terça-feira, fevereiro 20, 2018

Úrsula Vidal deixa a Rede e pode ingressar no PSOL



Por Diógenes Brandão

Desde que disputou a campanha eleitoral para a prefeitura de Belém e ficou na terceira colocação, os olhos da jornalista Úrsula Vidal brilham de forma muito mais intensa.

Dona de um carisma singular, a candidata saiu do primeiro turno disposta a encarar o desafio de emprestar sua imagem ao apoio à campanha de Edmilson Rodrigues (PSOL), que disputou e perdeu o segundo turno para o prefeito Zenaldo Coutinho (PSDB), que conseguiu a reeleição, mas foi logo em seguida cassado por duas vezes, mas ele recorreu e continua no cargo.

Desde então, Úrsula foi mais longe em seu engajamento político-social, voltado mais à esquerda e se desgrudou paulatinamente da REDE, até anunciar seu desligamento há alguns minutos atrás.

O blog tenta uma entrevista com ela para falar abertamente sobre seus projetos futuros, mas adianta o que tem ouvido de várias fontes, tanto do PSOL, quanto da própria REDE.

Leia abaixo a mensagem publicada pela própria jornalista, em sua fanpage no Facebook:


sábado, fevereiro 17, 2018

Dornélio Silva: números do IBOPE são muito estranhos



Por Diógenes Brandão

Após a publicação do artigo A pesquisa IBOPE e a acirrada disputa pelo governo do Pará, o blog recebeu diversas mensagens nos aplicativos de mensagens e redes sociais com opiniões e comentários, entre os quais destacamos a nota enviada pelo cientista político Dornélio Silva, diretor-presidente do Instituto Doxa Pesquisas.

Leia o que ele disse:

Chama a atenção a questão Espontânea de aferição de intenção de voto da pesquisa Ibope. 

Essa pergunta, nesse momento que antecede a eleição, é fundamental, tendo em vista que ela mede a notoriedade, isto é, que nome está mais marcado, mais presente na mente do eleitor. 

No entanto, o Ibope apresenta um número que transgride qualquer aferição histórica de pesquisa de opinião. 

O Ibope apurou que 77% dos eleitores paraenses não sabem indicar um nome ou preferem não opinar. Além disso, 12% declararam que pretendem votar em branco ou anular o voto. Ao somarmos, obteremos 89% de votos flutuantes, quer dizer que apenas 11% dos eleitores paraenses indicaram algum candidato. 

Isso é muito estranho, uma vez que Helder Barbalho tem notoriedade, é candidato declarado, está fazendo campanha há muitos anos, tem todo um aparato de comunicação a seu favor para levar seu nome aos quatro cantos do Pará. Helder aparece com apenas 5%, depois Simão Jatene com 2%, Márcio Miranda e Edmilson Rodrigues com 1%. 

E o que é mais gritante é que Helder, ao estimular pula de 5% para 36%. Para essas eleições, já fizemos três pesquisas em 2017, e posso garantir que esses números da questão espontânea aferidos pelo Ibope não tem explicação lógica.

A pesquisa IBOPE e a acirrada disputa pelo governo do Pará



Por Diógenes Brandão 

A divulgação da pesquisa encomendada pela FAEPA ao Ibope Inteligência, que apurou a preferência dos eleitores paraenses, mexeu com o ânimo e expectativas de muitos candidatos e seus apoiadores, que através das redes sociais travam uma disputa de narrativas, uns de exaltação e outros com descrença dos números apresentados. Se por um lado estes números confirmam a permanente liderança de Helder Barbalho (MDB) para o governo do Estado, para que seja feita uma análise mais profunda e realista desta consulta é necessário também entender o significado dos altos percentuais de rejeição dos principais pré-candidatos, bem como dos 77% dos entrevistados que de forma expontânea disseram não saber em quem votar ou não quiseram opinar, além dos 12% de intenção no voto em branco ou nulo.

Além disso, os nomes em disputa ainda enfrentarão convenções partidárias e possíveis julgamentos de processos que podem criar impedimentos judiciais e eleitorais. Ou seja, nada está definido e todos sabem disso.

Mais mesmo com todas as probabilidades negativas e sua alta rejeição - presente em todas as demais pesquisas realizadas até aqui - Helder Barbalho conta com a força do seu partido, hoje com o maior número de prefeituras no Estado e com o aparato midiático das empresas de comunicação controladas por sua família, que conta com a TV RBA, o jornal Diário do Pará e diversas rádios AM e FM, que juntas atingem quase todos os municípios paraenses. 

Sem falar de que em seu 3º ministério no governo federal, onde está ininterruptamente no cargo de ministro, desde o governo Dilma, o principal herdeiro político da família barbalho goza de total apoio e respaldo do presidente Temer para representar a União, como se fosse um chanceler no Estado, onde destina verbas da União e de emendas parlamentares, realiza alocação de recursos de forma emergencial, tal como faz nos municípios paraenses afetados por enchentes e acidentes naturais, além de contar com a distribuição de alguns milhões de reais da verba de publicidade do governo federal em TVs, rádios, jornais, revistas, sites, outdoors e redes sociais, os quais reforçam a construção da imagem do Ministro da Integração como um gestor pró-ativo e cheio de realizações.

Por falar em redes sociais, um dado da pesquisa que chamou a atenção de muita gente, foi o fato do senador Paulo Rocha (PT) ter a segunda colocação em diversos cenários da disputa para o governo do Estado. Tudo bem que o PT é o partido que possui a maior e mais apaixonada militância partidária e que com os processos judiciais e presente e constante ameaça de prisão de Lula, além da ofensiva das medidas do governo Temer contra direitos trabalhistas, podem ser elementos decisivos para que o público pesquisado tenha sido levado a se manifestar favorável ao pré-candidato petista, mas isso por si só talvez não seja suficiente para que o senador Paulo Rocha esteja tão bem colocado na preferência eleitoral, a considerar sua baixa popularidade e a inércia de um mandato com pouquissímas realizações efetivas que expliquem seu desempenho pessoal e político para os números desta pesquisa.

Já os baixos números de Márcio Miranda (DEM) e Sidney Rosa, também geraram muitos questionamentos e desconfianças sobre o resultado da pesquisa IBOPE. Apesar de estarem em diálogos com entidades classistas, empresariais, ruralistas, prefeitos e lideranças políticas dos mais variados partidos, os dois deputados estaduais que se apresentam como pré-candidatos ao governo, não conseguiram alcançar dois dígitos na pesquisa IBOPE e este resultado trouxe um grande mal estar em suas bases, sobretudo naquelas que alimentaram a expectativa de que o apoio declarado do governador Simão Jatene seria positivo e elevaria automaticamente a campanha do seu sucessor, mas tal como já havia alertado, não foi isso que vimos nesta aferição.

Há quem diga que o potencial de Márcio Miranda e Sidney Rosa esbarra na indefinição macro-estratégica de ambos, observada em suas conversas pelos bastidores, onde transparece o interesse de juntarem-se com o objetivo de comporem uma chapa competitiva, assim como Zequinha Marinho (PSC) tem se movimentado nesse mesmo sentido, mas os três ainda não bateram martelo sobre quem apoia quem e nem que cargo ou se realmente disputarão o governo ou as vagas para o senado. 

