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sexta-feira, novembro 18, 2016

O dia que a bandeira do Japão virou comunista



Por Todd Tomorrow, via Facebook.

Pode parecer piada, mas não é! É verídico! Essa é uma das vozes pela intervenção militar que invadiram/ocuparam o plenário da Câmara. Ouça suas afirmações a respeito do painel em comemoração ao centenário da imigração japonesa no Brasil, que fica exposto permanentemente no Congresso Nacional desde 2008.

[+] Bandeira nacional japonesa http://bit.ly/2fXFTPd

terça-feira, maio 03, 2016

Fascistas de Direita provocam confronto e violência e são expulsos de ato pelo Dia do Trabalhador em Belém

Homem de chapéu e camisa preta deu um soco na esposa do manifestante de camisa laranja. O casal havia ido para a atividade político-cultural pelo Dia do Trabalhador e acabou envolvido em uma briga, na praça da República, na manhã deste domingo, em Belém do Pará. Foto: Paulo Castro/DOL.

Por Diógenes Brandão 

Imagens registradas neste domingo (1º), tanto por manifestantes, quanto por veículos de imprensa, na praça da República em Belém do Pará, mostram um confronto entre manifestantes que participavam do ato convocado pela Frente Brasil Popular e a Frente Povo sem Medo e um grupo de fascista que chegaram ao local com provocações e entoando palavras de ordem, exaltando o nome do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ).

Ato político-cultural pelo Dia do Trabalhador contou com uma grande faixa Foto: Glauce Monteiro/G1)
Segundo informações apuradas in loco, se não fosse a rápida intervenção da Polícia Militar, o confronto poderia ter colocado muitas vidas em risco. Mesmo não conseguindo evitar troca de socos, cuspidas e chutes entre os grupos antagonistas mais exaltados, a polícia isolou os grupos antagonistas e o evento seguiu normalmente, e segundo a coordenação, o ato reuniu cerca de duas mil pessoas e unificou três centrais sindicais, além de militantes do PT, PCdoB e PSOL. Além de um café da manhã servido pela CUT e CTB, em frente ao Teatro da Paz, diversos artistas participaram da atividade, revezando-se no microfone de um trio elétrico, na avenida presidente Vargas, onde também havia uma exposição fotográfica do PT, com imagens de uma caravana que saiu do Pará para participar do dia do julgamento do impeachment, na câmara dos deputados, no mês passado.

Após o confronto, a PM isolou os dois grupos e o ato prosseguiu normalmente, finalizando com o "beijaço" em favor da democracia e contra o golpe. Foto: Frente Brasil Popular-PA.

O ato terminou por volta das 14h com um "beijaço", proposto em resposta às agressões e a violência trazida pelas provocações do fã clube paraense de Jair Bolsonaro, convocado através da internet, como pela página Direita Paraense, na qual um convite para 2100 pessoas, teve a confirmação de 229, mas sendo segundo a página da CUT-PA no Facebook, "Descaracterizados,eles primeiro tentaram se inscrever para falar no carro-som. Depois, postaram-se na frente de uma câmera da TV Liberal e começaram a hostilizar um grupo de jovens do movimento "Mulheres Pela Democracia". Formou-se uma confusão e eles foram expulsos. Houve denúncias de que dois integrantes do grupo estavam armados, mas a polícia militar fez a revista e nada encontrou. Acompanhem as fotos da confusão", conclui a postagem da central sindical, uma das coordenadoras do evento.



Assista o vídeo e as fotos de Paulo Castro, publicadas pelo portal Diário On Line.

























quinta-feira, março 17, 2016

A face verdadeira dos manifestantes de 13 de Março



Por Karol Cavalcante

No último domingo, dia 13 de março, milhares de pessoas foram às ruas, em Belém do Pará, participar das manifestações organizadas por grupos que defendem um ideário conservador e uma solução pela direita para a atual crise política e econômica brasileira.

Os organizadores do ato “falaram” em 50 mil pessoas presentes, e a Polícia Militar do Estado Pará preferiu não se pronunciar sobre os números. Outros analistas avaliaram que a presença não ultrapassou vinte mil pessoas. Ainda que os números anunciados pelos organizadores fossem verossímil, a quantidade auferida foi inferior aos números aguardados pelos organizadores, que esperavam mais de oitenta mil participantes na manifestação pelo impedimento de um governo legitimamente eleito pelo povo brasileiro.

Diferente dos movimentos de Junho de 2013 que tinham um caráter reivindicatório por mais direitos, as manifestações ocorridas no último domingo tiveram como foco central o PT, Lula e Dilma. Em Belém, os políticos do PSDB, DEM e PSD acusados de corrupção, puderam circular livremente entre os manifestantes. Entretanto, essa não foi a tônica observada no restante do País, onde o ingrediente central foi a despolitização, com destaque para a maior capital do Brasil, São Paulo, onde Geraldo Alckimin e o candidato derrotado á Presidência da República Aécio Neves foram expulsos das manifestações planejadas, organizadas e financiadas por eles mesmos. 

O Laboratório de Ciência Política da Universidade Federal do Pará (UFPA), coordenado pelo Professor Doutor Edir Veiga, realizou durante o ato uma enquete com os participantes da manifestação ocorrida na capital do Estado do Pará, aplicando 283 questionários, objetivando esquadrinhar o perfil dos manifestantes.

Os resultados desta enquete são reveladores das opiniões dos participantes no ato em relação a situação econômica, a identificação política e o posicionamento sobre ações afirmativas implementadas no país.

Perguntados sobre o partido que mais simpatizam: 3.2% responderam PMDB. Partidos como DEM e PT ficaram com 1.4% e PDT, PSB e outros não atingiram 1%. A maioria dos manifestantes (25.8%) declarou ter simpatia pelo PSDB, partido dos atuais Governador do Estado e do Prefeito da capital Zenaldo Coutinho, que se destaca por ser um dos prefeitos mais rejeitados da história de Belém, segundo as últimas pesquisas de opinião pública.

Jatene e Coutinho foram paradoxalmente poupados pelos manifestantes, embora a cidade esteja sofrendo com péssimos serviços de saúde, educação e segurança, além da tão prometida obra do BRT que tem causado um imenso transtorno aos belenenses. Quando perguntados por qual partido possui mais antipatia, o PT disparou como 77% seguido bem distante pelo PMDB com 2.8%.

Nos últimos 13 anos de governos pós neoliberalismo no Brasil um conjunto de políticas de distribuição de renda e políticas afirmativas foram implementadas. Entre as principais, podemos destacar o programa Bolsa Família e as cotas para negros e estudantes de escolas públicas. Essas políticas garantiram que uma parcela da sociedade historicamente excluída, tivesse acesso a políticas públicas até então asseguradas a bem poucos.

Com um público majoritariamente de classe média e classe média alta, que condenam a ascensão social, os manifestantes que participaram dos atos em Belém, disseram rejeitar as políticas de distribuição de renda e garantia de direitos às minorias.

