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segunda-feira, junho 25, 2018

Eleições 2018: Ceticismo e desesperança podem ajudar candidatos corruptos?

A corrupção atinge praticamente todos os partidos e a descrença na classe política gera descrença generalizada no eleitor brasileiro. 

Por Edir Veiga
Os grandes grupos de comunicações (Globo, SBT, Bandeirantes, Rede TV e Record) que comandam a televisão aberta e grande parte das redes nacionais de rádios “pegaram pesado” no propósito de remover a esquerda petista e seus aliados do poder a partir do final do ano de 2014, e hoje produziram como resultado o enorme ceticismo da população perante a política, os partidos e os políticos, com graves riscos para a jovem democracia brasileira.
Não há dúvida nenhuma de que os grandes partidos brasileiros foram pegos com as “mãos na “massa” da corrupção.  
PT, MDB, PSDB, PP estão com vários de seus principais dirigentes processados, denunciados ou presos a partir de escândalos continuados de corrupção que vem abalando nosso país desde o ano de 2014. 
Mas todos os partidos governantes brasileiros, sejam eles grandes ou pequenos, estejam eles nas esferas municipais, estaduais ou federais têm muitos de seus filiados atingidos por algum nível de denúncia de corrupção. Em resumo, os diversos partidos brasileiros estão de alguma forma, relacionados de forma negativa com a grave epidemia política que vem atingindo o Brasil, que são os escândalos de corrupção.
Como o quadro partidário brasileiro está contaminado pelo vírus da corrupção, todos os corruptos se sentem bem à vontade para lançarem-se, inclusive, aos cargos executivos. Os candidatos corruptos tentam embaçar a percepção do eleitorado sobre os candidatos fichas limpas.  
Para as disputas para o poder legislativo a contenda parece mais tranquila para os corruptos, afinal de contas o eleitorado não tem mecanismos para derrubar os candidatos fichas sujas, pois são milhares de candidatos disputando os cargos no poder legislativo, muitas vezes o eleitor deixa de votar no ficha suja, mas vota na coligação onde o candidato ladrão está ancorado. De fato, no Brasil, dominar as regras para as disputas ao poder legislativo não é nada fácil.
Neste momento as tendências apontam para um quadro de votos em brancos em torno dos 20% nas eleições majoritárias e de 30% nas eleições proporcionais. 
As pessoas mais revoltadas com a grave crise de denúncias e escândalos de corrupção estão migrando para a desistência de eleger candidatos, ou seja, parece que iniciamos um caminho para a negação das instituições democráticas.
E o que é pior, enquanto os eleitores provenientes das classes médias estão radicalizando contra o sistema político como um todo, através do voto branco, nulo e abstenções, aumenta o poder eleitoral dos candidatos que dominam recursos financeiros, administrativos ou máquinas de governo, pois estes conseguirão “arrastar” grande número de eleitores descrentes às urnas, através das máquinas de patronagens.
Mas se é verdade que o poder econômico, político e administrativo vai se beneficiar deste grave quadro de ceticismo político, é verdade também que um outro segmento político vai sair ganhando a partir deste grave quadro político, que é a esquerda lulista.
Dentre as camadas mais empobrecidas da sociedade brasileira existe mais de 20 milhões de brasileiros que conheceram e viveram as políticas sociais lulistas e que agora estão “sentindo na carne” a política ultra liberal do governo Temer, que a cada dia vem removendo direitos sociais através de sofisticados mecanismos de recadastramento. Até as bolsas de índios e quilombolas Temer atacou.
Setores da sociedade que contrários ao que em sendo feito no país desde o impeachment de Dilma, mesmo não concordando com o governo dela, devem votar em ordem unida em Lula ou em outro candidato que Lula vier a indicar. Pelo menos 50% dos eleitores de Lula devem seguir sua diretriz eleitoral. 
É por tudo isso que Lula será ator muito importante das eleições de 2018, preso, solto, concorrendo ou impedido de participar da disputa.
Mas de toda esta crise em curso, onde os grandes partidos têm enorme responsabilidades, não podemos deixar de reconhecer que o modelo político brasileiro, até recentemente vigente, baseado no voto proporcional de lista aberta e no financiamento privado de campanha, em muito induziu o comportamento pragmático da elite política brasileira. 
Ou seja, se negar a entrar no alçapão institucional, até então vigente, significaria abandonar qualquer possibilidade de disputar governos ou vir a formar uma bancada parlamentar de peso.
Mas uma coisa parece clara, a forma como a grande mídia tratou a crise da Lava Jato expressou uma grave irresponsabilidade com o desfecho da própria crise. 
Vimos a rede globo transmitindo ao VIVO as passeatas da oposição contra o governo Dilma. Mas não vimos este mesmo procedimento insuflador contra os escândalos do governo Temer. 
Ou seja, na luta ideológica  fabricada contra a esquerda, os grandes meios de comunicação geraram um sentimento de negação dos partidos, dos políticos e da democracia.
Agora as consequências vem se manifestando. O povo quer candidato ficha limpa. Mas todos os grandes partidos estão eivados de denúncias de corrupção. 
Mesmo os pequenos partidos contam dentre seus  filiados nas esferas municipais e estaduais com prefeitos, governadores e deputados denunciados por corrupção. 
O povo não está enxergando ninguém limpo, daí a metade do eleitorado está querendo passar longe das urnas nas eleições de 2018.
Os candidatos fichas limpas estão sendo denunciados diariamente como corruptos pelos seus opositores corruptos. As grandes oligarquias estaduais, governantes ou não, dominam as rádios, jornais e televisões estaduais e municipais. Assim candidatos limpos estão sendo pintados de sujos, para que numa noite escura “todos os gatos pareçam  pardos”.
A desinformação vem prevalecendo nas pré-campanhas. 
Num contexto de enorme ceticismo despolitizado, as classes médias deixam de ir às urnas ou votam branco e nulo e assim, mais uma vez o poder econômico, político ou administrativo deve prevalecer com a eleição de grande número de fichas sujas para governos estaduais e ao senado.
As mídias sociais vêm sendo apropriadas pelo candidatos com grande poder econômico, afinal os comitês digitais exigem uma grande quantidade de profissionais a custos elevados. 
Frente a atividade esclarecedora de grupos e entidades comprometidas com a informação transparente e honestas estamos assistindo uma avalanche de ações organizadas para “queimar” os fichas limpas e promover positivamente os “fichas sujas”.
Parece que estas eleições que se aproximam não terão o efeito terapêutico que se espera a partir da tsunami que a operação lava Jato vem produzindo no Brasil. 
A grande mídia que espetacularizou de forma exagerada esta tragédia brasileira parece que não se sente responsável pelo quadro de ceticismo que vem invadindo a alma política do povo brasileiro. 
Esperemos que algum milagre aconteça nos próximos 90 dias e que uma tendência inesperada de faxina política em sentido republicano venha a acontecer no Brasil.

quinta-feira, junho 07, 2018

Lava Jato chega a pedido de dinheiro de FHC à Odebrecht para campanha do senador Flexa Ribeiro (PSDB)

Senador paraense é citado em pedido de dinheiro de FHC à Odebrecht, para sua campanha em 2010.

Por Diógenes Brandão

Ao investigarem o ex-presidente Lula, peritos da Polícia Federal descobriram emails onde o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso pedia e insistia no pedido de dinheiro a Marcelo Odebrecht

As "doações" teriam sido para as campanhas de tucanos em 2010. As provas foram localizadas pela PF nos discos rígidos do computador do empresário preso no escândalo que acabou no impeachment da ex-presidente Dilma Rouseff e na prisão de Lula e de diversos parlamentares e empresários.

A informação foi revelada pela revista Veja e confirmada pela Folha e segundo as reportagens, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso recorreu a Marcelo Odebrecht para angariar fundos para a campanha ao Senado de dois tucanos em 2010: Antero Paes de Barros (MT) e Flexa Ribeiro (PSDB-PA).

As investigações de esquemas de propina e caixa 2 praticados pela Odebrecht, já levaram diversos outros políticos e empresários para a cadeia. No caso destes pedidos de FHC ao mato-grossense Antero Paes,  Já o senador paraense Flexa Ribeiro conseguiu eleger-se senador em 2010 e tenta a reeleição em Outubro.

Os emails revelam que como presidente de honra do PSDB, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso continuou fazendo lobby, junto à principal empreiteira e a que mais lucrou com a corrupção brasileira. Em seus pedidos ele fala em SOS e aquilo que chama de "o de sempre".

