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Numa disputa acirrada, institutos de pesquisa divergiam quanto aos números da preferência do eleitorado. |
Dornélio Silva é um dos cientistas políticos mais experientes em análises e pesquisas eleitorais do Estado Pará e também o responsável pela Doxa Comunicação, um dos quatro instituto de pesquisa que checaram a preferência do eleitorado local durante as eleições de 2014.
Mesmo tendo tido suas pesquisas para presidente e governador divulgadas pela Revista Época, Dornélio revela que foi prejudicado com a suspensão da divulgação de quatro pesquisas realizadas pelo seu instituto e duas semanas após o resultado das eleições 2014, destaca os principais elementos que interferiram no resultado eleitoral, entre eles, o erro do PT ao coligar-se com o PMDB e o fato de ter sido provocado a alterar o resultado de uma de suas pesquisas, o que ele rechaçou.
AS FALAS DA PÓLIS: Como você avalia a campanha 2014?
Dornélio Silva: Foi uma das campanhas mais acirradas e disputadas dos últimos pleitos da história do Pará. E é a primeira em que um político consegue um terceiro mandato no Pará. Também foi a primeira vez que Simão Jatene participa de uma campanha como candidato a reeleição. A primeira, quando ganhou, foi indicado e apoiado por Almir Gabriel (governador a época), depois de quatro anos quando defenderia seu mandato numa reeleição, não foi candidato, deu lugar a Almir Gabriel que foi derrotado por Ana Júlia; em 2010, Ana Júlia não consegue se reeleger e é derrotada por Jatene. Agora, sim, 2014 Jatene é candidato à reeleição. Ressalte-se que foi uma campanha atípica dentro de um Pará dividido (a primeira após o plebiscito que pretendeu dividir o Pará em três unidades federativas); além disso foi o confronto de dois grupos (econômico e de comunicação) que se debateram nesse processo. Os interesses eram grandiosos. Daí o acirramento intenso e o nível muito rasteiro da campanha.
AS FALAS DA PÓLIS: O PSDB até poucos meses das convenções estava, praticamente, sem candidato. Muito em função da indefinição do governador Simão Jatene em não sair. Isso pode ter beneficiado o avanço do candidato Helder Barbalho?
Dornélio Silva: Com certeza, só para exemplificar, em outubro de 2013 a Doxa fez uma pesquisa estadual em que Jatene estava 10 pontos a frente de Helder. De outubro até a decisão final de que Jatene, de fato, seria candidato à reeleição, aconteceu um vácuo de indecisão política no PSDB. “Jatene iria renunciar ao mandato pra disputar fora do cargo por que não concordava com o instituto da reeleição”; “Jatene não seria mais candidato”. Essa indefinição causou problemas internos ao PSDB e aliados, bem como entre apoiadores históricos ao PSDB. Nesse quadro nervoso, Helder Barbalho e seus aliados ocupam esse vácuo deixado pela indefinição tucana. E seu potencial de intenção de voto cresce. Helder e seus aliados começam a jogar sozinhos, sem concorrentes a altura. Quando as arestas internas do PSDB foram aparadas e Jatene define-se como candidato - o único que poderia enfrentar o avanço de Helder -, os aliados históricos, apoiadores de campanha Jatene animam-se, levantam-se e se preparam para luta eleitoral. O IBOPE apresenta sua primeira pesquisa estadual, indicando empate técnico entre os dois principais concorrentes (ligeira vantagem para Helder). Olhando o que a Doxa detectou em outubro/2013 significa dizer que Jatene estava recuperando o espaço perdido devido à sua indefinição, àquela altura, em ser ou não ser candidato. Já nas primeiras pesquisas do inicio da campanha na Região Metropolitana de Belém feitas pela Doxa já podíamos identificar essa recuperação de espaço. E já era possível perceber que o pleito seria, como foi, acirrado.
AS FALAS DA PÓLIS: Depois de 20 anos fora do poder, pela primeira vez o PMDB lança um candidato competitivo, antes eram apenas coadjuvantes. Como você analisa essa trajetória do partido ou melhor a volta da oligarquia Barbalho do poder estadual?
