Depois de ler em alguns blogs a reprodução de versões plantadas pelos interesses da grande mídia e dos partidos da oposição ao governo Lula, resolvi trazer a contribuição para o debate com o artigo abaixo, extraído do blog do Jornalista Luís Nassif.
Deixe-me explicar a lógica que me leva a acreditar em armação, no caso do suposto "dossiê". Sei que, hoje em dia, é trabalho quase impossível tentar conduzir uma discussão pelos caminhos da lógica.
A lógica pressupõe uma certa hierarquia de argumentos, a identificação dos aspectos mais relevantes, para se entender uma situação, a análise da consistência das evidências. No vale-tudo atual, para embolar a discussão basta priorizar temas secundários ou avançar em suposições sobre intenções de pessoas, sem a preocupação de se basear em evidências. Vira sessão espírita.
Mesmo assim, vamos tentar, desdobrando o assunto por etapas, separando informações objetivas de hipóteses. E, no caso das hipóteses, buscar respaldo nas evidências apresentadas até agora. Há uma informação objetiva duas hipóteses em jogo.
A informação: dados estavam sendo organizados na Casa Civil, sobre gastos de governo anteriores.
Hipótese 1: A intenção, segundo a Casa Civil, seria se preparar para futuros pedidos da CPI dos Cartões. Teria havido um vazamento dos dados para a oposição, dando margem à exploração política. É possível. Por aí, não se pode falar em dossiê.
Hipótese 2. A oposição sustenta que os dados foram organizados para pressionar os senadores da oposição a desistirem da CPI dos Cartões. É possível também. E aí se caracterizaria o dossiê.
As evidências: O que desempata o jogo é a prova do pudim, a busca de evidências. O que se tem:
1. Não apareceu até agora (se aparecer, muda a história, mas não apareceu) nenhum parlamentar que tenha informado ter sido pressionado pelo governo a desistir da CPI do Cartão Corporativo com base no tal dossiê. Se existem, que apareçam.
2. O único senador que tomou contato com o tal dossiê – pelo que se sabe até agora – foi Álvaro Dias. E os dados vieram através da iniciativa de um funcionário da Casa Civil que tinha relações pessoais com seu assessor.
3. O alvo a ser atingido era a Ministra-Chefe da Casa Civil, não Fernando Henrique Cardoso.
Qualquer análise séria tem que se basear nesses dados até que surjam outros dados ou evidências que
permitam outras hipóteses.
Com base nessas evidências, são duas as novas hipóteses a serem investigadas:
1. O funcionário estava a serviço do José Dirceu para queimar a Dilma.
2. O funcionário estava a serviço da oposição para queimar a Dilma.
Em qualquer hipótese, só existe uma certeza: o Senador Álvaro Dias atuou como cúmplice. Junto com ele, as publicações que endossaram a tese do "dossiê" sem dispor de nenhuma – repito: nenhuma! – evidência que pudesse corroborar sua tese.
Sabendo-se que José Dirceu é alvo preferencial da "Veja", indaga-se:
• por que a revista, tendo acesso ao Álvaro Dias, podendo checar as suas fontes, não explorou antes a possibilidade Dirceu?
• por que Álvaro Dias daria entrevistas defendendo o funcionário da Casa Civil, se ele estivesse a mando de Dirceu?
• por que FHC daria entrevistas tratando essa busca do autor do vazamento como "factóide" se pudesse, através dele, chegar a um dos lideres do PT?