Sobre o sistema de cotas das universidades públicas 61.8% dos entrevistados afirmaram discordar dessa política pública por ser uma política populista do PT. Este número é maior ainda quando a pergunta é sobre o programa bolsa família, 67.8% disseram ser contra, 25.1% disseram ser a favor e 6.7% não sabem/não responderam. A ampla maioria dos entrevistados na manifestação que afirmaram ser contra os programas de distribuição de renda e inclusão social possuem renda mensal acima de 5.000 mil reais.

Ao que tudo indica a oposição liderada pelo PSDB, principal fonte da mobilização e financiamento dos atos, não conseguiu capitalizar politicamente as manifestações. Perguntados sobre o envolvimento do candidato derrotado nas últimas eleições presidenciais 56.5% disseram acreditar que o tucano Aécio Neves está envolvido em corrupção, 9.5% disseram que não e 23.3% talvez e 10.2% dos entrevistados disseram não sabem ou não responderam.

Em relação ao impedimento da presidenta Dilma 23.7% responderam que ela deve sair se houver prova de envolvimento com corrupção, 59.4% disseram que ela deve sair pois já existe prova de corrupção, 14.1% de que ela deve sair devido as pedaladas fiscais e 1.1% entendem que ela deve sair porque é comunista, 1.8% não sabem ou não responderam. Ou seja, 23.7% dos que foram ás ruas em Belém, no último domingo, não estão totalmente convencidos do envolvimento da presidenta nos escândalos de corrupção, tão pouco do seu afastamento.

Nesta sexta-feira, 18 de março, em ato convocado pela Frente Brasil Popular que reúne centenas de sindicatos, entidades e movimentos sociais, será a vez dos apoiadores do governo saírem às ruas. Sem o apoio midiático e direito de transmissão ao vivo pela TV globo, os apoiadores de Lula e Dilma e da tão jovem e frágil democracia brasileira terão a tarefa de mobilizar aqueles e aquelas que ainda acreditam nas instituições, na democracia e principalmente os que não querem a volta do tempo onde só a elite brasileira frequentava as universidades, andava de avião, enquanto os trabalhadores brasileiros ficavam as margens dos bens que deveriam ser coletivos produzido na sociedade brasileira.

Este é o verdadeiro embate que está sendo travado na arena da disputa política em curso em nosso país. Estamos em um estado de disputa social onde uma parcela representativa das classes médias e altas conspiram pela retirada de direitos conquistados. Cabe a nós, que defendemos a continuidade dos avanços, exigir mudanças na política econômica que possibilite a retomada do crescimento e a ampliação dos programas sociais. Para nos reconectarmos com as camadas populares é necessário afastar de vez as medidas de austeridades, reformas impopulares e de ajustes fiscais que só nos distanciam da nossa base social. É preciso retomar o programa vitorioso de 2014 por mais mudanças, por mais direitos, para garantir a nossa vitória já conquistada nas urnas, nas ruas!

*Karol Cavalcante é socióloga e atualmente Secretária Geral do PT do Pará.

segunda-feira, janeiro 18, 2016

‘Jornalista’ que chamou Chico de ‘ladrão’ e ‘canalha’ pede desculpa


Na Folha

O antiquário e jornalista paulista João Pedrosa enviou uma carta a Chico Buarque de Hollanda pedindo desculpas por afirmar que o cantor tinha “orgulho de ser ladrão”.


Ele tomou a decisão depois que Pedrosa postou uma mensagem no perfil de uma de suas filhas do cantor, Silvia Buarque, no Instagram. Ela havia publicado uma foto em que aparece, pequena, ao lado do pai e da irmã, Helena. “Família de canhalhas!!! Que orgulho de ser ladrão!!!”, escreveu Pedrosa.


Na carta, enviada também à coluna e ao Painel do Leitor da Folha, Pedrosa afirma que errou e se excedeu. Diz acreditar que tanto ele quanto Chico querem “a mesma coisa para os brasileiros por vias opostas”. A do cantor “é o socialismo, e a minha, o capitalismo”.

Escreve que sua “revolta” e “indignação” com o momento atual do país são extremas e que por isso cometeu o erro de xingar a família do compositor. “Espero que acredite que o meu arrependimento é sincero”, afirma.



A íntegra da carta:

“Carta a Chico Buarque e família,

Estou escrevendo essa carta para me desculpar, se isso for possível. Eu errei e me excedi ao insultar a sua família. Infelizmente a política brasileira nos colocou em campos opostos, assim como acontece com toda a nação.

Quero crer que nós queremos a mesma coisa para os brasileiros por vias opostas, uma vida digna e próspera. A sua via é o socialismo, e a minha, o capitalismo. Desde a eleição da presidente, o Brasil entrou numa espiral negativa de ódio de classes, racial e política, que mergulhou o Brasil num caminho de decadência econômica, moral e social inegáveis, que eu acredito tragicamente irreversíveis, foi isso que motivou o meu ódio, e o meu comentário errado e infeliz.

O meu insulto foi motivado por sua associação ao PT e ao MST, são eles que eu considero ameaça à nossa dignidade e nossa democracia. Fui motivado pelas mulheres que estão dando à luz nas calçadas, aos velhos sem atendimento nos chãos dos hospitais, e principalmente, aos milhões de pais de famílias impedidos de darem pão e dignidade às suas famílias e vidas, enquanto os políticos patrocinam copas e olimpíadas, e o enriquecimento, e poder pessoal deles.

Espero que acredite que o meu arrependimento é sincero, e eu afirmo que é, mas também são extremos a minha revolta e indignação com o nosso momento atual, foi isso que motivou o meu erro. 

Sem mais, sinceramente,

João Pedrosa”

domingo, janeiro 10, 2016

A quem serve a classe média indignada?



Por Marcelo Coelho, na Folha.

Cientista político e presidente do Ipea rejeita, em novo livro, interpretações do Brasil como a de Sérgio Buarque de Holanda. Negando a ideia de que jeitinho e corrupção sejam exclusividades nacionais herdadas da colonização, aponta o "racismo de classe" e o abandono dos excluídos como raízes dos problemas do país.

Confusão entre o público e o privado, compadrio, herança católica portuguesa, predomínio das relações pessoais e familiares sobre o sistema de mérito, corrupção. Ao contrário do que em geral se pensa, nada disso é característica exclusiva do Brasil.

Para Jessé Souza, presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), vinculado ao Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, e doutor em sociologia pela Universidade de Heidelberg (Alemanha), criou-se no Brasil, à esquerda e à direita, um legado de equívocos a partir do pensamento de Sérgio Buarque de Holanda (1902-82), que merece ser classificado como um verdadeiro "complexo de vira-lata".

Para o professor de ciência política na UFF (Universidade Federal Fluminense), que acaba de lançar "A Tolice da Inteligência Brasileira" [Leya, 272 págs., R$ 39,90, e-book, R$ 26,99], a intelectualidade do país tende a idealizar as sociedades capitalistas avançadas, imaginando que em países como Estados Unidos ou França predomine a plena igualdade de oportunidades e a completa separação entre o Estado e os interesses privados. Mas o peso das origens familiares, do capital cultural acumulado ao longo de gerações, das pressões empresariais sobre o poder público está presente, diz ele, em qualquer país capitalista.