Não obstante, a indefinição se o governador Simão Jatene deixará o cargo para disputar as eleições e se Zequinha Marinho, seu vice, assumirá o governo por 8 meses, neutraliza e cria uma sinuca de bico na movimentação de todos os demais players deste jogo eleitoral.

Ao mesmo tempo em que dialogam entre si e com lideranças políticas e empresarias, estes pré-candidatos esquecem de startar e aquecer suas estratégias de marketing eleitoral e de se lançarem ao corpo-a-corpo com a população, o que Helder faz praticamente todas as semanas, entregando cheques para prefeituras, ou visitando canteiros de obras federais, das mais diferentes áreas. Além disso, o PMDB faz uso de suas lideranças e dos meios de comunicação da família Barbalho para queimar seus adversários, como já iniciaram a fazer com Márcio Miranda, que não esbouçou qualquer reação, nem de ataque ou de defesa de seu nome, exposto em denúncias feitas em programas de rádio, tv e no jornal da família de Helder Barbalho.

Longe dessas cotoveladas masculinas, a única mulher que se desponta na disputa pelo governo é a jornalista Úrsula Vidal (REDE) que tem se mantido como uma promissora alternativa no cenário eleitoral, mas suas limitações esbarram na barreira metropolitana, onde ela não consegue ultrapassar para penetrar o interior do Estado, a não ser através de sua boa perfomance midiática, explorada sobretudo pelas redes sociais.

Os demais nomes do PSDB, leia-se Adnan Demachki, Manoel Pioneiro e Zenaldo Coutinho continuam de molho na gaveta do palácio dos despachos, onde os altos índices de rejeição os tornam pesados demais para reverterem o desgaste da gestão tucana junto à população, mas embora não assumam publicamente, ainda não descartaram apresentar seus nomes na convenção partidária e assim terem a possibilidade de exercitarem a pseudo-democracia interna do partido, onde teriam que travar uma queda de braço com o governador Simão Jatene, que fez questão de adiantar seu candidato favorito à sua sucessão, antes do mesmo se declarar para tal pleito. 

Ou seja, Márcio Miranda pode estar colhendo a alta rejeição de Simão Jatene e o fogo-amigo do PSDB, além de não poder contar com a passividade do seu principal adversário, que segundo as últimas pesquisas, está acima dos 30% e se aproxima dos 40% e não deixa de fazer campanha um só dia, embora haja especulações de que ele ainda pode ser candidato a outro cargo, que não o de governador. Mesmo assim, Helder lidera as intenções de voto para o cargo de governado, tanto para o primeiro, quanto para o segundo turno.

Ah, quase esqueço de falar sobre as expectativas que muitos ainda nutrem de que a operação Lava Jato seja reanimada e venha atingir nomes de paraenses e realmente assim o sonho de que haverão mudanças significativas no processo de moralização política, tão em voga nos discursos da classe política, finalmente realize-se.

Como dizia o samba de enredo da Mocidade Independente de Padre Miguel (RJ), no memorável carnaval carioca de 1992: Sonhar Não Custa Nada!

sexta-feira, fevereiro 16, 2018

Pesquisa IBOPE aponta Helder isolado na liderança e Márcio Miranda rebaixado



Por Diógenes Brandão

No último sábado, a leitura de uma postagem do blog Ver-o-Fato, assinado pelo jornalista Carlos Mendes, me fez acionar uma fonte ligada à Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Pará para checar se era verdadeira a informação de que a entidade seria a contratante de uma pesquisa IBOPE que indica a liderança isolada de Helder Barbalho (MDB), que aparece como favorito absoluto ao cargo de governador do Estado para as eleições de Outubro e rebaixa seu principal rival, o deputado estadual e presidente da ALEPA, Márcio Miranda (DEM), ao percentual de apenas 2 pontos.

Eis a publicação do blog Ver-o-fato:


Embora sob a insatisfação de pecuaristas e associados do agronegócio no Estado, que cobram no Ministério Público a prestação de contas da entidade e também do Fundepec, a Federação da Agricultura e Pecuaria do Estado do Pará (Faepa) parece estar nadando em dinheiro.   

Sem antes nunca ter entrado na seara de pesquisas eleitorais, o presidente da entidade, Carlos Xavier, ligado umbelicalmente ao PMDB de Jader Barbalho, decidiu contratar o Ibope, pagando R$ 77 mil por uma pesquisa registrada ontem no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e cujo resultado está previsto para ser divulgado no próximo dia 15.  

A pesquisa é para o governo do Estado e Senado, mas o que alguns associados questionam é: qual o interesse de Carlos Xavier em gastar recursos da entidade se ele sempre alega nas reuniões ter dificuldades para pagar clientes e fornecedores?    

"A Faepa não possui um corpo técnico e jurídico à altura das demandas do setor, porque enfia todo o dinheiro que arrecada não se sabe onde. Mas tem dinheiro poara financiar uma pesquisa no início do ano para uma eleição que só acontecerá em outubro", comenta um pecuarista.  Outro associado, acrescenta: "o que isso pode trazer de benefícios para o setor produtivo? Gastam ao bel prazer, nosso dinheiro está indo para o ralo. A politicagem corre solta no palácio da agricultura. O Funrural não interessa, mas pagar pesquisa para dar uma de poderoso, que inerfere na política paraense, isso o Xavier faz".  É esse o resultado do ibope?  

Uma voz da Faepa canta o resultado da pesquisa que, para variar, traz Helder Barbalho (PMDB ) na frente. Vamos ver se o Ibope Inteligência confirma os números:  Para o governo, Helder (PMDB), 38%; Paulo Rocha (PT), 16%; Úrsula Vidal (REDE), com 8%; e Márcio Miranda (DEM), 2%.  

A Faepa incluiu entre os candidatos, além de Helder, Paulo Rocha, Úrsula e Márcio Miranda, os nomes de Charles Alcântara, Manoel Pioneiro e Zenaldo Coutinho. Também fez várias simulações de disputa entre os candidatos, para o primeiro e segundo turno. 

Segundo a fonte consultada pelo blog AS FALAS DA PÓLIS, a publicação de Carlos Mendes, estava em parte correta, mas a pesquisa será anunciada apenas neste próximo domingo (18) e não na quinta-feira (15), tal como a postagem afirmou e realmente não foi. 

O motivo é conhecido por todos que acompanham a política paraense: A divulgação do resultado final da pesquisa IBOPE/FAEPA será feita pelo jornal Diário do Pará, no dia em que há a maior procura pelo impresso pertencente à família do pré-candidato, que coincidentemente é o principal beneficiado com os números que serão apresentados.

A fonte deste blog também alertou que os números serão anunciados podem variar dos que "vazaram" antes do prazo estabelecido pelo TSE para a divulgação de pesquisas registradas, mas Helder continuará encabeçando com ampla vantagem sobre os demais pré-candidatos ao governo e Márcio Miranda, deve continuar entre os menos citados pelos entrevistados.

Pesquisadores de outros institutos, cientistas políticos e demais pessoas ouvidas por este blog, dizem que esperam com ansiedade o resultado final da pesquisa IBOPE/FAEPA para realizarem suas análises, as quais deverão se opor ao que será publicado pelo jornal Diário do Pará.

Vem aí um novo aumento da tarifa do transporte e o serviço continua a mesma porcaria

O último aumento da tarifa do transporte coletivo em Belém foi em Janeiro de 2017 e levou a passagem de R$ 2,70 para os R$ 3,10 atuais. 

