terça-feira, junho 13, 2017

A polêmica de Miriam Leitão com os petistas. Quem está falando a verdade?

Sem nenhuma foto ou vídeo que comprove o fato, jornalista diz ter sido agredida verbalmente por petistas durante um vôo.

Por Diógenes Brandão

Sob o título "O ódio a bordo", a jornalista que é funcionária das empresas da Organização Roberto Marinho, Miriam Leitão diz ter sido vítima de violência verbal, segundo ela, durante um vôo da Avianca, saído de Brasília com destino ao Rio de Janeiro. 

O fato gerou muita polêmica na internet, depois que diversos outros jornalistas e blogueiros questionaram alguns trechos do relato da colega. Entre solidariedade e críticas, até a informação de um dos passageiros do vôo que afirmou que Miriam Leitão faltou com a verdade, muitos internautas acabaram deixando de lado outros fatos marcantes do início da semana, para debater o acontecido com a jornalista que escreve para o jornal O Globo e tem espaço como comentarista na TV Globo e na Globo News.

Estranho também é o fato da jornalista só publicar 10 dias após o vôo, a suposta agressão recebida. O presidente do do PT Carioca, Bob Calazans, também se manifestou sobre o ocorrido.

"Miriam Leitão falta com a verdade.Estive no voo de volta do 6º congresso do PT, com a delegação do Rio e de outros estados que iria fazer escala para outros estados. E sentei ao lado da jornalista na poltrona 15D e posso afirmar categoricamente: Ela faltou com a verdade na coluna dela do jornal.Acredito que ela tenha criado essa “Fanfic” por falta e matéria jornalística tendo em vista que a viagem já ocorreu há mais e 10 dias. Esse voo inclusive já tinha sido alvo de matérias da Revista Fórum, há mais de uma semana. Por ter sido filmado, a todo momento pelos comissários de Bordo e Policia Federal ter constrangido Militantes do PT. 

Um agente inclusive estava presente em todo o momento pois viajou conosco de terno e à paisana.Em momento nenhuma essa senhora foi xinga, ofendida e muito menos empurrada como falsamente afirma em sua coluna. O único membro da delegação do PT que se dirigiu a jornalista foi eu. Isso ocorreu quando a uma comissária segundo ela a pedido da PF, pediu para que a jornalista sentar na frente no voo, e eu a tranquilizei falando que não seria necessário. Me causa surpresa ela vir com essa versão agora. Não sou adepto a teorias de conspiração, mas tudo parece estranho, ela por coincidência ter pego um voo no fim do congresso do PT com mais de 100 Petistas", concluiu.

Em seu perfil no Facebook, o jornalista Leandro Fortes questiona o fato de não haver nenhuma prova de que Miriam Leitão tenha falado a verdade.


Já a jornalista e blogueira do Socialista MorenaCynara Menezes repreende aqueles que Miriam Leitão acusa de violentos.


O jornalista e blogueiro do Portal Fórum, Renato Rovai condena o escracho supostamente ocorrido e corrige uma informação dita por Miriam Leitão sobre a Globo.

Já no blog do Éden Valadares, a afirmação sem vacilos: "Quem semeia vento, sem erro, colhe tempestade". Vale a pena ler aqui.

Agora leia o artigo de Miriam Leitão e tire suas conclusões.

O ódio a bordo

Sofri um ataque de violência verbal por parte de delegados do PT dentro de um voo. Foram duas horas de gritos, xingamentos, palavras de ordem contra mim e contra a TV Globo. Não eram jovens militantes, eram homens e mulheres representantes partidários. Alguns já em seus 50 anos. Fui ameaçada, tive meu nome achincalhado e fui acusada de ter defendido posições que não defendo. 

Sábado, 3 de junho, o voo 6237 da Avianca, das 19h05, de Brasília para o Santos Dumont, estava no horário. O Congresso do PT em Brasília havia acabado naquela tarde e, por isso, eles estavam ainda vestidos com camisetas do encontro. Eu tinha ido a Brasília gravar o programa da Globonews.  

