Por Ana Célia Pinheiro, no seu blog Perereca da Vizinha
Há uma lição muito importante que estamos a aprender com as pandemias: nunca necessitamos tanto do bem-estar de todos.
Já não há fronteiras entre nós, no Brasil ou no resto do Planeta.
Uma doença contagiosa lá na China, pode chegar a Belém do Pará em questão de dias, ou até de horas.
E todos, como diria o grande Sócrates, somos agora cidadãos do mundo.
Então, você que é rico ou de classe média alta, preste bem atenção: em uma pandemia, nada vai impedir que você morra miseravelmente, que nem um cão abandonado, e que o seu corpo acabe lançado em uma vala comum.
Se a morte resolver bater mais cedo à sua porta, por causa de uma doença nova e altamente contagiosa, nada a impedirá.
Nem missas, correntes de oração, óleo ou água benta.
Nem os melhores médicos e hospitais do mundo.
E muito menos as mansões, terras, rebanhos, carrões, joias, diplomas, homenagens e todo o dinheiro que você acumulou.
Ah, mas talvez você esteja a pensar: “só tem um detalhe: os que têm dinheiro morrerão menos”.
No entanto, quem lhe garante que nesse “menos” não estará você, ou o seu filho, ou a sua mãe?
Graças à Deus, esse novo coronavírus, apesar de se espalhar com uma velocidade impressionante, tem um grau de letalidade relativamente “baixo”.
O problema é que esta não será a última pandemia que enfrentaremos: outras virão, talvez por vírus que também se espalhem rapidamente, mas que possuam letalidade muito mais alta.
Ao longo de toda a História, nunca conseguimos adivinhar as “surpresas” preparadas pela Natureza para a espécie humana.
E muito menos agora conseguiremos, com as sucessivas agressões contra ela.
Então, você precisa entender que não é mais possível manter bilhões de seres humanos na miséria: sem água, sem comida, sem saneamento, sem saúde, sem educação, sem informação, espremidos em cubículos, como se existissem apenas para produzir riqueza para você.
E também já não é possível continuar a devastar o Planeta, como se mares e florestas significassem apenas cifrões.
As condições miseráveis de bilhões de seres humanos e as crescentes agressões ambientais não apenas levarão, cada vez mais, ao aparecimento de novas doenças, como também dificultarão combatê-las.
Ou você imagina que a sua cabeleireira ou manicure tem como se submeter a uma quarentena, sem morrer de fome?
Ou você acha que na casa do seu garçom, onde seis, oito, dez pessoas se espremem em um compartimento, é possível ao menos pensar em isolamento social?
Ou você realmente acredita que na casa da sua empregada doméstica, onde não há nem comida para todo mundo, há dinheiro para água potável e sabonete?
Então, ainda que você não goste de pobres, não tenha qualquer empatia ou piedade cristã, não acredite em Deus, ou até ache que pobre é um ser “inferior” e “descartável”, ainda assim, você terá, pragmaticamente, de agir.
Nem que seja para preservar a sua vida e liberdade: as viagens de sonho que você adora, as festanças e os banquetes, só para gente “lindinha, limpinha e de bem”, que nem você.
Há até algumas décadas, você poderia pegar um avião, ou um iate bacana, e ir se esconder de uma peste, em um lugar bem distante.
No entanto, neste mundo sem fronteiras, aonde é que você se esconderá?
Miami? Nova York? Roma? Londres? Madri?
Ah, esqueci-me, ainda sobrou um lugar: Cuba!
Só que como você mandou tanta gente pra Cuba, não sei ela conseguirá lhe abrigar...
Então, meu amigo, não dá mais para você continuar achando que não tem nada a ver com a pobreza, ou com a degradação ambiental.
Tudo e todos somos agora apenas um grande organismo, que pode tornar-se são, ou destruir-se rapidamente.
Você tem meios, dinheiro, contatos para agir.
Então, aja!
Pressione o Governo Federal para que ele coloque mais dinheiro no SUS e para que os governos, em todas as esferas, tenham de destinar mais recursos para a Saúde e Saneamento, e para a Educação, Habitação e Geração de Emprego e Renda.
Pague integralmente os salários de seus funcionários, mesmo durante eventuais quarentenas, e coloque a maior parte deles para trabalhar em casa.
Ajude a sua cidade ou estado a equipar os nossos hospitais, especialmente, as UTIs.
Ajude a sua cidade ou estado a comprar cestas básicas, materiais de higiene, caixas d’água e tudo o que for necessário para que as pessoas possam permanecer em casa e se precaver de contágio, durante esse período.
E ajude, passada essa crise, ONGs, universidades, partidos, fundos, projetos, governos, prefeituras - o que quer que seja - a combater a pobreza e a degradação ambiental.
Aja, meu amigo, enquanto ainda há tempo!
Nem que seja para preservar a sua vida e de seus filhos.
Ou, ao menos, para garantir aquela “morte bacana”, com toda a pompa e circunstância, que você acredita “merecer”.
FUUUIIIII!!!!