segunda-feira, dezembro 28, 2015

Jornalista revela susposto assassinato do deputado Eder Mauro


Réu no STF pelo crime de tortura, o deputado paraense integrante da chamada "bancada da bala", chama a atenção do Brasil pela forma agressiva com que age no Congresso Nacional. No Estado do Pará,  onde foi eleito com cerca de 250 mil votos, o parlamentar é conhecido como "matador de pobre" e teria se candidatado para obter foro privilegiado em seu processo criminal. 

Por Luiz Gustavo Padrão*, no Facebook.


Se eu não tiver parado de defecar pela boca, fico feliz por ter parado de oferecer, gratuitamente, meu bolo fecal à sociedade.

Após 3 anos de abandono, a lembrança me emocionou de forma paradoxal. O amor que tive pela profissão e a decepção que tento esquecer.

Lembro o episódio que me fez perder o tesão pelo jornalismo e se tornar determinante para abandoná-lo. Julho de 2012, eu retornava à reportagem de TV, depois de um ano e meio afastado. Na primeira semana fui cobrir uma reportagem em Benfica, Região Metropolitana de Belém. 

Tratava-se da execução de um ajudante de pedreiro, apontado pela "elite" da Polícia Civil paraense como suspeito de envolvimento com o tráfico. A população estava revoltada com o assassinato (execução sumária) do rapaz e chegou a bloquear parte da BR-316, como forma de protesto.

Cheguei ao local e colhi depoimentos de moradores e parentes da vítima. Todos (unanimidade de cerca de 200 moradores) disseram que o rapaz nunca foi envolvido com o tráfico e que foi executado por engano e de forma covarde. 

Um dos moradores me passou um vídeo que mostrava policiais saindo de dentro do terreno onde ocorreu a morte momentos depois da execução. Entre os policiais estava o delegado Eder Mauro, chefe do grupo de polícia metropolitana (GPM) e famoso pelo número de traficantes mortos em suas operações policiais.

Ele foi apontado pelos moradores como o executor da vítima. Após colher os depoimentos, fui a delegacia para ouvir o outro lado, como mandam os melhores e piores manuais de jornalismo. O delegado Eder Mauro não quis falar sobre o caso. Escrevi a matéria e fui para TV no início da madrugada. 

Deixei todas as sugestões de imagens e de construção da matéria para a edição. No dia seguinte, na hora do almoço, aguardava a veiculação da reportagem no jornal mais importante da casa. A matéria não foi ao ar.

Liguei para chefia de reportagem para perguntar o que tinha acontecido. A chefe de reportagem não soube dar uma resposta concreta. Primeiro disse que havia ocorrido um problema com a fita onde estavam as imagens brutas. Eu não aceitei a resposta porque sabia que havia deixado a fita em perfeitas condições. Na mesma hora fui à TV para saber o que tinha acontecido de fato. 

Quando cheguei na redação, a mesma chefe de reportagem disse que a matéria não tinha sido aprovada pela direção geral da emissora pelo fato da Polícia ser "nossa parceira" (palavras da direção reproduzidas pela chefia).

A "parceria" fez com que a matéria nunca fosse veiculada. Eu recebi inúmeras ligações dos moradores, nas quais era chamado de vendido, antiético e parceiro de policial assassino. A história do rapaz foi para estática de assassinatos por conflitos armados entre policiais e "traficantes". Eu abandonei o jornalismo meses depois, após ser eleito pela direção como um dos premiados com a demissão coletiva, promovida em dezembro do mesmo ano. Parei de ler e ver jornais.

Ainda assim, assisti a vitória do mesmo policial envolvido no caso. Não na justiça, mas nas urnas. Se tornou "nosso representante" no Congresso Nacional, após ser o candidato mais votado, escolhido por mais de 250 mil eleitores. Nós, jornalistas, temos responsabilidade por isso. Nós o colocamos lá. Nós que aceitamos aquilo que nos é imposto pela mídia, ou, no caso, que nós impomos por meio da mídia.

Acredito, cada vez mais, que a maioria da prática jornalística, no mundo e no Brasil, não está exercendo sua função social, abandonando, consciente ou inconscientemente, a sua essência. Estamos prestando um desserviço à sociedade. Não estamos levando informação que provoque a reflexão e o estímulo à construção de uma sociedade de fato. Estamos enfiando goela abaixo um produto indigesto, engolido e reproduzido como excremento.

Fica a esperança de assistir a mudança jornalística e social um dia. Tento fazer minha parte em outras áreas, sempre atento ao perigo de oferecer excrementos. Temos sempre algo muito mais palatável e saudável a dar.


*Luiz Gustavo Padrão é jornalista, atuou como assessor de Imprensa no Ministério Público Federal e na TV Record de Belém. Hoje mora no Rio de Janeiro.

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