Enquanto serviu ao projeto das elites de derrubada da presidenta Dilma, o lobista Eduardo Cunha era um santo. "Todos somos Cunha", berravam os 'coxinhas' manipulados pela imprensa. Até reportagens antigas, que mostravam a sua trajetória de falcatruas, foram arquivadas. Agora, feito o trabalho sujo, a mídia venal passa a publicar matérias que mostram como o correntista suíço construiu sua fortuna e seu enorme poder político. Na edição desta semana, a revista Época – da mafiosa famiglia Marinho – traz um relato que evidencia os métodos do atual presidiário. O objetivo talvez seja o de desqualificar a sua possível “delação premiada”, que pode implodir o covil golpista de Michel Temer.
Segundo a denúncia, que já devia ser conhecida há muito tempo, Eduardo Cunha agiu como lobista da poderosa indústria farmacêutica – entre outros setores da “ética” iniciativa privada. Esta foi uma das fontes de seus milionários recursos – parte deles enviados para as contas secretas da Suíça. Nesta bem-sucedida operação, ele contou com a ajuda de outro político mais sujo do que pau de galinheiro, o empresário Sandro Mabel, que hoje ocupa um posto de destaque no Palácio do Planalto. Vale conferir alguns trechos da reportagem da Época, assinada por Filipe Coutinho e Talita Fernandes:
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Do 3º andar do Palácio do Planalto, mesmo piso em que fica a sala do presidente da República, Michel Temer, despacha o ex-deputado Sandro Mabel, do PMDB. Empresário milionário, o veterano Mabel atua como assessor especial de Temer para assuntos relacionados à Câmara dos Deputados, que conhece como poucos. Ele é presença frequente e prestigiada ali. Neste ano, já articulou, a mando do governo, votos para tentar salvar o colega de partido, Eduardo Cunha, atuou na escolha do atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia, do DEM, e compareceu às votações decisivas do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Quem fala com Mabel sabe que ele é uma das vozes do governo Temer. Sabe, também, que é próximo de Eduardo Cunha – um elo que pode atrapalhar o trabalho de Mabel e constranger o Palácio do Planalto nos próximos dias, após a prisão do ex-presidente da Câmara.
Em trecho de uma delação premiada obtida por Época, Sandro Mabel aparece como o responsável por inserir uma emenda em uma Medida Provisória para atender aos interesses de um empresário, prática comum e lucrativa, um derivativo do poder das assinaturas em Brasília. Em 2012 Nelson Mello era diretor de Relações Institucionais da Hypermarcas, uma das maiores fabricantes de produtos farmacêuticos do país, quando conheceu o então líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha. O doleiro Lúcio Funaro, operador de Cunha, arranjou um encontro no apartamento funcional do deputado em Brasília. Mello disse a Cunha que queria introduzir uma mudança na lei, para permitir a venda de medicamentos sem receita médica. Entregou recortes de jornais e documentos que, segundo ele, mostravam como tal prática era comum em alguns países. “Eduardo Cunha recebeu esses documentos e fez algumas perguntas; que meses depois houve votação na Câmara e o projeto dos medicamentos isentos de prescrição foi aprovado”, diz o depoimento de Mello.
A tal emenda foi feita em um projeto de lei cujo objetivo era desonerar de impostos a compra de alguns produtos por pessoas com deficiência – ou seja, nada tinha a ver com o tema principal. Essa prática, conhecida como “jabuti”, era uma marca registrada da atuação parlamentar de Eduardo Cunha. O autor da mudança que beneficiava a Hypermarcas era o então deputado Sandro Mabel, do PMDB de Goiás. “Não sabia então que a emenda era de Sandro Mabel, apenas ficou implícito que pela força do Eduardo Cunha, ele estava por trás da emenda”, diz trecho do depoimento. Com a mudança, medicamentos poderiam ser vendidos sem receita em supermercados, armazéns e hotéis. O texto só não entrou em vigor devido ao veto da então presidente Dilma Rousseff. Ainda assim, a manobra permitiu a Mello medir o poder de Cunha: ele tinha comando, influência e conhecimento suficientes para mudar leis, de acordo com os interesses de empresários, em troca de dinheiro. Era útil.
O relato de Mello causa incômodo a Sandro Mabel por ele figurar como um soldado de Eduardo Cunha no Congresso, com a materialidade de uma operação suspeita. Não é a primeira vez. Em troca de mensagens com Leo Pinheiro, um dos sócios da OAS, Eduardo Cunha indica Mabel como nome ideal para apresentar uma emenda que atendia aos interesses da empreiteira. Escolhido o autor da emenda, que seria juntada à Medida Provisória 582, que tratava da desoneração da mão de obra, indicou um gabinete para a entrega do texto redigido. Escolheu o de número 510, o seu, apesar de a emenda, oficialmente, não ter nenhum indicativo de que era de sua autoria.
Procurado no Planalto, Sandro Mabel não respondeu. “O Ministério Público construiu ilações a partir de documentos, aos quais a defesa de Eduardo Cunha não teve acesso”, diz em nota a defesa de Cunha. “Desde já, a defesa refuta que Eduardo Cunha tenha praticado alguma conduta ilegal no exercício do seu mandato. Eduardo Cunha está à disposição das autoridades para esclarecer essas suspeitas infundadas.” Uma das frentes de investigação do Ministério Público Federal incide sobre a atuação de Cunha no ramo da negociação de emendas com empresários. Os investigadores têm avançado na pesquisa para descobrir a rede de aliados que Cunha usava para não se expor, não aparecer sempre como autor dos textos. Por isso, a prisão do ex-presidente da Câmara desperta entre seus aliados o pânico de serem arrastados para as investigações de corrupção. O Palácio do Planalto está sem dormir.
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É esta turma de lobistas que hoje comanda o governo. Eduardo Cunha está preso – não se sabe por quanto tempo. Já os outros Cunhas dão as cartas nos rumos do país, operando direto do Palácio do Planalto. E ainda tem “midiota” que acredita que o golpe foi dado para salvar o Brasil da corrupção. Só mesmo com muito medicamento pesado das “éticas” indústrias do setor farmacêutico!
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