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terça-feira, outubro 04, 2016

Eleições Belém: Direita conquista a baixada que a esquerda abandonou



Por Diógenes Brandão

As possibilidades de Edmilson Rodrigues (PSOL) ultrapassar o crescimento do prefeito Zenaldo Coutinho (PSDB), se esgotaram ainda no primeiro turno. 

A esquerda paraense desaprendeu a fazer oposição, ficou preguiçosa e não vai mais pra baixada. 

Enquanto isso, os DASs da prefeitura de Zenaldo (PSDB) e do governo de Jatene (PSDB) tiram seus cordões de ouro, relógios e celulares e vão conversar com o povão nas favelas de Belém. 

Isso é visível nas esquinas à noite e durante os sábados e domingos.

Para piorar, o PSOL não quer o PT na campanha do segundo turno. 

segunda-feira, outubro 03, 2016

Os escombros do PT


A derrota eleitoral, somada ao golpe, foi avassaladora. Subestimá-la e não fazer autocrítica significa contribuir para consolidar o projeto conservador.


Por Aldo Fornazieri, na Carta Maior

As eleições municipais reduziram o PT a pouco mais que escombros. Não faltaram advertências, principalmente a partir de 2013, de que o partido se encaminhava para um desastre. As críticas foram colhidas pelos petistas de duas formas: o menosprezo arrogante por parte de quem detinha poder e direção e acusações por boa parte da militância que, também arrogante, classificava as críticas como PIG, moralistas, esquerdistas etc.

O poder fez muito mal ao PT: a estrutura partidária e dirigentes se corromperam, a militância se domesticou e os movimentos sociais que orbitavam em torno do PT começaram a orbitar em torno do Estado, sendo cooptados e perdendo a energia combativa na luta por direitos e justiça. O PT se transformou no partido dos palácios, dos gabinetes, do luxo e da arrogância. Ninguém promove tal movimento sem que desabe sobre ele, mais dia menos dia, o merecido castigo do povo.

O PT alimentou a mesma crença que as elites históricas conservadoras alimentaram desde os tempos coloniais no Brasil: a de que a sociedade pode ser moldada e transformada desde o alto, desde o Estado. Esta prática sempre engendrou dominação e não liberdade e cidadania. Enquanto esta crença permanecer vigente, o Brasil permanecerá eternamente deficiente em seu conteúdo nacional e popular e a sociedade carecerá de vínculos societários republicanos, orientados para o bem comum e para o interesse público. Aqueles que chegam ao poder sempre se tornarão representantes de grupos e interesses particularistas, a se apossar do erário público em detrimento dos interesses de caráter universalizante. Será sempre o velho patrimonialismo vestido com roupas novas.

O PT se deixou abater pelo erro mais comezinho que as esquerdas vêm cometendo desde o século XX: a corrupção. A corrupção vem sendo, ao longo das décadas, a espada nas mãos da direita e da mídia para fazer rolar as cabeças da esquerda. Os eleitores mostram-se intolerantes à corrupção das esquerdas, pois, querem ver nelas uma reserva moral da sociedade, um exemplo da administração correta da coisa pública, um cimento de ética na sociedade. Quando as esquerdas se corrompem, os eleitores se sentem traídos.

Pouco a pouco, o PT foi caminhando para aquela condição mais indesejável da política: ser odiado. Isto já era visível nas eleições de 2014. De lá para cá, a imagem do partido foi se deteriorando, seja porque as denúncias se revelaram medonhas, seja porque os ataques dos seus inimigos foram devastadores sem que houvesse uma linha de resistência e de contraofensiva. Ao mesmo tempo em que se destruía, o partido se deixava destruir. A cada ataque, a direção partidária reagia com notas burocráticas e protocolares, foi perdendo credibilidade e deixou de ostentar virtudes e força moral capazes de mobilizar a militância. Como já se disse, a direção do PT tornou-se um comitê de generais de gabinete sem exército e a militância se tornou um exército sem generais.

“Ser odiado” é a condição absoluta que precisa ser evitada em política, ensina Maquiavel. Como partido antimaquiaveliano que é, o PT, ao passar da praça para os palácios deixou de olhar a realidade com os olhos da praça, deixou de se situar na planície e passou a olhar o povo com o ângulo de mirada dos palácios. Mas não sabia jogar o jogo dos palácios e passou a acreditar em aliados que eram e são gananciosos, simuladores e ambiciosos. Emprestaram prestígio aos petistas enquanto estes lhes eram úteis e os traíram sem cerimônia na consumação do golpe. Golpe que o próprio PT ajudou a construir seja pela sucessão de erros políticos, de incompetências, e seja pela própria falta de apoio à presidente Dilma em momentos delicados em que o governo caminhava para a deriva.

Pela condução desastrosa que o PT vem tendo nos últimos anos, a direção partidária deveria renunciar nos primeiros dias desta semana. Uma comissão provisória deveria ser constituída com a tarefa de convocar e conduzir um Congresso partidário antes do final do ano. Se nenhum aceno for feito neste sentido, a tendência maior é a de que o PT caminhe para uma divisão irreversível. Não é admissível que os condutores do desastre continuem comandar um partido que foi esperança do povo brasileiro e se afogou nos seus próprios erros. Não há, em torno da atual direção, capacidades políticas, morais e intelectuais que sejam capazes de tirar o partido da crise.

Que fazer?

Esta velha pergunta, que precisa ser recolocada, suscita hoje muito mais dúvidas do que certezas às esquerdas. Antes de tudo, as esquerdas precisam se unir em torno do que sobrou dessa devastadora eleição: Freixo no Rio de Janeiro, João Paulo em Recife, Edmilson Rodrigues em Belém, Edvaldo Nogueira em Aracaju etc.

Com muitas divisões, com baixa propensão à unidade, com um ideário desconectado ao mundo contemporâneo, com organizações autoritárias e burocráticas, com uma retórica que não dialoga com a sociedade, com uma enorme crise em suas visões de mundo, as esquerdas vivem uma defensiva mundial, ao mesmo tempo em que cresce o rancor e o ódio neofascistas.

A crise das esquerdas se alinha com a própria crise civilizacional que tende a se agravar em várias dimensões: ambiental, social, econômica, humana. O mundo do futuro próximo, dizem os economistas e analistas mais atentos, será um mundo sem empregos, com populações que viverão cada vez mais. Em contrapartida, a concentração de renda e riqueza é crescente. As democracias são cada vez menos legítimas e cada vez mais incompetentes em fornecer respostas aos problemas das sociedades.

As esquerdas brasileiras pararam no tempo. Discutem os problemas com retóricas e paradigmas do século XX, quiçá, do século XIX. Nos últimos anos houve um abandono das incipientes experiências de governança democrática que vinham sendo desenvolvidas. Nos municípios, nos estados e no governo federal, os governantes, secretários e ministros ditaram as suas “verdades” às sociedades. Ao mesmo tempo em que direitos deixaram de ser garantidos, não se investiu na inovação e na qualidade dos serviços e direitos. Os governos continuaram analógicos em sociedades digitais. Reformas cruciais, seja no plano macro ou no plano micro, sequer foram cogitadas.

A ideia de aglutinar as esquerdas numa frente, que garanta a unidade na pluralidade, ganha força em face das fragilidades e derrotas recentes. A construção dessa frente, se vier a se concretizar, contudo, necessita de um processo amplo de definição de conteúdos programáticos e de métodos de condução dos processos internos. A perspectiva é a de que essa frente aglutine partidos, movimentos políticos e sociais, indivíduos e grupos cívicos, num novo tipo de organização e de relação política, sem as práticas hegemonistas e de controle burocrático, tão comuns às esquerdas.

A derrota eleitoral, somada ao golpe e às perspectivas de retrocessos em direitos, foi avassaladora. Subestimá-la, persistir nos erros e não fazer autocrítica significa contribuir para a consolidação de um projeto conservador que vem se delineando. Neste momento, o desafio das esquerdas é paradoxal: precisa construir sua unidade ao mesmo tempo em que promove um ajuste de contas.

*Aldo Fornazieri é Professor de Filosofia Política.

segunda-feira, junho 13, 2016

Ananindeua: À esquerda, volver!