Dornélio Silva: Ao longo de 16 anos, o PMDB transformou-se num partido estritamente parlamentar, isto é, fazer o maior número de deputados estaduais e federais para, depois, com quem tivesse no governo, ter o poder de barganha e negociar o poder: fazer parte do poder através de negociações de cargos no executivo. Aqui no Pará, após a derrota de Jader para Almir Gabriel em 1998 (primeira reeleição no Pará), o PMDB não lançou mais nenhum candidato competitivo, apenas coadjuvantes, para cumprir tabela e ter espaço para os candidatos ao legislativo. Em 2002 disputam Jatene, Maria do Carmo e o PMDB lança Rubens Nazareth; em 2006 disputam Almir e Ana, e o PMDB lança José Priante; em 2010, reeleição de Ana Júlia, PMDB lança Domingos Juvenil. Na ALEPA, o PMDB era decisivo para a aprovação de projetos do executivo. Tinha que haver negociação, e essa negociação passava necessariamente pelo PMDB. É a questão da governabilidade. Nos governos de Ana Júlia e Jatene o PMDB obteve seus 30% de participação. Depois foram rompidos os acordos e o PMDB volta a oposição ferrenha.
Dois anos antes da eleição para o executivo estadual, o PMDB lança um experimento: Helder Barbalho que, após sua saída da Prefeitura de Ananindeua, ficou fazendo exclusivamente política no Estado. No segundo semestre de 2013 avaliou-se que esse experimento poderia dar certo. A candidatura Helder tornou-se fato, ganhou envergadura competitiva. Agora não era mais nenhum coadjuvante do PMDB disputando uma eleição, era o filho de Jader Barbalho que não fez sombra para nenhuma das possíveis lideranças que se apresentaram durante esses anos todos. Portanto, se apresentava aos paraenses uma eleição disputadíssima, tanto que não tivemos nenhuma terceira candidatura competitiva que pudesse ser a alternativa àqueles eleitores que não queriam Helder Barbalho e nem Simão Jatene.
Apesar de ser um jovem de 35 anos, já com um bom currículo político, Helder carrega a marca Barbalho (para uns amado, para outros odiado). Em uma ampla pesquisa realizada em outubro/2013, uma das variáveis era a seguinte: “o fato de Helder ser filho de Jader Barbalho, isso aumenta, diminuiu ou não interfere na sua vontade de votar em Helder?” – 30% afirmaram que diminuía a vontade de votar. Essa era a rejeição de Helder enraizada no seio do eleitorado pelo fato de ser filho de Jader.
AS FALAS DA PÓLIS: Aliança PMDB/PT, como você avalia essa composição?
Dornélio Silva: Uma aliança um tanto quanto esdrúxula, isto é, incomum para o PT que já foi governo no Pará e que tinha uma presidente da República disputando uma reeleição. O PT como um partido de movimentos sociais e sindicais, com grandes lideranças políticas, aqui no Pará se acachapou muito às ordens palacianas. Poderia seguir o curso normal das regras do nosso sistema eleitoral, lançando candidato no primeiro turno, pensando na negociação do segundo. Se o PT, mesmo com o desgaste de Ana Júlia, tivesse lançado candidato próprio teria, em tese, seus 20% de voto no estado. E, possivelmente, poderia ser muito mais favorável a Helder do que os dois saírem abraçados desde o primeiro turno.
Além de se coligar com os Barbalhos, adversários históricos, o PT teve que engolir o DEM (Democratas) na aliança, descaracterizando por completo os ideais petistas. No entanto, o PT ganhou o senador, Paulo Rocha, que fazia parte do acordo eleger um senador, Helder e Dilma. Cumprido uma parte do acordo, no segundo turno houve uma retração petista, principalmente no oeste do Pará, onde houve campanha pelo voto nulo para governador. Essa aliança causou estragos no parlamento ao PT que diminuiu consideravelmente sua bancada em nível estadual e federal, bem como o quantitativo de votos em relação aos outros pleitos. Dos 8 deputados que o PT tinha na ALEPA, elegeu apenas 3; por outro lado, o PMDB que tinha 8 deputados, manteve o mesmo quantitativo. Na Câmara Federal, o PT que tinha 4 deputados caiu pra dois; o PMDB, tinha 4, perdeu o Wladimir para o SD e elegeu agora três.
AS FALAS DA PÓLIS: A questão do Plebiscito que veio em pauta na campanha modificou algum cenário já estabelecido?
Dornélio Silva: Foi a primeira eleição pós-plebiscito para governador em que podemos ver as consequências do dia 11 de dezembro de 2011: Aconteceu uma eleição dentro de um Pará, na prática, dividido em três unidades federativas. Podemos afirmar que a eleição para governador foi plebiscitária. Evidente que esse tema viria a tona nessa campanha, não restava dúvida. Era a carta na manga de um e de outro lado. O eleitor paraense, especialmente do Oeste e Sul/sudeste, já sabiam do posicionamento de Jatene em relação ao plebiscito.
