Por Elio Gaspari, em O Globo e replicado pelo Blog do Noblat que vive reclamando que o PT quer censurar a imprensa no Brasil.
Um dia a “Revista de
História da Biblioteca Nacional” poderá publicar uma reportagem
intitulada “Censura e poder no império das letras”, contando o que lá
aconteceu nos primeiros meses de 2012.
No dia 24 de janeiro, o
jornalista Celso de Castro Barbosa publicou no site da “Revista de
História” uma resenha do livro “A privataria tucana”. Durante nove dias o
texto esteve no ar, até que foi condenado publicamente pelo presidente
do PSDB, deputado Sérgio Guerra.
Daí em diante deu-se uma sucessão
de desastres. A resenha foi expurgada, quando a boa norma recomendava
que fosse contraditada por outros textos. A Sociedade dos Amigos da
Biblioteca Nacional (Sabin) informou que o texto não passara pelos
procedimentos burocráticos da redação.
Falso. Em seguida, a colaboração regular de Barbosa foi dispensada pelo editor da revista, professor Luciano Figueiredo.
No
dia 29 de fevereiro o jornalista enviou uma carta a oito membros do
Conselho Editorial da revista contando seu caso: “Gostar de um livro,
senhoras e senhores conselheiros, não é crime.”
Nenhum deles respondeu e até hoje o Conselho nada disse sobre o expurgo do texto. Nem a Sabin.
Enquanto essa panela fervia, a Sabin demitiu o professor Figueiredo.
Um
caso nada tinha a ver com o outro, pois as razões da dispensa eram
administrativas. Diversos conselheiros, insatisfeitos com a demissão,
ameaçaram renunciar. A briga tinha cacique demais e índios de menos, até
que a redação, que faz a revista, resolveu falar.
Ela enviou uma
carta aos conselheiros informando que “um incômodo tem nos acompanhado: o
discurso público dos senhores em solidariedade ao ex-editor, na
tentativa de fazê-lo retornar à revista”.
Queixaram-se de sua gestão e
mais: “A RHBN precisa de um editor que não ordene à equipe trabalhos
extra-RHBN, sem remuneração.”
No dia 1, Celso de Castro Barbosa
enviou nova carta aos mesmos oito conselheiros da revista, com a mais
justa das queixas: “Procurei mantê-los informados, mas o que se seguiu
foi seu silêncio estridente.
(...) Francamente, com amigos como vocês, a Biblioteca Nacional não precisa de inimigos.”
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