Por Igina do Socorro da Mota Sales.
Caríssimo,
Falar em Iza Cunha, é não deixar morrer idéias de solidariedade, doação, defesa de desenvolvimento sustentável com protagonismo local e valorização de práticas solidárias para uma sociedade composta não somente pela hegemonia do que é masculino. A ternura em Iza sempre foi um elemento de notória relevância, ela foi uma mulher que alimentou a utopia nas mentes de outras mulheres, num momento em que, literalmente, muitas das nossas verdades se perdiam, em decorrência da má prática humana, tais como, o muro de Berlim; a perda de nossas inocências "mulheris" (bastava ler O Martelo das Feiticeiras) na luta geral dos trabalhadores e inclusive, a perda de sua própria relação conjugal, com um expoente político da década de 80, que por sinal foi importante para o PT, além da perseguição profissional na Câmara de vereadores.
Em tempos de androgenia, cidades virtuais e contemporâneas ilusões do capitalismo, piorou a coisificação das humanas, inverteu-se, tragicamente, tudo, quem possui compreensão, compaixão, intolerância com a corrupção, as "sacagens" ambientais e lesbo/homofóbicas, acaba sendo rotulado delicadamente de "incompatível" e eliminado do sistema, seja ele qual for. Iza era incompatível, então tinha de ser eliminada.
Todavia, na contramão do sistema, Iza representa um exemplo vigoroso de que a determinação pela defesa do que é humano precisa ser intransigentemente preservada, assim como, o nosso patrimônio ambiental, lógico que com mais inteligência e vontade política. Viver é fazer-se presente, então ela vive através da continuidade de nossa luta por Direitos Humanos, principalmente às mulheres da Amazônia.
Lembro como a tietamos quando ela retornou de Berlim e trouxe um pedaço do muro, quando íamos realizar um Encontro, um Seminário, uma ação de rua... Ela era "a mulher" como diz a moçada hoje.
Entretanto, não imune aos golpes da vida, sua história serve para nos mostrar qual perene não somos e quanto precisamos aprender com o/a outro/a. Costumo dizer que, verdadeiramente, não foi a doença que tombou Iza, mas as nossas próprias contradições, somos especialistas em tornar antagônico os verbos "falar e fazer".
Penso cá com meus sutiãs, quem são as pessoas que irão ser agraciadas, em nome de Iza Cunha, desejo que realmente tenham sido boas escolhas, pois temos grandes estrelas no PT, mas temos também batedores de mulheres e péssimos/as dirigentes.
Que estes 31 anos, seja de muita reflexão sobre para qual rumo estamos indo?