Autor de estudos sobre Max Weber (1864-1920) e Jürgen Habermas, Jessé Souza desenvolve, em "A Tolice da Inteligência Brasileira", um sofisticado argumento teórico para mostrar de que modo o conceito weberiano de "patrimonialismo" –fundamento das críticas de Raymundo Faoro (1925-2003) à imobilidade do sistema social brasileiro e ao fracasso do capitalismo e da democracia entre nós– não foi originalmente pensado para ter aplicação nas sociedades modernas.

Ao interesse teórico que marcou o início de sua carreira, Jessé Souza tem acrescentado, nos últimos anos, um intenso trabalho de investigação empírica, do qual resultaram livros como "Os Batalhadores Brasileiros: Nova Classe Média ou Nova Classe Trabalhadora?" (editora UFMG, 2010), e "A Ralé Brasileira: Quem É e Como Vive" (ed. UFMG, 2009).

O problema da economia e da democracia brasileiras, argumenta Souza, não nasce de supostas deficiências culturais que tenhamos frente aos países desenvolvidos, mas da incapacidade do sistema para integrar um vasto contingente de excluídos, a quem faltam não apenas recursos materiais, mas equipamentos básicos de educação, autoestima e cidadania.

A lição de Florestan Fernandes, em especial de seu livro de 1964, "A Integração do Negro na Sociedade de Classes" (ed. Globo), é das poucas que saem preservadas do implacável julgamento crítico de "A Tolice da Inteligência Brasileira", repleto de palavras duras contra Roberto DaMatta, Fernando Henrique Cardoso e outros mestres do pensamento social entre nós.

Folha - As ciências sociais brasileiras –com influência no discurso da imprensa e das classes médias– têm insistido no conceito de "patrimonialismo": a prática de tratar bens públicos como se fossem propriedade de uns poucos personagens com acesso permanente ao poder político. Você critica esse conceito, chamando-o de "conto de fadas para adultos". Poderia explicar?

Jessé Souza - O conceito de patrimonialismo foi contrabandeado de Max Weber sem a menor preocupação com a contextualização histórica que é fundamental em Weber. Acho que isso está bem fundamentado no livro, mas a "incorreção científica" não é a questão principal aqui.

O patrimonialismo só sobrevive como um conceito que quer dizer alguma coisa em um contexto que pressupõe o complexo de vira-lata do brasileiro. Essa é a questão principal. É só porque se imagina, candidamente, que existam países onde não há a apropriação privada do Estado para fins particulares –os EUA para os liberais brasileiros seriam esse paraíso– que se pode falar de patrimonialismo como particularidade brasileira.

Imagine a meia dúzia de petroleiras americanas, que mandavam no governo Bush filho, atacando o Iraque, com base em mentiras comprovadas, pela posse do petróleo. E com isso matando milhões de pessoas e desestabilizando a região até hoje com consequências funestas que todos vemos.

Quer melhor exemplo de apropriação privada do Estado para fins de lucro de meia dúzia sem qualquer preocupação com as consequências? A verdadeira questão é sempre em nome de que e de quem se apropria do Estado: para o lucro de meia dúzia –como foi a regra no Brasil e que é a real motivação do impeachment de hoje– ou para a maioria da sociedade.

Minha tese é a de que, no Brasil, o patrimonialismo serve para duas coisas bem práticas:

1) A primeira é demonizar o Estado como ineficiente e corrupto e permitir a privatização e a virtual mercantilização de todas as áreas da sociedade, mesmo o acesso à educação e à saúde, que não deveria depender da sorte de nascer em berço privilegiado;

2) Serve como uma espécie de "senha" de ocasião para que o 1% que controla o dinheiro, a política (via financiamento privado de eleições) e a mídia em geral possa mandar no Estado mesmo sem voto. Não é coincidência que tenha havido grossa corrupção em todos os governos, mas apenas com Getúlio, Jango, Lula e Dilma, governos com alguma preocupação com a maioria da população, é que a "senha" do patrimonialismo tenha sido acionada com sucesso. Somos ou não feitos de tolos?

A corrupção no Brasil, segundo muitos analistas, teria causas culturais, originadas na tradição ibérica e católica. Qual a sua discordância com relação a essa tese?

Essa versão é falsa. Ela é "pré-científica", já que examina o fenômeno da transmissão cultural nos termos do senso comum que pensa mais ou menos assim: "Se meu avô é italiano, então também sou". Depende. A língua comum facilita certas interações, mas o decisivo e o que efetivamente constrói os seres humanos são as influências das instituições, como a família, a escola, a economia e a política.

No Brasil, desde sempre, temos a escravidão como uma espécie de "instituição total" que determinou um tipo muito peculiar de família, de religião, de poder político, de exercício da justiça, de produção econômica, tudo isso muito distinto de Portugal, que desconhecia a escravidão, a não ser de modo muito tópico e localizado.

A Igreja Católica, por exemplo, tinha muito poder e continha o mandonismo dos grandes senhores. Aqui o "senhor de terras e gente" mandava em tudo sem peias. O Brasil desde o ano zero foi, portanto, uma sociedade singular, apesar de colonizada por Portugal. Mas foi a partir desse engano que se criou uma ciência culturalista frágil e superficial, baseada no senso comum que hoje ganha a mente e os corações dos brasileiros de tão repetida por todos.

O mais importante é que essa falsa ciência que constrói o brasileiro como inferior –posto que ligado ao "corpo" como emotividade e sexo, se opondo ao europeu e americano que seriam o "espírito", intelecto e moralidade distanciada– serve a interesses políticos. Esse racismo pela cultura só substitui o "racismo racial" clássico, mantendo todas as suas funções de legitimar privilégios.

Na dimensão internacional, a intelectualidade brasileira dominante, colonizada até o osso, engole o racismo cultural e torna ontológica a suposta inferioridade brasileira; na dimensão interna e nacional, serve para separar "classes do espírito", como a classe média "coxinha", que seria "ética", posto que escandalizada com o "patrimonialismo seletivo" criado pela mídia, e as classes populares, tidas como "amorais", posto que guiadas pelo interesse imediato.

Essa espécie de "racismo de classe", falso de fio a pavio, é o fio condutor do empobrecido debate público brasileiro.

Você é muito crítico com relação a um dos formuladores desse "culturalismo", Sérgio Buarque de Holanda. As teses de "Raízes do Brasil" foram expostas em 1936. Será que ao menos naquela época a crítica a um Estado sem meritocracia, baseado no favoritismo e nas relações familiares, não era correta?

Eu gostaria antes de tudo de saber onde fica esse país maravilhoso, formado apenas pelo mérito, que não favorece ninguém e onde relações familiares não decidem carreiras. Quem conhecer, por favor, me avise. Eu passei boa parte de minha vida adulta em países ditos "avançados" e nunca conheci um assim. A própria crença de que exista algo assim prova como o racismo e a "vira-latice" tomou conta de nossa alma.