Por Diógenes Brandão

Composto por 18 ilustres desconhecidos 'representantes' da sociedade civil, o Conselho Municipal de Transporte de Belém tem diversas funções, mas só reconhecemos uma, e ela foi novamente exercida nesta quinta-feira pós-carnaval: Aprovar o aumento das passagens de ônibus para R$3,30. A decisão ainda precisa cumprir o rito da homologação pelo prefeito Zenaldo Coutinho (PSDB), mas a decisão do mesmo, se não for de concordância, não deve ficar muito distante da proposta aprovada pelo referido Conselho. 

Detalhe: É ele, o prefeito, que decide em quanto fica o valor cobrado nas catracas dos ônibus, podendo ser para mais ou para menos do que o Conselho aprova. No entanto, decidir-se por um valor menor que o aprovado por este órgão, foi algo que nunca aconteceu com nenhum prefeito nesta cidade das mangueiras.

CHORO DE CROCODILO

Os empresários como sempre, pediram mais que aquilo que foi aprovado, para poderem fazer o mise en scene de que estão contrariados com a planilha aprovada, pois alegam que o combustível e a folha de pagamento dos rodoviários aumentou, assim como diminuiu o número de passageiros, que segundo Paulo Gomes - presidente do sindicatos dos empresários (SETRANSBEL) - encolheu em cerca de um milhão de usuários, nos dois últimos anos. Para ele, os transportes alternativos e o uso de usuários de aplicativos de mobilidade urbana, como o UBER, contribuíram para a diminuição em sua clientela.

Cobrar os empresários para que haja ar-condicionados, veículos novos e higiênicos, motoristas qualificados? Nada disso. O tal Conselho Municipal de Transporte de Belém só sabe aprovar os aumentos solicitados pelos donos das empresas, disso que chamam de transporte coletivo em nossa cidade. 

Enquanto isso, empresas de aplicativos como o UBER enriquecem e não param de crescer, transportando boa parte destes um milhão de usuários, que assim como eu, nunca mais subiram em um ônibus de Belém. 

Em Maio deste ano, acontece a negociação da data-base dos trabalhadores rodoviários com os empresários e não se espantem se vier outro aumento, pois é quase que certo. 

E O TAL BRT?

Exibido no dia 31 de Maio de 2016, o veículo que há quase um década é prometido para fazer a interligação de terminais rodoviários de Belém, foi apresentado para a população: O famoso BRT. Como era ano eleitoral, o modelo apresentado pela Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana (Semob), foi anunciado com tendo ar refrigerado e acesso a Wi-Fi. 

Novamente, o povão foi lá na urna e cravou o número do partido do prefeito Zenaldo Coutinho, que em 2016 pediu mais uma vez o voto de confiança para sua reeleição e para tal, prometeu que entregaria o serviço em poucos meses. Resultado: Até agora, o busão do belenense continua quente, lotado, demorado, sucateado, sujo e caro.

quarta-feira, fevereiro 14, 2018

Começa o ano eleitoral. O que é legal e o que é imoral?



Por Diógenes Brandão 

Um dos ditados populares mais conhecidos pelo povo brasileiro é o que diz que o ano novo só começa de fato depois do carnaval. Como 2018 é um ano de eleições gerais no Brasil, nesta quarta-feira de cinzas podemos dizer que tirando o alto índice de votos nulos que as pesquisas projetam para Outubro, estamos novamente diante das expectativas de renovação e a esperança que as urnas nos trazem. 

No entanto, não se pode dizer que a classe política será ainda este ano tomada por um processo moralizante, como muito esperam por conta do apelo midiático, resultante das expectativas do desfecho das investigações da Operação Lava Jato, hoje estancadas, tal como Romero Jucá previu em conversa com o ex-diretor da Transpetro, onde planejaram um acordo nacional, com supremo e tudo para tirar Dilma da presidência, colocar Michel Temer em seu lugar e delimitar as investigações da Lava Jato onde estavam. Como podemos ver, o plano deu certo: o chefe da polícia federal foi trocado, Temer indicou uma nova Procuradora-geral da República e a Lava Jato estancou. 

Digo isso por considerar que os critérios utilizados para investigar, julgar e condenar alguns políticos e executivos de empresas envolvidas em esquemas de corrupção, investigados e revelados nos últimos anos, trouxe a falsa impressão de que tudo que está aí não presta e que por isso, tudo e todos precisam ser destruídos, aniquilados, para que algo de bom surja mais à frente, como se num passo de mágica, uma nova geração de políticos bem-intencionados fosse surgir e tornasse tudo diferente, com a honestidade tornando-se predominante na política e na gestão pública.   

Apesar de ser belo e utópico, tal pensamento se assemelha a um delírio infanto-juvenil, daqueles em que a pessoa se imagina capaz de mudar o mundo, apenas com uma frase de efeito ou um desejo pré-concebido pela falta de uma vivência com a realpolitik e sem a devida perspectiva histórica, que moldou o sistema político do nosso país, até outro dia, escravocrata e colonial. 

Com milhares de pessoas interconectadas através das redes sociais, muita gente hoje reproduz conteúdos com a narrativa de que só um salvador da pátria poderá executar a tão esperada reforma do sistema político, onde agentes corruptos serão extintos e uma nova sociedade emergirá com a eleição deste herói nacional. 

terça-feira, fevereiro 13, 2018

TSE libera geral a campanha dos ricaços

TSE abre as portas para que o Congresso Nacional seja dominado pelos marajás, tornando o país um paraíso dos ricos.

Por Altamiro Borges, em seu blog  

O Judiciário parece que está decidido a adulterar de vez a frágil democracia nativa. Além de ser cúmplice do golpe que depôs Dilma Rousseff e alçou ao poder a quadrilha de Michel Temer e de participar do conluio que visa impedir a candidatura do ex-presidente Lula, este poder hermético, elitista e cheio de mazelas quer transformar o Brasil em uma “democracia dos ricos”, quase censitária. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) acaba de publicar a íntegra da resolução que permite que os candidatos financiem 100% de suas próprias campanhas. Com isso, a cloaca empresarial e os bilionários levarão enorme vantagem sobre os demais concorrentes nas eleições de outubro próximo.  

Pela resolução, que ainda pode ser revista até 5 de março – prazo final para a publicação das regras que regerão o pleito deste ano –, um ricaço que queira disputar uma vaga na Câmara Federal poderá bancar do bolso todo o limite de gasto previsto pela lei (que é de R$ 2,5 milhões). Postulantes oriundos dos movimentos sociais, por exemplo, só contarão na sua campanha com os parcos recursos do fundo partidário e com doações de pessoas físicas limitadas a 10% do rendimento. A concorrência será desleal, favorecendo a eleição de empresários, ruralistas e de outros bilionários. A composição da Câmara Federal, que já dá ampla vantagem às bancadas patronais, ficará ainda pior. O trabalhador terá ainda mais reduzido seu espaço do parlamento.   

A resolução do TSE afronta à democracia e deve agitar o cenário político nos próximos dias. O chamado autofinanciamento já havia causado polêmica no Congresso Nacional no ano passado, durante a votação da reforma política. O relator da matéria, deputado Vicente Cândido (PT-SP), num primeiro momento apresentou um texto proibindo por completo a sacanagem. Diante da pressão da bancada patronal, ele recuou e impôs limites. Na votação final, acabou sendo aprovada a regra que proibia os candidatos de injetarem mais do que 10% dos seus rendimentos na campanha. Mas o usurpador Michel Temer, capacho dos empresários, vetou a decisão. Diante do impasse, agora o TSE toma as dores dos ricaços e libera geral o uso da grana!   