O que dizem os citados?  

Para a Folha de São Paulo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse que pode ter feito o pedido para Marcelo Odebrecht, mas reforçou que eram legais. Fernando Henrique disse ainda que não se recorda se as doações (aos dois tucanos, de dois estados) foram feitas, mas que elas não se deram em troca de nenhuma decisão dele, já que na época não ocupava cargo no governo.

O senador Flexa Ribeiro e Antero Paes de Barros, atualmente sem partido, disseram que desconhecem a troca de e-mails e que as campanhas deles em 2010 não receberam qualquer contribuição da Odebrecht.   

A Odebrecht voltou a declarar que está colaborando com a Justiça no Brasil e nos países em que atua, e implantou um sistema para prevenir, detectar e punir desvios ou crimes.   Segundo a defesa de Marcelo Odebrecht, os e-mails são autoexplicativos e se referem a pedidos que sempre foram normais e comuns por parte de políticos.   A direção do PSDB Nacional diz que desconhece os supostos pedidos e defende rigor no cumprimento da legislação eleitoral.

Leia na Folha, VejaEstadão, GGN e Globo.



terça-feira, junho 05, 2018

Os paneleiros arrependidos

Rodolfo Gonçalo lamenta ter se deixado “contaminar” pelo que falavam de Dilma dentro de seu táxi (Foto: EMILY ALMEIDA/AGÊNCIA O GLOBO)
Surge nas cidades brasileiras uma nova categoria de engajados: os ex-paneleiros que lamentam ter colaborado para a ascensão de Michel Temer, à frente do governo mais impopular da história 

Por JULIANA DAL PIVA E ALESSANDRO GIANNINI, na Época

Eles voltaram. No último domingo à noite, enquanto Michel Temer anunciava em rede nacional um conjunto de medidas para tentar encerrar o movimento dos caminhoneiros grevistas, o barulho das caçarolas tomou conta de diferentes cidades do Brasil. Frequentes nos meses que antecederam o impeachment de Dilma Rousseff, os panelaços foram momentos ruidosos de união cívica entre cidadãos desejosos da deposição da presidente. Muita coisa mudou de lá para cá. O governo impopular da petista foi substituído por um governo ainda mais impopular, que atingiu os maiores índices de reprovação da história. Surgem agora, em meio aos problemas de abastecimento provocados pela paralisação dos caminhoneiros, os primeiros “paneleiros” arrependidos de terem protestado pela queda de Dilma e colaborado para a ascensão de Temer.  

O servidor público Mário Rodrigues Magalhães, de 33 anos, mirava o nada durante o início da tarde da terça-feira 29 de maio. Sentado em um dos bancos do Largo da Carioca, entre a praça do metrô e o caminho que leva ao edifício do BNDES, no centro do Rio de Janeiro, vestia camisa social listrada, calça social e sapatos de couro, ambos pretos. Com os braços cruzados, ele se disse angustiado desde o fim da semana. “Esse clima de pânico geral, não tem como não se abalar.”  

Para ele, mesmo considerando os constantes atrasos de salário nos últimos anos, o momento em que esteve mais preocupado foi na última semana, ao acompanhar as consequências da greve e o desabastecimento de itens básicos nos supermercados, hospitais e postos de gasolina. No domingo, ele e sua mulher, Mara, assistiam à televisão em sua casa no Méier, bairro da Zona Norte do Rio, quando ouviram o pronunciamento de Temer para os transportadores de cargas. Mara repetiu então um gesto que não fazia havia quase dois anos: foi à cozinha, pegou as panelas e repetiu o panelaço que já tinha feito na época em que Dilma Rousseff ocupava a Presidência da República.  

“Minha mulher bateu panela contra a Dilma. Neste último(pronunciamento de Temer) também”, contou sorrindo. Ele afirmou que a vida não melhorou como esperava após a troca de governo. “Fui a favor do impeachment por causa da corrupção, das denúncias, dos escândalos, tudo isso aí mancha muito”, explicou. No entanto, revela que a família mudou de ideia e acredita que a mudança resultou em mais dificuldades.  “Talvez tivesse sido melhor ela (Dilma) ficar, não está acontecendo nada de diferente em relação a antes”, disse Magalhães, que declarou ter votado na petista. Para ele, os índices de economia que melhoraram nos últimos anos não passam de dados para propaganda. O que conta, em sua visão, são o aumento do desemprego, a alta nos preços de combustível e do custo de vida.

Maisa Pacheco diz que se sentiu “manipulada” nos protestos pelo impeachment (Foto: LEO MARTINS/AGÊNCIA O GLOBO).

A apenas alguns metros de Magalhães, a funcionária de um escritório de contabilidade no centro do Rio, Denise Lopes, de 52 anos, amarga um arrependimento semelhante. Trajando uma blusa azul com detalhes verdes e pretos e uma calça jeans, ela retornava apressada para o escritório após o almoço quando encontrou a reportagem. Também expressava um sentimento de cansaço.  

Lopes afirmou que só não chegou a fazer panelaço no domingo porque mora em um local isolado na Portuguesa, na Ilha do Governador. “Ninguém ia ouvir, minha casa é bem afastada. Não adiantaria”, explicou. Ela contou que foi favorável ao impeachment que derrubou Dilma Rousseff, mas também avalia que a troca não trouxe o resultado que esperava. “Fui a favor porque achava que deveria mudar pelo povo brasileiro, que falava não ao governo”, lembrou. Eleitora da petista, Lopes disse que não suportava mais as denúncias de corrupção que envolviam o PT e também achava Dilma omissa em relação à situação dos serviços públicos. “Ela estava fazendo um governo incompetente. Não estava preocupada com o povo brasileiro, assistia algumas partes do Brasil, mas não o povo inteiro.”  

Dois anos depois, Lopes afirmou que lamenta a troca há algum tempo. Para ela, o estopim nem foi a greve do transporte, mas as denúncias envolvendo o presidente Michel Temer na delação da JBS e, especialmente, o projeto anunciado por ele para mudar as regras da aposentadoria na reforma da Previdência. “Quando comecei a ver o próprio Temer com as decisões dele em relação à (reforma da) Previdência, a gente viu que foi uma coisa manipulada”, explicou. “Antes tivéssemos esperado um pouco para termos o direito de votar em uma nova eleição.”  

Quem também se sentiu influenciado e mudou de ideia foi o produtor de sistemas de informação Rodolfo Gonçalo, de 38 anos. Morador de Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio, afirmou que passou os últimos anos dividindo suas tarefas em um home office com bicos de taxista. E foi dirigindo que conversou com muitos passageiros e amigos sobre a situação do país. Nesse período, ele disse que ouviu “barbaridades” sobre Dilma e outros políticos. Passado o tempo, avalia que se “deixou contaminar”. Antes favorável ao impeachment, ele disse que não sabe mais se foi a melhor opção. “Houve mudanças? Sim. Melhorou? Ninguém sabe. É o que vejo”, afirmou. “Não sou a favor dela, mas dizer que ela arrebentou tudo?”

O servidor público Mário Magalhães acha que o impeachment trouxe mais dificuldades para sua vida (Foto: EMILY ALMEIDA/AGÊCIA O GLOBO).

Na capital paulista, mais arrependidos. Dona de um sex shop na Rua da Consolação, Maisa Pacheco, de 45 anos, assustou-se com o movimento em sua loja no último domingo. Devido à crise dos caminhoneiros, seu caixa fechou o dia com apenas R$ 16, para uma média de faturamento de R$ 2 mil. Assim, quando Temer surgiu na TV para o pronunciamento, foi para a Avenida Paulista bater panelas. De repente, se viu alvo de olhares curiosos de outras pessoas. “Fiquei sozinha batendo panela na Paulista. O pessoal ficou achando que eu era louca”, brincou. Ela só estava retomando o hábito que cultivou em um passado não muito distante, quando também pegou as caçarolas para apoiar o impeachment de Dilma — período no qual teve farta companhia.  

Examinando a situação em retrospecto, ela acredita que os manifestantes foram manipulados. “Essa coisa já estava errada quando a gente foi para a rua pedir o impeachment”, disse. “Não pensamos que o vice era o Temer. Teve uma manipulação, mas não podemos reclamar. Esse pessoal que votou na Dilma também tinha de saber que era o Temer como vice. Teríamos de fazer uma mudança de processo político”, completou.  