Sérgio Buarque de Holanda é o pai desse liberalismo amesquinhado e colonizado brasileiro. É necessário sempre separar a "pessoa" da "obra" e de seus efeitos sociais, que são o que importa. O liberalismo é fundamento importante da democracia, mas existem várias maneiras de ser liberal, e a nossa maneira é a pior possível.

Buarque criou a semântica do falso conflito que permite encobrir todos os conflitos sociais verdadeiros entre nós e que nos faz de tolos até hoje. A absurda separação entre um Estado demonizado como corrupto e ineficiente e o mercado como reino de todas as virtudes, quando os dois no fundo são indissociáveis, só serve como mote para a meia dúzia que manda no Brasil e controla o dinheiro, a política e a informação via mídia virar o país de ponta-cabeça só para ter mais dinheiro no bolso.

Como não se pode dizer que o que se quer é uma gorda taxa Selic e o acesso "privado" às riquezas brasileiras, como petróleo e ferro, para essa meia dúzia, então diz-se que é para acabar com o "mar de lama", sempre só no Estado, se ocupado por partidos populares, e sempre seletivamente construído via mídia conservadora em associação com as instituições que querem aumentar seu poder relativo vendendo-se como "guardiãs da moralidade pública".

É esse discurso que transforma milhões de pessoas inteligentes em tolas. Essa parcela da classe média conservadora é explorada por esse 1% que lhe vende os milagres da privatização brasileira: a pior e mais cara telefonia do globo, por exemplo, campeã de reclamações. De resto, todos os bens e serviços produzidos aqui são piores e mais caros. Mas dessa espoliação da classe média por um mercado superfaturado que vai para o bolso do 1% mais rico ninguém fala.

O filho do "coxinha" quer ter acesso a uma boa universidade pública, e o avô dele, quando está doente e o plano não paga, tem que ir ao SUS para doenças graves e tratamentos caros. Um Estado fraco só serve ao 1% mais rico que pode ficar ainda mais rico embolsando a Petrobras a preço de ocasião. O "coxinha" só é feito de tolo.

A classe média "coxinha" que sai às ruas tirando onda de campeã da moralidade, por sua vez, explora e rouba o tempo das classes excluídas a baixo preço para poupar o tempo do trabalho doméstico e investir em mais estudo e mais trabalho valorizado e rentável.

Luta de classes não é só cassetete na cabeça de trabalhador. É uma luta silenciosa e invisível (para a maioria) que implica monopólio de recursos para as classes privilegiadas e condenações à miséria eterna para a maioria dos 70% que não são da classe média ou do 1% mais rico. A fanfarra do patrimonialismo e da corrupção só do Estado serve, antes de tudo, para tornar essas lutas invisíveis.

Como você vê a obra de Roberto DaMatta nesse contexto?

A obra dele, que reflete fielmente as discussões de botequim de todo o Brasil, foi uma tentativa de "modernizar" Buarque. O mais irritante é que esse pessoal "tira onda" de crítico ao repetir as platitudes do Estado patrimonial e do "jeitinho" como prova da queda ancestral do brasileiro médio para auferir vantagens por relações de conhecimento com poderosos.

A tese central de DaMatta, que se tornou uma espécie de "segunda pele" do brasileiro médio, é a de que a hierarquia social brasileira é fundada no capital social de relações pessoais. Essa seria a peculiaridade brasileira que viria de épocas ancestrais. Desde que a gente reflita duas vezes, essas teses caem como castelo de cartas. Se não, vejamos.

O leitor que nos lê conhece alguém com acesso a relações pessoais com pessoas poderosas sem, antes, ter capital econômico ou capital cultural? Se o leitor conhecer, então DaMatta tem razão na sua tese do jeitinho.

Como desconfio de que o leitor não conhece ninguém assim, então o que DaMatta faz é tornar invisível a distribuição injusta de capital econômico e cultural e, com isso, sepultar qualquer reflexão sobre a origem social de toda desigualdade.

Para completar supõe –no fundo a cândida e infantil crença nos Estados Unidos como paraíso na terra– que existam países onde o capital em relacionamentos não decida previamente a vida da maior parte das pessoas. Teoria mais frágil e colonizada impossível. Mas é ela que faz a cabeça do brasileiro médio hoje.

Ao lado do "culturalismo conservador", você critica o economicismo de raiz marxista. Quais as suas restrições a esse modelo explicativo?

É que o capitalismo não é só troca de mercadorias e fluxo de capital. É preciso, por isso, superar o economicismo, seja liberal, seja marxista. O capitalismo é também um sistema social e moral que avalia todo mundo e que humilha e despreza uns e enobrece e legitima a felicidade de outros.

É essa hierarquia social "invisível" (mas cuja realidade o estudo empírico pode mostrar) que diz o que é certo e errado, verdadeiro ou falso. O capitalismo é, portanto, um sistema de classificação e desclassificação que predetermina quem ganha e quem perde e legitima esses lugares.

No livro, que resume meus 35 anos de trabalho teórico e empírico sobre esses temas, procurei mostrar que esses sistemas de classificação são os mesmos para Brasil e Argentina, do mesmo modo como atuam na França ou na Inglaterra.

A peculiaridade do Brasil é a tolerância com o abandono da classe dos excluídos que chamo provocativamente de "ralé". Todos nossos problemas –insegurança, baixa produtividade, serviços públicos de má qualidade– advêm do esquecimento dessa classe.

A corrupção existe em todos os países, você diz. Mas certamente há diferenças de grau entre a Dinamarca, digamos, e o Brasil.

A corrupção é endêmica ao capitalismo. Se corrupção for enganar o outro, então o capitalismo é certamente mais engenhoso que qualquer outro sistema social.

O que outros países como a Dinamarca ou Alemanha não têm é a corrupção "pequena" –a única que o cidadão feito de tolo enxerga no cotidiano– do agente público mal remunerado, como os policiais entre nós. Existem também arranjos institucionais mais ou menos bem-sucedidos.

O Brasil ganharia com o financiamento público de eleições e com uma reforma política que tornasse mais transparente a relação com a economia. É nisso que falta avançar. Mas é preciso mesmo ser muito ingênuo para não perceber que a "grossa corrupção", a que drena capitais e privilégios para uma pequena minoria, é universal. Dilma tentou comprar essa briga no Brasil, enfrentando o grande capital especulativo. Hoje fica claro que esse pessoal não a perdoou pela ousadia.

Suponha-se que Sérgio Buarque de Holanda, Raymundo Faoro e Roberto DaMatta estejam errados ao atribuir a uma particularidade brasileira, a um vício cultural católico português a inexistência de um sistema de mérito real, de uma real impessoalidade do Estado e de uma legítima situação de igualdade de oportunidades no Brasil. Mesmo que essa situação não corresponda à realidade de um país como os Estados Unidos, que esses autores idealizam, será que essa crítica não expressa um desejo de transformação importante? Em vez de anular o valor dessa crítica, poderíamos alargar sua dimensão estendendo-a a outros países.