Jefferson Lima e Miro Sanova são rechaçados pela militância de esquerda em Ananindeua. Jorge Farias cresce entre os elegíveis nas eleições de Outubro.


Por Diógenes Brandão

Em Ananindeua, o segundo maior município e colégio eleitoral do estado do Pará, o advogado e militante histórico, Jorge Farias (PCdoB), vem sendo o nome de consenso nas bases dos partidos de esquerda, que não abrem mão de ter uma candidatura que rompa com o ciclo de 20 anos de revezamento entre prefeitos, sempre indicados pelos caciques do PMDB e do PSDB.

Além do PCdoB e do PT, Jorge Farias pode agregar outros partidos progressistas, inclusive o PSOL que se nega a coligar com o PT em Belém, por mais que dependa de grande parte dos votos do ex-partido de Edmilson Rodrigues, candidato que lidera algumas pesquisas, mas que também tem alta rejeição e dificuldades de manter-se na liderança, quando começar a campanha eleitoral, propriamente dita.

Em diversas reuniões que acontecem desde o nano passado, militantes orgânicos e dirigentes do PT, PCdoB e PSOL de Ananindeua, rechaçam a indicação de cima pra baixo, dos nomes de Jefferson Lima e Miro Sanova, os quais são cogitados como candidatos a prefeito de Ananindeua, em conversas de bastidores, nas cúpulas partidárias que discutem entre si o mapa eleitoral de todo o estado do Pará, em escritórios de Belém, sem consultar e nem tão pouco considerar a vontade e os desejos de sua militância. 

"Miro Sanova (PDT) é velho aliado de Manoel Pioneiro, prefeito do PSDB em seu terceiro mandato e Jefferson Lima é o nome que o PMDB apresenta como "novidade", mas que na prática representa a continuidade da oligarquia que o banca, com dinheiro e visibilidade na imprensa local", conclui ao blog uma liderança que reuniu-se este final de semana com dirigentes dos partidos de esquerda em Ananindeua.

Assista o vídeo publicado pelo Blog Ananindeua Debates, onde Jorge Farias expõe os motivos que o levaram a aceitar sua indicação como pré-candidato à prefeitura de Ananindeua.


sexta-feira, maio 27, 2016

A demorada e necessária autocrítica do PT

O PT, mesmo golpeado e desmoralizado, ainda tem mais militância do que qualquer outro partido brasileiro.

Por Diógenes Brandão

Com um artigo que vai direto ao ponto, sem muitos rodeios, Saturnino Braga enumera as conquistas dos governos do PT e destaca sua importância para a construção de uma nação que estava entregue aos interesses do capital exterior e de uma burguesia nacional avessa ao desenvolvimento social pleno, que por sua vez clamava por governos que aplicavam uma política econômica fundamentada no neoliberalismo e na diminuição do Estado, trazendo arrocho salarial, desemprego e especulação financeira, o que quebrou o Brasil três vezes, quando FHC foi aumentar a dívida que o país tinha com o FMI. Lula assumiu e o pacto de governança custou caro, mas deu para fazer muita coisa avançar em relação à áreas sociais.

No entanto, os erros que os dirigentes e mandatários do PT insistem em não avaliar com sua militância e emitir sinais de autocrítica para a sociedade, levaram o petista que redigiu o texto abaixo, a insistir sobre a necessidade do partido se rever por dentro, antes que seja tarde de mais e sua militância incomparável, dê adeus aos sonhos nutridos nestes 36 anos de existência.

Saturnino é reconhecidamente um homem coerente e crítico por natureza, mas honesto e com a moral necessária para ajudar a encontrar saídas para o PT se reconstruir, o que pode ser constatado neste vídeo publicado pela GloboNews.


Fique agora com o novo artigo de Saturnino Braga, publicado no editorial da Carta Maior.


Eis o momento para o PT fazer sua autocrítica

Jamais perderá o crédito dos importantes avanços que deu à Nação Brasileira nos seus treze anos de governo: a redistribuição de renda, a valorização dos salários, como nunca antes, a multiplicação das universidades no interior, e das escolas técnicas, e a nova articulação no campo internacional, a adesão aos BRICS e a união sulamericana, que deu ao Brasil uma presença com destaque que nunca teve antes. Ademais, deu completa liberdade à polícia e à Justiça para combaterem a corrupção, desbaratarem quadrilhas, envolvendo importantes líderes políticos e empresariais, sem nenhum cerceamento ou engavetamento, como antes frequentemente se fazia. Eram seus compromissos fundamentais.

Registrados os êxitos, cumpre inventariar os erros. Houve alguns de natureza econômica, como uma desatenção em relação à prioridade do desenvolvimento industrial, uma exacerbação no incentivo ao consumo e na ampliação do crédito em direção a um endividamento excessivo das famílias, e ainda uma fixação grave na supervalorização do real ensejada pela boa onda de exportação de commodities. Erros importantes, sim; entretanto não tão graves quanto os erros políticos, que acabaram propiciando o golpe e o risco enorme de um desmanche bruto nos avanços conquistados.

O PT nasceu e cresceu com uma proposta política nova, isenta de vícios antigos, como um partido emproado que nos desprezava, a nós os lutadores históricos do campo da esquerda, como os trabalhistas, os socialistas e os comunistas. Em sua alardeada pureza, recusava alianças com qualquer outro partido, lançava sempre candidatos próprios, para construir sua militância. Pessoalmente, eu fui alvo desta intransigência ranheta do PT quando negou o apoio à minha gestão socialista na prefeitura do Rio e, mais, no momento mais agudo da crise da falência, foi um opositor duro que chegou a mover um processo de expulsão dos dois petistas que colaboravam na minha administração: Sérgio Andréa que era secretário de desenvolvimento social e Chico Alencar que era uma das figuras principais da secretaria de educação.

Brizola foi também alvo de críticas severas do PT, e deu límpida demonstração de consciência política quando, superado por Lula por uma quantidade mínima de votos, na eleição de 1990, imediatamente reuniu o PDT para, sem nenhum ressentimento e sem nenhuma condição, apoiar Lula no segundo turno.


Após a terceira derrota pela Presidência, o comando do PT deve ter concluído que, na nova configuração da atividade política instaurada pelo domínio absoluto do mercado e pela conseqüente mercantilização de todos os aspectos da vida nacional, era necessário, era realisticamente indispensável entrar no jogo mercantil e conseguir bons financiamentos para as futuras campanhas eleitorais.

Assim foi pensado, assim foi decidido, assim foi feito, suponho, e na eleição seguinte Lula saiu vencedor e foi elevado à presidência da República. José Dirceu foi a grande figura no comando deste processo. O preço que está pagando é altíssimo, e flagrantemente injusto em relação às responsabilidades de centenas de outros líderes da política e da sociedade brasileira que procederam da mesma maneira. A pena de 23 anos que lhe foi imposta agora pelo torvo juiz Moro é uma decisão hedionda.

Bem, mas o PT já não era o mesmo da pureza original e, no jogo das composições políticas para o exercício do poder, foi avançando mais e mais nas práticas da mercantilização política. Na aliança com partidos useiros e vezeiros na corrupção eleitoral, foi aprendendo e praticando com maior desenvoltura as mesmas normas. A saída, discreta mas significativa, de Frei Betto das funções que exercia no Palácio foi um primeiro aviso, que o PT não quis perceber. O episódio rumoroso do mensalão e a saída do grupo de militantes que fundou o PSOL foi um segundo e definitivo aviso. Que o PT ainda não quis escutar.

Claro que, paralelamente, no exercício do poder, e no apego a este exercício, descuidou-se também das sua ligações históricas com os movimentos sociais e foi perdendo apoios importantes na sociedade.

O desfecho foi o golpe, a imprevidente abertura do flanco para o golpe, que atingiu a Presidenta, que certamente teve os seus erros mas nunca, jamais, entrou na prática ilícita de muitos dos seus companheiros. Mas atingiu especialmente o Partido dos Trabalhadores, assim como o seu líder maior, Luiz Inácio Lula.