Na campanha do plebiscito, o governador foi à TV defender a NÃO divisão. Então estava clara sua rejeição nas duas regiões emancipacionistas. E forte aceitação na região do Pará remanescente. Do lado do Helder não se tinha essa definição clara, parecia nublada. Para amenizar esse impacto negativo, os dois competidores principais buscaram seus vices nessas regiões: Helder buscou Lira Maia, líder separatista do Tapajós; e Jatene Zequinha Marinho, do Carajás.
Para instigar a lembrança do plebiscito, panfletos contra Jatene foram divulgados nas duas regiões emancipacionistas; assim como filmes de TV foram divulgados às vésperas das eleições, mostrando Helder a favor da divisão.
A DOXA fez uma pesquisa na Região Metropolitana em que buscava avaliar essa situação: 85% dos eleitores da RMB eram contra a divisão; e 42% consideravam o candidato Helder a favor da divisão; Jatene apenas 10% o consideravam a favor da divisão. Portanto, aqui tinha um ingrediente favorável ao marketing da campanha de Jatene: pré-disposição dos eleitores em acreditar que Helder era a favor da divisão.
AS FALAS DA PÓLIS: No primeiro turno Helder saiu na frente com diferença de 50 mil votos. Não seria uma tendência de repetir os votos no segundo turno?
Dornélio Silva: Segundo turno é outra eleição. Alguns analistas afirmam que houve uma reversão de expectativa e que o instituto de Pesquisa que tendia a vitória de Helder não errou, porque houve essa reversão de expectativa. Se isso fosse verdade, os demais institutos de pesquisa que estavam realizando pesquisas de campo e publicando seguiriam essa mesma lógica, mas não, afirmavam a tendência de vitória de Jatene. O instituto que dava vitória pro Helder não soube fazer a fotografia correta da realidade naquele momento. Errou.
O mais simples observador da arena política podia perceber que era uma eleição disputadíssima e que o ganhador tanto do primeiro, quanto do segundo turno ganharia com diferenças pequenas.
Veja o seguinte: no primeiro turno, a diferença pró Helder foi de apenas de 1,4 pontos, o que significou em torno de 50 mil votos. Ora, a tendência normal era que esse acirramento continuasse no segundo turno. Mesmo porque não tivemos nenhuma terceira candidatura competitiva, ou mesmo, que tivesse em torno de 10 pontos percentuais, por exemplo, no primeiro turno. O que poderia demandar uma conquista dos votos dessa candidatura, mas não houve. Tivemos dois candidatos em polarização no primeiro turno, e esses dois candidatos passaram para o segundo turno. Portanto, a tendência era de continuar esse embate ferrenho, isto é, quem votou em Jatene continuar votando em Jatene; quem votou em Helder continuar votando em Helder. Para um ou outro crescer a luta tinha que ser campal: um tirando voto do outro, olho no olho.
AS FALAS DA PÓLIS: Mas você não acha que o Governo usou a máquina para funcionar e por isso virou e ganhou a eleição?
Dornélio Silva: Em todas as eleições em que o incumbente (governador, prefeito ou presidente) defendem seu mandato numa reeleição, e que saem vitoriosos, o que perde no segundo turno, traz à arena de discussão o fato do uso da máquina pública, e que “forças ocultas” operaram durante a semana que antecedeu ao pleito. A máquina governamental não pára de funcionar, mesmo com a eleição. O governo tem que governar. Os atores políticos governamentais são o Governador, seus secretários, diretores, funcionários de baixo e alto escalão, todos entram no jogo, defendendo o interesse de quem está no poder, evidentemente.
O voto desses milhares de funcionários que fazem a máquina funcionar é extremamente racional, isto é, estão defendendo, principalmente, os seus interesses. Então, vão fazer essa máquina funcionar a seu favor e de seus familiares, óbvio. É uma rede com capilaridade estrondosa que está espalhada em todo o estado em suas mais variadas formas. Em cada município tem a presença do estado.
O governador só perde uma reeleição se ele estiver muito mal avaliado, mesmo assim, este mal avaliado ainda passa pro segundo turno. Exemplo claro tivemos na eleição de 2010. Um ano antes da eleição fizemos uma pesquisa, detectamos que a avaliação negativa do governo de Ana Júlia ultrapassava aos 70%. Ali já detectávamos a dificuldade da reeleição de Ana.