Diante de mais este golpe contra a democracia, os partidos prometem reagir. O PT já anunciou que questionará a decisão. “O Brasil é uma democracia ou uma plutocracia? Quem tem dinheiro pode tudo? Acabamos com o financiamento empresarial e agora quem for milionário poderá financiar 100% da sua campanha?”, indagou no Twitter o líder petista na Câmara Federal, deputado Paulo Pimenta (RS). No mesmo rumo, a senadora Gleisi Hoffmann (PR), presidente nacional da legenda, foi incisiva: "Derrubamos ano passado o veto que liberou o auto financiamento! Porque o TSE traz isso de novo? Por mais que tentemos, as eleições ainda serão dominadas por quem tem dinheiro? É um atentado contra a democracia popular". O PSB também vai reagir, conforme anunciou o advogado da sigla, Rafael Carneiro. Para ele, a decisão do TSE “coloca em risco a paridade de armas no processo eleitoral e a própria democracia”.

Bloco Chulé de Pato encerra o carnaval de Belém nesta quarta-feira de cinzas

Com o famoso caldo de mocotó com jerimum e em sua 17ª edição, o bloco Chulé de Pato se prepara para encerrar em grande estilo mais um carnaval das antigas, em Belém do Pará.

Por Diógenes Brandão

"Quem já conhece, com certeza não perde e quem ainda não participou, não sabe o que está perdendo". Foi com essa frase estimulante que fui convidado para brincar pela primeira vez do arrastão do bloco Chulé de Pato, que esse ano completa 17 anos levando alegria, na despedida do carnaval pelas ruas de Belém, mais precisamente pelo bairro do Guamá.

A ideia de iniciar a brincadeira de momo, se deu no carnaval de 2001, quando o atual presidente do bloco assistia a transmissão do carnaval pelas ruas da capital Pernambucana, onde blocos como o Bacalhau do Batata e o Galo da Madrugada arrastando uma multidão de foliões na quarta-feira de cinzas, pelas ladeiras de Olinda e recife, respectivamente. 

A concentração inicia ao meio dia desta quarta-feira de cinzas e a saída do bloco está programada para as 15:30h, com direito ao tradicional caldo de mocotó com jerimum, que será servido aos primeiros 1.500 brincantes que chegarem à concentração. 

"Temos convidados até de outros países que estão visitando o nosso Estado e que participarão da festa conosco", revela o compositor, músico e presidente do bloco, Paulinho Mururé, que solicitou a isenção das taxas cobradas pela prefeitura de Belém e o governo do Estado, mas infelizmente teve seu pedido negado. 

A diretoria do bloco Chulé de Pato estima a participação de 5 mil brincantes no arrastão pelas ruas do bairro do Guamá

Diante disso, foi preciso que a diretoria e amigos do bloco metessem a mão no bolso para pagar quase R$1.500 reais de taxas cobradas pelos órgãos públicos municipais e estaduais, que nem se quer aparecem no dia do evento, a exemplo da SEMOB, SEMA, Polícia Militar e o Departamento de Polícia Administrativa da Polícia Civil do ParáMesmo assim, Paulinho Mururé não se amofina e diz que espera que esse ano o bloco bata recorde de público, no carnaval de rua à moda antiga, onde uma banda de fanfarra toca os grandes sucessos dos antigos carnavais, com marchinhas, muitas fantasias e as batalhas de confete e serpentina. Tudo sem fins lucrativos ou venda de abadás.

Para o carnaval de 2019, a diretoria do bloco já planeja realizar eventos que ajudem a arrecadar recursos financeiros ainda esse ano, como o "Chulé de Pato na Roça" em junho e o "1º Grito de Pré-réveillon do Chulé de Pato", em novembro. "Depois disso vamos correr atrás do nosso CNPJ e com ele elaborar projetos que viabilizem patrocínios e incentivos de entidades públicas e empresas interessadas em nos ajudar a manter a festa e até projetos sociais junto à comunidade guamaense, finaliza a entrevista de Paulinho Mururé ao blog AS FALAS DA PÓLIS.

SERVIÇO:

Arrastão do Bloco Carnalesco Chulé de Pato.
Dia: 14.02.2018 (Quarta-feira de Cinzas).
Concentração: A partir do meio dia.
Saída: 15:30h.
Local: Av. Castelo Branco entre, Caripunas e Paes de Sousa. 


sexta-feira, fevereiro 09, 2018

Muito prazer, Luciana Temer

Por Diógenes Brandão 

Ela é professora de Direito Constitucional e dirige uma ONG que desenvolve um trabalho de combate e enfrentamento à exploração sexual de crianças e adolescentes no Brasil. Defende o pai, mas mostra o quanto são diferentes em diversos pontos e o considera conservador por natureza. Trabalhou com Haddad (PT) e Alckmin (PSDB), mas confessa que gosta e tem mais afinidade com o petista.

Pragmática ao falar de corrupção, ela se revela bem mais progressista que o pai ao dizer: "A polarização fica num nível tão raso de discussão: bons e maus, maniqueísta. “Eu sou bom, você é mau”. Eu sempre falo para os meus alunos dessa divisão de “nós” e “eles” – como se o Congresso Nacional fossem “eles”. Quem é o Congresso Nacional se não nós mesmos? Nós mesmos que somos cidadãos brasileiros, nós mesmos que elegemos. Eles só estão lá porque, nós, sociedade brasileira, que colocamos. Quer dizer, não existe “nós” e “eles”. Existem eles que são retrato do que somos nós."  

No entanto, quando ouviu o audio em que Joesley Batista havia combinado o suborno pelo silêncio de Eduardo Cunha com seu pai, Luciana Temer disse aos seus filhos: “olha, meninos, eu não ouvi esse áudio, ninguém ouviu esse áudio. Mas, eu vou dizer pra vocês, eu corto os meus dois braços se o seu avô falou uma coisa dessas. Eu conheço o seu avô há 50 anos, ele jamais, em tempo algum falaria uma frase dessas.”  


Defende a legalização do aborto, das drogas e a regulamentação da prostituição. Essa é Luciana Temer, revelada pela entrevista do Estadão e que o blog AS FALAS DA PÓLIS reproduz na íntegra.




Ela cresceu ouvindo o pai declamar Castro Alves. Dele diz que herdou a consciência moral e da mãe, a consciência cristã. E então foi construindo sua própria trajetória, hoje como professora de direitos constitucionais da PUC-SP e da Uninove, e presidindo o Instituto Liberta, criado pelo filantropo Elie Horn, de combate à exploração sexual de crianças e adolescentes.  

Antes, ela foi secretária de assistência social da prefeitura, na gestão de Fernando Haddad, a quem admira e se identifica. Ex-delegada de defesa da mulher, em Osasco, trabalhou também com Alckmin e tem Gabriel Chalita em alta conta.  

Defende a legalização do aborto, das drogas e a regulamentação da prostituição. Luciana Temer, 48 anos, a filha primogênita do presidente Michel, foge dos paradigmas óbvios do jogo fácil das polarizações políticas. Ela decidiu compartilhar um olhar mais íntimo sobre suas crenças e valores, nesta entrevista que se segue.