A greve dos caminhoneiros, motivo do último panelaço, bateu no Twitter as menções registradas em outros momentos históricos, entre eles o impeachment de Dilma Rousseff. Segundo um estudo da Diretoria de Análise de Políticas Públicas (DAPP) da FGV, o volume de menções relacionadas à greve dos caminhoneiros na rede social faz do evento o maior dos últimos anos no Brasil. Desde o domingo dia 20 até a terça-feira dia 29, o estudo identificou cerca de 8,5 milhões de menções. Além do impeachment, a greve ultrapassa a repercussão da prisão do ex-presidente Lula e da morte da vereadora Marielle Franco.  

Segundo os pesquisadores, essas menções se distribuem na rede em meio às discussões que, em geral, apoiam as pautas defendidas pelos caminhoneiros, mas sem um consenso nas demais questões debatidas. Por isso, os pesquisadores veem semelhanças com as manifestações de junho de 2013. “Essa manifestação serviu como um catalisador de uma série de insatisfações que têm se acumulado no país. Um desemprego muito alto, a preocupação com inflação, a questão dos combustíveis aumentando direto em função do aumento do dólar. Em algum momento esses fatores iriam confluir como se fosse uma faísca e foi o que aconteceu. Nesse sentido, é muito parecido com o que aconteceu em 2013”, apontou o pesquisador Marco Aurelio Ruediger, líder da DAPP da FGV.



segunda-feira, maio 28, 2018

A privatização da Cosanpa e a relação de Helder Barbalho com a Odebrecht e a JBS/FRIBOI


Por Diógenes Brandão

Conforme noticiado por este blog no mês passado, a delação dos ex-executivos da construtora Odebrecht, Fernando Luiz Ayres da Cunha Santos Reis e Mário Amaro da Silveira, acusa o ex-ministro da Integração Nacional, Helder Barbalho (MDB), de ter pedido R$ 30 milhões em propina à empreiteira Odebrecht para utilização em sua campanha eleitoral ao Governo do Pará e ao senado, em 2014.

Réus confessos, os delatores disseram que Helder Barbalho e Paulo Rocha (PT) agiram juntos, em negociações, onde teriam pedido dinheiro para campanha eleitoral, prometendo em troca, entregar, em forma de privatização, a Companhia de Saneamento do Pará, a COSANPA.


No dia 15 deste mês, atendendo ao pedido da Procuradoria Geral da República, o ministro Luiz Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou abertura de um inquérito para investigar se houve repasses de cerca de R$ 40 milhões da J&F (JBF/FRIBOI) a políticos do MDB durante a campanha eleitoral de 2014. Delatores disseram em depoimentos que a J&F repassou mais de R$ 40 milhões ao MDB nas eleições de 2014.

Segundo a procuradora-geral, Raquel Dodge, as suspeitas são baseadas nas delações premiadas de Sérgio Machado, ex-senador pelo MDB e ex-presidente da Transpetro, e de Ricardo Saud, ex-executivo da J&F.   

DELAÇÕES

Nos depoimentos, Sérgio Machado disse ter chegado ao conhecimento dele que a JBS, empresa do grupo J&F, faria doações à bancada do MDB do Senado em 2014 no valor de R$ 40 milhões, a pedido do PT. De acordo com o delator, o senador paraense Jader Barbalho seria um dos beneficiados com a doação.

O ministro do STF também determinou que o inquérito seja enviado à Polícia Federal, que terá 60 dias para realizar coleta de provas. Nesse período, Helder Barbalho também deverá prestar depoimento.

Leia também Jader e Helder Barbalho serão investigados pelo STF por envolvimento na Lava Jato



Apesar das prisões e todas as punições decorrentes do "Mensalão" e da "Lava Jato", boa parte da classe política continua tentando arrecadar recursos financeiros para a campanha eleitoral através do atendimento dos interesses do setor empresarial, que por sua vez cobiça a privatização dos serviços públicos, em detrimento dos interesses do povo brasileiro, tal como o povo paraense. 

Ou alguém, acha que a privatização significará diminuição dos preços da tarifas de água e a melhoria do precário saneamento no Pará?

E AGORA?

A sinalização foi dada e a sociedade paraense prevê a tentativa de negócios eleitorais, ou seja, financiamento de campanha através de caixa 2, utilizando o patrimônio público como moeda de troca.

Mas existem muitas pedras no caminho de Helder Barbalho, até o mesmo conseguir chegar ao governo do estado. 

Temer, Lava Jato e o sobrenome Barbalho são os principais adversários de Helder, podendo inviabilizar mais uma de suas tentativas de governar o Pará, tal como seu pai tanto deseja.

Para piorar, todas as pesquisas sinalizam que candidatos ao governo do Pará que estejam envolvidos com o escândalo da Lava Jato relacionado à corrupção terão enormes dificuldades de serem eleitos nas eleições de Outubro.

Ou seja, até lá, muita água ainda vai passar por debaixo dessa ponte e quem viver, verá.

quinta-feira, maio 24, 2018

Dias tensos para o PSDB: Azeredo se entrega à polícia e investigado, Geraldo Alckmin descarta apoio a Aécio e João Dória


Por Diógenes Brandão, com informações da Folha de São Paulo, O Globo, Veja e demais veículo da imprensa tradicional brasileira.

Em meio aos protestos dos caminhoneiros por conta do alto preço dos combustíveis e da crise no abastecimento decorrido dos protestos e da paralisação de rodovias, muita gente não percebeu as notícias que caíram como uma bomba no ninho central do PSDB, principal partido de sustentação do governo de Michel Temer (MDB).  

A primeira e com maior repercussão foi a da prisão do ex-governador de Minas Gerais, o tucano Eduardo Azeredo. Após ser declarado fugitivo, ele se entregou e já está preso em um batalhão do Corpo de Bombeiros, onde começará a cumprir pena de 20 anos de prisão à qual foi sentenciado por desvio de recursos e lavagem de dinheiro (3,5 milhões de reais de estatais mineiras à sua campanha à reeleição, em 1998), no esquema conhecido como mensalão tucano ou mensalão mineiro. 

Em sua sala especial, localizada em uma área nobre de Belo Horizonte, o tucano mensaleiro tem direito a um aparelho de TV, rádio, refeição trazida pela família, além de chuveiro elétrico, regalia reprovada para outros políticos condenados, mas que agora praticamente não foi comentado pela imprensa e comentaristas em geral.

Outro assunto que deu o que falar foi a entrevista do governador de São Paulo à Folha, onde o tucano Geraldo Alckmin (PSDB), disse nesta quarta-feira (23), que o ex-governador de Minas Eduardo Azeredo (PSDB) tem de cumprir a pena de cadeia pela condenação no mensalão tucano e que o senador Aécio Neves (PSDB), réu no Supremo, não deve disputar eleição.

Sobre Beto Richa, Alckim disse: "O ex-governador do Paraná vai se explicar. É dever de todo homem público prestar contas, transparência absoluta." 

No dia 12 deste mês, o juiz Sérgio Moro determinou abertura de inquérito contra ex-governador Beto Richa. Suspeito de favorecer a Odebrecht na licitação para duplicar uma rodovia estadual, ele é mais um tucano que pode acabar preso em uma sala especial do Corpo de Bombeiros do Paraná. Para isso, caso seja condenado, seus advogados só precisam fazer o que a defesa de Eduardo Azeredo fez: Alegar falta de segurança nos presídios.

Presidente do PSDB e pré-candidato do partido à Presidência na eleição de 2018, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin é investigado pelo Ministério Público de São Paulo em um inquérito eleitoral e em um inquérito civil. As duas investigações tratam de supostos pagamentos que totalizariam 10,3 milhões de reais em caixa dois às campanhas de Alckmin nas eleições de 2010 e 2014, relatados nas delações premiadas de executivos da Odebrecht.  

Com a renúncia dele para disputar a eleição de outubro, o caso foi remetido à primeira instância. Alckmin nega as suspeitas e luta internamente no PSDB para ser o pré-candidato, onde senador mineiro Aécio Neves e o prefeito paulistano João Dória também disputam a preferência dos dirigentes tucanos.

domingo, maio 20, 2018

Eder Mauro: O deputado-delegado que decepcionou a sociedade paraense ao esquecer da polícia e da segurança pública

Eder Mauro: Nenhuma lei ou projeto em defesa da polícia e da segurança pública do Pará?

