Eduardo Angelim, terceiro presidente da Cabanagem, a revolução que começou no Pará, exatamente no dia 7 de janeiro de 1835, quando os cabanos tomaram Belém, executaram o governador Lobo de Souza e puseram no poder Félix Malcher.“Os paraenses preferem morrer no campo de batalha a entregar seus pulsos às algemas e grilhões do despotismo”
A Cabanagem
Era o início da Cabanagem.
Era o início da Revolução Cabana.
Uma revolução em sua essência popular.
Uma revolução que atingiu todos os rincões do Estado - de Belém à região do Baixo Tocantins, de Belém à região nordeste do Estado, de Belém ao Baixo Amazonas.
Uma revolução que uniu - em torno do nacionalismo então nascente e dos anseios de reduzir enormes injustiças sociais - índios, mestiços, negros, brancos sem posses, boa parte do clero e, vejam só, muitos ricaços da época.
Exemplo disso é o próprio Malcher, que era fazendeiro, dono de vastas áreas de terras, mas ficou apenas pouco mais de um mês como presidente cabano da Província do Grão-Pará.
E aí?
E aí que a Cabanagem, como sempre esteve, continua esquecida.
Os paraenses deveriam saber de todos os seus detalhes.
Deveriam contá-los para seus filhos, desde crianças.
Deveriam fazê-los perceber, nos ideais dos cabanos, o orgulho de ser paraense.
Deveriam dar-lhes a conhecer os personagens que ou participaram ativamente da Cabanagem – como Eduardo Angelim e os irmãos Vinagre – ou a influenciaram grandemente, caso do cônego Batista Campos, que morreu no dia 31 de dezembro de 1834, portanto uma semana antes do início da Cabanagem, cujas sementes ele plantou.
Mas que nada!
A Cabanagem, para nove em cada dez paraenses, é quase um palavrão.
Não passa de uma estranheza.
Ou então não passa de um nome, da mera denominação de um monumento esquecido ali no Entrocamento ou do prédio da Assembleia Legislativa.
Ou ainda a denominação de um bairro de Belém - dos mais violentos, diga-se - ou de uma vila, a Vila dos Cabanos, em Barcarena.
E assim vamos deixando de lado as nossas melhores memórias.
Exemplo concreto são as ruínas do Murucutu, ali pelos lados na Embrapa.
Era um engenho.
Foi lá que morreu Antonio Landi, o arquiteto bolonhês, que deixou preciosidades arquitetônicas em Belém, a Sé e a capelinha de São João Batista, entre outras.
Foi lá, em agosto de 1835, que os cabanos se reuniram para atacar Belém pela segunda vez e instalar no poder o terceiro e último governador cabano, Eduardo Angelim, que sucedeu Francisco Vinagre.
Há cerca de dois anos, um casal de amigos, ambos jornalistas paulistas,foram até o Murucutu.
Sentiu até vergonha.
Chegou ao portão da Ceasa e perguntou ao porteiro.
- Amigo, como eu faço para chegar ao Murucutu?
- Murucutu...?!
- É. Murucutu...
Por pouco o rapaz não chama a polícia.
Quando adivinhou o que se queria, indicou o lugar.
- O senhor vai por ali. Mas tenha cuidado com as cobras por lá.
Foi assim que ele indicou o rumo daquilo que deveria ser uma das referências da memória histórica de todo belenense, de todo paraense.
É assim que assistimos todos, estupefatos, esvair-se o interesse que deveríamos cultivar pelas nossas coisas.
Mesmo assim, vale lembrar.
Hoje é o dia 7 de janeiro.
Dia da Cabanagem.
Dia em que todos deveríamos sentir orgulho de pisar num solo que os cabanos pisaram.
Dia em que precisamos não perder de vista a nossa própria História.
Aliás, Batista Campos, jornalista e panfletário dos mais destemidos talvez o mais destemido que já nasceu neste Estado até hoje -, adotou o seguinte como dístico, como divisa, como lema de seu jornal, O Paraense, tribuna da qual vergastava o stablishment da época:
"De circunlóquios nada sei.
O caso conto como o caso foi.
Na minha frase de constante lei,
O patife é patife; o boi é boi."
Texto de autoria desconhecida por este blog.