“Eu tenho duas irmãs, que são psicólogas. Nós somos três mulheres independentes, que trabalham, que a vida inteira ganharam o seu dinheiro e se sustentaram, e eu escutei do meu pai a vida inteira a seguinte instrução: “você tem que trabalhar e ganhar o seu dinheiro, porque a independência só existe quando você se sustenta. Você só é uma pessoa livre e independente quando paga as suas contas”.  

Aí eu me pergunto, onde está o machista dessa brincadeira do ‘recatada e do lar’? Porque a Marcela tem um outro perfil. É uma grande companheira dele, mesmo, de mais de doze anos, e que tem outro perfil, e que eu respeito perfeitamente. Agora, isso nunca foi imposto, nunca foi uma questão.  Aliás, eu acho que um dos problemas que hoje nós temos é não respeitar as escolhas dos outros, ainda que seja ser princesa. Se quiser ser princesa, deixa ser princesa. Hoje tem um patrulhamento ideológico; e se a mulher não quiser trabalhar e ficar em casa cuidando dos filhos, qual é o problema?”  

“Quem é o Congresso Nacional se não nós mesmos? Nós mesmos que somos cidadãos brasileiros, nós mesmos que elegemos. Eles só estão lá porque nós, sociedade brasileira, que colocamos. Quer dizer, não existe “nós” e “eles”. Existem eles que são retrato do que somos nós.”  

“Nós íamos daqui até Tietê – onde ficava a chácara da nossa família, –, ouvindo meu pai declamar ‘Navio Negreiro’ (Castro Alves) inteirinho. Uma coisa super tocante.”  

“A gente tinha uma regra em casa que era interessante. A gente estava conversando, mas se entrássemos em um elevador, e entrava mais alguém, todo mundo parava de conversar. Porque meu pai achava que em elevador não se conversava com outras pessoas. Essa coisa da reserva, ele dizia: ‘fale muito das coisas, pouco das pessoas e nada de você’.”  

“Palavrão por exemplo, pra ele é inadmissível. “Que saco” é palavrão. Você não ouve ele falando palavrão.”  

“Se você perguntar com quem eu tenho mais afinidade de trabalho, de pensamento, eu tenho muito mais afinidade com o Haddad. Eu tive muito mais liberdade de atuação. Não porque o Alckmin restringisse a minha liberdade de atuação, não é isso; mas eu tive muito mais afinidade, pude avançar mais no que acreditava com o Haddad.”  

“A gente tem bons debates, mas temos uma afinidade num pensamento mais liberal. Lógico, sobre determinados assuntos eu não penso como o meu pai que é de outra geração, suas posições não são as mesmas. Quando aparece um ministro como o Osmar Terra falando em internação e abstinência total dos viciados em drogas, de certa forma ele (o presidente) endossa. É uma linha mais tradicional.”  “Não acho que ele não tenha chamado mulheres (para compor a equipe ministerial) por exclusão. Não houve pré-disposição em não chamar. Por outro lado, não houve pré-disposição em buscar um nome. Parece bobo mas isso faz diferença.”  

“Eu não sei como eles casaram, pra começar! Porque são seres completamente diferentes. Minha mãe é uma pessoa que é um polo de atração, essa pessoa super generosa, super extrovertida. E meu pai é essa pessoa muito consistente, do ponto de vista intelectual, de formação; uma pessoa reservadíssima, de poucos amigos. Ele circula num universo enorme, mas amigos do meu pai eu conto nos dedos os que eu conheci na vida. Minha mãe é amiga do mundo.”  

“É muito triste, muito difícil você ver o nome do seu pai, que é uma pessoa que você conhece há 50 anos, jogado na lama. Quando saiu na Globo aquela primeira chamada dizendo que havia um áudio no qual meu pai dizia pra o Joesley para subornar o Cunha pra ficar calado, eu estava na rua, ouvindo o rádio.  Pensei comigo, essa frase não sairia da boca dele. Porque ele é essa pessoa contida, reservada. Ele jamais se exporia dessa forma para ninguém.  

E, afinal, quando saiu o áudio, essa frase não existia. A frase que aparece no áudio é: “Estou mantendo uma boa relação”. “Ah, você deve mesmo fazer isso”. Isto é meu pai. Ele está falando com você aqui, e às vezes ele está na lua e balançando a cabeça.”  

*Qual seria o inconsciente coletivo do brasileiro hoje, em sua opinião?  
Hoje, as pessoas estão se sentindo à vontade para fazer e dizer coisas, especialmente nas redes sociais, que traduzem o que elas não tinham coragem de dizer antes face a face, e que agora estão mais livres para falar. Se por um lado isso é bom porque as pessoas podem se manifestar mais livremente, por um outro lado, esse espaço criado pela internet, pelas redes sociais, tornou as pessoas mais agressivas, mais radicais nas suas posições.  

Coisas que estavam no inconsciente das pessoas e que elas deixavam lá quietinhas, agora elas estão deixando os bichos ficarem mais soltos. De alguma forma, tem alguma coisa acontecendo que traz uma belicosidade nas colocações como se a gente voltasse um pouco para a idade da pedra. Eu sinto que tem um certo ambiente – que é esse ambiente virtual – que faz com que as pessoas peguem em armas e tratem as questões de forma muito agressiva.  

Eu acho que essa possibilidade acabou gerando um acirramento de posições e uma polarização em todos os setores, em todas as questões, que está muito complicado. Tem uma determinação de impor a sua posição em toda e qualquer circunstância, a qualquer custo, diminuindo o espaço de reflexão.  

Isso é uma coisa brasileira ou mundial?  
Mundial.  

Qual seria o acento brasileiro?  
Eu acho que no Brasil temos essa crise política absolutamente acirrada, onde, supostamente, o brasileiro acordou para uma questão que é a questão da corrupção; mas, ao mesmo tempo eu digo supostamente, porque ficou uma ideia de que esse mal feito brasileiro só acontece e está centrado nos políticos e nas instituições, o que não é verdadeiro.  

Existe uma institucionalização da corrupção no Brasil. Quando eu pago o guarda pra não me multar – isso é uma prática ancestral aqui; ou quando vou procurar um despachante pra pagar e não perder a carta, porque eu tive pontos na carteira. Eu acho muito interessante isso, você está conversando com uma pessoa e ela está acabando com todos os políticos e, de repente ela vira e fala assim: “alguém sabe de alguém que consiga livrar as minhas multas, porque eu vou perder a carteira?”. Ou uma outra situação, de uma amiga que é criminalista e foi a uma médica dermatologista; e a médica, quando perguntou pra ela o que ela fazia – ela falou que era advogada criminal-, e a médica respondeu: “você tem coragem de defender bandidos? Você tem coragem de defender corruptos?”. E quando ela foi pagar a conta no final, a secretária perguntou: “você quer com nota ou sem nota? Sem nota é mais barato”. Sonegação pode? Ela não é bandida, e ela sonega e isto é crime.  

Veja como a gente tem uma irreflexão sobre essas questões, e como a gente está num nível raso de repensar qual é o papel da sociedade brasileira nesse contexto todo de mudança. Quando a gente fala de uma mudança, a gente tem que falar de uma mudança muito profunda.  