Por Diógenes Brandão

Eleito em 2014 com mais de 265 mil votos, o deputado federal Eder Mauro  (PSD) apareceu para os eleitores com os punhos assentados no peito esquerdo e bradou para todo o estado que faria da luta contra a violência, a razão de ser de sua candidatura para representar o povo paraense em Brasília.  

No entanto, a pergunta que fica no ar é se Eder Mauro chega ao fim de seu primeiro mandato parlamentar, depois de quatro anos como deputado, sem ter nenhuma lei aprovada e nenhuma ação efetiva em defesa dos policiais, assim como nenhuma emenda para a área da segurança pública? Absolutamente nada que viesse a valorizar a sofrida categoria de profissionais da segurança em nosso País e do Estado que o elegeu?

Mas se este deputado não conseguiu produzir legislação voltada para a segurança pública, sua letargia não parou por aí.  

Eder Mauro poderia ter alocados emendas parlamentares para melhorar o alojamento de seus colegas policiais no Pará.

Poderia ter destinado emendas para a compra de coletes, armas, viaturas e demais  equipamentos de proteção e locomoção dos policiais de nosso estado.  

Mas não! 

Eder Mauro esqueceu de investir, como deputado, na segurança pública em nosso estado, e agora, passados 4 anos, o deputado-delegado volta a abraçar o povo pobre com promessas infundadas para tentar, mais uma vez, surfar na onda de violência que varre nosso país e o nosso Estado.?

Nestes últimos quatro anos em que a onda de violência se alastrou em nosso estado, qual foi a ação pública deste deputado para mobilizar o seu mandato ou a “bancada da bala” no congresso em defesa de nossa sociedade?  

Ao receber de Michel Temer mais de 80 milhões de reais em Emendas Parlamentares, o deputado Eder Mauro também poderia ter destinado recursos para reformar 800 delegacias de polícia, considerando que cada delegacia reformada custa cerca de R$ 100 mil reais. 

Com esse dinheiro, também daria para comprar casas populares para boa parte dos policiais que hoje moram em bairros considerados “área vermelha” e que muitos estão sendo assassinados.   

Daria para comprar 40.000 coletes especiais para todos os policiais civis e militares do Estado e ainda sobraria coletes de reserva para todos.  

Além disso, daria para o deputado-delegado fazer seminários e cursos de capacitação para ajudar com que os policiais e demais agentes de segurança pública tivessem suas vidas preservadas, com um pouco mais de preparo para sua auto-proteção.  

Mas se absolutamente nada disso foi feito por Eder Mauro, porque ele continua se apresentando como defensor dos "colegas de farda", se nem ele nunca vestiu qualquer farda, já que é da polícia civil e não militar?

Onde estava Eder Mauro que não fez nada para combater a violência que assola o país e o Estado onde ele foi eleito deputado?  

Pra onde foi o dinheiro que ele recebeu para apoiar o presidente Temer que se livrou das investigações de corrupção, com seu voto e da maioria dos demais deputados que apoiam seu corrupto governo em Brasília?

quarta-feira, abril 04, 2018

Servidores denunciam esquema de propina na SESPA

OSs e os grandes contratos de empresas são os mais visados por um esquema operado dentro da SESPA

Por Diógenes Brandão

Em tempos onde a corrupção é diariamente debatida por todas as classes sociais e segmentos da sociedade, muita gente acaba achando que as principais práticas ilícitas e de desvio de recursos públicos acontecem exclusivamente na classe política. Ledo engano.

Vivendo em uma espécie de universo paralelo, muitos servidores públicos parecem não entender que os recursos que bancam o funcionamento da máquina estatal não brotam da terra, por geração espontânea, e sim pelo resultam de impostos e contribuições pagos pela população. 

O quadro se agrava ainda mais quando servidores inescrupulosos fazem uso de seus cargos para aferir ganhos pessoais, formando verdadeiras quadrilhas que desviam o dinheiro que seria para comprar medicamentos, até mesmo algodão e outros insumos necessários nos postos de saúde e hospitais do Estado.  

Esquema de extorsão 

De acordo com denuncias anônimas um assessor da Secretaria de Saúde do Estado do Pará é o principal responsável por liderar um grande esquema na SESPA, no qual somente nestes primeiros meses de 2018 pode já ter desviado mais de 10 milhões de reais. Segundo uma fonte do blog, o esquema é operado com o pagamento de propinas para contratos e liberação de DEA's referentes ao ano de 2017.  

A máfia está para ser denunciada ao Ministério Público e ocorre dentro do prédio da SESPA, na Avenida Joao Paulo II, em Belém do Pará, onde empresários que prestam serviços para a Secretaria de Saúde do Estado – SESPA são obrigados a repassar propinas para terem seus pagamentos liberados.  

Uma prática usual dos envolvidos no esquema é deixar as empresas em DEA, ou seja, quando finda o ano e a empresa não recebe o pagamento dos meses de novembro e dezembro, por exemplo, esses dois meses em atraso vão para a Dívida do Exercício Anterior – DEA e, é assim que esse esquema é alimentado.  

Existem denuncias entre os próprios servidores da SESPA de que essa é uma prática antiga na SESPA

“Todo mundo aqui sabe que quem ganha dinheiro fácil achacando empresários. Sou servidora concursada, mas, esse povo é comissionado e vem pra cá roubar e denegrir a imagem dos servidores de toda a secretaria”, disse uma servidora lotada no prédio onde supostamente ocorre as transações irregulares, que por motivos óbvios preferiu não se identificar. 

O blog aguarda o envio de provas e da denúncia - consubstanciada de elementos comprobatórios - que deve ser protocolada no MPE e demais órgão e na própria ouvidoria da SESPA.

sexta-feira, março 09, 2018

Efeito Lava-Jato? Márcio Miranda reúne-se com a cúpula do seu partido em Brasília, mas não tem registro dela

Ao lado dos seus conterrâneos, Márcio Miranda posa para foto em evento que tinha como destaque, dois líderes do seu partido, mas não há registro deles com o pré-candidato ao governo do Pará. Estranho, não?

Por Diógenes Brandão

Pré-candidato ao governo do Pará pelo DEM, o deputado estadual e presidente da ALEPA, Márcio Miranda informou os seguidores de sua fanpage, que foi à Brasília nesta quinta-feira (09) participar do lançamento da pré-candidatura de Rodrigo Maia à presidência do Brasil e não fez sequer uma foto com o mesmo e nem com o novo presidente nacional do seu partido, o prefeito de Salvador e herdeiro da dinastia Magalhães na Bahia, o ACM Neto.

O deputado paraense que é apontado como predileto do governador Simão Jatene (PSDB) à sua sucessão, nas eleições deste ano e que aparece em segundo colocado na pesquisa DOXA - a última realizada no Estado do Pará - limitou-se a registrar sua presença ao lado dos seus correligionários paraenses. 

Não se sabe se o motivo da falta do registro com os dois principais personagens do evento, realizado pelo DEM, foi por falta de prestígio de Márcio Miranda na cúpula nacional do seu partido, ou se foi uma forma dele evitar estrategicamente a vinculação de sua imagem à abalada reputação do deputado carioca Rodrigo Maia, acusado de corrupção e lavagem de dinheiro pela PF, assim como à imagem de ACM Neto, o "Anão" da Odebrecht, que segundo André Vital, ex-diretor e delator na Lava Jato, teria recebido ilegalmente para sua campanha a prefeito de Salvador, 1,8 milhões em dinheiro vivo.

Leia a postagem de Márcio Miranda e tire suas conclusões:

quarta-feira, fevereiro 14, 2018

Começa o ano eleitoral. O que é legal e o que é imoral?



Por Diógenes Brandão 

Um dos ditados populares mais conhecidos pelo povo brasileiro é o que diz que o ano novo só começa de fato depois do carnaval. Como 2018 é um ano de eleições gerais no Brasil, nesta quarta-feira de cinzas podemos dizer que tirando o alto índice de votos nulos que as pesquisas projetam para Outubro, estamos novamente diante das expectativas de renovação e a esperança que as urnas nos trazem. 

