Já não é de hoje que a boca-de-urna é tratada como elemento obrigatório nas eleições. |
Não é nenhuma novidade dizer que a polícia, o Ministério Público e a justiça eleitoral continuam fazendo de conta que a legislação eleitoral brasileira, neste caso, serve para alguma coisa. Estes órgãos que deveriam combater a corrupção neste período, acabam fazendo vista grossa e assim como em outros crimes - como o tráfico, o desvio de verbas públicas, o abuso do poder econômico e o nepotismo – tudo acontece com a tranquilidade que o dinheiro pode comprar.
No entanto, nas eleições deste ano, venho percebendo uma leve e sutil mudança no comportamento tanto dos candidatos, quanto dos eleitores.
A campanha demorou a ir pras ruas com aquela enorme quantidade de material na portas das casas, muros pintados e a aquela quantidade de gente balançando bandeiras e jogando papeis no chão de outras eleições. A pintura de muros foi substituída por cavaletes que poluem o visual das cidades e muitas vezes atrapalharam a visibilidade de motoristas e pedestres nas vias públicas.
O destaque fica mesmo para as conhecidas “formiguinhas”, que são aquelas pessoas desempregadas que aceitam serem exploradas com o pagamento semanal, que raramente ultrapassa os R$ 150,00, o que somando no mês, não dá um salário mínimo. Aquilo que serviria de ajuda de custo para os trabalhadores braçais das campanhas de rua, acabou virando negócio lucrativo para os cabos eleitorais partidários que insistem em serem chamados de lideranças e dirigentes.
Do outro lado, os eleitores mais desprovidos de informações e interesses com a política, acabam aceitando o topa-tudo eleitoral e fazendo o pacto da mentira com os candidatos e seus partidos: Eles fingem que são fiéis com os candidatos e os candidatos fingem que acreditam que eles são fiéis com os mesmos. Há cabos eleitorais que recrutam pessoas e acabam de vários candidatos para fazer o mesmo "serviço".
Com algumas horas antes do início da votação, muitas listas com nomes completos, número do título e do RG estão sendo catalogadas e manipuladas para o pagamento pelo voto no próximo domingo. Cadastros de eleitores rolam de mão em mão nos comitês de campanha e escritórios políticos, sem que a justiça eleitoral passe ao menos para fazer uma visita.
Quem tem dinheiro pra comprar votos sabe que a conta beira a seguinte regra: A cada 10 votos comprados, a possibilidade de que o eleitor comprado vote no candidato é de 04 em cada dez pagos. Considerando que este ano a média do preço de cada voto é de no mínimo R$50 reais, para um candidato obter 40 mil votos, deveria comprar 100 mil eleitores, o que custaria cerca de R$ 2 milhões de reais.
Parece muito, mas muitos candidatos conseguem arrecadar muito mais para eleger-se no pleito eleitoral. Não preciso finalizar dizendo que a prática tem sido frequente em quase todos os partidos, uns com mais, outros com menos.
Como denunciar
De acordo com a Procuradoria Regional Eleitoral (PRE), os crimes eleitorais mais comuns são a propaganda irregular, a boca de urna, o transporte irregular de eleitores, além da distribuição de cestas básicas, remédios ou material de construção em troca de votos.
Os eleitores que verificarem qualquer irregularidade podem ligar para o Disque Denúncia Eleitoral no número 0800 0960 003. O serviço funciona 24h e a ligação é gratuita.
A população poderá utilizar o serviço para denunciar gratuitamente ao Comitê de Combate à Corrupção Eleitoral as irregularidades cometidas no período das próximas eleições.
Em 2012 foram registradas quase 400 denúncias, 90% foram encaminhadas para o MPF. As principais ocorrências são de compra e pedido de votos, propaganda irregular e participação em inauguração de obras.