O único caminho seguro, na vida pessoal ou na coletiva, é a verdade. Não se pode pensar uma sociedade e suas contradições alargando uma concepção falsa desde os pressupostos. Nem há razão para isso.

O livro mostra, creio eu, que é possível um novo caminho para a percepção do Brasil e de suas singularidades. Um caminho que não vise apenas preservar os privilégios absurdos de uma pequena elite socialmente irresponsável, legitimados por uma pseudociência, mas que possa, inclusive, recuperar a inteligência viva dessa mesma classe média que é hoje manipulada a agir contra seus interesses.

Você diz que as classes médias, predominantes nas manifestações de junho de 2013, são feitas de tolas quando compram automóveis com o triplo da taxa de lucro dos países europeus, pagam taxas de juros estratosféricas e usam serviços de celular entre os mais caros e ineficientes do mundo. Mas não teriam razão, do ponto de vista de seus interesses, ao reclamar de impostos que são uma parcela enorme do preço de bens como veículos automotores e geladeiras?

A estrutura de impostos no Brasil tem de ser efetivamente revista no sentido de evitar impostos indiretos em produtos e serviços e atingir mais a renda diferencial, e, muito especialmente, o patrimônio. Desse ponto de vista, ela pode ter um pouco de razão.

Mas o ponto mais importante para a tolice da classe média é que o Estado funciona como arrecadador de impostos, antes de tudo, para bancar e garantir a drenagem de recursos arrecadados da sociedade como um todo para a meia dúzia de plutocratas que manda na economia, na política via financiamento de eleições e na mídia. O pagamento de juros para essa meia dúzia e seus colegas estrangeiros –o único aspecto que ninguém nem sequer pensa em cortar em ocasiões de crise– compromete, por exemplo, o investimento em educação e saúde de qualidade para todos.

O plutocrata vai aos EUA se operar se for preciso e manda o filho estudar em Miami ou na Suíça, como acontece realmente hoje em dia. A classe média que sai às ruas para apoiá-lo precisa do SUS quando a chapa esquenta e só conta com a universidade pública aqui mesmo para o filho. Ao mesmo tempo, paga os serviços e produtos mais caros e de menor qualidade relativa do globo no nosso mercado superfaturado. Esse "extra" também é um imposto que sai da classe média direto para o bolso da elite econômica. Mas dele nunca se fala.

Essa classe média, portanto, é espoliada pela elite por mecanismos tanto de Estado quanto de mercado, e é ela que depois sai às ruas para defender os interesses dessa mesma elite usando o espantalho seletivo da corrupção apenas estatal.

Essa é a real história da tolice pré-fabricada entre nós.

O sentimento anti-Estado e pró-mercado tende a ser conservador e perverso no Brasil. Mas não poderíamos acusar a esquerda, em especial o PT, de um excessivo "estatismo", não no sentido econômico, mas no de considerar que a transformação social poderia vir de uma simples conquista do poder político pelo partido de esquerda? Em vez de privilegiar formas de auto-organização e de capilarização do partido nas periferias, o PT procurou agir "a partir de cima", e não "a partir de baixo". Como resultado, vemos nas periferias todo tipo de igrejas evangélicas, mas nenhum núcleo ou sede distrital de partidos políticos. O preço para assumir o poder sem essa organização foi a aliança com os setores mais retrógrados da política brasileira, como Collor, Maluf, os ruralistas e a bancada evangélica. O "estatismo" de esquerda, nesse sentido, não seria uma repetição para pior do populismo? O petismo não seria também um conto de fadas para adultos?

O principal erro do PT para mim foi duplo e reflete sua dependência da narrativa liberal tão importante nele quanto em um partido conservador da elite como o PSDB. Esse foi um dos temas centrais do livro: mostrar que a ideologia liberal amesquinhada dominou também a dita "esquerda", colonizando a tradição social-democrata ou socialista democrática.

O PT teria que ter criado uma narrativa independente mostrando a importância do passo a passo da ascensão social possível e mostrando as dificuldades também –sem cair, por exemplo, na fantasia da nova classe média, que gerou expectativas desmedidas.

Essa narrativa poderia ter sido uma versão politizada, mostrando a importância da política inclusiva e da "vontade política" para a mobilidade social, de modo a se contrapor à leitura individualista da ascensão social da religião evangélica.

Mas, para isso, teria sido necessário tocar no nó górdio da dominação social no Brasil, que é o papel de "partido político da elite" assumido pela imprensa conservadora desde o golpe contra Getúlio. É ela, afinal, quem chama a classe média moralista e feita de tola às ruas e é ela que manipula seletivamente e a seu bel-prazer o tema da corrupção como única moeda dos conservadores para mascarar seus interesses mais mesquinhos em pseudointeresse geral. É ela quem tira onda de "neutra", quando apenas obedece ao dinheiro.

O medo desse confronto foi a real causa do que agora acontece. Em uma sociedade midiática, onde toda informação vem de cima para baixo, tem que existir o contraditório, a opinião alternativa, senão o voto do eleitor não é esclarecido nem autônomo, ou seja, rigorosamente, não tem democracia. Nesse sentido estamos mais perto da Coreia do Norte do que da Inglaterra ou da Alemanha. Confiar apenas nos "movimentos sociais" nesse contexto é ingenuidade. Esses movimentos também estão sob a égide do discurso único da mídia conservadora. Essa é para mim a real razão do fracasso relativo do projeto petista.

MARCELO COELHO, 57, é colunista da Folha.

quarta-feira, setembro 09, 2015

Senta aqui, Fábio



"Com uma única frase e uma única bandeira, Fábio representou as toneladas de ódio que o reacionarismo à braZileira tem espalhado por 2015, deu-se a palmatória do mundo, fez-se Judas das esquerdas..Em surto aparente de fixação anal, Fábio imaginou (e descreveu) o dedo mindinho de Lula (morto e enterrado na fábrica, há décadas) enfiado no ânus dos brasileiros, nosso, dele, do Fábio.."


Não sei se está acontecendo no mundo lá fora ou se é um fenômeno na linha do tempo do meu Twitter, frequentada por comentaristas que eu mesmo selecionei seguir. Mas o fato é que meu adorado cantor Fábio Jr. conseguiu uma façanha inédita na primeira semana de setembro deste 2015 tão exaustivo que já parece durar quatro anos. Nesta Apoteose do Ódio que estamos vivendo, por conta de umas frases trôpegas, Fabião conseguiu nivelar os odiadores aos odiadores dos odiadores.

Tal qual o leão circense de Roberto Carlos em 1964, o ódio está solto nas ruas – e nas redes, onde, pela primeira vez, vejo hordas inteiras de esquerdistas descerem ao mesmo nível dos ignorantes políticos que gritam “Lula cachaceiro/ devolve o meu dinheiro” nas avenidas. A façanha foi de Fábio.

