No Estadão
É uma tarefa um tanto árdua encontrar a melhor
frase já dita pelos integrantes do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) que
resuma o que almeja a sigla. Plínio de Arruda Sampaio, candidato derrotado na
eleição presidencial de 2010, é um dos favoritos. "Nossa candidatura vai
ser a mosca na sopa da burguesia", disse ele. "PT ladrão/rouba do
povo pra botar no cuecão", cantou o então deputado federal João Batista de
Araújo, o Babá. O sociólogo Chico de Oliveira, por sua vez, afirmou que o papel
do partido era mais criticar do que governar. Menção honrosa também para Chico
Alencar, deputado federal. "Temos que questionar todo sistema
produtivista, seja do socialismo real, seja do consumismo exacerbado, como
sentido de vida, do produtivismo capitalista, que tem nos Estados Unidos seu
maior símbolo."
Difícil mesmo é prever como essas frases podem
virar realidade em Macapá, cidade com 398 mil moradores, o quinto pior IDH
entre as capitais brasileiras e com um orçamento de R$ 500 milhões que mal dá conta
de resolver um sem-número de problemas estruturais. Para se ter ideia, apenas
quatro de cada 100 domicílios têm acesso à rede de esgoto. E apenas um
pronto-socorro funciona 24 horas. É justamente nesse cenário que, oito anos
após sua fundação, o PSOL tem a difícil tarefa de governar a sua primeira
capital e tentar aliar a retórica radical dos primeiros anos com alianças antes
injustificáveis; promessas difíceis de cumprir e obras necessárias; bravatas e
responsabilidades; expectativas e possíveis desencantos.
O PSOL, fundado por dissidentes do PT, é um
partido de dois mundos. O primeiro é o do radicalismo, uma resposta às recentes
denúncias de corrupção no PT. O outro é o da política real, que no País
necessita de acordos até outro dia impensáveis para os socialistas. O embate
entre esses dois mundos já criou a primeira lavação de roupa suja no PSOL. O
estopim do debate que hoje divide o partido foi a costura de apoios e alianças
no 2.º turno de Macapá.