Há tempos que o Pará já deveria ser visualizado no restante do Brasil e no exterior por conta de sua diversidade cultural, potencial turístico e principalmente pela força de nossos costumes, musicalidade, cinema, artes plásticas, cênicas e tantas outras expressões e linguagens artísticas, que só são mantidas e rejuvenescidas pela resistência de grupos e indivíduos que chamam a atenção dos meios de comunicação e se afirmam como indústria cultural por sua grande dedicação e força própria.
Gaby a Diva do Tecnolomelody.
Da periferia de Belém, o Tecnobrega invadiu boates da high-society belenense e palcos de várias capitais do Brasil, tendo para isso que fazer “barulho” e impor com seu brilho próprio, com suas mais diversas manifestações entre elas suas roupas exuberantes, letras sensuais e principalmente nas festas que arrastam multidões, com enormes aparelhagens de som, todo o santo dia pela capital do Pará, sem falar na chapante hegemonia nas rádios de todo o Estado.
Toda essa força que ignora, mas não é ignorada pelo olhar preconceituoso de uma decadente elite intelectual, começa a reverberar para além do Pará e mesmo sem contar com uma política cultural, nem se quer ajuda dos gestores culturais da casa, que ainda a observam como o axé e o funk paraense, ambos também discriminados na Bahia e Rio de Janeiro, respectivamente, são sistematicamente acusados de serem piegas, em sua composição e mensagens e pobre em musicalidade, bastando-se de equipamentos eletrônicos.
O Tecnobrega assim como o Axé e o Funk representam o que podemos chamar de Fenômeno Cultural de Massas e ponto final? Não!
Há muito debate que precisa ser feito, pois a ciência política e o vanguardismo acadêmico ainda não dão conta de revelar com precisão, as causas e efeitos de tamanha absorção das letras e dos ritmos que adentram nas cabeças e corpos que curtem a nova onda, balançando com suas batidas eletrônicas e melodias românticas.
O Filme
Brega S/A dos cineastas Gustavo Godinho e Vladimir Cunha, rrevela o submundo do mercado informal com o contrabando e a força do comércio ilegal, que possibilitaram a submersão do Tecnobrega e do Tecnomelody, promovendo dialéticamente a democratização do consumo de obras audiovisuais através da pirataria dos DVD´s e CD´s de vários artistas paraenses, que tem os camelôs como seus principais aliados na divulgação de suas músicas.
Gaby no programa Altas Horas (Globo) de Serginho Groisman, quando pôs todos os presentes para dançar, inclusive o apresentador.
Considerada como a diva do Tecnobrega, Gaby Amarantos, fundadora da Banda Tecnomelody é uma jovem nascida na periferia de Belém, que com sua banda obteve seu primeiro apoio financeiro do Banco do Povo, durante a gestão petista na capital do Pará, o que possibilitou a compra dos primeiros equipamentos da jovem artista. Sua carreira já acumula participação em programas nacionais das emissoras de rádio e TV e agora através de convite da assessoria da presidenta eleita Dilma Rousseff fará parte da festa de sua posse, no dia 1º de Janeiro em Brasília-DF.
Da minha parte, avalio que poderíamos ter grupos de Carimbó, Marujada, Pássaros, Bois-bumbás, Bicharada e tantas outras manifestações locais representando nossa cultura popular neste evento que será noticiado para o mundo inteiro, mas observo que a nova geração do brega, cativa, “arrasta povão” como dizem e encanta as massas de forma mais visceral, todos aqueles que o conhecem.
A motivação desta postagem foi uma pequena, mas contundente frase escrita por um dos principais diretores da Secretaria de Cultura do Pará, que através de um diálogo sobre a participação de Gaby Amarantos na festa de Dilma, com outras pessoas pelo Facebook, afirmou não gostar do ritmo.
Ora, dizer simplesmente que não gosta disso ou daquilo não dá o direito a ninguém de reprovar ou descartar a importância cultural de uma expressão/linguagem artística, nem tão pouco ignorar sua afirmação cultural, principalmente quando se é gestor público estadual, como é o caso do Sr. Carlos Henrique.
Comentários desse tipo propagam práticas discriminatórias além de semear preconceitos e ajudar com que o ritmo ganhe cada vez mais adversários, como a advogada paraense Rejane Bastos, que sob o argumento de combater a poluição sonora promovida pelas festas de aparelhagem, incentiva um embate contra a cultura do brega em Belém. O ápice de sua investida contra o ritmo, aconteceu em maio deste ano, quando ao saber da tramitação do projeto de lei que visa transformar o Brega como Patrimônio Cultural Paraense estava em votação na Assembléia Legislativa do Pará, publicou na imprensa uma carta onde considerava “...um desrespeito ao povo paraense, em geral, ter sua imagem associada ao Tecnobrega, ritmo tão ruim quanto o funk e o axé".
Irei para a posse da nova presidenta e de onde estiver não esconderei o orgulho de ver no palco da apoteose do brega com nossa Gaby e seus dançarinos, ensurdecendo os ouvidos de todos que alí estiverem assistindo seu show.