No jornal Extra.
Cleidenilson morava numa casa humilde no bairro João de Deus, com o pai, a madrasta, Maria, e um irmão de criação, filho dela. Nos fundos, sobre uma laje de cimento e entre tijolos sem pintura, o espaço que a família planejava transformar em quartos para os rapazes parece ressaltar o vazio.
— Não faço mais café de manhã, pois sei que ele tomaria. A essa hora (fim da tarde), ele chegaria com pão fresquinho — diz Maria, mais uma vez sem controlar o choro.
Se pegou os pais de surpresa, a tentativa de assalto também causou estranheza na vizinhança, onde Cleidenilson era querido — amigos lotaram um ônibus fretado, na última terça-feira, para ir ao enterro. A impressão geral, de que era sua primeira incursão no mundo do crime, é reforçada pelas autoridades: ele jamais respondeu na Justiça por qualquer delito, tampouco tinha passagens na polícia.
A investigação sobre o linchamento também não corrobora, até o momento, a versão de que a arma portada por Cleidenilson só não teria disparado por uma falha no equipamento, que ainda não foi periciado. Enquanto isso, Antonio demonstra pelos algozes do filho a misericórdia a que ele não teve direito.
— Que tenham paz no coração, para não fazer de novo.
A madrasta de Cleidenilson, Maria José Pires, comentou o linchamento.
Qual o sentimento da família nesse momento?
Tudo o que a gente pede, agora, é que haja justiça. Não quero vingança, não quero nada disso, até porque não tenho esse coração. Que a polícia descubra quem fez isso, e que ele pague diante da lei, que vá para a cadeia. Não quero nem pensar em matar ninguém.
A senhora viu as fotos que mostram o Cleidenilson amarrado ao poste?
Está em todos os lugares, né (ela mostra um jornal que traz na capa a imagem do rapaz ensaguentado e nu). E é muito doído. Vocês não sabem como estava a cabeça do meu filho, toda quebrada, cheia de nó. Não aceito isso (Maria chora). Estava amarrado feito bicho. A indignação nem é tanto a morte, mas a forma como ela aconteceu.
A cena foi comparada a dos tempos da escravidão...
Para mim, faz todo o sentido. É isso que a gente quer, pessoas amarradas no tronco, apanhando? Será que desejamos mesmo isso de volta? Não sei nem se essa gente é humana de verdade, porque é algo que não se faz.
O que você diria para aqueles que mataram Cleidenilson?
Queria saber de que maneira eles conseguem comer... Como vão dormir? Como se banham? Como vão olhar para aquele poste e lembrar do que fizeram com Cleidenilson? Se ele fez coisa errada, que segurassem e chamassem a polícia, para deixar que a justiça condenasse. E só.
Típica atitude daqueles que se dizem "de bem". Pessoas "de bem" que amarram um sujeito num poste e o espancam até a morte. Querem um culpado ? Um deles são aqueles jornais sensacionalistas que vendem a morte e a desgraça alheia. Que vibram quando um bandido é assassinado. Daí depois quando um sujeito como este acaba morto e se constata que o cara não era nenhum assassino de sangue frio, mas alguém como nós, que por circunstâncias da vida cometera um ato errado, as pessoas ficam espantadas. Não digo que ele não devesse pagar pelo seu crime, mas não precisava ser com a vida, ainda mais dessa maneira. Isso não se faz nem com bixo, quanto mais com outro ser humano.
ResponderExcluirÉ lamentaval o crime, nada justifica tirar a vida de alguem, mas a população está cançada de tanta impunidade, caso a policia estivesse prendido o mesmo, logo soltaria pq não tinha passagem pela policia anteriormente, a população não sabe se o meliante estava praticando o crime pela primeira vez, de uma coisa eu tenho certaza, ninguem planta abacaxi e colhe abacate. Todos nos colhemos o que plantamos!...
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