Por Fábio Castro*, em seu blog.
O Conselho Universitário (Consun) da UFPA foi repentinamente convocado, ontem, para uma reunião extraordinária que tem por objetivo discutir o processo eleitoral da sucessão do Prof. Carlos Maneschy na Reitoria. Todos sabemos que a razão disso é a renúncia do Reitor para disputar um cargo público – motivo legítimo, sem dúvida alguma, mas que lança a UFPA num momento de turbulência em ano que já está exaustivo em função dos semestres acumulados pela greve.
Acho muito interessante quando a universidade fornece quadros para a política. Há experiências boas e más nesse sentido, mas de qualquer forma isso é muito importante e saudável. Penso, igualmente, que o Prof. Maneschy tem condições muito boas para realizar uma disputa de alto nível e, sendo eleito, ser um excelente prefeito ou parlamentar – não estou ainda bem informado a respeito de qual cargo pretende disputar.
Não obstante, em minha compreensão, não é correto submeter a agenda da UFPA à agenda de um projeto específico.
A decisão de renunciar leva à antecipação de um processo sucessório que deveria, respeitar uma agenda de reflexão e diálogo construída coletivamente.
A UFPA é importante demais para escolher um reitor no afogadilho do tempo, e está viva demais para prescindir do debate, do diálogo e da construção coletiva.
Evidentemente que fazer as coisas dessa maneira beneficia a alguns, em detrimento de outros. E beneficia a alguns projetos, em detrimento de outros. Rompe com os preceitos da transparências e da igualdade de condições. E isso é perigoso, porque a tendência é que um processo eleitoral atropelado leve a escolhas superficiais, norteadas por um comportamento de escolha, de voto, do tipo “onde vou errar menos”. A um comportamento baseado na superficialidade e nas aparências.
Esse tipo de “truque” não deveria estar presente numa universidade pública. Num momento em que a política se torna desacreditada por muitos, estratégias eleitorais desse tipo apenas fragilizam os fundamentos do que deve ser a boa política e comprometem, inclusive moralmente, a nossa instituição.
Desculpem se ofendo a alguém, mas não estou de acordo com essa situação. E, sinceramente, acho um absurdo atropelar toda uma comunidade formada por pessoas competentes, inteligentes e honestas em função de um projeto de poder.
De um projeto de continuação.
Não digo de continuísmo, pois evidentemente há valor e mérito na gestão do Prof. Maneschy e sua equipe, inclusive, e sobretudo, na gestão do Prof. Tourinho, por quem tenho grande admiração e que nos foi apresentado como seu sucessor.
Mas um projeto de continuação. De continuação, de sucessão, de construção de um núcleo de poder que agora se apresenta como projeto eleitoral.
Um projeto de continuação que transforma a Reitoria de uma universidade pública num Reitorado.
Nem a pressa, nem o individualismo, nem o oportunismo, como todos sabemos, são bons conselheiros na academia.
Mesmo tatilmente, pensando do ponto de vista estritamente político, isso rompe qualquer base e embaralha qualquer diálogo: desgasta a governabilidade.
Prova disso é o estado atual de disputa que parece tomar conta do próprio núcleo de poder da reitoria. Todos sabemos que há desacordos e rupturas. E essa situação ameaça, por antecipação, a próxima gestão, porque desacredita-a.
Em síntese, o que penso: 1) É preciso garantir a equidade na disputa; 2) Precisamos garantir o pleno debate e a construção de uma campanha democrática; e 3) A eleição não deve ser antecipada em hipótese alguma.
Espero que a comunidade da UFPA tenha maturidade para seguir no caminho do bom senso e da política construtiva. E espero que o Consun saiba ouvir e respeitar a comunidade.
Concordo com sua avaliação e proposta.
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