A polarização fica num nível tão raso de discussão: bons e maus, maniqueísta. “Eu sou bom, você é mau”. Eu sempre falo para os meus alunos dessa divisão de “nós” e “eles” – como se o Congresso Nacional fossem “eles”. Quem é o Congresso Nacional se não nós mesmos? Nós mesmos que somos cidadãos brasileiros, nós mesmos que elegemos. Eles só estão lá porque, nós, sociedade brasileira, que colocamos. Quer dizer, não existe “nós” e “eles”. Existem eles que são retrato do que somos nós.  

É preciso que o Brasil saia dessa discussão rasa de políticos corruptos e repense toda uma forma de comportamento. 

De ética pessoal.  

Como você permite que seu filho, que tem 17 anos, faça uma identidade falsa pra entrar numa festa para maiores de idade? E essa é uma prática comum, as pessoas permitem isso.  “Ah, mas ele está fazendo com uma pessoa que faz direitinho”. Quem faz direitinho é porque é do Poupa Tempo. Então você está permitindo que seu filho corrompa um funcionário público. Isto não é corrupção? A gente é muito desconectado do discurso com a prática.  

Você acha que falta consciência ética e social no dia a dia do brasileiro?  
Não podemos generalizar, tem gente muito boa. Mas acho que existe uma cultura permissiva no Brasil em todos os aspectos e setores.  

Aqui, as pessoas fecham os olhos para o que consideram menos grave. Não importa se a legislação diz que é crime. Cada um faz seu próprio julgamento.  

Na consciência do brasileiro o não cumprimento da lei é porque essa lei não é boa, essa regra não é boa. Ou é difícil e não vou conseguir cumprir, e eu me permito descumprir.  

Como reage aos escândalos de corrupção que a gente ouve?  
Conheço o pai que tenho e sei os limites éticos dele.  

No seu governo?  
A corrupção é uma coisa endêmica, um problema sério em todos os níveis. É preciso repensar posturas individuais e cotidianas. Falamos muito das grandes corrupções, mas na hora de deixar o carro na vaga reservada a pessoas com deficiência, partimos para o discurso de que “é só um minutinho”. A sociedade precisa ser mais educada.  

Em termos de pensamento político, a sua construção vai por onde?  
Eu tenho uma formação humanista que vem de casa, tanto do lado paterno como materno. Minha mãe, que foi sempre alguém que procurou ajudar as pessoas e me ensinou que era importante cuidar das pessoas que estão à nossa volta. E o meu pai, porque tem essa formação, não só jurídica, mas de família muito rígida, uma moral muito rígida. De família árabe muito grande, muito unida, que teve sempre esse discurso bastante rígido do ponto de vista moral.  Nós crescemos com esses dois lados – a minha mãe, Maria Célia, sempre pelo lado da caridade. Ela é a pessoa mais generosa que eu conheci na minha vida. E a formação mais estruturada do ponto de vista da consciência social, vem do meu pai.  

Nós íamos daqui até Tietê – onde ficava a chácara da nossa família, e íamos todo fim de semana ficar com a minha avó –, ouvindo meu pai declamar ‘Navio Negreiro’ (Castro Alves) inteirinho. Uma coisa super tocante. Eu era pequena, não tinha nem a dimensão do que era aquilo, e a gente adorava. E também ‘O Operário em Construção’, do Vinícius (de Moraes): “O Operário disse: Não! subiu ao alto da construção…” Era uma coisa pra nós muito forte. Essa coisa da consciência social, da desigualdade social.  

São duas influências diferentes, a influência da minha mãe não tem nenhuma consciência social, mas sim uma consciência cristã. E o meu pai, uma consciência social.  

Eu estudava aqui no (Colégio) Sion. Na época, antes da abertura política, havia as eleições pra deputado e tinha a Arena e o MDB. E eu me lembro que no Sion eu era a única que era MDB. Porque os pais da escola tradicional do Sion eram Arena. E eu lembro que era uma coisa difícil até eu entender o por que, só o meu pai era MDB.  

Então, acho que a nossa formação, tanto minha quanto das minhas irmãs vem desse misto, de uma mãe muito extrovertida e um pai muito reservado, muito formal.  

Formal até com os filhos?  
Não diria com os filhos. Mas, por exemplo, a gente tinha uma regra em casa que era interessante. A gente estava conversando, mas se entrássemos em um elevador, e entrava mais alguém, todo mundo parava de conversar. Porque ele achava que em elevador não se conversava com outras pessoas. Essa coisa da reserva, ele dizia: “fale muito das coisas, pouco das pessoas e nada de você”.  

Mas o que seria um discurso rígido do ponto moral?  
Eu não diria que meu pai é um julgador. Todo mundo teve liberdade e respeito pelas escolhas. Ele é mais antigo sob certos aspectos. Mais contido. Tem uma coisa super de reserva. Não sei se moralmente é muito rígido. Com a gente não era rígido. Talvez na fala, mas não na atitude de controle. As regras morais são da geração dele. Mas nunca severo, austero, do tipo “não vai sair pra namorar”. Mais ligado a preservar intimidade. Palavrão por exemplo, pra ele é inadmissível. “Que saco” é palavrão. Você não ouve ele falando palavrão.   

E a mesóclise?  
Ele cresceu aprendendo isso em português. Ele estudou em escola pública em Tietê, e a mesóclise era uma coisa que era praticada. E ele sempre escreveu muito bem, sempre foi estudioso de português e nunca se desfez desse hábito.  

Ele é uma pessoa de valores tradicionais, não é?  

Bastante. E isto é da família árabe. Ele tem uma coisa da família muito forte. Reverência ao pai, mãe, e ao mesmo tempo essa união da família.  

E a passagem como delegada, por que foi importante?  
Porque eu descobri que existe um mundo fora do mundo que eu conhecia. Uma coisa é você ler jornal – porque o jornal é escrito por um jornalista que também pega o seu mundo e traduz a notícia com a visão dele. E, quando eu fui da Delegacia de Polícia de Defesa da Mulher, em Osasco, e fui conhecer a realidade sem o filtro do jornalista que te passa a notícia, eu comecei a enxergar uma realidade que eu não conhecia, que me trouxe questionamentos sobre as convicções que eu tinha a respeito das relações familiares. Eu vivi num mundo em que família é essa estrutura que te protege, pai é essa figura que te protege; e você começa a entender que essa é uma cultura construída, que existem outras relações que acontecem que não estão na sua esfera de compreensão.  

E aí você começa a ser mais flexível nos seus julgamentos. Porque você tem o seu conceito do que é certo e errado, mas quando olha algumas situações, passa a julgar com menos rigor, começa a compreender que suas convicções são fruto de uma construção cultural, e que existem outras culturas onde outras pessoas estão inseridas.  

Você pode me dar um exemplo?  
Você pode encarcerar todo mundo, isto é um caminho. Ou você pode tentar trazer uma consciência de que isso é errado. 

Quando eu pego um pai que tem a primeira relação com a filha porque acha que isso é normal, você vai tratá-lo como o criminoso que ele é pela nossa legislação. Mas você precisa entender a lógica dele pra transformar essa lógica, porque ele acha um grande absurdo que ele esteja sendo preso por causa disso.  

Se você não admitir que ele pensa diferente de você e tentar transformar por outros caminhos, vamos ficar sempre no processo punitivo.  

