"Se a presença dos políticos é dispensável quando o povo está sofrendo, tampouco deveria ser necessária quando o povo está celebrando."
Do blog do Alon:
O governador Sérgio Cabral pôs em circulação uma teoria sobre por que o governante não precisa estar presente em situações nas quais sua participação direta é operacionalmente inútil: o contrário seria demagogia. Afinal, o governante ele próprio pouco ou nada pode fazer na hora, por exemplo, de tragédias como as deste ano-novo, em que as águas tiraram a vida de dezenas de pessoas no sudeste do país.
Segundo a teoria cabralina, o Estado tem funcionários capazes de lidar com o quadro, e nessas ocasiões os políticos só atrapalham.
Há dois problemas aí. Vamos ao primeiro. Nas mais de 24 horas em que nem o presidente da República conseguiu localizá-lo, o governador teve como enviar o vice a um dos locais afetados. Então, em lugar da suposta demagogia, viu-se no Rio o quê, a vice-demagogia?
Agora o segundo. Se a presença dos políticos é dispensável quando o povo está sofrendo, tampouco deveria ser necessária quando o povo está celebrando.
Por que Cabral organiza e festeja inaugurações de escolas, de postos de saúde, de obras em geral?
Ficou pronto? Põe para funcionar. Para que fazer festa, chamar a imprensa, juntar as pessoas e discursar? Poderia ser interpretado como demagogia.
Políticos são seres comuns, com defeitos. Bom é quando o defeito gera benefício para o eleitor-cidadão. Por isso a demagogia não pode ser listada como o pior pecado de um político. Ela perde de longe para a omissão. O demagogo quer saber o que fazer para ser bem visto pela gente a quem governa. O omisso não está nem aí. Especialmente quando se sente protegido da crítica.
Mas não sejamos injustos com o governador do Rio de Janeiro. Ele está muito bem acompanhado. Pouco a pouco, implanta-se um modelo gerencial e de comunicação nas nossas administrações, em todos os níveis. Autoelogio maciço e sistemático, criminalização da crítica e achincalhamento dos críticos, difusão regular de teorias conspiratórias sobre a motivação de quem critica. O governante está sempre certo. Se você enxerga problemas, é porque tem alguma intenção oculta — e maligna.
Só que de vez em quando o sistema falha, com os custos políticos decorrentes. Infelizmente para as autoridades (e mais infelizmente ainda para as vítimas e seus familiares e amigos) aconteceu uma desgraça brutal bem no meio do feriadão da passagem do ano. E toda a cadeia hierárquica da política nacional estava de folga.
Quem reagiu mais rapidamente (ou menos lentamente) foi a equipe de comunicação da Presidência da República, que defendeu o chefe e fez divulgar a conversa telefônica entre Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro Geddel Vieira Lima, da Integração Nacional e responsável pelas verbas federais para a Defesa Civil.
Lula leva a vantagem de ter sensibilidade política alguns graus acima. Mas mesmo o presidente, que gosta de falar sobre tudo e está sempre a se comunicar, não julgou relevante dar, ele próprio, uma palavra solidária aos atingidos.
O governador de São Paulo, José Serra, que passava o feriado na Bahia, não teve a socorrê-lo um esquema de comunicação tão azeitado, que pelo menos fizesse circular a tese de que tinha tomado providências telefônicas. O governador foi aparecer na inundada São Luís do Paraitinga só no domingo, depois que o caos já havia alcançado proporções dantescas. E quando o feriado já estava no fim. Já o colega de Minas Gerais, Aécio Neves, preferiu atravessar os dias de chuva em completo silêncio.
E não é só. Além do “esqueçam de mim no feriado”, os políticos recorrem a outro expediente engenhoso. Conforme a conveniência, alternam entre o papel de governante e o de ombudsman. Tampouco nisso os concorrentes são páreo para Sérgio Cabral. Segundo ele, a tragédia do ano-novo era uma “crônica anunciada”. Mas, se estava anunciada, por que não tomaram as providências antes de acontecer?
Sem falar no “a culpa é das vítimas”. Em São Paulo, há bairros que ficam sob a água por longo tempo quando chove muito. A prefeitura diz que a área é inadequada para moradia, por estar na várzea do rio.
Mas não é exatamente a prefeitura quem deveria controlar isso? Só descobriram agora?
Quem é do Rio sabe que o Cabralzinho sempre foi assim, demagogo até na omissão.
ResponderExcluirE não foi o próprio safardana que liberou as construções em áreas ambientais da região?
Quem sofre é o Rio e seu povo, com saudades do Brizola, e na lembrança dos possíveis governos de esquerda com Vladimir Palmeira e Chico Alencar.