Editorial do jornal O Liberal deste sábado fala de vira-lata, mas não diz se está se referindo a Temer ou algum membro do seu governo "biônico".
Leia abaixo:
Nem vira-latas, nem ufanistas. Sejamos apenas realistas.
Os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, inaugurados oficialmente ontem, têm servido para o bem e para o mal.
Para o bem, toma-se a Rio 2016 com uma vitrine para exibir o País no que ele tem de melhor - e cada um escolha o que o Brasil tem de melhor.
Para o mal, toma-se a Rio 2016 como uma vitrine para mostrar ao mundo um País que teria atingido o auge de seu pior.
Para o bem, a Rio 2016 é o Brasil da concórdia, da inventividade, do povo acolhedor, da diversidade cultural e de instituições democráticas consolidadas - e tanto é assim que uma presidente provisoriamente afastada está na iminência de perder o cargo em decorrência de um processo de impeachment que tramita no Senado.
Para o mal, a Rio 2016 mostra o Brasil da violência, da impontualidade, da falta de planejamento, do improviso, da crise econômica, de preconceitos maldisfarçados e do golpismo contra os eleitos democraticamente.
Nem vira-latas, nem ufanistas. Sejamos apenas realistas.
Nos anos 1950, Nelson Rodrigues, o jornalista, dramaturgo e cronista a que poucos podem ser comparados, escreveu uma crônica a que deu o título de “Complexo de vira-latas”.
Em um dos trechos, lê-se: “A pura, a santa verdade é a seguinte: - qualquer jogador brasileiro, quando se desamarra de suas inibições e se põe em estado de graça, é algo de único em matéria de fantasia, de improvisação, de invenção. Em suma: - temos dons em excesso. E só uma coisa nos atrapalha e, por vezes, invalida as nossas qualidades. Quero aludir ao que eu poderia chamar de ‘complexo de vira-latas’. Estou a imaginar o espanto do leitor: - ‘O que vem a ser isso?’ Eu explico.”
Explicou Nelson: “Por ‘complexo de vira-latas’ entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. Isto em todos os setores e, sobretudo, no futebol.” Pronto. Estava criada a vira-latice, ou o vira-latismo, como preferia o próprio Nelson.
Os que tomam a Rio 2016 pelo mal parecem inebriados pela oportunidade de pintar o Brasil como uma espécie de primus inter pares entre os piores.
Em contraponto, o ufanismo se mostra também inebriado e já contabiliza os feitos que colocarão a Rio 2016 como a única, a maior, insuperável e mais espetacular Olimpíadas de todos os tempos.
Esses extremos revelam apenas um País que, nos últimos tempos, parece não conseguir encontrar meio-termo para as coisas. E isso é péssimo.
Até porque a Rio 2016 - apenas e tão somente ela - não tornará o Brasil nem melhor, nem pior. Apenas reforçará algumas de nossas qualidades e, inevitavelmente, alguns de nossos defeitos. Apenas isso.