Como você se define, ideologicamente falando?  
Eu acho que sou uma pessoa que busca uma maior justiça social de forma ampla, não só do ponto de vista econômico e financeiro.  

Quando você faz um trabalho, como a gente fez na Cracolândia, no De Braços Abertos (gestão Fernando Haddad); isso é justiça social. Não tem a ver com dinheiro, tem a ver com resgate de pessoas.  

Eu me definiria como uma pessoa muito sem preconceitos e que, em tese, acredita no ser humano. Às vezes eu fico meio decepcionada, às vezes meio frustrada, mas eu acredito no ser humano, acho que ele é sempre resgatável.  

Você ter trabalhado com o Haddad é uma coisa curiosa…  
O Haddad é um militante petista, mas ele é um professor universitário, assim como eu sou uma professora universitária. Ele é um sujeito que foi se aprimorando intelectualmente, assim como eu busquei me aprimorar intelectualmente ao longo dos anos.  

Eu fui trabalhar com uma pessoa que fez um caminho de busca, de consciência social, assim como eu fui buscando meu caminho. Então não acho tão estranho que eu tenha ido trabalhar com o Haddad.  

Nesse tempo de polarização, as pessoas tendem muito a associar o seu sobrenome a uma pauta que exclui o direito das mulheres, que torce o nariz ao direito sobre o próprio corpo…  
Eu tenho duas irmãs, que são psicólogas. Nós somos três mulheres independentes, que trabalham, que a vida inteira ganharam o seu dinheiro e se sustentaram, e eu escutei do meu pai a vida inteira a seguinte instrução: “você tem que trabalhar e ganhar o seu dinheiro, porque a independência só existe quando você se sustenta. Você só é uma pessoa livre e independente quando paga as suas contas”.  

Aí eu me pergunto, onde está o machista dessa brincadeira do ‘recatada e do lar’? Porque a Marcela tem um outro perfil. É uma grande companheira dele, mesmo, de mais de doze anos, e que tem outro perfil, e que eu respeito perfeitamente. Agora, isso nunca foi imposto, nunca foi uma questão.  Aliás, eu acho que um dos problemas que hoje nós temos é não respeitar as escolhas dos outros, ainda que seja ser princesa. Se quiser ser princesa, deixa ser princesa. Hoje tem um patrulhamento ideológico; e se a mulher não quiser trabalhar e ficar em casa cuidando dos filhos, qual é o problema?  

Não é a minha escolha, eu não defendo que seja a cultura imposta, eu defendo a igualdade; mas, se a pessoa quiser… se o homem quiser ficar em casa cuidando dos filhos, qual o problema? Porque esse homem também é criticado. Eu sou contra todo e qualquer patrulhamento ideológico, e se todo mundo respeitasse o que cada um acha que é bom pra si, já seria uma grande evolução da humanidade. Isso é uma coisa que sempre foi valorizada na minha casa, sempre tivemos a liberdade de fazer as nossas escolhas.  

Política te interessa?  
A grande política me interessa, política partidária não me interessa pessoalmente, não tenho vocação. Eu me filiei ao MDB para assumir a secretaria de assistência com o Haddad.  

Meu envolvimento de política partidária foi só durante a campanha do Chalita, porque tenho uma relação de irmã com ele. Ele disse que precisava de mim e então eu integrei o núcleo da campanha. Quando ele não foi pra o segundo turno, eu me retirei. Então o Haddad foi eleito e aconteceu de eu virar Secretária de Assistência Social.  

E eu tenho muito orgulho disso. Deixamos uma marca importante na secretaria. Tivemos um papel importante na construção do De Braços Abertos, na condução do programa e na inserção de mais de 500 mil famílias no Bolsa Família.  

Fizemos abrigos para famílias em altíssima vulnerabilidade – pessoas que estão na segunda, terceira geração de rua; um hotel pra 150 pessoas que tinham ido pra rua há pouco tempo – gente que perdeu a casa, estava com as coisas na rua, tem alguma renda. Fizemos um abrigo pra travestis e transexuais. E fizemos uma categoria de abrigo para os imigrantes.  

Nessa virada de gestão você ficou chateada de ver as coisas mudando?  
Algumas coisas mudaram bastante, especialmente o De Braços Abertos.  

Quando você está na gestão pública, não pode ter apego ao que você faz. Nós mudamos o paradigma em São Paulo para essa questão. Tanto é que um programa para 500 pessoas – dentro da dimensão de 2 milhões de habitante da cidade – virou pauta de eleição. O Doria foi eleito com a plataforma de destruir o programa, e ele cumpriu.  

Você gostou de trabalhar com o Alckmin?  
Eu o respeito muito. É um sujeito muito sério, muito íntegro. Essa é minha experiência pessoal com ele.  

Se você perguntar com quem eu tenho mais afinidade de trabalho, de pensamento, eu tenho muito mais afinidade com o Haddad. Eu tive muito mais liberdade de atuação. Não porque o Alckmin restringisse a minha liberdade de atuação, não é isso; mas eu tive muito mais afinidade, pude avançar mais no que acreditava com o Haddad.  

Qual seria sua visão crítica sobre direito constitucional no Brasil?  
Eu dou aula há 26 anos. Quando eu comecei, gostava de dizer aos meus alunos que nós estamos numa democracia, mas nós não somos uma democracia.  

Quando você sai do formal do que diz a constituição e entra na realidade das coisas, você vê uma distorção muito grande. Quando faz um estudo sobre os momentos de autoritarismo e democracia no Brasil, claramente se identifica que nós temos muitos mais anos de sistemas autoritários do que de sistemas democráticos.  

Hoje, estou muito confiante na nossa democracia. Porque eu acho que passamos por muitas turbulências nesses anos todos e nós estamos num sistema de respeito às instituições.  

Eu sou favorável, eu gosto do que o Supremo tem decidido em vários setores. Quando você pega a decisão sobre o aborto de fetos anencéfalos, sobre casamentos homoafetivos; eu adoro essas decisões do Supremo, mas quando olho criticamente, eu falo que o Supremo está decidindo em esferas que não são dele. São decisões que deveriam ser tomadas pelos representantes eleitos pela sociedade, e não por doze pessoas que não foram eleitas pela sociedade.  

Mas, a verdade é a seguinte, se eu fizer hoje um plebiscito perguntando certas coisas, a resposta que eu vou ter da sociedade é a que eu quero ouvir? Talvez não.  

Na sua família o pensamento é homogêneo?  
Não. Muito chato pensamento homogêneo. Com quem você vai discutir no almoço?  

A gente tem bons debates, mas temos uma afinidade num pensamento mais liberal. Lógico, sobre determinados assuntos eu não penso como o meu pai que é de outra geração, suas posições não são as mesmas e temos bons debates sobre essas questões. A questão de gênero, a questão de política de drogas, a gente tem posições que são diferentes. A parte boa é que existe um respeito sobre as opiniões diversas e um debate que é produtivo.  

Por exemplo, outro dia a gente teve um debate bem interessante – eu tomando uma posição, e meu pai e minha irmã outra; que era a priorização de investimentos na educação ou na saúde. Eles estavam defendendo a priorização na saúde, e eu argumentando porque eu entendia que a maior parte dos investimentos tinha que ser na educação.  

