Em coletiva, Simão Jatene, ressaltou o rigor no trabalho de investigação feito pelo Sistema de Segurança Pública do Estado. |
Depois da publicação Chacina em Belém mostra a necessidade da desmilitarização da PM e o fim das milícias, muitos amigos e leitores do blog me perguntaram o que eu achei da postura do governador do Estado do Pará, Simão Jatene, diante deste caso que ganhou repercussão nacional e até agora está sem solução.
Em primeiro lugar,
gostaria de iniciar essa postagem, dizendo que diferente de outras entrevistas coletivas à imprensa, senti o governador desta vez abatido, falando de forma insegura, meio
desconectado de um sentimento verdadeiro sobre o que dizia.
No entanto, vamos aos
fatos.
Desde o momento em que
soube daquilo que ficou conhecido como #ChacinaEmBelém,
aguardava pela manifestação do governador Simão Jatene e só não pedi por ela,
por saber que tão logo ele a faria. Afinal de contas, a morte de um policial e
de mais 09 populares, praticamente todos muito jovens, não poderia passar
batido pelo staff da inteligência
tucana, sempre a postos para utilizar os veículos de comunicação e o marketing
político-institucional para desmontar ou prevenir-se de ataques e problemas com
a chamada opinião pública.
E como era esperado,
Jatene reuniu alguns auxiliares que fazem parte do comando do Sistema de
Segurança Pública – senti falta de uma pessoa chave para garantir a lisura e a transparência
nas investigações desse porte, neste caso a ouvidora da SEGUP, Eliana Fonseca – e falou
praticamente sozinho, repetindo aquilo que o Secretário de Segurança do Estado
já tinha dito, sobre tudo que o governo está fazendo para investigar e chegar a
elucidação dos fatos, mas não apresentou nenhum suspeito ou responsável pelas
mortes que atormentaram Belém de terça para a quarta-feira.
Não me surpreendi
quando o governador disse que não há nenhuma necessidade de se pedir apoio do
sistema de segurança do governo federal. “Desde
o primeiro momento que o sistema de segurança soube desses crimes, todo um
efetivo foi acionado, e se mostrou suficientemente pronto para atender essa
questão. Portanto, não existem razões para a intervenção da Guarda Nacional”,
disse Simão Jatene.
No entanto, eu pergunto
ao governador: Se desde o primeiro momento em que o sistema de segurança soube
da morte e da convocação feita por policiais para irem até a área onde ele
havia sido morto, como é que um grupo armado - de policiais ou de bandidos –
consegue entrar e sair dos bairros onde houveram mortes, sem serem vistos ou
interceptados pelas forças policiais que segundo Simão Jatene, estaval “prontos para atender essa questão”?
Disse
mais: “Não podemos medir esforços para
dar uma resposta, o mais rápido possível, à sociedade. Execução é algo que não
pode ser aceito em nenhuma sociedade moderna”. Ora, quem conhece a
polícia militar e a civil do Estado do Pará, estranha o fato de ninguém que
esteve envolvido nos crimes, ainda não ter sido encontrado, já que mortes de
policiais geralmente são rapidamente “resolvidas”, como seus supostos
criminosos presos e muitas vezes mortos numa quase caça que é feita até que
sejam encontrados.
Ainda
segundo Simão Jatene, “Em outra linha de
atuação, a Polícia Civil investiga a divulgação de informações nas redes
sociais que tiveram a intenção de causar pânico na população”.
Concordo
que tenha havido exageros, boatos e mentiras espalhadas nas redes sociais que
de certa forma intensificaram o medo nas ruas de Belém, fazendo com que desde a
noite de terça-feira, muitas pessoas não tenham saído de casas, temerosas pela
onda de violência e informações desencontradas que surgiram pelas redes sociais
e também pela imprensa.
No
entanto, as primeiras manifestações nas redes sociais foram feitos por pessoas
e perfis ligados à polícia e até agora, passados três (03) dias do ocorrido,
ninguém foi afastado e nem há informações das medidas tomadas para punir os
servidores públicos que expuseram ameaças e o comando para retaliações.
Tem
mais, o governo diz que para auxiliar no
monitoramento dos bairros, as polícias Civil e Militar contam com 187 câmeras,
instaladas em pontos estratégicos da Região Metropolitana. As imagens são
monitoradas 24 h, por uma equipe de 20 militares. Até agora não deu
pra identificar e encontrar os carros e motos que rodaram por vários bairros
atirando em populares?
O
governador também disse: “Alguns crimes
de grande repercussão que foram combatidos com êxito pelo Estado, como o
assassinato do casal de ambientalistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do
Espírito Santo, em Nova Ipixuna (sudeste paraense); a chacina de Icoaraci
(distrito de Belém), que vitimou seis adolescentes, e o esquartejamento do
vigilante Joelson Souza, também na capital, que foram investigados e
solucionados em um curto espaço de tempo.
Sem dívida, todos os casos
citados acima foram solucionados pelas investigações, mas nenhum envolvia um
grupo de extermínio, como foi o caso desta terça-feira. A provável existência
de uma milícia que age nas periferias, matando e praticando corrupção com
traficantes, comerciantes e outros, pode ser um problema muito mais complexo e
difícil de solucionar.
O possível envolvimento
de gente graúda no “negócio”, pode fazer com que as investigações apontem
apenas, como sempre, os peixes miúdos, protegendo os graúdos e deixando para
debaixo do tapete, os verdadeiros e maiores mandates do crime e da máfia
paraense.
Há exatamente seis meses atrás, no dia 04 de Abril deste ano, ocorreu o atentado contra a esposa do Delegado Eder Mauro, um ícone no
combate à criminalidade, que tanto a polícia civil e militar, quanto à
população em geral elogia e pede socorro para resolver problemas com a
bandidagem. Inclusive, Eder Mauro foi eleito deputado federal nas últimas eleições.
Tendo seu carro
perseguido e baleado por criminosos
que fizeram uma emboscada na estrada da Alça Viára, alvejaram vinte tiros
contra sua esposa que dirigia o automóvel e mais dois advogados, após voltarem de um julgamento no município
de Abaetetuba. “E eles só não
conseguiram realizar o objetivo deles porque o carro é todo blindado”,
ressaltou o delegado, que assim como o governador Simão Jatene afirmou agora, também
disse na época: “Cabe agora à polícia dar
um resposta o mais rápido possível para isso e conseguir acabar com a quadrilha
que cometeu esse crime”.
Resultado: Até hoje o caso está sem solução e as
suspeitas de que os criminosos podem ter sido amigos de profissão do delegado,
continuam sendo levantadas por gente ligada à própria polícia.
Por fim, a pergunta que não quer calar:
Será que daqui em diante, todas as famílias que foram vítimas da violência no Estado do Pará, contarão com a mesma atenção que o governo do Estado está dando às famílias atingidas pelo caso da #ChacinaEmBelém?
Ou seria este o início de uma nova postura do 2º mantado do governador Simão Jatene para amenizar a dor e os problemas que a falta de segurança pública gera aos envolvidos, ou trata-se de mea-culpa pela responsabilidade do Estado nos crimes cometidos na última terça-feira em Belém?
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