No entanto, não se pode dizer que a classe política será ainda este ano tomada por um processo moralizante, como muito esperam por conta do apelo midiático, resultante das expectativas do desfecho das investigações da Operação Lava Jato, hoje estancadas, tal como Romero Jucá previu em conversa com o ex-diretor da Transpetro, onde planejaram um acordo nacional, com supremo e tudo para tirar Dilma da presidência, colocar Michel Temer em seu lugar e delimitar as investigações da Lava Jato onde estavam. Como podemos ver, o plano deu certo: o chefe da polícia federal foi trocado, Temer indicou uma nova Procuradora-geral da República e a Lava Jato estancou. 

Digo isso por considerar que os critérios utilizados para investigar, julgar e condenar alguns políticos e executivos de empresas envolvidas em esquemas de corrupção, investigados e revelados nos últimos anos, trouxe a falsa impressão de que tudo que está aí não presta e que por isso, tudo e todos precisam ser destruídos, aniquilados, para que algo de bom surja mais à frente, como se num passo de mágica, uma nova geração de políticos bem-intencionados fosse surgir e tornasse tudo diferente, com a honestidade tornando-se predominante na política e na gestão pública.   

Apesar de ser belo e utópico, tal pensamento se assemelha a um delírio infanto-juvenil, daqueles em que a pessoa se imagina capaz de mudar o mundo, apenas com uma frase de efeito ou um desejo pré-concebido pela falta de uma vivência com a realpolitik e sem a devida perspectiva histórica, que moldou o sistema político do nosso país, até outro dia, escravocrata e colonial. 

Com milhares de pessoas interconectadas através das redes sociais, muita gente hoje reproduz conteúdos com a narrativa de que só um salvador da pátria poderá executar a tão esperada reforma do sistema político, onde agentes corruptos serão extintos e uma nova sociedade emergirá com a eleição deste herói nacional. 

sexta-feira, fevereiro 09, 2018

Muito prazer, Luciana Temer

Por Diógenes Brandão 

Ela é professora de Direito Constitucional e dirige uma ONG que desenvolve um trabalho de combate e enfrentamento à exploração sexual de crianças e adolescentes no Brasil. Defende o pai, mas mostra o quanto são diferentes em diversos pontos e o considera conservador por natureza. Trabalhou com Haddad (PT) e Alckmin (PSDB), mas confessa que gosta e tem mais afinidade com o petista.

Pragmática ao falar de corrupção, ela se revela bem mais progressista que o pai ao dizer: "A polarização fica num nível tão raso de discussão: bons e maus, maniqueísta. “Eu sou bom, você é mau”. Eu sempre falo para os meus alunos dessa divisão de “nós” e “eles” – como se o Congresso Nacional fossem “eles”. Quem é o Congresso Nacional se não nós mesmos? Nós mesmos que somos cidadãos brasileiros, nós mesmos que elegemos. Eles só estão lá porque, nós, sociedade brasileira, que colocamos. Quer dizer, não existe “nós” e “eles”. Existem eles que são retrato do que somos nós."  

No entanto, quando ouviu o audio em que Joesley Batista havia combinado o suborno pelo silêncio de Eduardo Cunha com seu pai, Luciana Temer disse aos seus filhos: “olha, meninos, eu não ouvi esse áudio, ninguém ouviu esse áudio. Mas, eu vou dizer pra vocês, eu corto os meus dois braços se o seu avô falou uma coisa dessas. Eu conheço o seu avô há 50 anos, ele jamais, em tempo algum falaria uma frase dessas.”  


Defende a legalização do aborto, das drogas e a regulamentação da prostituição. Essa é Luciana Temer, revelada pela entrevista do Estadão e que o blog AS FALAS DA PÓLIS reproduz na íntegra.




Ela cresceu ouvindo o pai declamar Castro Alves. Dele diz que herdou a consciência moral e da mãe, a consciência cristã. E então foi construindo sua própria trajetória, hoje como professora de direitos constitucionais da PUC-SP e da Uninove, e presidindo o Instituto Liberta, criado pelo filantropo Elie Horn, de combate à exploração sexual de crianças e adolescentes.  

Antes, ela foi secretária de assistência social da prefeitura, na gestão de Fernando Haddad, a quem admira e se identifica. Ex-delegada de defesa da mulher, em Osasco, trabalhou também com Alckmin e tem Gabriel Chalita em alta conta.  

Defende a legalização do aborto, das drogas e a regulamentação da prostituição. Luciana Temer, 48 anos, a filha primogênita do presidente Michel, foge dos paradigmas óbvios do jogo fácil das polarizações políticas. Ela decidiu compartilhar um olhar mais íntimo sobre suas crenças e valores, nesta entrevista que se segue.

“Eu tenho duas irmãs, que são psicólogas. Nós somos três mulheres independentes, que trabalham, que a vida inteira ganharam o seu dinheiro e se sustentaram, e eu escutei do meu pai a vida inteira a seguinte instrução: “você tem que trabalhar e ganhar o seu dinheiro, porque a independência só existe quando você se sustenta. Você só é uma pessoa livre e independente quando paga as suas contas”.  

Aí eu me pergunto, onde está o machista dessa brincadeira do ‘recatada e do lar’? Porque a Marcela tem um outro perfil. É uma grande companheira dele, mesmo, de mais de doze anos, e que tem outro perfil, e que eu respeito perfeitamente. Agora, isso nunca foi imposto, nunca foi uma questão.  Aliás, eu acho que um dos problemas que hoje nós temos é não respeitar as escolhas dos outros, ainda que seja ser princesa. Se quiser ser princesa, deixa ser princesa. Hoje tem um patrulhamento ideológico; e se a mulher não quiser trabalhar e ficar em casa cuidando dos filhos, qual é o problema?”  

“Quem é o Congresso Nacional se não nós mesmos? Nós mesmos que somos cidadãos brasileiros, nós mesmos que elegemos. Eles só estão lá porque nós, sociedade brasileira, que colocamos. Quer dizer, não existe “nós” e “eles”. Existem eles que são retrato do que somos nós.”  

“Nós íamos daqui até Tietê – onde ficava a chácara da nossa família, –, ouvindo meu pai declamar ‘Navio Negreiro’ (Castro Alves) inteirinho. Uma coisa super tocante.”  

“A gente tinha uma regra em casa que era interessante. A gente estava conversando, mas se entrássemos em um elevador, e entrava mais alguém, todo mundo parava de conversar. Porque meu pai achava que em elevador não se conversava com outras pessoas. Essa coisa da reserva, ele dizia: ‘fale muito das coisas, pouco das pessoas e nada de você’.”  

“Palavrão por exemplo, pra ele é inadmissível. “Que saco” é palavrão. Você não ouve ele falando palavrão.”  

“Se você perguntar com quem eu tenho mais afinidade de trabalho, de pensamento, eu tenho muito mais afinidade com o Haddad. Eu tive muito mais liberdade de atuação. Não porque o Alckmin restringisse a minha liberdade de atuação, não é isso; mas eu tive muito mais afinidade, pude avançar mais no que acreditava com o Haddad.”  

“A gente tem bons debates, mas temos uma afinidade num pensamento mais liberal. Lógico, sobre determinados assuntos eu não penso como o meu pai que é de outra geração, suas posições não são as mesmas. Quando aparece um ministro como o Osmar Terra falando em internação e abstinência total dos viciados em drogas, de certa forma ele (o presidente) endossa. É uma linha mais tradicional.”  “Não acho que ele não tenha chamado mulheres (para compor a equipe ministerial) por exclusão. Não houve pré-disposição em não chamar. Por outro lado, não houve pré-disposição em buscar um nome. Parece bobo mas isso faz diferença.”  

“Eu não sei como eles casaram, pra começar! Porque são seres completamente diferentes. Minha mãe é uma pessoa que é um polo de atração, essa pessoa super generosa, super extrovertida. E meu pai é essa pessoa muito consistente, do ponto de vista intelectual, de formação; uma pessoa reservadíssima, de poucos amigos. Ele circula num universo enorme, mas amigos do meu pai eu conto nos dedos os que eu conheci na vida. Minha mãe é amiga do mundo.”  

“É muito triste, muito difícil você ver o nome do seu pai, que é uma pessoa que você conhece há 50 anos, jogado na lama. Quando saiu na Globo aquela primeira chamada dizendo que havia um áudio no qual meu pai dizia pra o Joesley para subornar o Cunha pra ficar calado, eu estava na rua, ouvindo o rádio.  Pensei comigo, essa frase não sairia da boca dele. Porque ele é essa pessoa contida, reservada. Ele jamais se exporia dessa forma para ninguém.  