No entanto, a governadora disputou a eleição, passou para o segundo turno. E do primeiro para o segundo turno ela cresceu, ainda, 7 pontos percentuais. Mas não conseguiu votos suficientes para derrotar Jatene. Funciona de uma outra forma também: um gerente da Caixa em Belém, ao finalizar o atendimento de uma jovem que havia se inscrito no FIES, ao final falou: “torça para que a Dilma ganhe, ao contrário vocês vão perder esse financiamento”. A moça ficou apavorada, chegou em sua casa foi pedindo pra mãe, avó, irmãos, parentes e aderentes pra votarem em Dilma.
AS FALAS DA PÓLIS: Mas você não acha que os aliados da candidatura Helder não ajudaram a manter ou mesmo aumentar as intenções de voto em Belém e região metropolitana, especialmente Jeferson Lima?
Dornélio Silva: Veja uma coisa, nessa eleição rigidamente polarizada, os apoios não tiveram peso necessário que pudesse mudar o rumo do pleito. Os candidatos perdedores tiveram pouco menos de dois por cento dos votos, pouco significativo.
Eram votos tão insignificantes que num segundo turno se diluiriam entre os demais. Os apoios são mais pra dar a impressão de que este candidato está recebendo apoio mais do que o outro, e ai é feita a espetacularização na TV, rádio, etc., mas isso não significa voto.
Por que veja o seguinte: ninguém detém o poder de controle do voto do outro. O voto de cabresto não existe mais. Quando uma pessoa vota no primeiro turno, e seu candidato perde, essa pessoa já fez sua obrigação em votar naquele candidato, agora está livre e desimpedida pra votar em quem quiser. O mais significante apoio, em tese, foi de Jeferson Lima, candidato ao senado, que obteve mais de 700 mil votos. E sua maior votação foi na região metropolitana, especialmente Belém, onde Helder perdeu com uma diferença de 17% dos votos.
AS FALAS DA PÓLIS: Essa era a aposta, isto é, Jeferson tentar transferir parte dessa votação a Helder pra diminuir ou suplantar a diferença do primeiro turno.
Dornélio Silva: Acontece que o radialista já entrou queimado ao declarar apoio a Helder. Pela manhã estava na TV declarando apoio a Jatene, e a noite declarando apoio a Helder. O anti-político e pop star tupiniquim, com essa atitude, caiu na vala comum dos políticos, igualou-se à imagem ruim que tem os políticos de maneira geral. O diferente tornou-se comum. Passou a imagem de “vendido”, “traidor”, “sem confiança”.
Ao invés de Jeferson somar votos a Helder, tirou-lhe votos. É só verificar a estatística da eleição em Belém. Enquanto a diferença no primeiro turno foi de 17%, no segundo turno essa diferença subiu para 26%.
AS FALAS DA PÓLIS: A DOXA foi muito perseguida tanto no primeiro, quanto no segundo turno, porque aconteceu isso? Como você explica e a quem atribuiu essa perseguição?
Dornélio Silva: É importante observarmos essa situação para entendermos a participação e o poder de alguns atores nesse campo jurídico: juízes auxiliares, advogados, promotores, isto é, o próprio TRE.
Tudo começou depois que a DOXA foi contatada através de um interlocutor para fazer uma pesquisa e publicar no jornal Diário do Pará. O resultado vindo de campo não foi favorável a Helder Barbalho. Em função disso, o interlocutor queria que a DOXA mudasse o resultado. O que obviamente não foi feito.
Na pesquisa, Simão Jatene ficou com 41% e Helder com 38%. Queriam "apenas" que a DOXA invertesse os resultados. Como não aceitamos, em hipótese alguma, tivemos um prejuízo de R$ 25.000,00. E como tínhamos uma pesquisa atualizada, resolvemos publicar no blog da DOXA e de alguns blogs amigos como do Diógenes Brandão, Hiroshi Bogéa, Jeso Carneiro e Manoel Dutra. Depois outros veículos pegaram e foram publicando, óbvio.
AS FALAS DA PÓLIS: A partir de então, a DOXA tornou-se persona non grata à coligação “Todos Pelo Pará”?
Dornélio Silva: Não conseguimos mais publicar nossas pesquisas. Parecia que havia um complô, algo combinado: quando registrávamos uma pesquisa, os advogados da coligação entravam com o pedido e só caia na mão de um juiz auxiliar, muita coincidência. Chegamos a ser manchete de capa do Diário do Pará, como se fossemos criminosos. O MPE, através do dr. Alan Mansur, depois de “investigado o crime eleitoral” mandou arquivar o processo. Mas até hoje o juiz não deu a sentença.