Muito ruim tudo isso para o PT, que agora tem que fazer sua autocrítica e se reorganizar para um futuro incerto. Incerto porém não desesperador. Nas eleições seguintes a todo este triste episódio, os empresários doadores com certeza serão muito parcimoniosos nos seus investimentos eleitorais, e os partidos que puderem contar com militância própria terão melhores condições de campanha. Pois certamente o PT, mesmo golpeado e desmoralizado, ainda tem mais militância do que qualquer outro partido brasileiro.

Pior que o PT está a Nação Brasileira e o seu povo, com sua economia desorganizada pelos golpistas e ameaçada de retrocessos muito graves, comandados pelo Império do Norte que recapturou sua presa.

segunda-feira, maio 09, 2016

Instalação do Fórum 21 em Belém abre novas perspectivas à esquerda

Evento deu lançamento do Fórum 21 em Belém do Pará. Foto: Yully Noronha.

Objetivo é funcionar como uma ‘usina de ideias’ para qualificar o debate da esquerda.


Definido por seus idealizadores como “um espaço de convergência e de debates em rede, horizontal, empenhado na conformação de sínteses programáticas que contribuam para a renovação do pensamento de esquerda no Brasil”, o Fórum 21, criado em dezembro de 2014 em São Paulo logo depois do segundo turno das eleições presidenciais, já atua em Porto Alegre, São Paulo, Brasília, Belo Horizonte, Fortaleza, Rio de Janeiro, e, desde a última segunda-feira, 02 de maio de 2016, em Belém. 

A plenária do Capítulo Belém contou com professores universitários, militantes políticos e representantes da sociedade civil, todos chamados a dar a sua contribuição. 


Com mediação do Professor Silvio Figueiredo (UFPA), os trabalhos iniciaram com a fala de Joaquim Palhares, Secretário Político Nacional do Fórum 21, que destacou a necessidade de formarmos uma frente de esquerda para enfrentamos um compacto sistema de asfixia ideológica talvez inédito na história nacional que desqualifica a política e, portanto, a democracia, como verdadeiro locus de um futuro hoje capturado pela usurpação dos mercados: a nossa primeira resposta deve ser mais democracia. 

Em seguida o Professor Pedro Paulo Zhaluth Bastos (UNICAMP), paraense e sócio-fundador do Fórum 21 nacional, compartilhou sua experiência na construção desse espaço de luta e resistência pela democracia no Brasil. O Professor Fábio Castro (UFPA), sócio-fundador do Capítulo Belém, contou das expectativas e desafios comuns ao integrarmos essa rede sem perder de vista nossa pauta amazônica igualmente central nessa agenda brasileira. 



Com intensa participação da plenária, finalizamos a instalação do Capítulo Belém do Fórum 21 com a formação da coordenação que conta com importante grupo de Professores da UFPA, Silvio Figueiredo, Fabio Castro, Flávio Nassar, Danilo Gonçalves, Jean-François Deluchey, Ari Loureiro e Rodolpho Bastos, com a Coordenadora do Jornalistas Livres-Pará, Vivianne Menna, com Breno Nenno do Levante Popular da Juventude, discentes e representantes da sociedade civil. A primeira reunião de trabalho da Coordenação do Capítulo Belém do Fórum 21 foi realizado na última 6ª feira, dia 06 de maio e tirou uma agenda de eventos e atividades que em breve serão divulgadas.

Temos um longo caminho de luta e resistência pela frente.

*Eliana Bogéa é advogada, doutoranda do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da Universidade Federal do Pará (NAEA UFPA) e professora do Curso de Direito da Faculdade Estácio do Pará (ESTÁCIO FAP).  Contato: elianabogea@ufpa.br

quinta-feira, março 24, 2016

Globo brinca com fogo. Pode se queimar!


Por Altamiro Borges, em seu blog

Nesta quinta-feira (24), a Frente Povo Sem Medo, que reúne diversos movimentos sociais, fará um ato em São Paulo com o slogan "Em defesa da democracia. A saída é pela esquerda". Segundo Guilherme Boulos, da coordenação do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), a marcha deverá reunir mais de 50 mil pessoas e terá o seu desfecho na porta da Rede Globo, na zona sul da capital paulista. "Este monopólio midiático comanda o golpe e o retrocesso no Brasil", afirmou durante entrevista coletiva concedida na sede do Centro de Estudos Barão de Itararé nesta terça-feira.

A empresa da bilionária famiglia Marinho, que explora concessões públicas de rádio e televisão, está brincando com fogo e pode se queimar. Nos últimos dias, cresceram os protestos contra a TV Globo, que assumiu o papel de liderança da conspiração pelo impeachment de Dilma. No gigantesco ato pela democracia na última sexta-feira (18), que tomou a Avenida Paulista, duas palavras de ordem foram as mais gritadas pelos participantes: "Não vai ter golpe" e "Fora Rede Globo". Em outras capitais, os mesmos bordões foram entoados por centenas de milhares de pessoas.   

Segundo relato terrorista da Folha - que tem um pacto mafioso com a famiglia Marinho e, inclusive, é sua sócia no jornal Valor - "em Brasília, manifestantes chutaram e bateram em um carro da emissora que parou em frente ao museu Nacional. Alguns militantes pediram para que os outros parassem o ataque... ⁠⁠⁠⁠Em Vitória, Aracaju, Belém e Campo Grande, os manifestantes protestaram em frente às afiliadas da Globo, e uma equipe da emissora TV Verdes Mares, uma dessas afiliadas, foi hostilizada durante protestos em Fortaleza. Na avenida Paulista, em São Paulo, foram distribuídos panfletos em que um quepe militar aparece sobre o logo da emissora, onde está escrito 'TV Golpe'".

Com o agravamento da crise política, a manipulação do império global se tornou ainda mais explícito e agressivo. Ela usou todo seu aparato e seus jagunços de plantão para insuflar as manifestações pelo impeachment de Dilma no domingo retrasado (13) - conforme provaram as jornalistas Bia Barbosa e Helena Martins em reportagem imperdível na revista CartaCapital. Já no ato contra o golpe, na sexta-feira (18), ela se recusou a transmitir a Avenida Paulista ocupada por milhares de manifestantes. Na sequência, as emissoras de rádio e televisão do Grupo Globo deram guarita para os inúmeros atos de intolerância de grupelhos fascistas que espalham o ódio na sociedade.

Este "jornalismo do esgoto" gerou desconforto entre os próprios profissionais da empresa, que não se acovardaram diante do assédio moral da famiglia Marinho. Artistas vieram a público para criticar a cobertura distorcida e partidarizada. A atriz Monica Iozzi, por exemplo, ironizou "os que se informam apenas pelas manchetes do JN". Jornalistas relataram ao blog DCM que as redações do império estão tomadas por partidários do golpe, que não têm qualquer compromisso com a ética e com o verdadeiro jornalismo. O clima é de terror, o que indica que a famiglia Marinho decidiu apostar todas suas fichas na desestabilização econômica e política do país. Seria um caminho sem retorno!

Em outros momentos dramáticos da história do Brasil, como no golpe militar de 1964, o império de comunicação da famiglia Marinho já havia adotado a mesma postura irresponsável e criminosa. Nas ruas de várias cidades, pessoas indignadas com as manipulações queimaram os veículos da empresa. Agora o clima é novamente de revolta contra o golpismo. Além do protesto de quinta-feira, agendado pela Frente Povo Sem Medo, outros atos já estão sendo marcados diante das sedes da emissora e das suas afiliadas no país. Espontaneamente, internautas inclusive já propõem o boicote aos anunciantes da emissora. A Rede Globo está brincando com fogo e pode se queimar!

sábado, março 19, 2016

A esquerda foi às ruas e saiu de alma lavada

Com nove (09) quarteirões lotados de lideranças e ativistas sociais, Belém mostrou sua defesa pela democracia.

Por Diógenes Brandão

A esquerda amanheceu este sábado (19), com a alma lavada. As manifestações em todos os estados do país, levaram milhares de atores sociais, que há décadas lutam por um país mais justo e que nesta sexta-feira (18), se reencontraram nas ruas, local onde a política pulsa e transpira com mais vigor e destaque e que os movimentos sociais conhecem melhor do que qualquer neo-manifestante.

