Do Blog da Cristina Lemos.
Nos últimos dias acompanhei três grandes convenções partidárias que aconteceram em Brasília: a do PV, a do PMDB e a do PT. Em cada uma delas, há algo que salta aos olhos, para além da festa que se pretende fazer em torno do candidato: o artificilialismo marqueteiro, que esvazia o significado político do evento.
O palhaço que apavorou os verdes - O PV de Marina Silva, para ser política e ecologicamente correto, tentou dar um ar de “grande família” à convenção. O palco principal era composto de uma arquibancada de vários degraus, onde se acomodaram desde o pai da candidata, a representantes de minorias de todo tipo. Marina só se destacou na multidão pela blusa amarela e pelo assento relativamente próximo ao microfone.
Tanta igualdade não resistiu ao improviso de um palhaço, que, sem aviso prévio, saltou no palco para um performance não-autorizada. E passou a interpretar um texto cômico ironizando os políticos que arrancou risos da platéia. Foi tolerado até o momento em que o alvo foi José Sarney: “tão bonzinho aquele senador, dá emprego para todo mundo!”, disse o palhaço, assistido da primeira fila dos graduados pelo filho do senador, o deputado Zequinha Sarney, apoiador de Marina. O artificialismo marqueteiro não resistiu ao inesperado palhaço, que foi retirado do palco por seguranças, sob protestos do público, e confinado numa sala, de onde só saiu depois de causar outro inconveniente: virar o foco de atenção de toda a imprensa.
Os balões que atazanaram Dilma - No PMDB, outro incidente. Justiça seja feita, o partido fez o encontro mais civilizado – para seus padrões – das últimas décadas. Deu a impressão de que já vão longe os tempos em que era preciso convocar a Polícia Militar para pôr ordem na casa, de cenas como a depredação do plenário da Câmara, ou da truculência contra adversários, como a humilhação a Itamar Franco em pleno governo Fernando Henrique. Desta vez, o rebelde-quase-solitário Roberto Requião pôde discursar e espinafrar quem quisesse. E depois do show, sair de cena, é claro, para não testemunhar a própria derrota.
Foi quando decidiu dar um toque americano na convenção que o PMDB escorregou. Mandou soltar dezenas de balões sobre as cabeças dos vencedores, que, no instante seguinte, viraram arma de sabotagem do discurso de uma nervosa Dilma Rousseff. Enquanto a petista discursava, a platéia se divertia em estourar os balões, ininterruptamente. O nervosismo de Dilma foi se transformando em irritação, e o constrangimento irrecuperável tomou conta dos organizadores da festa. O veneno do artificialismo marqueteiro quase azeda o grã-finale da união Dilma-Temer.
O show petista que ninguém viu - Na convenção do PT não foi diferente. A mega-festa concebida pelo publicitário João Santana terminou espremida num clube pequeno demais para a grandiosidade que se pretendia para o evento. Faltou pouco para inviabilizar por completo o trabalho dos responsáveis por registrar as imagens e as notícias da convenção.
O espaço previsto para a imprensa não comportou um quinto do batalhão de jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas credenciados previamente pelos próprios organizadores. Era preciso subir nas cadeiras para ver o que se passava, não no palco, mas nos telões. O palco baixo demais provocou a incessante reclamação da própria platéia, que não conseguia ver nada se alguém se levantasse.
O caos se completou quando, ao final da convenção, foram distribuídas grandes bandeiras do PT na cor lilás – em homenagem às mulheres. A partir de então, com as bandeiras tremulando em toda a platéia, ninguém viu, nem filmou, nem fotografou mais nada, muito menos a cena mais importante do evento, tão cara ao publicitário: Dilma abraçada a meninas portando a faixa presidencial.
Foram eventos mornos, sem a efervescência verdadeira da construção de um projeto político. Jogos de cartas marcadas que o marqueting eleitoral tenta enfeitar. E às vezes se equivoca.