Tanto quanto é fino e delicado na interpretação das canções do coração infantilizado machucado, o cantor de “Senta Aqui” (1984) foi grosso, grosso, grosseiro e grosseirão ao falar do Brasil (e se enrolar numa bandeira do Brasil) num evento chamado Brazilian Day, promovido sazonalmente na mais simbólica megalópole do país que mais quer roubar de nós nosso pré-sal e nosso futuro: New York, nos United States of North Améerica.

Em surto aparente de fixação anal, Fábio imaginou (e descreveu) o dedo mindinho de Lula (morto e enterrado na fábrica, há décadas) enfiado no ânus dos brasileiros, nosso, dele, do Fábio. Sua atitude, na contramão, atiçou esquerdistas e progressistas brasileir@s a dirigir contra ele, um despretensioso (e excelente) cantor romântico, um naco assustador de ódio, provavelmente aquele ódio acumulado por tanto desaforo engolido, tanta agressão suportada, tanta ofensa sublimada.

Com uma única frase e uma única bandeira, Fábio representou as toneladas de ódio que o reacionarismo à braZileira tem espalhado por 2015, deu-se a palmatória do mundo, fez-se Judas das esquerdas, virou um Wilson Simonal que tivesse servido à Globo como galã-símbolo da branquitude de um país nada branco. E então o Brasil choveu uma avalanche de Fábios do Fábio, todos à esquerda de Fábio, de Lula, de Luciana Genro, do mundo, de Deus.

Rolou de um tudo para mesmerizar o eterno meninão sedento de colo e carinho. Para desmentir o preconceito antipetista ostentado por Fábio-Ostentação, petistas xingaram esse cara de drogado, bêbado (“Fábio cachaceiro/ devolve o meu dinheiro”), carrasco de pai, o diabo.

Outros se inspiraram na fixação anal nova-iorquina do ex-garanhão e mandaram Fabião ir tomar no cu, assim, sem meias palavras (como se fosse ruim tomar no cu, não é verdade, crianças de todos os sexos?).

Alguém sugeriu malhar um boneco inflável (ou “inflávio”, como têm grafado os jornalistas estagiários desta nossa triste profissão) do Fábio, um Fábio InFlávio, um InFábio. (Esses, aleluia!, trataram com bom humor esse assunto de altíssima desimportância.)

Uma outra turma usou Bono Vox, um chato de galocha supostamente esquerdista, para depreciar nosso mais novo candidato a sucessor filosófico do roqueiro reaça Roger Lobão. O que tem o cu a ver com as calças?, perguntaria eu, sob o risco de também embarcar  na voga da fixação anal.

Gosto do Fábio cantor (e eventualmente compositor) desde a minha infância. Um bom número dos meus clássicos afetivos particulares me parecem, além disso, excelentes canções pop brasileiras: “20 e Poucos Anos”, “Quero Colo” (1979), “Eu Me Rendo”, “Seu Melhor Amigo” (1981), “Enrosca” (sua versão sexy-safada para a obra-prima soul-pop do genial Guilherme Lamounier), “O Que É Que Há”, “Seres Humanos” (1982), “Quando Gira o Mundo” (1985), “Vida”, “Caça e Caçador” (1988), “Alma Gêmea” (1994)…

Movido por esse meu amor, vi alguns shows do Fábio ao longo dos anos, o último deles em março deste ano, logo depois do início das manifestações de ódio coxinha contra os trabalhadores e as trabalhadoras do Brasil. Ensaiei escrever sobre aquele show, mas desisti, me acovardei, passei pano – porque foi um espetáculo triste, melancólico,  deprimente.

Começava pelo ambiente, um decadentíssimo Credicard Hall, o mesmo lugar onde João Gilberto cunhou, para ferir a elite paulista, o meme “vaia de bêbado não vale”. Ah, se João estivesse naquele show do Fábio… Teria uma síncope.

Nesse dia de show do Júnior, o Hall dos artistas semideuses caía aos pedaços. Os leds apagados dos telões armavam horrorosas crateras no rosto do cantor de “enrosca o mu pescoço, dá um beijo no meu queixo e geme”. Taças tortas de plástico riscado acolhiam as lágrimas de Chandon que embebedavam a elite fabista.

De início achei que era azar meu ter caído numa mesa de bêbados de visual playboy e playgirl que conversavam sem parar, xingavam Fábio quando ele cantava (ou melhor, tentava cantar) uma música menos conhecida, gritavam “fora Dilma” a plenos pulmões, afirmavam aos berros que o show estava chato. A agressividade sublimada no ar estava pelas tampas (e pensar, hoje, que aquele ainda era o começo do começo do começo).

Depois fui prestando mais atenção ao redor e vi que a minha mesa era igual a todas as outras. A comunicação entre o artista e uma plateia de ~privilegiados~ extremamente mal-educados era zero. A  única celebridade presente, que Fábio fez questão de bajular, era Ronaldo Fenômeno, que parecia tão depressivo na plateia quanto Fábio no palco. As metades da laranja, dois amigos, dois irmãos. Saímos calados e sorumbáticos do show.

Os meses se amontoaram de março para cá, em clima de progressiva exaustão. Ninguém aguenta mais o arco tenso em que os verdadeiros decadentes transformaram nosso país. Ninguém aguenta mais. À esquerda, à direita e ao centro, ninguém aguenta mais.

O governo não acerta em debelar crises inventadas e falsificadas, menos ainda as que têm algum fundamento. Os odiadores não acertam em içar bonecos infláveis para navegar no mesmo espaço habitado por helicópteros lotados de cocaína e jatinhos sem nota fiscal.

A mídia que fomenta o ódio transforma (moto contínuo) ódio em falência e falência em ódio. Destila ódio no garrafão de pinga (Lula cachaceiro! Fábio cachaceiro!), dissemina ódio para seres submissos que leem jornais, assistem a telejornais e frequentam(os) shows burocráticos e hierárquicos de MPB.

Fábio, um notório artista não-militante, senta lá e vê o público que o humilha gritar “fora Dilma” e tem a brilhante ideia: vou ser igual a eles. As metades da laranja. Dois amigos. Dois irmãos.

O petista de tez autoritária vê o triste espetáculo protagonizado por Fábio contra Lula e Dilma e tem a brilhante ideia: vou ser igual e ele, a eles, a todo mundo que me trata como lixo o tempo inteiro. As metades. Da laranja.

Fábio, um notório artista não-militante, senta lá e vê o público que o humilha gritar “fora Dilma” e tem a brilhante ideia: vou ser igual a eles. As metades da laranja. Dois amigos. Dois irmãos.

O petista de tez autoritária vê o triste espetáculo protagonizado por Fábio contra Lula e Dilma e tem a brilhante ideia: vou ser igual e ele, a eles, a todo mundo que me trata como lixo o tempo inteiro. As metades. Da laranja.