Em Belém do Pará, a chuva que cai sobre a cidade todos os dias, só serviu para esfriar o calor do asfalto e dar a animação aos que foram à concentração da manifestação, iniciada na praça da República e que seguiu até a praça do Operário, com uma caminhada que encheu 9 carteirões da avenida Nazaré. Se alguém disser que só haviam petistas, estará se enganando. 

Até mesmo militantes que fazem oposição à Dilma, estavam presentes no ato que entra para a história como um marco onde anarquistas, a base do PSOL, petistas filiados e que há tempos não militam mais, ou que estavam contrariados com o governo, foram manifestar sua defesa pela manutenção do rito democrático, ameaçado por forças conservadoras insufladas por partidos da oposição e setores da mídia e do judiciário brasileiro.

Ausências como a da cúpula do PSOL, principalmente do deputado federal Edmilson Rodrigues (PSOL-PA), foi sentida por muitos que pensam em votar nele. Mesmo assim, sua base esteve presente.

No vídeo da matéria da TV RBA/BAND, a manifestação foi retratada com um equívoco: O presidente do PCdoB paraense foi confundido pelo presidente do PT-PA, Milton Zimmer.

segunda-feira, fevereiro 08, 2016

Globo diz que apurar informação não é dever dos jornalistas



Por Dayane Santos, no Portal Vermelho.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva acionou o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro exigindo reparação de danos contra as ilações do jornal da Famiglia Marinho, O Globo. Lula aponta a “falta de apuração” e o desprezo com a ética jornalística ao ignorar as informações fornecidas por ele.

A referida matéria do Globo foi publicada sob o título “Youssef deu dinheiro a firma ligada a obra do prédio de Lula”. De acordo com a publicação, o ex-presidente seria proprietário de um triplex no Edifício Solaris, no Guarujá, litoral de São Paulo. Além disso, sem apontar nenhuma prova, o Globo disse que o dinheiro usado para construir o imóvel teria vindo da OAS, uma das empreiteiras investigadas por desvios em contratos da Petrobras.

Os advogados de Lula, Roberto Teixeira e Cristiano Zanin Martins, afirmam que o ex-presidente não é proprietário do triplex e jamais teve qualquer relação comercial com a OAS ou com seus parceiros no empreendimento do Edifício Solaris. 

Já os advogados do jornal, Sérgio Bermudes e Frederico Ferreira, dizem que “a veracidade dos fatos não se encontra em causa” e que não cabe aos jornalistas “perscrutar” a verdade, ou seja, não cabe investigar e apurar se de fato o que dizem tem veracidade ou não. 

Apesar da conduta ética ser um fundamento de qualquer jornalista que se preze, em qualquer lugar do mundo, a apuração da verdade não é um mero adereço verbal para os profissionais. Diferentemente do que dizem os advogados da Famiglia Marinho, o Código de Ética dos Jornalistas prevê no Capítulo II, que trata da conduta profissional do jornalista, em seu artigo 4º: “O compromisso fundamental do jornalista é com a verdade no relato dos fatos, razão pela qual ele deve pautar seu trabalho pela precisa apuração e pela sua correta divulgação”.

Além disso, um cidadão comum com o mínimo de caráter não vai propagar uma acusação de crime sem a certeza de que de fato isso é verdade. Mas pelo jeito, o código de ética do jornalismo da Globo não segue parâmetros mínimos de ética.

Apesar disso, o juiz Mauro Nicolau Júnior, da 48ª Vara Cível do Rio de Janeiro, julgou improcedente a ação. Na sentença, o juiz reconhece que Cleide Carvalho não fez nenhuma apuração dos fatos embora assine a reportagem e, ainda, que Ascânio Seleme autorizou a publicação sem qualquer verificação, mas afirma que a existência de uma investigação no Ministério Público afastaria a prática de um ato ilícito pelos réus.

Os advogados de Lula apresentaram recurso argumentando que os jornalistas agiram de maneira incompatível com a atividade executada, pois admitiram no processo não terem feito nenhuma apuração dos fatos. Ou seja, não só não fizeram a apuração, como admitem que “o apelado não é proprietário do imóvel indicado na reportagem em questão e não possui qualquer relação com as empresas e as pessoas indicadas naquela publicação”.

“Quando existe apenas uma investigação, qualquer notícia publicada pela imprensa a respeito do tema deve observar redobrada cautela e sempre estar acompanhada de expressas ressalvas”, enfatizam os advogados do ex-presidente. 


segunda-feira, janeiro 18, 2016

‘Jornalista’ que chamou Chico de ‘ladrão’ e ‘canalha’ pede desculpa


Na Folha

O antiquário e jornalista paulista João Pedrosa enviou uma carta a Chico Buarque de Hollanda pedindo desculpas por afirmar que o cantor tinha “orgulho de ser ladrão”.


Ele tomou a decisão depois que Pedrosa postou uma mensagem no perfil de uma de suas filhas do cantor, Silvia Buarque, no Instagram. Ela havia publicado uma foto em que aparece, pequena, ao lado do pai e da irmã, Helena. “Família de canhalhas!!! Que orgulho de ser ladrão!!!”, escreveu Pedrosa.


Na carta, enviada também à coluna e ao Painel do Leitor da Folha, Pedrosa afirma que errou e se excedeu. Diz acreditar que tanto ele quanto Chico querem “a mesma coisa para os brasileiros por vias opostas”. A do cantor “é o socialismo, e a minha, o capitalismo”.

Escreve que sua “revolta” e “indignação” com o momento atual do país são extremas e que por isso cometeu o erro de xingar a família do compositor. “Espero que acredite que o meu arrependimento é sincero”, afirma.



A íntegra da carta:

“Carta a Chico Buarque e família,

Estou escrevendo essa carta para me desculpar, se isso for possível. Eu errei e me excedi ao insultar a sua família. Infelizmente a política brasileira nos colocou em campos opostos, assim como acontece com toda a nação.

Quero crer que nós queremos a mesma coisa para os brasileiros por vias opostas, uma vida digna e próspera. A sua via é o socialismo, e a minha, o capitalismo. Desde a eleição da presidente, o Brasil entrou numa espiral negativa de ódio de classes, racial e política, que mergulhou o Brasil num caminho de decadência econômica, moral e social inegáveis, que eu acredito tragicamente irreversíveis, foi isso que motivou o meu ódio, e o meu comentário errado e infeliz.

O meu insulto foi motivado por sua associação ao PT e ao MST, são eles que eu considero ameaça à nossa dignidade e nossa democracia. Fui motivado pelas mulheres que estão dando à luz nas calçadas, aos velhos sem atendimento nos chãos dos hospitais, e principalmente, aos milhões de pais de famílias impedidos de darem pão e dignidade às suas famílias e vidas, enquanto os políticos patrocinam copas e olimpíadas, e o enriquecimento, e poder pessoal deles.

Espero que acredite que o meu arrependimento é sincero, e eu afirmo que é, mas também são extremos a minha revolta e indignação com o nosso momento atual, foi isso que motivou o meu erro. 

Sem mais, sinceramente,

João Pedrosa”

domingo, janeiro 10, 2016

A quem serve a classe média indignada?



Por Marcelo Coelho, na Folha.

Cientista político e presidente do Ipea rejeita, em novo livro, interpretações do Brasil como a de Sérgio Buarque de Holanda. Negando a ideia de que jeitinho e corrupção sejam exclusividades nacionais herdadas da colonização, aponta o "racismo de classe" e o abandono dos excluídos como raízes dos problemas do país.

Confusão entre o público e o privado, compadrio, herança católica portuguesa, predomínio das relações pessoais e familiares sobre o sistema de mérito, corrupção. Ao contrário do que em geral se pensa, nada disso é característica exclusiva do Brasil.

Para Jessé Souza, presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), vinculado ao Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, e doutor em sociologia pela Universidade de Heidelberg (Alemanha), criou-se no Brasil, à esquerda e à direita, um legado de equívocos a partir do pensamento de Sérgio Buarque de Holanda (1902-82), que merece ser classificado como um verdadeiro "complexo de vira-lata".

