Na manhã deste domingo, 24, quando finalizava seu planejamento anual  em Altamira (PA), o Movimento Xingu Vivo para Sempre detectou que um dos  participantes, Antonio, recém integrado ao movimento, estava gravando a  reunião com uma caneta espiã.
Na caneta, o advogado do Xingu Vivo, Marco Apolo Santana Leão,  encontrou arquivos de falas da reunião, bem como áudios de Antonio sendo  instruído sobre o uso do equipamento. Confrontado, ele a principio  negou qualquer má intenção, mas logo depois procurou o advogado para  confessar sua atividade de espião contratado pelo Consórcio Construtor  Belo Monte (CCBM), responsável pelas obras da usina, para levantar  informações sobre lideranças e atividades do Xingu vivo.
De livre e espontânea vontade,Antonio se dispôs a relatar os fatos em  depoimento gravado em vídeo. Segundo ele, depois de ser demitido pelo  CCBM em meados do segundo semestre de 2012, ele foi readmitido em  outubro como vigilante, recebendo a proposta de trabalhar como agente  infiltrado, primeiramente nos canteiros de obra para detectar lideranças  operárias que poderiam organizar greves.
Em dezembro, segundo o depoente, ele passou a espionar o Xingu Vivo,  onde se infiltrou em função da amizade de sua família com a coordenadora  do movimento, Antonia Melo. Neste período, acompanhou reuniões e  monitorou participantes do movimento, enviando fotos e relatos para o  funcionário do CCBM, Peter Tavares.
Foi Tavares que, segundo Antonio, lhe deu a caneta para gravar as  discussões do planejamento do movimento Xingu Vivo. O espião também  relatou que este material seria analisado pela inteligência da CCBM, e  que, para isso, contaria com a participação da ABIN (Agencia Brasileira  de Inteligência), que estaria mandando um agente para Altamira esta  semana.
Após gravar este depoimento, Antonio pediu para falar com todos os  participantes do encontro do Xingu Vivo, onde voltou a relatar suas  atividades de espião, pedindo desculpas e prometendo ir a público para  denunciar o Consórcio Construtor Belo Monte.
Em seguida, solicitou ao advogado e à jornalista do movimento que o  acompanhassem até sua casa, onde queria acertar os detalhes da delação  com a esposa. No local, ele se ofereceu e apresentou seus crachás do  CCBM, bem como a carteira profissional onde consta a contratação pela  empresa, que foram fotografados.
Posteriormente, porém, a esposa comunicou ao advogado do movimento  que Antonio tinha mudado de ideia e que não se apresentaria no  Ministério Público Federal, como combinado. Mais tarde, ainda enviou um  torpedo ameaçador a um membro do Xingu Vivo. No texto, ele disse que  “vocês me ameaçaram, fizeram eu entrar no carro, invadiram minha casa  sem ordem judicial. Isso é que é crime. Vou processar todos do Xingu  vivo. Minha filha menor e minha mulher são minhas testemunhas. Sofri  danos morais e violência física. E vocês vão se arrepender do que  fizeram comigo”.
Em função de sua desistência de cooperar e assumir seu crime, e  principalmente em função da ameaça ao movimento, o Xingu Vivo tomou a  decisão de divulgar o depoimento gravado em vídeo, inclusive como forma  de proteção de seus membros.
Apesar da atitude criminosa de Antonio ao se infiltrar no movimento, e  apesar de não eximi-lo de sua responsabilidade, o Movimento Xingu Vivo  para Sempre entende que o maior criminoso neste caso é o Consórcio  Construtor Belo Monte, que usou de seu poder coercitivo e financeiro  para transformar um de seus funcionários em alcaguete.
Também denunciamos que este esquema é responsabilidade direta do  governo federal, maior acionista de Belo Monte. Mais execrável, porém, é  a colaboração de agentes da ABIN no ato de espionagem.
O Movimento Xingu Vivo para Sempre, violado em seus direitos  constitucionais e em sua privacidade, acusa diretamente o governo e o  Consórcio de Construção de Belo Monte (integrado pelas empresas: Andrade  Gutierrez, Odebrecht, Camargo Corrêa, OAS, Queiroz Galvão, Contern,  Galvão Engenharia, Cetenco, J. Malucelli e Serveng) por estes crimes, e  exige do poder público que sejam tomadas as medidas cabíveis. É  inadmissível que estas práticas ocorram em um estado democrático de  direito. Exigimos justiça, já!