Por Carlos Henrique Machado Freitas no
Trezentos.
Antes de qualquer coisa, acho que vale sublinhar um dado importante, os
coletivos culturais são uma ideia extraordinária, e digo isso porque,
graças ao progresso fulminante da informação, outras formas
colaborativas ajudarão a renovar a produção cultural brasileira, o que
nada tem a ver com a pretensão e a cobiça do modelo de negócios da casa
Fora do Eixo. Portanto, atribuir aos coletivos de cultura a lógica
triunfalista exposta pelo conceito de marca que vem sendo construído
pelos líderes do Fora do Eixo, é perder o sentido do valor e da natureza
das novas soluções que ousadamente estão se desenvolvendo no espírito
das várias formas da produção coletivada. Porque não há como negar que a
experiência de um coletivo verdadeiramente determinado a propor
mudanças dentro de um tempo empírico, com novas ações, relações e
ideias, não seja a grande mutação contemporânea. E isso é benditamente
irreversível, provocado justo pela grande mutação tecnológica onde a
utilização da informação é cada vez mais democratizada.
FORA DO EIXO INSIGTHS – UM PROJETO DA DIREITA
Basta ter um contato direto com o Itaú Insigths para nos permitir
entender como se materializa a visão de marca da casa Fora do Eixo. É
verdade que o foco é a inovação, mas é bom diferenciar o modelo
coletivado, descentralizado com o que pratica como segredo de marca a
casa Fora do Eixo.
A questão de atitude sempre foi um dos co-editores da cultura de massa e
este conceito patriarcal foi adotado pelo FdE como se fosse o
representante legal de todos os coletivos, uma espécie de agência
personalité, o que é uma estrambótica mentira. O FdE tem sim o foco na
inovação, mas para definir bem definido como estratégia de
relacionamento político, digo em todos os quadrantes da vida política
nacional. Daí vende a todos uma diretriz de futuro com uma pretensa
ideia de que promove a construção de uma performance sustentável.
Nesse mesmo contexto de informação onde organiza seus espaços como
franquia por todo o Brasil com "colaboradores", até a informação que nos
chega, com seus trabalhos precarizados, é a própria visão de máquina do
tempo que está sendo gerida pela augusta lógica da gestão corporativa,
sobretudo nos grandes eventos e com patrocínios via renúncia fiscal para
a construção de um circuito comercial.
É preciso entender que o Fora do Eixo não é um coletivo, mas apenas um
point cultural com efeito multiplicador dentro das regras de um
voluntariado de trainees com o objetivo único de se tornarem líderes num
futuro próximo dentro de um slogan de "mudar o mundo". É verdade que as
grandes marcas e mitos fazem parte da história da humanidade, mas, no
caso do Fora do Eixo, foi criada uma imagem como uma espécie de
majestic, alguém que pensa diferente e estimula as pessoas a pensarem
"fora da caixa".
A grande novidade nesse novo espaço do empreendedorismo simbólico é que a
publicidade e todo um sistema na áreas de tecnologia se fundem num
vácuo deixado pela velha indústria cultural para dar lugar a um projeto
de uma outra história do capitalismo cultural, que pode ser considerado
como um novo ciclo do capitalismo se utilizando dos bens simbólicos.
É bom lembrar que o grande portfólio do líder do Fora do Eixo, Pablo
Capilé, é personificar a marca em sua imagem, alinhando-a a todas as
formas de inovação como se ele próprio fosse a encarnação da nova
geração de ideias. E como toda ideia precisa de um começo, além dos
truques e técnicas, a capacidade de estabelecer contato com todas as
lideranças políticas e empresariais, é questão sine qua non. Por isso o
próprio Capilé, no Roda Viva, pinçou com uma plástica bastante
translúcida como faz suas trocas de relacionamento, "ninguém nos
convida, nós nos impomos".
E foi assim que Pablo Capilé, um bicão profissional, foi se instalando
nos lugares, festas, encontros políticos, empresariais, manifestações de
rua e construindo uma espécie de catarse coletiva, não arrecadando
recursos para financiamento de sua máquina do tempo, mas arrecadando
imagens e postando-as em redes sociais, numa espécie de cópia do "ache o
Wally". E assim, ele criou uma espécie de cadastro de investimento de
imagem, gerando a ideia de que sua interação com as pessoas (medalhões)
era um satélite colocado em órbita em todos os lugares numa troca
constante de conhecimetos. Assim Capilé construiu uma mega rampa de um
projeto de exposição da casa Fora do Eixo.