Para o professor de ciência política na UFF (Universidade Federal Fluminense), que acaba de lançar "A Tolice da Inteligência Brasileira" [Leya, 272 págs., R$ 39,90, e-book, R$ 26,99], a intelectualidade do país tende a idealizar as sociedades capitalistas avançadas, imaginando que em países como Estados Unidos ou França predomine a plena igualdade de oportunidades e a completa separação entre o Estado e os interesses privados. Mas o peso das origens familiares, do capital cultural acumulado ao longo de gerações, das pressões empresariais sobre o poder público está presente, diz ele, em qualquer país capitalista.

Autor de estudos sobre Max Weber (1864-1920) e Jürgen Habermas, Jessé Souza desenvolve, em "A Tolice da Inteligência Brasileira", um sofisticado argumento teórico para mostrar de que modo o conceito weberiano de "patrimonialismo" –fundamento das críticas de Raymundo Faoro (1925-2003) à imobilidade do sistema social brasileiro e ao fracasso do capitalismo e da democracia entre nós– não foi originalmente pensado para ter aplicação nas sociedades modernas.

Ao interesse teórico que marcou o início de sua carreira, Jessé Souza tem acrescentado, nos últimos anos, um intenso trabalho de investigação empírica, do qual resultaram livros como "Os Batalhadores Brasileiros: Nova Classe Média ou Nova Classe Trabalhadora?" (editora UFMG, 2010), e "A Ralé Brasileira: Quem É e Como Vive" (ed. UFMG, 2009).

O problema da economia e da democracia brasileiras, argumenta Souza, não nasce de supostas deficiências culturais que tenhamos frente aos países desenvolvidos, mas da incapacidade do sistema para integrar um vasto contingente de excluídos, a quem faltam não apenas recursos materiais, mas equipamentos básicos de educação, autoestima e cidadania.

A lição de Florestan Fernandes, em especial de seu livro de 1964, "A Integração do Negro na Sociedade de Classes" (ed. Globo), é das poucas que saem preservadas do implacável julgamento crítico de "A Tolice da Inteligência Brasileira", repleto de palavras duras contra Roberto DaMatta, Fernando Henrique Cardoso e outros mestres do pensamento social entre nós.

Folha - As ciências sociais brasileiras –com influência no discurso da imprensa e das classes médias– têm insistido no conceito de "patrimonialismo": a prática de tratar bens públicos como se fossem propriedade de uns poucos personagens com acesso permanente ao poder político. Você critica esse conceito, chamando-o de "conto de fadas para adultos". Poderia explicar?

Jessé Souza - O conceito de patrimonialismo foi contrabandeado de Max Weber sem a menor preocupação com a contextualização histórica que é fundamental em Weber. Acho que isso está bem fundamentado no livro, mas a "incorreção científica" não é a questão principal aqui.

O patrimonialismo só sobrevive como um conceito que quer dizer alguma coisa em um contexto que pressupõe o complexo de vira-lata do brasileiro. Essa é a questão principal. É só porque se imagina, candidamente, que existam países onde não há a apropriação privada do Estado para fins particulares –os EUA para os liberais brasileiros seriam esse paraíso– que se pode falar de patrimonialismo como particularidade brasileira.

Imagine a meia dúzia de petroleiras americanas, que mandavam no governo Bush filho, atacando o Iraque, com base em mentiras comprovadas, pela posse do petróleo. E com isso matando milhões de pessoas e desestabilizando a região até hoje com consequências funestas que todos vemos.

Quer melhor exemplo de apropriação privada do Estado para fins de lucro de meia dúzia sem qualquer preocupação com as consequências? A verdadeira questão é sempre em nome de que e de quem se apropria do Estado: para o lucro de meia dúzia –como foi a regra no Brasil e que é a real motivação do impeachment de hoje– ou para a maioria da sociedade.

Minha tese é a de que, no Brasil, o patrimonialismo serve para duas coisas bem práticas:

1) A primeira é demonizar o Estado como ineficiente e corrupto e permitir a privatização e a virtual mercantilização de todas as áreas da sociedade, mesmo o acesso à educação e à saúde, que não deveria depender da sorte de nascer em berço privilegiado;

2) Serve como uma espécie de "senha" de ocasião para que o 1% que controla o dinheiro, a política (via financiamento privado de eleições) e a mídia em geral possa mandar no Estado mesmo sem voto. Não é coincidência que tenha havido grossa corrupção em todos os governos, mas apenas com Getúlio, Jango, Lula e Dilma, governos com alguma preocupação com a maioria da população, é que a "senha" do patrimonialismo tenha sido acionada com sucesso. Somos ou não feitos de tolos?

A corrupção no Brasil, segundo muitos analistas, teria causas culturais, originadas na tradição ibérica e católica. Qual a sua discordância com relação a essa tese?

Essa versão é falsa. Ela é "pré-científica", já que examina o fenômeno da transmissão cultural nos termos do senso comum que pensa mais ou menos assim: "Se meu avô é italiano, então também sou". Depende. A língua comum facilita certas interações, mas o decisivo e o que efetivamente constrói os seres humanos são as influências das instituições, como a família, a escola, a economia e a política.

No Brasil, desde sempre, temos a escravidão como uma espécie de "instituição total" que determinou um tipo muito peculiar de família, de religião, de poder político, de exercício da justiça, de produção econômica, tudo isso muito distinto de Portugal, que desconhecia a escravidão, a não ser de modo muito tópico e localizado.

A Igreja Católica, por exemplo, tinha muito poder e continha o mandonismo dos grandes senhores. Aqui o "senhor de terras e gente" mandava em tudo sem peias. O Brasil desde o ano zero foi, portanto, uma sociedade singular, apesar de colonizada por Portugal. Mas foi a partir desse engano que se criou uma ciência culturalista frágil e superficial, baseada no senso comum que hoje ganha a mente e os corações dos brasileiros de tão repetida por todos.

O mais importante é que essa falsa ciência que constrói o brasileiro como inferior –posto que ligado ao "corpo" como emotividade e sexo, se opondo ao europeu e americano que seriam o "espírito", intelecto e moralidade distanciada– serve a interesses políticos. Esse racismo pela cultura só substitui o "racismo racial" clássico, mantendo todas as suas funções de legitimar privilégios.

Na dimensão internacional, a intelectualidade brasileira dominante, colonizada até o osso, engole o racismo cultural e torna ontológica a suposta inferioridade brasileira; na dimensão interna e nacional, serve para separar "classes do espírito", como a classe média "coxinha", que seria "ética", posto que escandalizada com o "patrimonialismo seletivo" criado pela mídia, e as classes populares, tidas como "amorais", posto que guiadas pelo interesse imediato.

Essa espécie de "racismo de classe", falso de fio a pavio, é o fio condutor do empobrecido debate público brasileiro.

Você é muito crítico com relação a um dos formuladores desse "culturalismo", Sérgio Buarque de Holanda. As teses de "Raízes do Brasil" foram expostas em 1936. Será que ao menos naquela época a crítica a um Estado sem meritocracia, baseado no favoritismo e nas relações familiares, não era correta?

Eu gostaria antes de tudo de saber onde fica esse país maravilhoso, formado apenas pelo mérito, que não favorece ninguém e onde relações familiares não decidem carreiras. Quem conhecer, por favor, me avise. Eu passei boa parte de minha vida adulta em países ditos "avançados" e nunca conheci um assim. A própria crença de que exista algo assim prova como o racismo e a "vira-latice" tomou conta de nossa alma.

Sérgio Buarque de Holanda é o pai desse liberalismo amesquinhado e colonizado brasileiro. É necessário sempre separar a "pessoa" da "obra" e de seus efeitos sociais, que são o que importa. O liberalismo é fundamento importante da democracia, mas existem várias maneiras de ser liberal, e a nossa maneira é a pior possível.

Buarque criou a semântica do falso conflito que permite encobrir todos os conflitos sociais verdadeiros entre nós e que nos faz de tolos até hoje. A absurda separação entre um Estado demonizado como corrupto e ineficiente e o mercado como reino de todas as virtudes, quando os dois no fundo são indissociáveis, só serve como mote para a meia dúzia que manda no Brasil e controla o dinheiro, a política e a informação via mídia virar o país de ponta-cabeça só para ter mais dinheiro no bolso.

