A jornalista Lucélia Fernandes Imagem: Arquivo Pessoal. |
Por Luciana Cavalcante, em colaboração para o UOL, em Belém (PA).
A família da jornalista paraense Lucélia Fernandes Damasceno, de 63 anos, acusa o plano de saúde que ela tem de negligenciar seu atendimento. A jornalista estava internada em um pronto-socorro do plano, em estado grave, com covid-19. Lucélia está com 50% do pulmão comprometido, é de grupo de risco, hipertensa e diabética, e por cinco dias tentou uma vaga na UTI (unidade de terapia intensiva).
Hoje (22), após a publicação deste texto, a família informou que Lucélia foi transferida para a UTI de um hospital conveniado.
Lucelia procurou atendimento em uma das unidades de emergência do plano, em Belém, no dia 16 de março, já com resultado de exames que comprovam a doença. "Ela e o marido fizeram teste na farmácia e ambos deram positivo. Só que ele teve sintomas leves, mas ela fez uma tomografia que atestou o comprometimento do pulmão", contou a amiga jornalista Lourdinha Bezerra, que reuniu amigos da área para tentar ajudá-la.
Segundo a família, o comprometimento era de 50% e ela só piorou desde o momento que entrou no hospital. A filha acusa o plano de saúde de descaso. "Minha mãe ficou dois dias em uma poltrona e só na madrugada da quarta para a quinta colocaram ela em um leito infantil, aqui está tudo adaptado", denunciou Rafaela Fernandes.
A jovem conta que desde que a mãe entrou no hospital a informação repassada para a família foi de que precisaria de um leito clínico, mas com o passar do tempo, eles começaram a pressionar o plano para que ela fosse para a UTI, por conta do seu agravamento e das comorbidades.
"Em nem um momento eles avaliaram que ela precisava de UTI, nós que solicitamos por ela ser diabética, hipertensa, ter um aneurisma, é idosa e está com sobrepeso. A saturação dela estava variando muito. Quando chegou ainda conseguia se alimentar e ir ao banheiro, mas depois qualquer esforço que fazia caia. Hoje [ontem, 21] ela já estava dormindo muito e perdendo a consciência", lamentou a filha.
A amiga da jornalista revela que foi preciso contratar um pneumologista particular para atendê-la dentro do pronto-socorro. "Tivemos que pedir autorização para trazer um médico de fora para ela ter uma assistência melhor e só no sábado isso foi possível", conta Lourdinha Bezerra.
A filha conta que pressionou o plano pela transferência para UTI e recebeu a informação de que não havia vaga. Pediu então para que fosse solicitada uma vaga no sistema público de saúde.
"Primeiro disseram que não trabalhavam com leitos públicos. Depois me deram uma ficha para preencher dizendo que estava pedindo um leito no SUS e me responsabilizava por por isso. Assinei e disseram que iriam encaminhar para o jurídico, mas que não tinha prazo para resposta".
No final da tarde de ontem (21) eles foram informados que a jornalista foi transferida para a Unidade de Terapia Semi-Intensiva, onde foi intubada. "Eu não queria que chegasse ao nível de intubar. Disseram que ela estava com muito desconforto e era melhor para o corpo descansar. Eu só queria que ela fosse para uma UTI para receber um tratamento melhor, com os médicos por perto", lamenta.
Em nota, a Unimed Belém informou que, desde que deu entrada no hospital, a paciente é atendida pela equipe de intensivistas na área de pacientes graves e que está concentrando esforços na busca de um leito de UTI, mas diante do atual cenário crítico da pandemia, a procura é maior do que a oferta, não só em Belém como no restante do país.
Disse ainda, que é atuante somente no setor privado e que a regulação de leitos públicos é realizada pela Central Estadual de Regulação, na qual a saúde suplementar não tem gestão. A Secretaria de Estado de Saúde Pública informou que não possui gerência na regulação de pacientes do sistema privado e ressaltou que a rede privada pode solicitar leito ao Estado, mas que não recebeu nenhum pedido até o momento.
Veja a nota da Unimed:
A Unimed Belém informa que a Sra. Lucélia Fernandes deu entrada, na unidade Batista Campos, em 16 de março, com sintomas de covid-19 e, no momento, é atendida, com todo o zelo, pela equipe de intensivistas na área de pacientes graves.
A cooperativa médica frisa que os esforços estão concentrados na busca por um leito de UTI à paciente, mas, diante do atual cenário crítico da pandemia, a procura é maior do que a oferta, não só em Belém como no restante do país.
Além disso, a Unimed Belém destaca que é atuante somente no setor privado e que a regulação de leitos públicos é realizada pela Central Estadual de Regulação, na qual a saúde suplementar não tem gestão. Por isso, a realização de transferência para um hospital público requer o cadastramento na Central e a emissão de um documento formal do órgão, com informações de garantia da vaga. Depois desse procedimento é que o plano de saúde pode deslocar a beneficiária, caso esteja em condições de ser transferida.