No segundo turno, conseguimos publicar uma pesquisa. Havia sido feito um acordo entre os advogados das duas coligações de que “ninguém impugna ninguém, deixa o mercado regulamentar”. Era a decisão mais sábia até então. Só que esse acordo não foi cumprido na última pesquisa DOXA. As 19:20hs do dia 24, sexta-feira, o juiz induzido pelas justificativas dos advogados da coligação "Todos Pelo Pará" acata e manda suspender a publicação da pesquisa.
Sabíamos que o Diário do Pará viria já na edição de sábado, com pesquisa com números alarmantes, querendo ficar sozinho no pleito, passando apenas sua verdade, passando ao eleitor como fato consumado, a eleição de Helder; e que essa mesma pesquisa viria repaginada no domingo, dia da eleição.
Diante dessa situação, o jornal O Liberal publica a pesquisa da DOXA, do domingo anterior, como forma de contrapor ao Diário, e dizer para o eleitor que ele merecia outra informação para tomar sua decisão no dia seguinte.
A pesquisa Doxa, finalizada na sexta-feira, antevéspera do segundo turno das eleições de 2014, deu 51,5% Jatene e 48,5% Helder (votos válidos).
O resultado das urnas foi de 51,92% para Jatene e 48,08% para Helder.
Ou seja, fomos o único instituto de pesquisa que acertou o resultado.
Essa era a verdade que o Diário do Pará não queria que a opinião pública soubesse.
AS FALAS DA PÓLIS: Como você explica essa tamanha disparidade entre os dados dos institutos de pesquisa nessa campanha?
Dornélio Silva: Se for observar bem, a disparidade era do nosso instituto para com os demais. O Jornal Diário do Pará publicava a pesquisa que dava sempre o Helder na frente e dizia que a metodologia da pesquisa era domiciliar. No entanto, analisando a metodologia e o questionário detectamos que os pesquisadores pegavam apenas o telefone do entrevistado.
Ora, se é domiciliar, obrigatoriamente tinha que constar no questionário endereço do entrevistado para que se pudesse checar com maior precisão. Sendo assim, deduzo que o método aplicado foi em fluxo (feiras, praças, pontos de maior movimentação nas cidades, etc). E quando a pesquisa é feita por esse método (fluxo) a amostra tem que ser, obrigatoriamente, grande. Caso contrário corre um risco de pegar bolsões de um candidato apenas.
O Datafolha aplica essa metodologia de pesquisar em fluxo. Quando em nível de Brasil o Ibope pesquisa 3.000 pessoas (método domiciliar), o Datafolha entrevista 9.000. Outro fator que pode ser observado é que vivemos uma eleição atípica (pós plebiscito), onde tínhamos regiões, praticamente, fechadas com um ou outro candidato. Então, tínhamos que saber selecionar bem os municípios da amostra. E isso implicava em aumentar a amostra e o números de municípios para que pudéssemos obter a fotografia correta do pleito.
No segundo turno essa situação ficou bem clara para desenhar esse plano amostral, já que tínhamos a votação de cada candidato por município. Então, conseguimos fazer uma análise dos planos amostrais dos 4 principais institutos de pesquisa que estavam publicando no Pará: Ibope, Iveiga, DOXA, BMP.
O Ibope trabalhou com 43 municípios, BMP com 45, DOXA com 51 e Iveiga com 24. Comparamos os votos obtidos por Jatene e Helder em cada plano amostral de cada instituto e ao final, evidentemente, mostrava o resultado. Ibope, DOXA e BMP deram resultados iguais, 51% Jatene e 49% Helder. O único que deu diferente foi do Iveiga, dando vantagem a Helder Barbalho. Por essa análise já poderíamos detectar que a disputa seria voto a voto. Mas a vantagem que o estudo mostrou do Iveiga nunca foi de 12,5 pontos em favor de Helder.
A estratégia do Diário do Pará e todo o grupo de comunicação era passar a ideia de Helder como fato consumado, utilizando-se de pesquisa para induzir, manipular o eleitor.
Qual é a expectativa para o novo governo Jatene?
Dornélio Silva: O grande desafio de Jatene nesse seu terceiro mandato vai ser: ter programas para governar, na prática, para três estados: Governar um Pará dividido. Passada a eleição, é hora de o governo governar e também é chegada a vez de a oposição fazer oposição. O sucesso do sistema político depende de governo e oposição. Neste momento, torcer pelo Pará é desejar que os dois lados, o vencedor e o derrotado de 2014, cumpram seus respectivos papéis, realizem o que deles se espera.