Não estamos em ano de eleição (ou estamos, no moto contínuo da eleição perpétua). Não é ano de Copa, não tiramos 7 a 1 na prova de cultura política (essa, por sinal, é uma disciplina que até pouco tempo atrás nem estava incluída nas nossas grades escolares). Ainda não é ano de Olimpíada (vai ter!).

O nível de tensão estrangula tod@s, não há seres humanos que aguentem esta vida sem tréguas. Dá vontade de fazer a Wanderléa e sair gritando enrolada na bandeira verdamarela: por favor, senhores juízes, parem agora!

sexta-feira, julho 03, 2015

Fã de Bolsonaro e membro do 'Revoltados OnLine' xinga Dilma nos EUA



Elogiada pelo presidente Barack Obama e várias outras autoridades políticas e empresariais, como Mark Zuckerberg, em sua visita aos Estados Unidos, a presidente Dilma foi hostilizada por um manifestante anti-petista, identificado como Igor Gilly Teles.

O ativista que é ligado ao "Revoltado OnLine" assumiu em um hangout, ser de direitaconservador e que teve a audácia de se passar por jornalista para entrar no hotel onde Dilma estava hospedada, no Estado de São Francisco e chegou a encostar o ouvido em todas as portas dos quartos, para descobrir onde Dilma estava hospedada, mas não a encontrou.

No entanto, foi disfarçado de estudante americano que ele conseguiu gravar um vídeo onde aparece ofendendo a presidente na Universidade de Stanford. O ato foi planejado por um pequeno grupo de pessoas que se declaram anti-petistas e mesmo acompanhada pela ex-secretária de Estado Condoleezza Rice, Dilma foi chamada de ladra, assassina, terrorista e comunista de merda, entre outros termos peculiares do jargão ultimamente utilizado pelos 'militantes' da direita brasileira.
Diante de seguranças e da comitiva presidencial, o jovem ficou à vontade para proferir várias ofensas à chefa da nação, em plena agenda oficial nos EUA. Como já havia planejado o vídeo foi parar no seu facebook, onde seu perfil não mostra qual é a sua profissão e nem o que faz nos EUA, apenas fotos com maçons e seus ídolos, entre eles o não menos polêmico deputado federal Jair Bolsonaro.

No entanto, comenta-se nas redes sociais que Igor foi aluno do PROUNI e está nos Estados Unidos como bolsista do programa federal "Ciência sem Fronteiras".


Entre elogios e protestos, internautas comentam com as agressões verbais contra a principal mandatária do país, tipificado no código penal como calúnia, injúria e difamação. Com essa atitude, há quem diga que Igor pode responder por outros crimes, além de ser enquadrado na Lei de Segurança Nacional.


Já pensaram se o mesmo acontecesse com o presidente americano no Brasil?


domingo, junho 28, 2015

Esquerda se une contra onda conservadora e reacionária


Depois de muitos anos sendo proferido, o bordão: "A esquerda só se une na cadeia", parece que está com seus dias contatos. Pelo menos é essa a impressão que fica, após a matéria de Daniela Lima, "Negociação avança e frente de esquerda é batizada de 'Grupo Brasil'", publicada na Folha de São Paulo, deste sábado. 

As negociações pela criação de uma frente de esquerda avançaram neste sábado (27). Após uma longa reunião em São Paulo, dirigentes do PT, PSOL, PCdoB e movimentos sociais, fecharam uma pauta de eventos para divulgar as atividades e anseios do que agora será chamado de "Grupo Brasil", o embrião da coalizão.

Os cabeças do movimento marcaram um novo encontro para o dia 25 de julho, no qual vão discutir as diretrizes do grupo num encontro que contará com a participação de economistas que falarão sobre os problemas da economia e o ajuste fiscal promovido pelo governo da presidente Dilma Rousseff.

Dois nomes foram mencionados pelos integrantes da reunião de hoje para integrarem o próximo encontro: Luiz Gonzaga Beluzzo e Márcio Pochmann. Ambos têm feito críticas à política econômica implementada no segundo mandato da presidente. Após essa segunda reunião, o grupo pretende lançar um documento apontando o que pensa sobre os rumos do país e da esquerda.

O "Grupo Brasil" também definiu que haverá uma primeira conferência nacional da frente, prevista para acontecer dia 5 ou 6 de setembro. A ideia é que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vá a esse encontro.

A iniciativa é uma aposta para fortalecer os partidos de esquerda, em especial o PT, que atravessa a mais grave crise institucional de sua história. No encontro deste sábado, integrantes do grupo argumentaram que está em gestação um escalada do conservadorismo no Brasil, que não mira só o petismo, mas uma série de pautas progressistas, como os direitos LGBT.

Apesar de fortalecer alas e bandeiras históricas do PT, a formação do grupo pode contribuir para pressionar ainda mais o governo Dilma a mudar os rumos de suas decisões na economia e a condução das negociações com o Congresso Nacional.

RETOMADA

Militantes de esquerda que se afastaram do PT desde sua chegada ao poder, em 2003, aceitaram conversar sobre a construção da frente e participaram da reunião do grupo neste sábado. Ex-preso político e ex-deputado federal, Vladmir Palmeira, que rompeu com a sigla por discordar de sua política de alianças, por exemplo, participou do debate hoje.

O encontro foi convocado pelo líder do MST, João Pedro Stédile. Dirigentes do PT, como o presidente nacional da sigla, Rui Falcão, e o secretário nacional de comunicação, deputado José Américo Dias (SP) também ajudaram a organizar a reunião.

O PCdoB foi representado pela deputada Jandira Feghali e o ex-presidente da legenda, Renato Rabelo. O deputado federal do PSOL de São Paulo, Ivan Valente, enviou um representante. O sociólogo Leo Lince, articulador da legenda no Rio de Janeiro, também participou das discussões.

O grupo que promover, logo após seu lançamento nacional, na conferência em setembro, um "grande ato de massas", com a presença de militantes das diversas siglas e integrantes dos movimentos sociais e sindicatos.

"A ideia é ter unidade popular mesmo, não é apenas uma questão eleitoral", disse Rui Falcão, ao deixar o encontro. 

quarta-feira, maio 27, 2015

Líder da juventude pró-impeachment 'ensina' como ser um ativista liberal



Ele é um dos expoentes do movimento que pede o 'fechamento' do PT, o impeachment de Dilma e vive criando polêmicas, mas o texto publicado na internet, me chamou a atenção e resolvi trazê-lo pela primeira vez aqui neste espaço democrático e plural. 

Com vocês, um artigo que eu até duvido que seja dele, mas vamos lá!

Radicalismo na teoria = pouco resultado prático, por Kim Kataguiri*, no site do Movimento Brasil Livre

Se há uma lição que aprendi tentando propagar o liberalismo, é a de que o meio é muito mais importante que a mensagem. Não interessa o quão boas sejam suas ideias, se o meio escolhido para transmiti-las não for eficiente, elas não irão prosperar. Se as pessoas dessem grande importância para dados concretos e bons argumentos, a esquerda teria, no máximo, alcançado o poder apenas uma vez em toda a História.

