Por Marcelo Marques
A perda de um filho deve ser algo sem comparação com outras dores.
Pelo menos penso eu.
Nesse mês, dois jovens em Belém tiraram a vida. Tudo leva a crer que se suicidaram. E a depressão aparenta ter sido a causa disso.
Jovens que tiram a própria vida vem aumentando.
Dados de 2018 da Organização Mundial da Saúde (OMS) revelam que essa é a segunda principal causa de morte, entre os 15 e 29 anos, atrás apenas de acidentes de trânsito.
“A juventude tem uma inabilidade natural, é inexperiente e se frustra com frequência”, aponta estudo realizado pela Pfizer. “Os adolescentes são mais impulsivos, fazem coisas sem pensar direito, reagem mais rápido antes de refletir e são um grupo muito suscetível a influências externas”, completa.
O levantamento da Pfizer aponta que 39% dos meninos e meninas de 13 a 17 anos não se sentem confortáveis em falar sobre a depressão em casa.
E muitas vezes nem conseguem associar o que passam à depressão.
Além disso, 56% dos jovens de 18 a 24 anos esconderiam um eventual diagnóstico dos colegas de trabalho ou de estudos.
A depressão afeta 322 milhões de pessoas no mundo, segundo dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), referentes a 2015. Em 10 anos, de 2005 a 2015, esse número cresceu 18,4%. A prevalência do transtorno na população mundial é de 4,4%.
Já no Brasil, 5,8% da população sofre com esse problema, que afeta um total de 11,5 milhões de brasileiros. Segundo os dados da OMS, o Brasil é o país com maior prevalência de depressão da América Latina e o segundo com maior prevalência nas Américas, ficando atrás somente dos Estados Unidos, que têm 5,9% de depressivos.
As causas da depressão incluem uma combinação de origens biológicas, psicológicas e sociais de angústia. Cada vez mais, as pesquisas sugerem que esses fatores podem causar mudanças na função cerebral, incluindo alteração na atividade de determinados circuitos neuronais no cérebro.
Segundo o Dr. Psiquiatra Ricardo Moreno, a depressão, ao contrário do que a maioria da população pensa, não é tristeza. É uma doença que precisa de tratamento.
Quando o quadro se instala, se não for tratado convenientemente, costuma levar vários meses para desaparecer.
Depressão é também uma doença recorrente. Quem já teve um episódio na vida, apresenta cerca de 50% de possibilidades de manifestar outro; quem teve dois, 70% e, no caso de três quadros bem caracterizados, esse número pode chegar a 90%.
A depressão é uma patologia que atinge os mediadores bioquímicos envolvidos na condução dos estímulos através dos neurônios, que possuem prolongamentos que não se tocam. Entre um e outro, há um espaço livre chamado sinapse, absolutamente fundamental para a troca de substâncias químicas, íons e correntes elétricas.
Essas substâncias trocadas na transmissão do impulso entre os neurônios, os neurotransmissores, vão modular a passagem do estímulo representado por sinais elétricos.
Essas substâncias trocadas na transmissão do impulso entre os neurônios, os neurotransmissores, vão modular a passagem do estímulo representado por sinais elétricos.
Na depressão há um comprometimento dos neurotransmissores responsáveis pelo funcionamento normal do cérebro.
Moreno vai adiante: Tristeza não é depressão. Tristeza é um fenômeno normal que faz parte da vida psicológica de todos nós.
Depressão é um estado patológico. Existem diferenças bem demarcadas entre uma e outra.
Depressão é um estado patológico. Existem diferenças bem demarcadas entre uma e outra.
A tristeza tem duração limitada, enquanto a depressão costuma afetar a pessoa por mais de 15 dias.
Podemos estar tristes porque alguma coisa negativa aconteceu em nossas vidas, mas isso não nos impede de reagir com alegria se algum estímulo agradável surgir, explica o médico.
Além disso, a depressão provoca sintomas como desânimo e falta de interesse por qualquer atividade. É um transtorno que pode vir acompanhado ou não do sentimento de tristeza e prejudica o funcionamento psicológico, social e de trabalho.
A depressão apresenta sintomas, como o humor depressivo, que se caracteriza por tristeza e melancolia, acompanhado por falta de ânimo e de disposição, incapacidade de sentir prazer em atividades habitualmente agradáveis, alterações do sono e do apetite, pensamentos negativos, desesperança, desamparo.
Ricardo Moreno explica que no cérebro existem células nervosas, os neurônios, e substâncias químicas que estabelecem a comunicação entre elas, os neurotransmissores.
Em condições normais, a quantidade dessas substâncias é suficiente, mas ela cai consideravelmente durante a crise de depressão.
Os medicamentos antidepressivos aumentam a oferta de neurotransmissores e promovem a volta ao estado normal do paciente.
O tratamento da depressão mudou muito com a descoberta desses medicamentos, que provocam algumas modificações químicas no cérebro, pela oferta de substâncias mediadoras que estabelecem a comunicação entre uma célula nervosa e outra durante o processo de transmissão dos sinais.
No deprimido, os níveis dos neurotransmissores são baixos.
Os antidepressivos bloqueiam o mecanismo de recaptura (impedem que os neurotransmissores retornem à célula de origem), o que aumenta a quantidade dessas substâncias nesse espaço virtual entre os neurônios.
Os antidepressivos bloqueiam o mecanismo de recaptura (impedem que os neurotransmissores retornem à célula de origem), o que aumenta a quantidade dessas substâncias nesse espaço virtual entre os neurônios.
Um cidadão diagnosticado com depressão e medicado ainda tem outro problema: os medicamentos levam de 10 a 15 dias para começar a ter boa ação antidepressivo.
Pessoas se matam por causa da depressão, preferem um quarto escuro, um dia a menos.
Deixam de ser quem são, de gostarem do que sempre gostaram, se culpam por tudo, se martirizam, tem um medo absurdo de todos, de tudo.
Como se um outro alguém, uma sombra tomasse conta de você, do seu corpo, no seu espírito.
Até que a pessoa não se reconhece mais, não quer mais, nada mais.
Sair do quadro de depressão é uma luta herculana. Muitas vezes uma luta que se perde.
Graças a Deus, uma luta que muitos vencem.
Portanto, a depressão é uma doença, que tantas vezes alguém passa por ela ao nosso lado, sem que tenhamos a capacidade de observar, na esmagadora maioria das vezes porque não temos informações suficientes para isso.
A perda de um filho, e com ela a falta do abraço, do cheiro, do convívio, do sorriso, tudo isso deve ser devastador.
Mas não é culpa dos pais, de ninguém. É um fato do mundo em que vivemos.
A chamada doença da era moderna. Será?
Pode ser que sempre existiu, fez muitos sofrerem, vitimou tantos, mas apenas não era reconhecida como doença.
Infelizmente.
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