E, afinal, quando saiu o áudio, essa frase não existia. A frase que aparece no áudio é: “Estou mantendo uma boa relação”. “Ah, você deve mesmo fazer isso”. Isto é meu pai. Ele está falando com você aqui, e às vezes ele está na lua e balançando a cabeça.”  

*Qual seria o inconsciente coletivo do brasileiro hoje, em sua opinião?  
Hoje, as pessoas estão se sentindo à vontade para fazer e dizer coisas, especialmente nas redes sociais, que traduzem o que elas não tinham coragem de dizer antes face a face, e que agora estão mais livres para falar. Se por um lado isso é bom porque as pessoas podem se manifestar mais livremente, por um outro lado, esse espaço criado pela internet, pelas redes sociais, tornou as pessoas mais agressivas, mais radicais nas suas posições.  

Coisas que estavam no inconsciente das pessoas e que elas deixavam lá quietinhas, agora elas estão deixando os bichos ficarem mais soltos. De alguma forma, tem alguma coisa acontecendo que traz uma belicosidade nas colocações como se a gente voltasse um pouco para a idade da pedra. Eu sinto que tem um certo ambiente – que é esse ambiente virtual – que faz com que as pessoas peguem em armas e tratem as questões de forma muito agressiva.  

Eu acho que essa possibilidade acabou gerando um acirramento de posições e uma polarização em todos os setores, em todas as questões, que está muito complicado. Tem uma determinação de impor a sua posição em toda e qualquer circunstância, a qualquer custo, diminuindo o espaço de reflexão.  

Isso é uma coisa brasileira ou mundial?  
Mundial.  

Qual seria o acento brasileiro?  
Eu acho que no Brasil temos essa crise política absolutamente acirrada, onde, supostamente, o brasileiro acordou para uma questão que é a questão da corrupção; mas, ao mesmo tempo eu digo supostamente, porque ficou uma ideia de que esse mal feito brasileiro só acontece e está centrado nos políticos e nas instituições, o que não é verdadeiro.  

Existe uma institucionalização da corrupção no Brasil. Quando eu pago o guarda pra não me multar – isso é uma prática ancestral aqui; ou quando vou procurar um despachante pra pagar e não perder a carta, porque eu tive pontos na carteira. Eu acho muito interessante isso, você está conversando com uma pessoa e ela está acabando com todos os políticos e, de repente ela vira e fala assim: “alguém sabe de alguém que consiga livrar as minhas multas, porque eu vou perder a carteira?”. Ou uma outra situação, de uma amiga que é criminalista e foi a uma médica dermatologista; e a médica, quando perguntou pra ela o que ela fazia – ela falou que era advogada criminal-, e a médica respondeu: “você tem coragem de defender bandidos? Você tem coragem de defender corruptos?”. E quando ela foi pagar a conta no final, a secretária perguntou: “você quer com nota ou sem nota? Sem nota é mais barato”. Sonegação pode? Ela não é bandida, e ela sonega e isto é crime.  

Veja como a gente tem uma irreflexão sobre essas questões, e como a gente está num nível raso de repensar qual é o papel da sociedade brasileira nesse contexto todo de mudança. Quando a gente fala de uma mudança, a gente tem que falar de uma mudança muito profunda.  

A polarização fica num nível tão raso de discussão: bons e maus, maniqueísta. “Eu sou bom, você é mau”. Eu sempre falo para os meus alunos dessa divisão de “nós” e “eles” – como se o Congresso Nacional fossem “eles”. Quem é o Congresso Nacional se não nós mesmos? Nós mesmos que somos cidadãos brasileiros, nós mesmos que elegemos. Eles só estão lá porque, nós, sociedade brasileira, que colocamos. Quer dizer, não existe “nós” e “eles”. Existem eles que são retrato do que somos nós.  

É preciso que o Brasil saia dessa discussão rasa de políticos corruptos e repense toda uma forma de comportamento. 

De ética pessoal.  

Como você permite que seu filho, que tem 17 anos, faça uma identidade falsa pra entrar numa festa para maiores de idade? E essa é uma prática comum, as pessoas permitem isso.  “Ah, mas ele está fazendo com uma pessoa que faz direitinho”. Quem faz direitinho é porque é do Poupa Tempo. Então você está permitindo que seu filho corrompa um funcionário público. Isto não é corrupção? A gente é muito desconectado do discurso com a prática.  

Você acha que falta consciência ética e social no dia a dia do brasileiro?  
Não podemos generalizar, tem gente muito boa. Mas acho que existe uma cultura permissiva no Brasil em todos os aspectos e setores.  

Aqui, as pessoas fecham os olhos para o que consideram menos grave. Não importa se a legislação diz que é crime. Cada um faz seu próprio julgamento.  

Na consciência do brasileiro o não cumprimento da lei é porque essa lei não é boa, essa regra não é boa. Ou é difícil e não vou conseguir cumprir, e eu me permito descumprir.  

Como reage aos escândalos de corrupção que a gente ouve?  
Conheço o pai que tenho e sei os limites éticos dele.  

No seu governo?  
A corrupção é uma coisa endêmica, um problema sério em todos os níveis. É preciso repensar posturas individuais e cotidianas. Falamos muito das grandes corrupções, mas na hora de deixar o carro na vaga reservada a pessoas com deficiência, partimos para o discurso de que “é só um minutinho”. A sociedade precisa ser mais educada.  

Em termos de pensamento político, a sua construção vai por onde?  
Eu tenho uma formação humanista que vem de casa, tanto do lado paterno como materno. Minha mãe, que foi sempre alguém que procurou ajudar as pessoas e me ensinou que era importante cuidar das pessoas que estão à nossa volta. E o meu pai, porque tem essa formação, não só jurídica, mas de família muito rígida, uma moral muito rígida. De família árabe muito grande, muito unida, que teve sempre esse discurso bastante rígido do ponto de vista moral.  Nós crescemos com esses dois lados – a minha mãe, Maria Célia, sempre pelo lado da caridade. Ela é a pessoa mais generosa que eu conheci na minha vida. E a formação mais estruturada do ponto de vista da consciência social, vem do meu pai.  

Nós íamos daqui até Tietê – onde ficava a chácara da nossa família, e íamos todo fim de semana ficar com a minha avó –, ouvindo meu pai declamar ‘Navio Negreiro’ (Castro Alves) inteirinho. Uma coisa super tocante. Eu era pequena, não tinha nem a dimensão do que era aquilo, e a gente adorava. E também ‘O Operário em Construção’, do Vinícius (de Moraes): “O Operário disse: Não! subiu ao alto da construção…” Era uma coisa pra nós muito forte. Essa coisa da consciência social, da desigualdade social.  

São duas influências diferentes, a influência da minha mãe não tem nenhuma consciência social, mas sim uma consciência cristã. E o meu pai, uma consciência social.  

Eu estudava aqui no (Colégio) Sion. Na época, antes da abertura política, havia as eleições pra deputado e tinha a Arena e o MDB. E eu me lembro que no Sion eu era a única que era MDB. Porque os pais da escola tradicional do Sion eram Arena. E eu lembro que era uma coisa difícil até eu entender o por que, só o meu pai era MDB.  

Então, acho que a nossa formação, tanto minha quanto das minhas irmãs vem desse misto, de uma mãe muito extrovertida e um pai muito reservado, muito formal.  

Formal até com os filhos?  
Não diria com os filhos. Mas, por exemplo, a gente tinha uma regra em casa que era interessante. A gente estava conversando, mas se entrássemos em um elevador, e entrava mais alguém, todo mundo parava de conversar. Porque ele achava que em elevador não se conversava com outras pessoas. Essa coisa da reserva, ele dizia: “fale muito das coisas, pouco das pessoas e nada de você”.  

Mas o que seria um discurso rígido do ponto moral?  
Eu não diria que meu pai é um julgador. Todo mundo teve liberdade e respeito pelas escolhas. Ele é mais antigo sob certos aspectos. Mais contido. Tem uma coisa super de reserva. Não sei se moralmente é muito rígido. Com a gente não era rígido. Talvez na fala, mas não na atitude de controle. As regras morais são da geração dele. Mas nunca severo, austero, do tipo “não vai sair pra namorar”. Mais ligado a preservar intimidade. Palavrão por exemplo, pra ele é inadmissível. “Que saco” é palavrão. Você não ouve ele falando palavrão.   

