O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso visita Luiz Inácio Lula da Silva, em fevereiro. |
Na Folha
No dia 2 de fevereiro, como todos os jornais noticiaram, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso visitou seu sucessor, Luiz Inácio Lula da Silva, no hospital em que a mulher de Lula, Marisa Letícia, agonizava.
FHC estava acompanhando de José Gregori, que fora seu ministro da Justiça e sempre teve destacado papel na defesa dos direitos humanos. Lula, por sua vez, chamou para a conversa o seu ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim.
Falaram sobre muitos assuntos, sobre a vida, sobre o papel das mulheres e, inevitavelmente, sobre política.
A certa altura, Amorim soltou uma frase que é corretíssima e deveria ter desdobramentos:
"Vocês dois têm a obrigação de devolver a esperança ao Brasil", rememorou o ex-chanceler à Folha nesta segunda-feira (15).
Amorim defendeu que ambos dialogassem, daí em diante, em torno de um único tema, a reforma política, com o objetivo precípuo de diminuir drasticamente a influência do poder econômico sobre as votações.
"Se não foi assim, haverá caixa 2, caixa 3, caixa 4", suspeita o ex-chanceler.
Gregori pegou à unha a sugestão do diplomata e até ofereceu a sua residência como local de um encontro entre os dois ex-presidentes.
"Já abriguei conversas desse gênero antes", lembrou o ex-ministro à Folha, após um jantar na semana passada.
O diálogo, sempre segundo Amorim, deveria levar em conta como chegar à reforma política, posto que, com o descrédito em que estão os congressistas em funções, até propostas positivas que deles saíssem estariam cercadas de desconfiança.
Amorim cita, por exemplo, a posição oficial do PT que é a de voto em lista (o eleitor vota em uma lista definida pelo partidos, em vez de fazê-lo em um candidato individualmente, como é hoje).
Trata-se de uma ideia positiva, para Amorim, mas que, no atual cenário, passaria a impressão de que os partidos estariam apenas tentando esconder seus candidatos com problemas judiciais.
Amorim não participou de nenhuma nova articulação que desse sequência ao diálogo no hospital, mas a Folha apurou que há conversas, muito incipientes, em torno da convergência das duas principais lideranças políticas do país.
São conversas, que não envolvem diretamente nem Lula nem FHC, em torno do fortalecimento da democracia, o que inexoravelmente passa pelo fortalecimento dos partidos.
Se chegarão a algum lugar, seja qual for, não está à vista, mas a ideia de "devolver a esperança ao Brasil", cobrada por Amorim, é essencial.
E, para fazê-lo, parece indispensável que FHC e Lula tenham algum tipo de entendimento, porque, como diz o ex-chanceler, "cada um deles tem liderança que vai muito além de seus respectivos partidos".
Um diálogo nesse nível seria essencial para um primeiro passo, o de reduzir o nível de crispação política entre tucanos e petistas –crispação estéril e histérica.
Permitiria que o cérebro prevalecesse sobre o fígado no debate político.
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