Antes de chegar ao portão, fui comprar água e ouvi gritos do outro lado. Olhei instintivamente e vi que um grupo me dirigia ofensas. O barulho parou em seguida, e achei que embarcariam em outro voo.

Fui uma das primeiras a entrar no avião e me sentei na 15C. Logo depois eles entraram e começaram as hostilidades antes mesmo de sentarem. Por coincidência, estavam todos, talvez uns 20, em cadeiras próximas de mim. Alguns à minha frente, outros do lado, outros atrás. Alguns mais silenciosos me dirigiram olhares de ódio ou risos debochados, outros lançavam ofensas.  “Terrorista, terrorista”, gritaram alguns.  

Pensei na ironia. Foi “terrorista” a palavra com que fui recebida em um quartel do Exército, aos 19 anos, durante minha prisão na ditadura. Tantas décadas depois, em plena democracia, a mesma palavra era lançada contra mim.  Uma comissária, a única mulher na tripulação, veio, abaixou-se e falou:  “O comandante te convida a sentar na frente”.  “Diga ao comandante que eu comprei a 15C e é aqui que eu vou ficar”, respondi.  

O avião já estava atrasado àquela altura. Os gritos, slogans, cantorias continuavam, diante de uma tripulação inerte, que nada fazia para restabelecer a ordem a bordo em respeito aos passageiros. Os petistas pareciam estar numa manifestação. Minutos depois, a aeromoça voltou:  “A Polícia Federal está mandando você ir para frente. Disse que se a senhora não for o avião não sai”.  “Diga à Polícia Federal que enfrentei a ditadura. Não tenho medo. De nada”.  Não vi ninguém da Polícia Federal. Se esteve lá, ficou na porta do avião e não andou pelo corredor, não chegou até a minha cadeira. 

Durante todo o voo, os delegados do PT me ofenderam, mostrando uma visão totalmente distorcida do meu trabalho. Certamente não o acompanham. Não sou inimiga do partido, não torci pela crise, alertei que ela ocorreria pelos erros que estavam sendo cometidos. Quando os governos do PT acertaram, fiz avaliações positivas e há vários registros disso.  

Durante o voo, foram muitas as ofensas, e, nos momentos de maior tensão, alguns levantavam o celular esperando a reação que eu não tive. Houve um gesto de tão baixo nível que prefiro nem relatar aqui. Calculavam que eu perderia o autocontrole. 

Não filmei porque isso seria visto como provocação. Permaneci em silêncio. Alguns, ao andarem no corredor, empurravam minha cadeira, entre outras grosserias. Ameaçaram atacar fisicamente a emissora, mostrando desconhecimento histórico mínimo: “quando eles mataram Getúlio o povo foi lá e quebrou a Globo”, berrou um deles. Ela foi fundada onze anos depois do suicídio de Vargas.  

O piloto nada disse ou fez para restabelecer a paz a bordo. Nem mesmo um pedido de silêncio pelo serviço de som. Ele é a autoridade dentro do avião, mas não a exerceu. A viagem transcorreu em clima de comício, e, em meio a refrões, pousamos no Santos Dumont. A Avianca não me deu - nem aos demais passageiros - qualquer explicação sobre sua inusitada leniência e flagrante desrespeito às regras de segurança em voo. Alguns dos delegados do PT estavam bem exaltados. Quando me levantei, um deles, no corredor, me apontou o dedo xingando em altos brados. Passei entre eles no saguão do aeroporto debaixo do coro ofensivo.  

Não acho que o PT é isso, mas repito que os protagonistas desse ataque de ódio eram profissionais do partido. Lula citou, mais de uma vez, meu nome em comícios ou reuniões partidárias. Como fez nesse último fim de semana. É um erro. Não devo ser alvo do partido, nem do seu líder. Sou apenas uma jornalista e continuarei fazendo meu trabalho.

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