segundo o site convergecom.com.br, Coriolano A. de Almeida
Camargo Santos é o diretor presidente da agência, cuja proposta é atuar nos
moldes do Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar). O site
também informa que a maioria dos assentos nas comissões deliberativas devem ser
ocupados por entidades como Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
(Fiesp), Fecomercio, Conselho Regional de Medicina de São Paulo (CRM-SP) e
OAB-SP.
A Anarnet não tem legitimidade para deliberar sobre
Internet no Brasil
A
criação de uma entidade que tenha o objetivo de ser um fórum de debate entre
empresas, organizações não governamentais e sociedade civil precisa ser
amplamente discutida com toda a sociedade. O conjunto da sociedade brasileira
não está representado pelas entidades listadas acima. Note-se também que três
delas representam o estado de São Paulo. E os outros estados da região sudeste?
E as regiões centro-oeste, nordeste, norte e sul? Por que não o Conselho
Federal de Medicina? Por que não o Conselho Federal da OAB? Por que
trabalhadores, estudantes, universidades e o terceiro setor não estão
representados?
Quem
se reuniu para discutir e aprovar o estatuto? Onde está o texto do estatuto?
Por que o domínio do site foi registrado em 20 de julho de 2011 e, quase dois
anos depois, ainda não há um site? Na página anarnet.org.br,
até a data da publicação deste texto, constam apenas o aviso "em breve, o
novo portal da agência nacional de autorregulação da internet", telefone e
email para contato.
Por
que o domínio anarnet.org.br
está registrado sob o CNPJ do Instituto da Saúde Integral, 007.140.466/0001-31?
Por que a pressa de registrar um domínio sob o CNPJ de outra entidade? O Conar,
Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária, tem o domínio do seu
site registrado sob o CNPJ da própria entidade, 043.759.851/0001-25, por
exemplo. Informações sobre domínios terminados em .br podem ser verificadas no
site Registro.br
e os números de CNPJ acima podem ser verificados no site da Receita
Federal.
Além
disso, por que agência nacional? As dez agências
reguladoras existentes foram criadas pelo Governo Federal: Agência
Nacional de Telecomunicações (Anatel), Agência Nacional de Petróleo (ANP),
Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Agência Nacional de Saúde
Suplementar (ANS), Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Agência
Nacional de Águas (ANA), Agência Nacional do Cinema (Ancine), Agência Nacional
de Transportes Aquaviários (Antaq), Agência Nacional dos Transportes Terrestres
(ANTT), Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Ao adotar o nome de
"agência nacional", a ideia que desejam transmitir os fundadores da
Anarnet é de que a entidade teria sido criada pelo governo. Com essa prática, a
entidade está enganando a sociedade.
Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br)
O
Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) foi criado pela Portaria
Interministerial Número 147 com os seguintes objetivos (grifos
meus):
I
- acompanhar a disponibilização de serviços Internet no país;
II
- estabelecer recomendações relativas a: estratégia de implantação e
interconexão de redes, análise e seleção de opções tecnológicas, e papéis
funcionais de empresas, instituições de educação, pesquisa e desenvolvimento
(IEPD);
III
- emitir parecer sobre a aplicabilidade de tarifa especial de telecomunicações
nos circuitos por linha dedicada, solicitados por IEPDs qualificados;
IV - recomendar padrões, procedimentos técnicos e
operacionais e código de ética de uso, para todos os serviços Internet no
Brasil;
V
- coordenar a atribuição de endereços IP (Internet Protocol) e o registro de
nomes de domínios;
VI
- recomendar procedimentos operacionais de gerência de redes;
VII - coletar, organizar e disseminar informações
sobre o serviço Internet no Brasil; e
VIII
- deliberar sobre quaisquer questões a ele encaminhadas.
O
que os fundadores da Anarnet propõem que sejam atividades agência já estão
entre as atribuições do CGI.br! Lembrando que, na composição CGI.br, estão
representantes do governo, do setor empresarial, da comunidade científica e
tecnológica.
Além
disso, o CGI.br organiza o Fórum da Internet no Brasil: o primeiro foi em 2011, em
São Paulo; o segundo foi em 2012, em
Olinda(PE); a terceira edição será de 3 a 5 de setembro de 2013 em
Belém(PA) e está com chamada
pública de temas para o fórum aberta até 10 de maio. Participei das
duas primeiras edições do fórum, posso garantir que as discussões foram sobre
temas relevantes para o uso e a ampliação do acesso à Internet no Brasil e com
participação de representantes dos mais diversos movimentos sociais.
É
do Comitê Gestor da Internet a responsabilidade de promover a discussão sobre
Internet no Brasil!
Marco Civil da Internet
Notícias
sobre a Anarnet circulam nos sites de tecnologia exatamente num momento que há
dificuldades para votar o Marco Civil da Internet na Câmara. Isso não é mera
coincidência! Lobistas das empresas de telecomunicações e da indústria do
copyright tentam inserir alterações no texto do projeto de lei: as teles para
retirar a garantia de neutralidade da rede, os representantes do copyright para
evitar que conteúdos sejam removidos somente após decisão judicial. Em outra
frente de ação, entidades se reúnem para apoiar a criação de uma agência que
não será um fórum democrático para discutir a Internet. Trata-se de uma ação
coordenada para tirar o foco da discussão que ocorre sobre o Marco Civil da
Internet entre os deputados.
A
minuta do projeto do Marco Civil foi elaborada a partir de mais de 800
contribuições na primeira fase de debates, entre 29 de outubro e 17 de dezembro
de 2009. Na segunda fase, entre 8 de abril e 30 de maio de 2010, ocorreram
novos debates e um processo de construção colaborativo. Audiências públicas com
participação presencial também foram realizadas em diversas cidades em todo o
Brasil. Em 24 de agosto de 2011, o projeto de lei foi encaminhado à Câmara e
recebeu o número
2126/2011. Atualmente, tramita sob o número 5403/2001.
É
inegável a legitimidade do projeto de lei do Marco Civil da Internet
apresentado à Câmara dos Deputados, pois resultou de um processo legislativo
inédito com a participação direta da sociedade.
Anarnet não nos representa!
Posso,
com segurança, escrever no plural que a Anarnet não nos representa, pois
não representa trabalhadores, estudantes, sindicalistas e ativistas que têm
feito da liberdade de expressão, da democratização da comunicação e da
universalização do acesso à banda larga de qualidade suas bandeiras de luta
pela consolidação da democracia no Brasil.
O
Comitê Gestor da Internet (CGI.br) é a entidade responsável por promover a
discussão sobre Internet. E a aprovação do Marco Civil com neutralidade da rede
e não remoção de conteúdo sem ordem judicial garantidos é urgente e necessária.
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