Como não se pode dizer que o que se quer é uma gorda taxa Selic e o acesso "privado" às riquezas brasileiras, como petróleo e ferro, para essa meia dúzia, então diz-se que é para acabar com o "mar de lama", sempre só no Estado, se ocupado por partidos populares, e sempre seletivamente construído via mídia conservadora em associação com as instituições que querem aumentar seu poder relativo vendendo-se como "guardiãs da moralidade pública".

É esse discurso que transforma milhões de pessoas inteligentes em tolas. Essa parcela da classe média conservadora é explorada por esse 1% que lhe vende os milagres da privatização brasileira: a pior e mais cara telefonia do globo, por exemplo, campeã de reclamações. De resto, todos os bens e serviços produzidos aqui são piores e mais caros. Mas dessa espoliação da classe média por um mercado superfaturado que vai para o bolso do 1% mais rico ninguém fala.

O filho do "coxinha" quer ter acesso a uma boa universidade pública, e o avô dele, quando está doente e o plano não paga, tem que ir ao SUS para doenças graves e tratamentos caros. Um Estado fraco só serve ao 1% mais rico que pode ficar ainda mais rico embolsando a Petrobras a preço de ocasião. O "coxinha" só é feito de tolo.

A classe média "coxinha" que sai às ruas tirando onda de campeã da moralidade, por sua vez, explora e rouba o tempo das classes excluídas a baixo preço para poupar o tempo do trabalho doméstico e investir em mais estudo e mais trabalho valorizado e rentável.

Luta de classes não é só cassetete na cabeça de trabalhador. É uma luta silenciosa e invisível (para a maioria) que implica monopólio de recursos para as classes privilegiadas e condenações à miséria eterna para a maioria dos 70% que não são da classe média ou do 1% mais rico. A fanfarra do patrimonialismo e da corrupção só do Estado serve, antes de tudo, para tornar essas lutas invisíveis.

Como você vê a obra de Roberto DaMatta nesse contexto?

A obra dele, que reflete fielmente as discussões de botequim de todo o Brasil, foi uma tentativa de "modernizar" Buarque. O mais irritante é que esse pessoal "tira onda" de crítico ao repetir as platitudes do Estado patrimonial e do "jeitinho" como prova da queda ancestral do brasileiro médio para auferir vantagens por relações de conhecimento com poderosos.

A tese central de DaMatta, que se tornou uma espécie de "segunda pele" do brasileiro médio, é a de que a hierarquia social brasileira é fundada no capital social de relações pessoais. Essa seria a peculiaridade brasileira que viria de épocas ancestrais. Desde que a gente reflita duas vezes, essas teses caem como castelo de cartas. Se não, vejamos.

O leitor que nos lê conhece alguém com acesso a relações pessoais com pessoas poderosas sem, antes, ter capital econômico ou capital cultural? Se o leitor conhecer, então DaMatta tem razão na sua tese do jeitinho.

Como desconfio de que o leitor não conhece ninguém assim, então o que DaMatta faz é tornar invisível a distribuição injusta de capital econômico e cultural e, com isso, sepultar qualquer reflexão sobre a origem social de toda desigualdade.

Para completar supõe –no fundo a cândida e infantil crença nos Estados Unidos como paraíso na terra– que existam países onde o capital em relacionamentos não decida previamente a vida da maior parte das pessoas. Teoria mais frágil e colonizada impossível. Mas é ela que faz a cabeça do brasileiro médio hoje.

Ao lado do "culturalismo conservador", você critica o economicismo de raiz marxista. Quais as suas restrições a esse modelo explicativo?

É que o capitalismo não é só troca de mercadorias e fluxo de capital. É preciso, por isso, superar o economicismo, seja liberal, seja marxista. O capitalismo é também um sistema social e moral que avalia todo mundo e que humilha e despreza uns e enobrece e legitima a felicidade de outros.

É essa hierarquia social "invisível" (mas cuja realidade o estudo empírico pode mostrar) que diz o que é certo e errado, verdadeiro ou falso. O capitalismo é, portanto, um sistema de classificação e desclassificação que predetermina quem ganha e quem perde e legitima esses lugares.

No livro, que resume meus 35 anos de trabalho teórico e empírico sobre esses temas, procurei mostrar que esses sistemas de classificação são os mesmos para Brasil e Argentina, do mesmo modo como atuam na França ou na Inglaterra.

A peculiaridade do Brasil é a tolerância com o abandono da classe dos excluídos que chamo provocativamente de "ralé". Todos nossos problemas –insegurança, baixa produtividade, serviços públicos de má qualidade– advêm do esquecimento dessa classe.

A corrupção existe em todos os países, você diz. Mas certamente há diferenças de grau entre a Dinamarca, digamos, e o Brasil.

A corrupção é endêmica ao capitalismo. Se corrupção for enganar o outro, então o capitalismo é certamente mais engenhoso que qualquer outro sistema social.

O que outros países como a Dinamarca ou Alemanha não têm é a corrupção "pequena" –a única que o cidadão feito de tolo enxerga no cotidiano– do agente público mal remunerado, como os policiais entre nós. Existem também arranjos institucionais mais ou menos bem-sucedidos.

O Brasil ganharia com o financiamento público de eleições e com uma reforma política que tornasse mais transparente a relação com a economia. É nisso que falta avançar. Mas é preciso mesmo ser muito ingênuo para não perceber que a "grossa corrupção", a que drena capitais e privilégios para uma pequena minoria, é universal. Dilma tentou comprar essa briga no Brasil, enfrentando o grande capital especulativo. Hoje fica claro que esse pessoal não a perdoou pela ousadia.

Suponha-se que Sérgio Buarque de Holanda, Raymundo Faoro e Roberto DaMatta estejam errados ao atribuir a uma particularidade brasileira, a um vício cultural católico português a inexistência de um sistema de mérito real, de uma real impessoalidade do Estado e de uma legítima situação de igualdade de oportunidades no Brasil. Mesmo que essa situação não corresponda à realidade de um país como os Estados Unidos, que esses autores idealizam, será que essa crítica não expressa um desejo de transformação importante? Em vez de anular o valor dessa crítica, poderíamos alargar sua dimensão estendendo-a a outros países.

O único caminho seguro, na vida pessoal ou na coletiva, é a verdade. Não se pode pensar uma sociedade e suas contradições alargando uma concepção falsa desde os pressupostos. Nem há razão para isso.

O livro mostra, creio eu, que é possível um novo caminho para a percepção do Brasil e de suas singularidades. Um caminho que não vise apenas preservar os privilégios absurdos de uma pequena elite socialmente irresponsável, legitimados por uma pseudociência, mas que possa, inclusive, recuperar a inteligência viva dessa mesma classe média que é hoje manipulada a agir contra seus interesses.

Você diz que as classes médias, predominantes nas manifestações de junho de 2013, são feitas de tolas quando compram automóveis com o triplo da taxa de lucro dos países europeus, pagam taxas de juros estratosféricas e usam serviços de celular entre os mais caros e ineficientes do mundo. Mas não teriam razão, do ponto de vista de seus interesses, ao reclamar de impostos que são uma parcela enorme do preço de bens como veículos automotores e geladeiras?

A estrutura de impostos no Brasil tem de ser efetivamente revista no sentido de evitar impostos indiretos em produtos e serviços e atingir mais a renda diferencial, e, muito especialmente, o patrimônio. Desse ponto de vista, ela pode ter um pouco de razão.

Mas o ponto mais importante para a tolice da classe média é que o Estado funciona como arrecadador de impostos, antes de tudo, para bancar e garantir a drenagem de recursos arrecadados da sociedade como um todo para a meia dúzia de plutocratas que manda na economia, na política via financiamento de eleições e na mídia. O pagamento de juros para essa meia dúzia e seus colegas estrangeiros –o único aspecto que ninguém nem sequer pensa em cortar em ocasiões de crise– compromete, por exemplo, o investimento em educação e saúde de qualidade para todos.

O plutocrata vai aos EUA se operar se for preciso e manda o filho estudar em Miami ou na Suíça, como acontece realmente hoje em dia. A classe média que sai às ruas para apoiá-lo precisa do SUS quando a chapa esquenta e só conta com a universidade pública aqui mesmo para o filho. Ao mesmo tempo, paga os serviços e produtos mais caros e de menor qualidade relativa do globo no nosso mercado superfaturado. Esse "extra" também é um imposto que sai da classe média direto para o bolso da elite econômica. Mas dele nunca se fala.