A quantidade de pessoas que se interessa por complexas teorias político-econômicas não chega a 0,001% da população mundial. Tente parar num ponto de ônibus e explicar a teoria austríaca do ciclo econômico. Vão rir da sua cara e achar que você é louco. Não importa se aquilo é verdade ou se interfere diretamente na vida daquelas pessoas. Elas não estão interessadas. Primeiro porque o meio deve ser muito bem pensado, atender a uma série de critérios, segundo porque a mensagem deve ser simples.

E é por isso que se envolver em discussões intermináveis sobre hipóteses que os debatedores jamais verão na realidade é uma completa perda de tempo. Ainda mais no momento em que se encontra o nosso país atualmente. “O quão pequeno o Estado deve ser?”, “Quem defende um Estado de tal tamanho é socialista!”, blah, blah, blah... qualquer pessoa comum já estaria no sétimo sono em menos de dois minutos de discussão. Concorda que nossa situação é preocupante e que o Estado deve ser diminuído? Ótimo! Vamos discutir como diminuí-lo na prática e em meios atrativos de atrair pessoas para a nossa causa.

É claro que deve haver debate e que a mensagem a ser transmitida é importante. A questão é que se alcança muito mais se pensando no meio do que na mensagem. Só há duas regras para se escolher uma mensagem: a primeira é que ela deve ser simples, porque, como já disse, a grande maioria das pessoas não se interessa por teorias complexas. A segunda é que os que forem transmiti-la devem concordar com ela. Isso significa que se você for trabalhar com um grande número de pessoas e houver uma quantidade significativa de divergências ideológicas entre elas, deve-se alcançar um common ground. Sendo assim, a mensagem deve ser algo razoável, caso contrário não conseguirá o apoio de diferentes setores da sociedade.

Por outro lado, na hora de se escolher o meio, uma série de fatores devem ser levados em consideração. Quanto ele custa? Quantas pessoas vai alcançar? Qual a probabilidade de que ele popularize a mensagem? Quantas pessoas são necessárias para utilizá-lo? Quanto trabalho ele dará? Esses e muitos outros questionamentos são essenciais. Defender a diminuição de impostos numa palestra de estrutura gigantesca é muito menos eficiente do que defender o aumento de impostos através de um pequeno show de rock. As pessoas dão mais importância para o que passa uma imagem mais cool, mais simples de entender. É claro que um debatedor liberal bem preparado humilharia qualquer defensor do aumento de impostos. Muitas vezes aquele que defende ideias estatizantes até sabe disso. E é exatamente por isso que ele pensa muito bem no meio. Duzentas pessoas defendendo o fim do Banco Central numa manifestação causam muito menos impacto que uma feminista mostrando os seios pelo fim do sexo masculino. E muito mais pessoas lerão as baboseiras que a feminista tem a dizer em matérias que cobrirão seu protesto solitário.

Não me entendam mal, não estou pedindo que mostrem os seios em prol do liberalismo. Só defendo que haja mais esforço no pensamento da prática, do meio. Mais trabalho, menos masturbação intelectual.

*Kim Kataguiri é coordenador nacional do Movimento Brasil Livre. 

segunda-feira, maio 25, 2015

Marcha dos riquinhos para em shopping, antes de chegar em Brasília para protestar

Um punhado de afortunados, que pelo jeito não precisam trabalhar, protestam contra o governo e pedem a saída de Dilma.

Vejam só como são as coisas!

Começou sendo chamada de marcha pelo Impeachment da presidenta Dilma e mudou de nome. Agora é a marcha anti-PT. 

Qualquer cidadão sério, não consegue entender como a mídia brasileira esconde marchas simbólicas e volumosas, como as que acontecem pela Reforma Agrária e pelo direito à moradia e exalta um grupelho de jovens - que pelo que tudo indica nunca precisaram trabalhar - em sua busca por notoriedade.

O jornal espanhou "El Pais", já havia traçado o perfil dos playboys, com a matéria "Não é uma banda de indie-rock, é a vanguarda anti-Dilma" e agora vemos a clara demostração do escárnio que ganha rapidamente espaço nos principais veículos de comunicação de nosso país.

Fique com a matéria "Após 1.000 km e acidente, marcha anti-PT chega ao Distrito Federal" de Aguirre Talento e Pedro Ladeira, na Folha.

Após quase 1.000 km a pé, de carro e de ônibus, a maior parte sob sol quente, cerca de 30 manifestantes da marcha contra a presidente Dilma chegaram ao Distrito Federal no domingo (24) para protesto na quarta (27) em Brasília.

O último trecho foi o mais tenso: um acidente entre dois carros na BR-060 atingiu dois manifestantes na noite de sábado (23) –sem gravidade.

Com roupas, relógios, tênis e acessórios de grifes caras e famosas, o grupo que pede o impeachment não esconde que é rico.

O grupo saiu de São Paulo em 24/4 com 23 pessoas, mas o número flutuou ao longo da marcha, concebida pelo Movimento Brasil Livre (MBL).

A Folha acompanhou o percurso entre as cidades de Abadiânia (a 97 km de Goiânia) e Alexânia (a 120 km de Goiânia), já perto do DF.

O grupo teve ajuda de carros de apoio e tem sido acompanhado por dois ônibus nas cidades. Usam camisetas verdes e amarelas, com frases pelo impeachment da presidente e criticando o PT, e levam bandeiras do Brasil.

Na estimativa do coordenador nacional do MBL, Kim Kataguiri, 19, o custo da marcha é de cerca de R$ 40 mil –segundo ele, bancados com contribuições voluntárias. Os integrantes dizem que não pagaram hospedagem, alojando-se gratuitamente com moradores, com a ajuda de membros locais do MBL.

ADESÃO

Em Goiás, ganharam o reforço de cerca de 15 pessoas, entre elas a médica Claudina Caiado, 36, prima do senador Ronaldo Caiado (DEM). Na opinião dela, Dilma "está acabando com o país" e cita o petrolão e o mensalão.

No sábado (23), saíram de Abadiânia sob o boato de um enfrentamento com um grupo de sem-terra que acampa às margens da estrada para Alexânia, mas nada ocorreu.

A poucos quilômetros de Alexânia, veio o acidente. Uma caminhonete bateu em um carro, cuja lateral atingiu o braço de Kim e arremessou a jovem Amanda contra um carro de apoio, com pancada na cabeça e sangramento.

Em um shopping, antes de chegar em Brasília, o grupo resolveu fazer o que mais gosta: Consumir o que podem.

O grupo caminhou alguns quilômetros de Alexânia para almoçar num shopping na beira da estrada. Na pausa, que durou três horas, alguns aproveitaram para comprar em lojas de marcas famosas. 


O blog pergunta: Alguma dúvida sobre quem financia os meninos do golpe? 

Crise: Edmilson Rodrigues perde seu braço esquerdo no PSOL

Luiz Araújo deixou o PT para fundar o PSOL, onde viveu até então organizando a corrente interna "Primavera Socialista" e supostame...