Em gênero e drogas vocês discordam?  
Na verdade, ele pensa uma política de enfrentamento da droga mais conservadora. Quando aparece um ministro como o Osmar Terra falando em internação e abstinência total, de certa forma ele endossa. É uma linha mais tradicional.  

Quanto a gênero, meu pai é uma pessoa que prega uma relação de igualdade. Nunca pregou desigualdade. Mas ele parte de um discurso de que basta a defesa da igualdade, não precisa cotas nem distinções. Nesse ponto acho que a gente tem alguma divergência.  

Como você se sentiu quando ele apresentou uma equipe ministerial composta apenas por homens?  
É uma questão um pouco de um homem mais velho que teve um convívio mais fácil a vida inteira com homens. Ele tem mais referências de homens que mulheres. Eu se fosse montar uma equipe, talvez montasse uma equipe mais feminina.  

Mas veja, Haddad, que é super moderno, tinha 3 mulheres em 27 secretarias…  

Não acho enfim que ele não tenha chamado mulheres por exclusão. Não houve pré-disposição em não chamar. Por outro lado, não houve pré-disposição em buscar um nome. Parece bobo mas isso faz diferença.  

Lembrando que partiu dele a primeira indicação de uma mulher para ocupar o cargo de procuradora do Estado, Norma Kyriakos, durante o governo Montoro.  

Acho que não lhe chegaram nomes fáceis de mulher para nomear ministras. Porque eles não chegam. Depois ele trouxe a Raquel Dodge (Procuradora Geral da República), a Flávia Piovesan (Secretaria de Direitos Humanos).  

Como você definiria a sua mãe e o seu pai?  
Eu não sei como eles casaram, pra começar! Porque são seres completamente diferentes. Minha mãe é uma pessoa que é um polo de atração, essa pessoa super generosa, super extrovertida. E meu pai é essa pessoa muito consistente, do ponto de vista intelectual, de formação; uma pessoa reservadíssima, de poucos amigos. Ele circula num universo enorme, mas amigos do meu pai eu conto nos dedos os que eu conheci na vida. Minha mãe é amiga do mundo. 

Como você atravessou esse período de turbulências políticas?  
Com muita dificuldade, não foi fácil. Ao mesmo tempo eu tive um respaldo importante dos dois envolvidos. Por um lado, eu tinha o meu pai, que estava passando por todo esse processo do impeachment e tudo mais. E havia uma cobrança que ele sofria, de “o quê sua filha está fazendo na gestão do Haddad?” E o meu pai bancou: “minha filha é uma ótima gestora, ela vai estar onde quiser”. Por um outro lado, o Haddad sofria a mesma cobrança. E a resposta do Haddad era: “ela é uma ótima gestora, e vai concluir a gestão”. Eu tive apoio dos dois.  

Conte um pouco sobre o trabalho do Instituto Liberta.  
Estamos na estrada há um ano e cuidamos de uma temática exclusiva, que é a exploração sexual de crianças e adolescentes no Brasil.  

O Brasil é o segundo país com maior índice de exploração sexual infantil e o quarto país no índice de casamentos infantis. A estimativa é de mais ou menos 500 mil meninas e meninos explorados anualmente, e a maioria têm entre 7 e 14 anos. São dados muito tristes.    



Tem casos de 7, 8 anos? Existe isso?  
Sim. Temos referências, como um livro da Eliane Trindade (“As meninas da esquina”), que conta quando as meninas começam a se prostituir. Há também a CPI da exploração sexual, com depoimentos do país inteiro de meninas muito novas que contaram os seus casos às deputadas. Vem daí os dados da nossa campanha.  

Vou te contar outro dado significativo. Quando você olha a questão da natalidade no Brasil, nosso país vem conseguindo diminuir esses índices, o que é uma grande vitória. Mas, quando você pega o recorte de meninas de 10 a 14 anos, você vê que esse índice não cai. Pelo contrário, ele tem uma leve subida. Tem alguma coisa errada nesse processo.  

Onde são os maiores focos?  
Olha, na verdade é difícil dizer onde estão os maiores focos, porque nosso instrumento de dados é o ‘disque 100’, que é o canal de denúncia do Governo Federal. Lá, umas das maiores regiões de denúncias é a Sudeste, mas isso não traduz que há mais exploração, e sim que há mais consciência.  Então, é difícil dizer exatamente onde tem. O que posso afirmar com segurança é que em todas as regiões do Brasil você tem características diferentes, especificidades regionais. Mas, há no Brasil inteiro situações diversas de exploração sexual de meninas e meninos.  

Em São Paulo temos dois polos importantes, que são o CEAGESP e o Terminal de Cargas da Fernão Dias. São conhecidos, um polo sabido pela mídia, pelo Ministério Público; não significa que tenha só esses.   

O que o instituto está fazendo efetivamente?  

A missão do instituto é de comunicação e conscientização. A gente não trabalha diretamente com os meninos e meninas explorados. Trabalhamos com campanhas nacionais e regionais que falam sobre o assunto. Costumo dizer que a grande missão do instituto hoje é fazer o Brasil falar sobre esse assunto. Enquanto não se fala, não é um problema; e se não é um problema, não se busca solução.  

Vamos falar da prostituição infantil e deixar o país constrangido com o número de crianças exploradas sexualmente, e que isso diz respeito a todos nós, não só pela questão moral, de dignidade humana, mas como custo social da gente fechar os olhos para isso.   

Você está otimista com 2018? O que espera para esse ano?  
Acho que ninguém sabe exatamente quais os rumos do mundo pra 2018. Eu sou uma pessoa otimista por natureza. Quando estou muito triste e desacreditada no mundo, penso na Idade Média, em “Os Miseráveis”, nessas coisas, e falo: olha, a gente andou. Andamos. Não todo mundo junto, não tudo igual, mas andamos.  

Quando aconteceram essas crises agudas envolvendo o seu pai, você conseguiu separar as coisas, ficar tranquila?  
Não. É muito triste, muito difícil você ver o nome do seu pai, que é uma pessoa que você conhece há 50 anos, jogado na lama.  

Quando saiu na Globo aquela primeira chamada dizendo que havia um áudio no qual meu pai dizia pra o Joesley para subornar o Cunha pra ficar calado, eu estava na rua, ouvindo o rádio. E aí eu cheguei em casa, meus filhos estavam em casa, não tinham ouvido a notícia; liguei no Jornal Nacional, e aí o meu filho virou pra mim e falou assim: “O que é isso? Você acredita? O que está acontecendo?”.  

Eu falei: “olha, meninos, eu não ouvi esse áudio, ninguém ouviu esse áudio. Mas, eu vou dizer pra vocês, eu corto os meus dois braços se o seu avô falou uma coisa dessas. Eu conheço o seu avô há 50 anos, ele jamais, em tempo algum falaria uma frase dessas.”  

Essa frase não sairia da boca dele. Porque ele é essa pessoa que eu descrevi, uma pessoa contida, reservada. Ele jamais se exporia dessa forma para ninguém.  

E, afinal, quando saiu o áudio essa frase não existia. A frase que aparece no áudio é: “Estou mantendo uma boa relação”. “Ah, você deve mesmo fazer isso”. Isto é meu pai. Ele está falando com você aqui, e às vezes ele está na lua e balançando a cabeça.  

Então, é lógico que foi muito triste, muito difícil pra todos nós. Eu sei o pai que eu tenho, eu sei o pai que me criou. E acabou.

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