E a mesóclise?  
Ele cresceu aprendendo isso em português. Ele estudou em escola pública em Tietê, e a mesóclise era uma coisa que era praticada. E ele sempre escreveu muito bem, sempre foi estudioso de português e nunca se desfez desse hábito.  

Ele é uma pessoa de valores tradicionais, não é?  

Bastante. E isto é da família árabe. Ele tem uma coisa da família muito forte. Reverência ao pai, mãe, e ao mesmo tempo essa união da família.  

E a passagem como delegada, por que foi importante?  
Porque eu descobri que existe um mundo fora do mundo que eu conhecia. Uma coisa é você ler jornal – porque o jornal é escrito por um jornalista que também pega o seu mundo e traduz a notícia com a visão dele. E, quando eu fui da Delegacia de Polícia de Defesa da Mulher, em Osasco, e fui conhecer a realidade sem o filtro do jornalista que te passa a notícia, eu comecei a enxergar uma realidade que eu não conhecia, que me trouxe questionamentos sobre as convicções que eu tinha a respeito das relações familiares. Eu vivi num mundo em que família é essa estrutura que te protege, pai é essa figura que te protege; e você começa a entender que essa é uma cultura construída, que existem outras relações que acontecem que não estão na sua esfera de compreensão.  

E aí você começa a ser mais flexível nos seus julgamentos. Porque você tem o seu conceito do que é certo e errado, mas quando olha algumas situações, passa a julgar com menos rigor, começa a compreender que suas convicções são fruto de uma construção cultural, e que existem outras culturas onde outras pessoas estão inseridas.  

Você pode me dar um exemplo?  
Você pode encarcerar todo mundo, isto é um caminho. Ou você pode tentar trazer uma consciência de que isso é errado. 

Quando eu pego um pai que tem a primeira relação com a filha porque acha que isso é normal, você vai tratá-lo como o criminoso que ele é pela nossa legislação. Mas você precisa entender a lógica dele pra transformar essa lógica, porque ele acha um grande absurdo que ele esteja sendo preso por causa disso.  

Se você não admitir que ele pensa diferente de você e tentar transformar por outros caminhos, vamos ficar sempre no processo punitivo.  

Como você se define, ideologicamente falando?  
Eu acho que sou uma pessoa que busca uma maior justiça social de forma ampla, não só do ponto de vista econômico e financeiro.  

Quando você faz um trabalho, como a gente fez na Cracolândia, no De Braços Abertos (gestão Fernando Haddad); isso é justiça social. Não tem a ver com dinheiro, tem a ver com resgate de pessoas.  

Eu me definiria como uma pessoa muito sem preconceitos e que, em tese, acredita no ser humano. Às vezes eu fico meio decepcionada, às vezes meio frustrada, mas eu acredito no ser humano, acho que ele é sempre resgatável.  

Você ter trabalhado com o Haddad é uma coisa curiosa…  
O Haddad é um militante petista, mas ele é um professor universitário, assim como eu sou uma professora universitária. Ele é um sujeito que foi se aprimorando intelectualmente, assim como eu busquei me aprimorar intelectualmente ao longo dos anos.  

Eu fui trabalhar com uma pessoa que fez um caminho de busca, de consciência social, assim como eu fui buscando meu caminho. Então não acho tão estranho que eu tenha ido trabalhar com o Haddad.  

Nesse tempo de polarização, as pessoas tendem muito a associar o seu sobrenome a uma pauta que exclui o direito das mulheres, que torce o nariz ao direito sobre o próprio corpo…  
Eu tenho duas irmãs, que são psicólogas. Nós somos três mulheres independentes, que trabalham, que a vida inteira ganharam o seu dinheiro e se sustentaram, e eu escutei do meu pai a vida inteira a seguinte instrução: “você tem que trabalhar e ganhar o seu dinheiro, porque a independência só existe quando você se sustenta. Você só é uma pessoa livre e independente quando paga as suas contas”.  

Aí eu me pergunto, onde está o machista dessa brincadeira do ‘recatada e do lar’? Porque a Marcela tem um outro perfil. É uma grande companheira dele, mesmo, de mais de doze anos, e que tem outro perfil, e que eu respeito perfeitamente. Agora, isso nunca foi imposto, nunca foi uma questão.  Aliás, eu acho que um dos problemas que hoje nós temos é não respeitar as escolhas dos outros, ainda que seja ser princesa. Se quiser ser princesa, deixa ser princesa. Hoje tem um patrulhamento ideológico; e se a mulher não quiser trabalhar e ficar em casa cuidando dos filhos, qual é o problema?  

Não é a minha escolha, eu não defendo que seja a cultura imposta, eu defendo a igualdade; mas, se a pessoa quiser… se o homem quiser ficar em casa cuidando dos filhos, qual o problema? Porque esse homem também é criticado. Eu sou contra todo e qualquer patrulhamento ideológico, e se todo mundo respeitasse o que cada um acha que é bom pra si, já seria uma grande evolução da humanidade. Isso é uma coisa que sempre foi valorizada na minha casa, sempre tivemos a liberdade de fazer as nossas escolhas.  

Política te interessa?  
A grande política me interessa, política partidária não me interessa pessoalmente, não tenho vocação. Eu me filiei ao MDB para assumir a secretaria de assistência com o Haddad.  

Meu envolvimento de política partidária foi só durante a campanha do Chalita, porque tenho uma relação de irmã com ele. Ele disse que precisava de mim e então eu integrei o núcleo da campanha. Quando ele não foi pra o segundo turno, eu me retirei. Então o Haddad foi eleito e aconteceu de eu virar Secretária de Assistência Social.  

E eu tenho muito orgulho disso. Deixamos uma marca importante na secretaria. Tivemos um papel importante na construção do De Braços Abertos, na condução do programa e na inserção de mais de 500 mil famílias no Bolsa Família.  

Fizemos abrigos para famílias em altíssima vulnerabilidade – pessoas que estão na segunda, terceira geração de rua; um hotel pra 150 pessoas que tinham ido pra rua há pouco tempo – gente que perdeu a casa, estava com as coisas na rua, tem alguma renda. Fizemos um abrigo pra travestis e transexuais. E fizemos uma categoria de abrigo para os imigrantes.  

Nessa virada de gestão você ficou chateada de ver as coisas mudando?  
Algumas coisas mudaram bastante, especialmente o De Braços Abertos.  

Quando você está na gestão pública, não pode ter apego ao que você faz. Nós mudamos o paradigma em São Paulo para essa questão. Tanto é que um programa para 500 pessoas – dentro da dimensão de 2 milhões de habitante da cidade – virou pauta de eleição. O Doria foi eleito com a plataforma de destruir o programa, e ele cumpriu.  

Você gostou de trabalhar com o Alckmin?  
Eu o respeito muito. É um sujeito muito sério, muito íntegro. Essa é minha experiência pessoal com ele.  

Se você perguntar com quem eu tenho mais afinidade de trabalho, de pensamento, eu tenho muito mais afinidade com o Haddad. Eu tive muito mais liberdade de atuação. Não porque o Alckmin restringisse a minha liberdade de atuação, não é isso; mas eu tive muito mais afinidade, pude avançar mais no que acreditava com o Haddad.  

Qual seria sua visão crítica sobre direito constitucional no Brasil?  
Eu dou aula há 26 anos. Quando eu comecei, gostava de dizer aos meus alunos que nós estamos numa democracia, mas nós não somos uma democracia.  

Quando você sai do formal do que diz a constituição e entra na realidade das coisas, você vê uma distorção muito grande. Quando faz um estudo sobre os momentos de autoritarismo e democracia no Brasil, claramente se identifica que nós temos muitos mais anos de sistemas autoritários do que de sistemas democráticos.  

Hoje, estou muito confiante na nossa democracia. Porque eu acho que passamos por muitas turbulências nesses anos todos e nós estamos num sistema de respeito às instituições.  

Eu sou favorável, eu gosto do que o Supremo tem decidido em vários setores. Quando você pega a decisão sobre o aborto de fetos anencéfalos, sobre casamentos homoafetivos; eu adoro essas decisões do Supremo, mas quando olho criticamente, eu falo que o Supremo está decidindo em esferas que não são dele. São decisões que deveriam ser tomadas pelos representantes eleitos pela sociedade, e não por doze pessoas que não foram eleitas pela sociedade.  