Na verdade Capilé desenvolveu um equipamento publicitário que, quanto
mais ele se movimenta, mais valor agregado ele produz para a marca Fora
do Eixo e, para tal oferece consultorias espontâneas para políticos,
artistas e empresários, como um Platão pós-rancor que sabe transformar
uma carroça em uma ferrari, aproveitando um "desenvolvimento
sustentável".
Mas o que mais simboliza esse modelo de serviço diferenciado é sua
estratégia de marketing, e isso precisa ser ressaltado, foi no Roda
Viva, onde Capilé apareceu usando uma camiseta preta com uma estampa de
desenho aprimorado em branco, com a seguinte frase: "cadê o Amarildo?",
como sinal de engajamento às questões de ordem polítca e social. Poderia
usar o mesmo banco do Roda Viva para fazer frente a um cenário
escabroso, utilizando a mesma camiseta com o mesmo conceito gráfico,
escrito em branco luminoso a seguinte frase: "cadê o Fleury Filho?".
Sim, esta pergunta deveria ser feita, mas parece que esse desenho não
está e moda e, portanto, está fora de sua estratégia, justo na semana em
que são julgados e condenados vários PMs de São Paulo por conta do
massacre de 111 presos do Carandiru, em que o governador na época,
Freury Filho, sequer foi citado pela justiça.
Capilé, quando sentou naquele banco diante de representantes de uma
mídia que já não se sustenta em cima das próprias pernas, jogou para a
torcida de esquerda. O que ele fez exatamente? Qual a novidade de seu
discurso? Dizer que a mídia corporativa edita suas manchetes e artigos
para atacar adversários ou salvar aliados? Quem já não disse isso no
Brasil? Mas Capilé apareceu como um grande domador dando estalos com seu
chicote e pisando na cabeça de um leão, hoje, completamente sem dentes.
Mas não foi só isso, vimos o líder do Fora do Eixo, no mesmo Roda Viva,
dar exemplo de eficiência, inovação sobre educação financeira, tudo,
absolutamente tudo, sem um mínimo de transparência, mas com uma inegável
capacidade de sugestionar, principalmente uma esquerda embotada por uma
rivalidade infantil entre a mídia tradicional e a mídia alternativa. E é
assim que a casa Fora do Eixo vem vendendo seus produtos, serviços, com
maior "agilidade e simplicidade" dentro do mais absoluto conceito de
"soluções adequadas". O que rigorosamente quer dizer nada.
Mas lembremos, a performance dele é em prol da marca. Por isso não se
viu uma ideia a exemplo do seu banco de sustentabilidade. E agora os
líderes do FdE dizem aos críticos do seu castelo de cartas, Fora do
Eixo… "Quem quiser conhecer o nosso trabalho, tem que ir a uma das
casas", sentir o ambiente, e também entender como funciona a escola de
conteúdo.
Então, pergunto sobre o projeto do "novo": todos os seus shows
pirotécnicos nas manifestações de rua, nas "conferências" não se
transformam em um grande auditório em tempo real na internet? Por que
agora na hora de encontrar a tal "cultura de excelência" tem que voltar
ao tempo chucro do século XVII, como tropeiros cavalgando até a uma das
casas do Fora do Eixo?
Na verdade, não se pode negar que o protagonista da casa Fora do Eixo,
Pablo Capilé, tem força de linguagem capaz de transformar pó em ouro tão
somente com sua oratória. E assim celebrar junto com seus grandes
patrocinadores, um projeto completamente contrário aos coletivos sociais
da cultura aonde o foco é, ao contrário das relações sociais, o pior
dos símbolos do capitalismo, uma logomarca em estado puro para ser usada
num futuro próximo em qualquer tipo de mercadoria.
Lembrando que o que sustenta hoje o Fora do Eixo, é sim, uma
mega-estrutura financeira com um grande número de técnicos em cada
estabelecimento para não deixar passar um único edital de forma direta
ou via leis de incentivo à cultura. O que permite isso é um sistema
neoliberal adotado no Brasil há mais de vinte anos, no período FHC
quando lançou sua cartilha para as grandes corporações, "Cultura é um
bom negócio". Provavelmente Capilé seja o melhor aluno de FHC, pois a
casa Fora do Eixo é o próprio retrato do neoliberalismo cultural sonhado
pelos tucanos.