Essa classe média, portanto, é espoliada pela elite por mecanismos tanto de Estado quanto de mercado, e é ela que depois sai às ruas para defender os interesses dessa mesma elite usando o espantalho seletivo da corrupção apenas estatal.

Essa é a real história da tolice pré-fabricada entre nós.

O sentimento anti-Estado e pró-mercado tende a ser conservador e perverso no Brasil. Mas não poderíamos acusar a esquerda, em especial o PT, de um excessivo "estatismo", não no sentido econômico, mas no de considerar que a transformação social poderia vir de uma simples conquista do poder político pelo partido de esquerda? Em vez de privilegiar formas de auto-organização e de capilarização do partido nas periferias, o PT procurou agir "a partir de cima", e não "a partir de baixo". Como resultado, vemos nas periferias todo tipo de igrejas evangélicas, mas nenhum núcleo ou sede distrital de partidos políticos. O preço para assumir o poder sem essa organização foi a aliança com os setores mais retrógrados da política brasileira, como Collor, Maluf, os ruralistas e a bancada evangélica. O "estatismo" de esquerda, nesse sentido, não seria uma repetição para pior do populismo? O petismo não seria também um conto de fadas para adultos?

O principal erro do PT para mim foi duplo e reflete sua dependência da narrativa liberal tão importante nele quanto em um partido conservador da elite como o PSDB. Esse foi um dos temas centrais do livro: mostrar que a ideologia liberal amesquinhada dominou também a dita "esquerda", colonizando a tradição social-democrata ou socialista democrática.

O PT teria que ter criado uma narrativa independente mostrando a importância do passo a passo da ascensão social possível e mostrando as dificuldades também –sem cair, por exemplo, na fantasia da nova classe média, que gerou expectativas desmedidas.

Essa narrativa poderia ter sido uma versão politizada, mostrando a importância da política inclusiva e da "vontade política" para a mobilidade social, de modo a se contrapor à leitura individualista da ascensão social da religião evangélica.

Mas, para isso, teria sido necessário tocar no nó górdio da dominação social no Brasil, que é o papel de "partido político da elite" assumido pela imprensa conservadora desde o golpe contra Getúlio. É ela, afinal, quem chama a classe média moralista e feita de tola às ruas e é ela que manipula seletivamente e a seu bel-prazer o tema da corrupção como única moeda dos conservadores para mascarar seus interesses mais mesquinhos em pseudointeresse geral. É ela quem tira onda de "neutra", quando apenas obedece ao dinheiro.

O medo desse confronto foi a real causa do que agora acontece. Em uma sociedade midiática, onde toda informação vem de cima para baixo, tem que existir o contraditório, a opinião alternativa, senão o voto do eleitor não é esclarecido nem autônomo, ou seja, rigorosamente, não tem democracia. Nesse sentido estamos mais perto da Coreia do Norte do que da Inglaterra ou da Alemanha. Confiar apenas nos "movimentos sociais" nesse contexto é ingenuidade. Esses movimentos também estão sob a égide do discurso único da mídia conservadora. Essa é para mim a real razão do fracasso relativo do projeto petista.

MARCELO COELHO, 57, é colunista da Folha.

quarta-feira, setembro 09, 2015

Senta aqui, Fábio



"Com uma única frase e uma única bandeira, Fábio representou as toneladas de ódio que o reacionarismo à braZileira tem espalhado por 2015, deu-se a palmatória do mundo, fez-se Judas das esquerdas..Em surto aparente de fixação anal, Fábio imaginou (e descreveu) o dedo mindinho de Lula (morto e enterrado na fábrica, há décadas) enfiado no ânus dos brasileiros, nosso, dele, do Fábio.."


Não sei se está acontecendo no mundo lá fora ou se é um fenômeno na linha do tempo do meu Twitter, frequentada por comentaristas que eu mesmo selecionei seguir. Mas o fato é que meu adorado cantor Fábio Jr. conseguiu uma façanha inédita na primeira semana de setembro deste 2015 tão exaustivo que já parece durar quatro anos. Nesta Apoteose do Ódio que estamos vivendo, por conta de umas frases trôpegas, Fabião conseguiu nivelar os odiadores aos odiadores dos odiadores.

Tal qual o leão circense de Roberto Carlos em 1964, o ódio está solto nas ruas – e nas redes, onde, pela primeira vez, vejo hordas inteiras de esquerdistas descerem ao mesmo nível dos ignorantes políticos que gritam “Lula cachaceiro/ devolve o meu dinheiro” nas avenidas. A façanha foi de Fábio.

Tanto quanto é fino e delicado na interpretação das canções do coração infantilizado machucado, o cantor de “Senta Aqui” (1984) foi grosso, grosso, grosseiro e grosseirão ao falar do Brasil (e se enrolar numa bandeira do Brasil) num evento chamado Brazilian Day, promovido sazonalmente na mais simbólica megalópole do país que mais quer roubar de nós nosso pré-sal e nosso futuro: New York, nos United States of North Améerica.

Em surto aparente de fixação anal, Fábio imaginou (e descreveu) o dedo mindinho de Lula (morto e enterrado na fábrica, há décadas) enfiado no ânus dos brasileiros, nosso, dele, do Fábio. Sua atitude, na contramão, atiçou esquerdistas e progressistas brasileir@s a dirigir contra ele, um despretensioso (e excelente) cantor romântico, um naco assustador de ódio, provavelmente aquele ódio acumulado por tanto desaforo engolido, tanta agressão suportada, tanta ofensa sublimada.

Com uma única frase e uma única bandeira, Fábio representou as toneladas de ódio que o reacionarismo à braZileira tem espalhado por 2015, deu-se a palmatória do mundo, fez-se Judas das esquerdas, virou um Wilson Simonal que tivesse servido à Globo como galã-símbolo da branquitude de um país nada branco. E então o Brasil choveu uma avalanche de Fábios do Fábio, todos à esquerda de Fábio, de Lula, de Luciana Genro, do mundo, de Deus.

Rolou de um tudo para mesmerizar o eterno meninão sedento de colo e carinho. Para desmentir o preconceito antipetista ostentado por Fábio-Ostentação, petistas xingaram esse cara de drogado, bêbado (“Fábio cachaceiro/ devolve o meu dinheiro”), carrasco de pai, o diabo.

Outros se inspiraram na fixação anal nova-iorquina do ex-garanhão e mandaram Fabião ir tomar no cu, assim, sem meias palavras (como se fosse ruim tomar no cu, não é verdade, crianças de todos os sexos?).

Alguém sugeriu malhar um boneco inflável (ou “inflávio”, como têm grafado os jornalistas estagiários desta nossa triste profissão) do Fábio, um Fábio InFlávio, um InFábio. (Esses, aleluia!, trataram com bom humor esse assunto de altíssima desimportância.)

Uma outra turma usou Bono Vox, um chato de galocha supostamente esquerdista, para depreciar nosso mais novo candidato a sucessor filosófico do roqueiro reaça Roger Lobão. O que tem o cu a ver com as calças?, perguntaria eu, sob o risco de também embarcar  na voga da fixação anal.

Gosto do Fábio cantor (e eventualmente compositor) desde a minha infância. Um bom número dos meus clássicos afetivos particulares me parecem, além disso, excelentes canções pop brasileiras: “20 e Poucos Anos”, “Quero Colo” (1979), “Eu Me Rendo”, “Seu Melhor Amigo” (1981), “Enrosca” (sua versão sexy-safada para a obra-prima soul-pop do genial Guilherme Lamounier), “O Que É Que Há”, “Seres Humanos” (1982), “Quando Gira o Mundo” (1985), “Vida”, “Caça e Caçador” (1988), “Alma Gêmea” (1994)…

Movido por esse meu amor, vi alguns shows do Fábio ao longo dos anos, o último deles em março deste ano, logo depois do início das manifestações de ódio coxinha contra os trabalhadores e as trabalhadoras do Brasil. Ensaiei escrever sobre aquele show, mas desisti, me acovardei, passei pano – porque foi um espetáculo triste, melancólico,  deprimente.