Mas, a verdade é a seguinte, se eu fizer hoje um plebiscito perguntando certas coisas, a resposta que eu vou ter da sociedade é a que eu quero ouvir? Talvez não.  

Na sua família o pensamento é homogêneo?  
Não. Muito chato pensamento homogêneo. Com quem você vai discutir no almoço?  

A gente tem bons debates, mas temos uma afinidade num pensamento mais liberal. Lógico, sobre determinados assuntos eu não penso como o meu pai que é de outra geração, suas posições não são as mesmas e temos bons debates sobre essas questões. A questão de gênero, a questão de política de drogas, a gente tem posições que são diferentes. A parte boa é que existe um respeito sobre as opiniões diversas e um debate que é produtivo.  

Por exemplo, outro dia a gente teve um debate bem interessante – eu tomando uma posição, e meu pai e minha irmã outra; que era a priorização de investimentos na educação ou na saúde. Eles estavam defendendo a priorização na saúde, e eu argumentando porque eu entendia que a maior parte dos investimentos tinha que ser na educação.  

Em gênero e drogas vocês discordam?  
Na verdade, ele pensa uma política de enfrentamento da droga mais conservadora. Quando aparece um ministro como o Osmar Terra falando em internação e abstinência total, de certa forma ele endossa. É uma linha mais tradicional.  

Quanto a gênero, meu pai é uma pessoa que prega uma relação de igualdade. Nunca pregou desigualdade. Mas ele parte de um discurso de que basta a defesa da igualdade, não precisa cotas nem distinções. Nesse ponto acho que a gente tem alguma divergência.  

Como você se sentiu quando ele apresentou uma equipe ministerial composta apenas por homens?  
É uma questão um pouco de um homem mais velho que teve um convívio mais fácil a vida inteira com homens. Ele tem mais referências de homens que mulheres. Eu se fosse montar uma equipe, talvez montasse uma equipe mais feminina.  

Mas veja, Haddad, que é super moderno, tinha 3 mulheres em 27 secretarias…  

Não acho enfim que ele não tenha chamado mulheres por exclusão. Não houve pré-disposição em não chamar. Por outro lado, não houve pré-disposição em buscar um nome. Parece bobo mas isso faz diferença.  

Lembrando que partiu dele a primeira indicação de uma mulher para ocupar o cargo de procuradora do Estado, Norma Kyriakos, durante o governo Montoro.  

Acho que não lhe chegaram nomes fáceis de mulher para nomear ministras. Porque eles não chegam. Depois ele trouxe a Raquel Dodge (Procuradora Geral da República), a Flávia Piovesan (Secretaria de Direitos Humanos).  

Como você definiria a sua mãe e o seu pai?  
Eu não sei como eles casaram, pra começar! Porque são seres completamente diferentes. Minha mãe é uma pessoa que é um polo de atração, essa pessoa super generosa, super extrovertida. E meu pai é essa pessoa muito consistente, do ponto de vista intelectual, de formação; uma pessoa reservadíssima, de poucos amigos. Ele circula num universo enorme, mas amigos do meu pai eu conto nos dedos os que eu conheci na vida. Minha mãe é amiga do mundo. 

Como você atravessou esse período de turbulências políticas?  
Com muita dificuldade, não foi fácil. Ao mesmo tempo eu tive um respaldo importante dos dois envolvidos. Por um lado, eu tinha o meu pai, que estava passando por todo esse processo do impeachment e tudo mais. E havia uma cobrança que ele sofria, de “o quê sua filha está fazendo na gestão do Haddad?” E o meu pai bancou: “minha filha é uma ótima gestora, ela vai estar onde quiser”. Por um outro lado, o Haddad sofria a mesma cobrança. E a resposta do Haddad era: “ela é uma ótima gestora, e vai concluir a gestão”. Eu tive apoio dos dois.  

Conte um pouco sobre o trabalho do Instituto Liberta.  
Estamos na estrada há um ano e cuidamos de uma temática exclusiva, que é a exploração sexual de crianças e adolescentes no Brasil.  

O Brasil é o segundo país com maior índice de exploração sexual infantil e o quarto país no índice de casamentos infantis. A estimativa é de mais ou menos 500 mil meninas e meninos explorados anualmente, e a maioria têm entre 7 e 14 anos. São dados muito tristes.    



Tem casos de 7, 8 anos? Existe isso?  
Sim. Temos referências, como um livro da Eliane Trindade (“As meninas da esquina”), que conta quando as meninas começam a se prostituir. Há também a CPI da exploração sexual, com depoimentos do país inteiro de meninas muito novas que contaram os seus casos às deputadas. Vem daí os dados da nossa campanha.  

Vou te contar outro dado significativo. Quando você olha a questão da natalidade no Brasil, nosso país vem conseguindo diminuir esses índices, o que é uma grande vitória. Mas, quando você pega o recorte de meninas de 10 a 14 anos, você vê que esse índice não cai. Pelo contrário, ele tem uma leve subida. Tem alguma coisa errada nesse processo.  

Onde são os maiores focos?  
Olha, na verdade é difícil dizer onde estão os maiores focos, porque nosso instrumento de dados é o ‘disque 100’, que é o canal de denúncia do Governo Federal. Lá, umas das maiores regiões de denúncias é a Sudeste, mas isso não traduz que há mais exploração, e sim que há mais consciência.  Então, é difícil dizer exatamente onde tem. O que posso afirmar com segurança é que em todas as regiões do Brasil você tem características diferentes, especificidades regionais. Mas, há no Brasil inteiro situações diversas de exploração sexual de meninas e meninos.  

Em São Paulo temos dois polos importantes, que são o CEAGESP e o Terminal de Cargas da Fernão Dias. São conhecidos, um polo sabido pela mídia, pelo Ministério Público; não significa que tenha só esses.   

O que o instituto está fazendo efetivamente?  

A missão do instituto é de comunicação e conscientização. A gente não trabalha diretamente com os meninos e meninas explorados. Trabalhamos com campanhas nacionais e regionais que falam sobre o assunto. Costumo dizer que a grande missão do instituto hoje é fazer o Brasil falar sobre esse assunto. Enquanto não se fala, não é um problema; e se não é um problema, não se busca solução.  

Vamos falar da prostituição infantil e deixar o país constrangido com o número de crianças exploradas sexualmente, e que isso diz respeito a todos nós, não só pela questão moral, de dignidade humana, mas como custo social da gente fechar os olhos para isso.   

Você está otimista com 2018? O que espera para esse ano?  
Acho que ninguém sabe exatamente quais os rumos do mundo pra 2018. Eu sou uma pessoa otimista por natureza. Quando estou muito triste e desacreditada no mundo, penso na Idade Média, em “Os Miseráveis”, nessas coisas, e falo: olha, a gente andou. Andamos. Não todo mundo junto, não tudo igual, mas andamos.  

Quando aconteceram essas crises agudas envolvendo o seu pai, você conseguiu separar as coisas, ficar tranquila?  
Não. É muito triste, muito difícil você ver o nome do seu pai, que é uma pessoa que você conhece há 50 anos, jogado na lama.  

Quando saiu na Globo aquela primeira chamada dizendo que havia um áudio no qual meu pai dizia pra o Joesley para subornar o Cunha pra ficar calado, eu estava na rua, ouvindo o rádio. E aí eu cheguei em casa, meus filhos estavam em casa, não tinham ouvido a notícia; liguei no Jornal Nacional, e aí o meu filho virou pra mim e falou assim: “O que é isso? Você acredita? O que está acontecendo?”.  

Eu falei: “olha, meninos, eu não ouvi esse áudio, ninguém ouviu esse áudio. Mas, eu vou dizer pra vocês, eu corto os meus dois braços se o seu avô falou uma coisa dessas. Eu conheço o seu avô há 50 anos, ele jamais, em tempo algum falaria uma frase dessas.”  

Essa frase não sairia da boca dele. Porque ele é essa pessoa que eu descrevi, uma pessoa contida, reservada. Ele jamais se exporia dessa forma para ninguém.  

E, afinal, quando saiu o áudio essa frase não existia. A frase que aparece no áudio é: “Estou mantendo uma boa relação”. “Ah, você deve mesmo fazer isso”. Isto é meu pai. Ele está falando com você aqui, e às vezes ele está na lua e balançando a cabeça.  

Então, é lógico que foi muito triste, muito difícil pra todos nós. Eu sei o pai que eu tenho, eu sei o pai que me criou. E acabou.

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