Começava pelo ambiente, um decadentíssimo Credicard Hall, o mesmo lugar onde João Gilberto cunhou, para ferir a elite paulista, o meme “vaia de bêbado não vale”. Ah, se João estivesse naquele show do Fábio… Teria uma síncope.

Nesse dia de show do Júnior, o Hall dos artistas semideuses caía aos pedaços. Os leds apagados dos telões armavam horrorosas crateras no rosto do cantor de “enrosca o mu pescoço, dá um beijo no meu queixo e geme”. Taças tortas de plástico riscado acolhiam as lágrimas de Chandon que embebedavam a elite fabista.

De início achei que era azar meu ter caído numa mesa de bêbados de visual playboy e playgirl que conversavam sem parar, xingavam Fábio quando ele cantava (ou melhor, tentava cantar) uma música menos conhecida, gritavam “fora Dilma” a plenos pulmões, afirmavam aos berros que o show estava chato. A agressividade sublimada no ar estava pelas tampas (e pensar, hoje, que aquele ainda era o começo do começo do começo).

Depois fui prestando mais atenção ao redor e vi que a minha mesa era igual a todas as outras. A comunicação entre o artista e uma plateia de ~privilegiados~ extremamente mal-educados era zero. A  única celebridade presente, que Fábio fez questão de bajular, era Ronaldo Fenômeno, que parecia tão depressivo na plateia quanto Fábio no palco. As metades da laranja, dois amigos, dois irmãos. Saímos calados e sorumbáticos do show.

Os meses se amontoaram de março para cá, em clima de progressiva exaustão. Ninguém aguenta mais o arco tenso em que os verdadeiros decadentes transformaram nosso país. Ninguém aguenta mais. À esquerda, à direita e ao centro, ninguém aguenta mais.

O governo não acerta em debelar crises inventadas e falsificadas, menos ainda as que têm algum fundamento. Os odiadores não acertam em içar bonecos infláveis para navegar no mesmo espaço habitado por helicópteros lotados de cocaína e jatinhos sem nota fiscal.

A mídia que fomenta o ódio transforma (moto contínuo) ódio em falência e falência em ódio. Destila ódio no garrafão de pinga (Lula cachaceiro! Fábio cachaceiro!), dissemina ódio para seres submissos que leem jornais, assistem a telejornais e frequentam(os) shows burocráticos e hierárquicos de MPB.

Fábio, um notório artista não-militante, senta lá e vê o público que o humilha gritar “fora Dilma” e tem a brilhante ideia: vou ser igual a eles. As metades da laranja. Dois amigos. Dois irmãos.

O petista de tez autoritária vê o triste espetáculo protagonizado por Fábio contra Lula e Dilma e tem a brilhante ideia: vou ser igual e ele, a eles, a todo mundo que me trata como lixo o tempo inteiro. As metades. Da laranja.

Fábio, um notório artista não-militante, senta lá e vê o público que o humilha gritar “fora Dilma” e tem a brilhante ideia: vou ser igual a eles. As metades da laranja. Dois amigos. Dois irmãos.

O petista de tez autoritária vê o triste espetáculo protagonizado por Fábio contra Lula e Dilma e tem a brilhante ideia: vou ser igual e ele, a eles, a todo mundo que me trata como lixo o tempo inteiro. As metades. Da laranja.

Não estamos em ano de eleição (ou estamos, no moto contínuo da eleição perpétua). Não é ano de Copa, não tiramos 7 a 1 na prova de cultura política (essa, por sinal, é uma disciplina que até pouco tempo atrás nem estava incluída nas nossas grades escolares). Ainda não é ano de Olimpíada (vai ter!).

O nível de tensão estrangula tod@s, não há seres humanos que aguentem esta vida sem tréguas. Dá vontade de fazer a Wanderléa e sair gritando enrolada na bandeira verdamarela: por favor, senhores juízes, parem agora!

terça-feira, setembro 01, 2015

Quem te viu, quem te vê: Luciana Genro cai nas graças de FHC



Depois de Marina Silva aceitar ter sido financiada pelo Itaú, em sua campanha para presidente em 2014, chegou a vez de outra presidenciável da esquerda piscar para o outro lado.

Segundo a Folha, Luciana Genro se encontrou com FHC, isso mesmo, Fernando Henrique Cardoso, um dos caciques do PSDB, nesta segunda-feira (30) e não estava sozinha. Levou consigo a cúpula do PSOL para pedir apoio do tucano e juntos tiveram momentos de descontração e alegria, ao ser recebida pelo ex-presidente, que sempre acusou de neoliberal e representante das elites, que ela e seu partido dizem combater. 

Luciana Genro foi expulsa do PT junto com a então senadora Heloísa Helena (AL) e os deputados João Batista Babá (PA) e João Fontes (SE), em dezembro de 2003, após decisão do Diretório Nacional do partido que decidiu que não havia espaço no partido para quem queria fazer oposição ao governo (Lula) à época. 


Marina Silva foi ministra de Lula e desfiliou-se em Agosto de 2009, alegando que iria "em busca do sonho de lutar pelo desenvolvimento sustentável do meio ambiente".

Como se vê, ambas saíram do PT dizendo entre outras coisas, que o partido havia perdido seus princípios fundadores e que por isso, não lhes caberiam mais. Assim como as duas fizeram em 2014, Heloísa Helena também concorreu à cadeira de presidente do Brasil (em 2010), porém todas, como se sabe, não obtiveram êxito. 



A matéria da Folha dá o resto do informe histórico e até outro dia, inacreditável para milhares de militantes do Partido do Socialismo e Liberdade

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tentou explicar sua declaração sugerindo a renúncia da presidente Dilma Rousseff durante uma reunião com uma comitiva do PSOL nesta segunda-feira (31). Ele ainda ofereceu ajuda ao pequeno partido contra uma proposta em tramitação no Congresso.

O grupo, recebido pelo ex-presidente em seu instituto, era liderado pela ex-deputada Luciana Genro, que se notabilizou por embates com o tucano Aécio Neves na campanha eleitoral de 2014.

Há duas semanas, Fernando Henrique afirmou, em texto publicado em sua página no Facebook, que a renúncia da presidente seria um "gesto de grandeza".

Aos dirigentes do PSOL ele disse que a sua declaração foi interpretada de modo equivocado, e que o sentido da manifestação foi: "Ou renuncia ou governa."

Luciana Genro organizou a reunião com o ex-presidente buscando apoio para evitar a aprovação no Senado de um projeto que reduz o espaço de partidos menores em debates e na TV já na campanha eleitoral do ano que vem.

Em clima descontraído, os temas do encontro migraram para assuntos de afinidade entre os dirigentes do partido e o ex-presidente, como o movimento estudantil de 1968 na França e o papel das redes sociais na organização política.

O tucano provocou gargalhadas ao responder a um comentário de Luciana sobre pesquisas que a mostram em segundo lugar na disputa pela Prefeitura de Porto Alegre no próximo ano. "O povo é maluco mesmo", falou.

O ex-presidente ainda levou a cúpula do partido a uma visita por galerias de seu instituto, no centro de São Paulo. O PSOL tentou marcar um encontro também com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para debater a proposta, mas a reunião não foi realizada.

Luciana disse que já tinha conversado com o tucano há um mês e que ele vem adotando uma posição "muito corajosa" sobre a descriminalização da maconha. "É uma pessoa que preza valores democráticos e por isso está nos ouvindo", disse à reportagem.

Para a ex-candidata, o apoio do PSDB é fundamental para derrubar a proposta no Senado. Fernando Henrique disse que sua influência no partido é limitada, mas falou que contataria senadores para discutir o assunto.

Veja abaixo o que Luciana disse sobre FHC, em um debate ocorrido em Setembro do ano passado. Para coisas mais pesadas, uma rápida busca no Google fará qualquer um ficar de boca aberta com a mudança de comportamento de "revolucionária" militante do PSOL.

Crise: Edmilson Rodrigues perde seu braço esquerdo no PSOL

Luiz Araújo deixou o PT para fundar o PSOL, onde viveu até então organizando a corrente interna "Primavera Socialista" e supostame...